Faz agora 490 anos que nascia em Ponte da Barca Frei Tomás.

Ficou famoso pelos seus sermões, altamente verrinosos, contra a corrupção na corte.

Nos Açores, nas últimas legislaturas, assistimos a algo parecido por parte dos partidos que agora apoiam a coligação regional.

Era raro o discurso da oposição que não incluía fortes críticas à imensa máquina administrativa regional – a que alguns chamavam de “polvo” -, defendendo a sua redução e melhorando a sua eficácia.

Ainda agora, antes das eleições regionais, os principais partidos da coligação defendiam o mesmo e até querem menos deputados no parlamento.

O problema é que, inopinadamente, dão um sinal exactamente ao contrário quando se apanham no poder, constituindo o maior governo da nossa Autonomia, com uma catrefada de Secretários Regionais e Directores Regionais que aí vêm, aguardando-se o que vai acontecer com as nomeações de adjuntos e assessores.

Outra incongruência é exigir, antes das eleições, que o governo de então divulgasse o Plano de Reestruturação da SATA, mas agora o mantenha em lume brando e até já diz que o vai reformular.

É, para além do mais, um erro de inabilidade política, na medida em que abre caminho para que o PS diga que o novo plano não é do anterior governo, atribuindo ao actual as consequências do que aí vem.

O PS vai pelo mesmo caminho.

Ainda não encontrou um registo coerente de oposição.

Depois da postura assanhada no parlamento, vir agora pedir explicações ao titular da Saúde sobre o que foi feito em menos de um mês, quando tem no seu currículo as trágicas mortes em Nordeste, é outro erro de palmatória.

Alguém colocou na porta de Frei Tomás um papel que dizia: Aqui mora Frei Tomás, que bem diz e mal faz.

Frei Tomás escreveu por baixo: Fazei o que diz, e não faças o que faz!

Temos a história a repetir-se 490 anos depois.

Dezembro 2020

Osvaldo Cabral