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Conversas pandémicas XXXVI – Nordeste, mártir
1. As palavras de um líder.
“Eu sinto muito, do fundo do meu coração. Mas se o preço que pagamos é 590 mortes por dia, então isso é inaceitável.”
A chanceler alemã, Ângela Merkel, implorou há poucos dias, aos alemães, que seguissem as restrições impostas, para reduzir a transmissão do coronavírus antes do Natal, num apelo emocional incomum. Um excerto das declarações da Chanceler Merkel pode ser visto neste link: https://twitter.com/dwnews/status/1336616315021389824?s=20
2. A Alemanha toma medidas.
A partir de 16.12.2020, e até 10.01.2021, na Alemanha, salões de cabeleireiro, de cosmética, e de massagem, estúdios de tatuagem e empresas semelhantes estão encerrados.
Contactos em escolas e creches serão, também, “significativamente restringidos”. As escolas fecharam quarta-feira, e o ensino à distância está implementado. Regulamentos diferentes são aplicados noutros níveis de ensino. Tudo isto depende de regulamentações de cada estado federado. Além disso, “oportunidades adicionais” estão a ser criadas para que os pais possam tirar férias remuneradas.
A venda de alimentos e bebidas fora de casa continua a ser permitida, mas o consumo no local é proibido, a fim de evitar a aglomeração de pessoas nas instalações. O consumo de bebidas alcoólicas em espaços públicos é proibido, durante o mesmo período, e as infrações são punidas.
As reuniões privadas continuarão a ser limitadas a 2 famílias, e a um máximo de 5 pessoas, excluindo-se crianças até 14 anos. Esse limite será aumentado entre 24 e 26 de dezembro. São permitidos encontros com 4 pessoas fora de sua casa, de parentes próximos, ou seja, “em linha recta” e companheiros.
Os serviços religiosos em igrejas, sinagogas, mesquitas e reuniões de outras comunidades religiosas continuam a ser possíveis “em condições restritas”. A distância mínima de 1,5 metros deve ser observada, sendo necessária máscara.
O cidadão deve inscrever-se com antecedência para as reuniões, nas quais é esperado um número maior de visitantes. Os testes obrigatórios estão a ser introduzidos em idosos e asilos. Os testes devem ocorrer “várias vezes por semana”, disse a chanceler Merkel. Os idosos e as casas de repouso exigem atenção especial.
“Um erro poderia ter sido evitado: a promessa oficial, do governo, de Natal (nos moldes tradicionais)”, escreveu Thomas Schmid.
3. O presidente do Conselho de Escolas Médicas, Prof. Dr. Fausto Pinto, defendeu que Portugal não deve aliviar as medidas contra a Covid-19, neste Natal
Ao contrário do que admite o Governo, o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa pediu às autoridades que não tenham medo de avançar com restrições para a quadra natalícia, porque os números de vítimas e internados são elevados e a “situação não está controlada”. “Eu penso que, infelizmente, ainda vamos ter alguns dias com números que não são muito simpáticos. Estamos quase no Natal e tenho algum receio que algum potencial alívio de medidas mais rigorosas possa ter consequências menos positivas”, alertou Fausto Pinto, em declarações à comunicação social.
A “situação ainda é muito complicada” para aliviar restrições, e esta é a altura “para ser o mais rigoroso possível”, sobretudo numa fase em que temos uma “luz ao fundo do túnel” com a chegada da vacina contra o novo coronavírus.
“Esse tipo de atitude não é fácil, sobretudo para quem tem de a tomar, mas este ainda não é o momento para aliviar medidas. Sou daqueles que acham que as medidas devem ser rigorosas, porque caso queiramos ser simpáticos, isso paga-se com um preço alto e é isso que não queremos.”
Manter restrições no Natal, nomeadamente limites à circulação entre concelhos ou aglomerados “durante algum tempo, até os números estarem mais contidos”, são para o Prof. Dr. Fausto Pinto essenciais.
“Há áreas que são muitos complicadas, mas que sabemos que são factores de propagação. Estou a falar de alguns tipos espetáculos e atividades que, sabemos, são fatores de propagação. É muito aborrecido, isto afecta muita gente, mas não é possível haver contenção da situação como ela ainda está, se não forem implementadas estas medidas. Tendo de ser muito claro o que isto significa no curto prazo, para podermos ‘comprar’ o médio-longo prazo”, disse, enquanto explicou o número elevado de mortes dos últimos dias: “O que estamos a assistir agora é a consequência das últimas semanas. Houve dias em que tivemos seis mil pessoas infetadas, e atenção que são aquelas que são detetadas. Os casos precisam de algum tempo até estabelecer doença mais grave e depois ter consequências mais complexas, nomeadamente a mortalidade. O que estamos a assistir agora é reflexo do que se passou há duas, três, quatro semanas”.
Os números dão razão à leitura do Prof. Dr. Fausto Pinto.
4. O caso “Nordeste”
O principal grupo vulnerável desta pandemia, os nossos mais velhos, merecem tudo o que por eles façamos. Na mesma medida em que eles, também por nós fizeram tudo.
O Sr. Vice-Presidente do governo dos Açores, Dr. Artur Lima, acompanhado pelos membros da Comissão de Luta contra a Pandemia de COVID19, Dr. Gustavo Tato Borges, Dr. Hélder Rodrigues e Enfa. Lúcia Rodrigues, teve uma enorme demonstração de Humanidade, ao visitar o Nordeste, local-mártir desta Pandemia na Região, onde tanto sofrimento ocorreu, transmitindo de forma clara à população as prioridades que se colocam, nesta Pandemia.
O sofrimento pelo qual passou o povo do Nordeste não é de fácil compreensão, sobretudo para quem não sabe, nem vivenciou, os primeiros 3 meses da Pandemia, em Portugal. A esse sofrimento soma-se a revolta pela forma como tudo isso começou, e que urge esclarecer. Para com eles, a nossa solidariedade, total e incondicional.
Tudo tem de ser feito para que uma situação destas não mais se repita. Parafraseando a Enga. Ângela Merkel, “o preço que pagaríamos, pela repetição do martírio ocorrido no Nordeste, é inaceitável.”
Todos temos acompanhado, com imensa vergonha, o caso de um cidadão ucraniano que morreu, sob custódia de um órgão de policial criminal. Assistimos a uma sucessão de demissões, porque, “a culpa não pode morrer solteira.”, como disse Jorge Coelho, na altura ministro do Equipamento Social, quando se demitiu ao tomar conta da tragédia que, a 4 de março de 2001, vitimou 59 pessoas em Entre-os-Rios.
Na altura Jorge Coelho terá ligado ao primeiro-ministro, Antonio Guterres, ao saber do acontecido, com estas palavras: “António, isto é uma tragédia brutal. Há mortos! As pessoas vinham de um passeio e a ponte ruiu. Já dei instruções aos meus dois secretários de Estado para seguirem para lá. (…) E eu acho que temos de retirar consequências políticas disto!” [in https://poligrafo.sapo.pt/…/18-anos-de-entre-os-rios…]
No Lar do Nordeste foram registados 50 casos de infeção, entre utentes e funcionários, e 12 mortos…
Mario Freitas
Médico consultor (graduado) em Saúde Pública e Delegado de Saúde
(Diário dos Açores de 18/12/2020) — with
Mario Freitas
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- O problema é que isto tudo é conversa e ninguém fiscaliza. Ainda ontem falando para o Canadá, em Montreal,quem faz festas com mais de X pessoas estipuladas por eles, têm multas de mais de mil dolares. De maneira que este nosso amigo vai passar o Natal …See more1
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