Views: 0
Frágil
A azáfama é grande, os telemóveis sempre ligados às powerbanks, tantas e demoradas são as chamadas, as redes sociais fervilham de rumores, palpites, cenários garantidos que se esboroam na hora seguinte, todos conversam com quase todos porque os dois maiores necessitam como nunca dos mais pequenos que, não querendo perder o barco do poder, endurecem o tom negocial.
Este rebuliço, esta necessidade de carinho político remete para a canção de Jorge Palma: “eu preciso de alguém, dou-me com toda a gente, não me dou a ninguém. Sinto-me frágil”. Uma fragilidade que está a ser vivida por Vasco Cordeiro, ele que perdeu a maioria absoluta e que terá bem presente o cenário de poder formar governo, ver o seu programa chumbado e no limite não poder recandidatar-se; mas também por José Manuel Bolieiro que, estando perto do poder, sente a fragilidade de ter que depender de uma mão cheia de outros para lá chegar.
Frágil será sempre a solução governativa que vier a resultar das negociações entre partidos e da decisão final do Representante da República. O próximo Governo Regional dos Açores vai ser diferente dos anteriores, seja de esquerda, seja de direita ou misto, e terá pela frente um dos anos mais duros da história dos Açores pós 25 de Abril com empresas a falirem, o desemprego a aumentar, as necessidades de apoios sociais a crescerem, descontentamento
social, gestão dos fundos comunitários e, em particular, das verbas do fundo de recuperação e resiliência. Ou seja, será necessária estabilidade governativa para enfrentar a tormenta que se avizinha e que poderá ser alcançada com um Bloco Central. Um cenário impensável antes do dia 25 de outubro, mas que agora pode ser usado como último recurso. O primeiro que avançar com esse cenário ganharia a vantagem de aparecer aos açorianos como um verdadeiro estadista, deixando ao outro o ónus da decisão final e, não aceitando, a responsabilidade pela instabilidade política que, previsivelmente, iremos enfrentar.
Não sendo de excluir, no contexto económico e social que se avizinha e perante a falência de um acordo à direita, o CDS dara mão ao PS com a abstenção do BE.
Sem soluções governativas aprovadas pelo Representante da República, a solução derradeira será a convocação de novas eleições, o que só poderá acontecer seis meses após a tomada de posse do novo Presidente da República. Até lá teríamos um governo de gestão num ano de enormes dificuldades para os Açores. Não sendo a resposta ideal, é cada vez menos inverosímil.
(
Paulo Simões
– Açoriano Oriental de 01/11/2020)

2 comments
Like
Comment
Share
Comments
View 1 more comment
- As eleições antecipadas podem originar resultados semelhantes aos actuais. Aconteceu ainda recentemente em Espanha . Mas é uma possibilidade democrática .
1
- Like
- Reply
- 9 m