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Peixe do meu quintal José Soares
Ode à Democracia
De hoje a oito dias, mais um plebiscito levará alguns às urnas para eleger o partido(s) que terá a responsabilidade da governação dos Açores até 2024.
Num sistema condicionado e até controlado pelos partidos políticos, os cidadãos e cidadãs irão votar em minoria. Desiludida, a maioria ficará infelizmente de fora e não participará. Com os números da abstenção a subirem cada vez mais, aumenta exponencialmente a responsabilidade de todos os partidos políticos, pela sua inaptidão ao longo dos anos de ir ao encontro dos desejos populares nas suas mais elementares necessidades estruturais.
Daqui se pode compreender a clássica pergunta do povo: “Ir votar para quê? Se eles controlam o sistema!”.
Esta aberração política terá de conhecer um fim, se não queremos sufocar ainda mais a Democracia.
Todos, mas todos os intervenientes, agentes e líderes das várias forças políticas estão fartos de serem alertados para os problemas que afastam as pessoas das urnas. Não podem alegar desconhecimento de causa.
Vir de quatro em quatro anos pechinchar votos pela simples manutenção do tacho não basta. A Democracia merece mais, muito mais do que isto.
Durante todos os debates que a televisão pública em boa hora trouxe aos domicílios açorianos, ninguém levantou alguns dos verdadeiros descontentamentos do povo. Só se ouviam acusações e pretensões absurdas à mistura com as seculares promessas vãs de cada um.
Governar em democracia é sobretudo ouvir o povo e ir ao encontro das suas reivindicações. Nunca uma atitude de permanente snobismo e arrogância.
O(s) partido(s) que formar(em) governo a partir da segunda-feira 26 de outubro próximo, terá(ão) responsabilidades acrescidas nesta nova era. Tempos difíceis aproximam-se e não podemos confiar apenas nos milhões que Bruxelas vai disponibilizar. Até porque os Açores irão receber aquilo que Lisboa determinar e já sabemos pela História que no que toca a finanças o controlo central é avarento e de propósitos bem suspeitos.
Nesta campanha estéril a que mais uma vez assistimos, ninguém falou na premente necessidade de modernizarmos o pernicioso e abjeto sistema eleitoral.
Pouco ou nada se disse sobre as soluções a dar no transporte entre as Ilhas, tanto marítimo como aéreo. Das enormes dificuldades que as ilhas mais pequenas ainda sentem neste campo.
Nada de concreto se disse sobre soluções a dar às enormes dívidas dos hospitais insulares.
Nem uma sílaba sobre a regionalização constitucionalmente possível, de vários serviços, departamentos, fiscalidades, etc.
Nem uma palavra sobre as condições deploráveis dos detidos e guardas nos escombros da cadeia da Calheta em São Miguel. Mesmo se alguns desses problemas dependem da república, os líderes visitaram os Açores e seria ocasião de lhes indagar sobre várias matérias.
Não se pode alegar diferenças eleitorais, dado que para a Assembleia da república, o número ínfimo de deputados açorianos provoca o esquecimento permanente dos restantes pares sobre os nossos problemas.
Ninguém abordou o sistema educativo nas Ilhas, bem como o ainda elevado número de abandono escolar. Regionalizar ainda mais o sistema de educação de forma a manter o grau cultural e identitário açoriano e identificar as causas que provocam o elevado número de abandono escolar.
Como pode a ignorância servir a Democracia? A quem serve a falta de civismo participativo e cidadania ativa dos açorianos?
Faltou sobretudo a coragem a alguns candidatos de debater as grandes clivagens que persistem na sociedade açoriana.
A ignorância é a mãe de todos os males. Combatê-la é provocar o progresso permanente. Nunca descansar nos resultados perenes.
Os açorianos e açorianas devem ir às urnas e usar com discernimento e crença a sua arma democrática: O voto.
O sistema eleitoral é mau, mas é o que temos.
No próximo domingo, somos obrigados em consciência a votar. Todos e todas.
Que os políticos saibam que estamos acordados. Que sabemos e conhecemos a nossa Terra, as nossas Ilhas, a nossa Mátria – como diria Natália Correia.
Para as urnas, já e em força. Em nome do nosso bem supremo – a Democracia.