FAGUNDES DUARTE NOVA ETAPA

No dia 8 de Outubro de 2020, depois de 42 anos e alguns meses de trabalho como professor eventual do ensino secundário (5 anos) e (os restantes) como professor de carreira na Universidade Nova de Lisboa (incluindo 5 anos no Governo dos Açores e 12 como Deputado à Assembleia da República) — passei à situação de reformado.

Poderia ter ficado ainda mais 4 anos, até à jubilação obrigatória, mas não me apeteceu: a universidade de hoje, que valoriza mais a publicação de «papers» do que a relação humana do professor com os alunos, que não promove a mais-valia que é a experiência de vida dos professores, deixou de me me motivar. Saio como entrei: de mansinho. Não tive, nem procurei, vaidades mundanas como «A Última Lição»: é vento que passa.

Tal como eu passei.

Como professor, contribuí para a formação de centenas de jovens; como investigador, publiquei centenas de artigos científicos e vários livros, dei muitas conferências por esse mundo afora, e dirigi vários projectos da minha área (Filologia e Crítica Textual). Se algum destes trabalhos tiver alguma valia, o tempo o dirá. Se não tiver, paciência: fiz o que pude e sabia. Mas continuarei a fazer coisas: só que apenas aquelas que me derem gozo.

E farei minhas, neste dia em que não deixo de sentir alguma melancolia, as palavras de Vitorino Nemésio no último poema do seu livro «Limite de Idade»:

«REQUIESCAT

Direi, pela noite, não ódio que tivesse

Nem detestar vida corpórea e ninhos de manha,

Mas meu alto cansaço, a tristeza de lá

Onde se sente o aqui traído, a falsa entranha.

Direi — não «fora!» ao mundo que me cinge

(Outro onde o sei e como chegaria?),

Mas dos anos de ver, pensar durando

Retiro uma moeda de nada,

Fruto do meu suor, e pago o pão que se me deve,

Compro o silêncio que se me deve

Por ter cumprido a palavra,

Trabalhado nas palavras,

E por elas merecido a terra leve.»

E digo mais, como na saudação popular da minha ilha Terceira:

Haja saúde!