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Pela nossa saúde!
Neste final de legislatura, em vez de inaugurações apressadas e primeiras pedras gongóricas, os nossos governantes deviam pôr a mão à testa e reflectir sobre o sector mais mal tratado em dois governos de Vasco Cordeiro.
Ao contrário do que nos tinham prometido, os dois últimos governos não conseguiram diminuir as listas de espera para consultas e cirurgias, piorando o acesso à saúde com a crise da pandemia.
Foi mesmo alcançada a proeza de engrossar em mais de 10% esta crónica vergonha do nosso bem estar.
De 2016, data da posse deste governo, já não existem números no SIGICA, a plataforma da Direcção Regional de Saúde que registava a situação das listas de espera, e dos números mais recentes apenas há os do mês de Junho, tal é o afã deste governo em limpar a má estatística.
Salve-se o arquivo dos jornais, onde é possível constatar que, quando este governo tomou posse, há quatro anos, havia menos de 10 mil açorianos à espera de serem operados.
Agora eram quase 13 mil em Junho passado.
Imagine-se o que será com a crise sanitária, em que o número de óbitos já ultrapassa os valores homólogos.
Mais grave ainda: só metade desta gente desesperada (50%) é que consegue ser operada em tempo útil, ou seja, dentro do Tempo Máximo de Resposta Garantido previsto na legislação regional.
Os restantes aguentam, em média, mais de 500 dias de espera!
Este é apenas um indicador da enorme desorientação que se apoderou deste governo nesta legislatura, com substituição de secretários e directores regionais, que conseguiram a façanha de fazer pior do que os seus antecessores.
Nem foram capazes de criar um programa de emergência para atender tanta gente doente imediatamente após os meses da crise.
A aventura mais recente é a da negociação com os enfermeiros, que têm sido uns mártires nas mãos desta governação, assim como os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica e os Assistentes Operacionais.
Em dois dias a Secretária Regional da Saúde foi “exonerada”, na senda do que já vinha acontecendo em crise de pandemia, em que se tornou “pau mandado” do Director Regional da Saúde e do Presidente do Governo.
No sábado, dia 26, às 14h30m, a secretária chamou os enfermeiros para uma reunião na Unidade de Saúde do Pico, propondo que, se acabassem com o aviso de greve, “formalizavam entre si, e de boa fé, o compromisso de colocar o diferendo que existe sobre o tempo de serviço a contar para efeitos dos descongelamentos de 2018, aos enfermeiros da função pública, numa terceira entidade (Procuradoria Geral da República), e vinculavam-se ao parecer desta entidade sobre o assunto”.
Os enfermeiros, percebendo a forma ardilosa da proposta, mandaram o governo às malvas e mantiveram a greve.
O caso deixou a tutela e a presidência do governo sob pressão, com reacções internas dentro do partido bastante incomodadas, com destaque para enfermeiros influentes socialistas.
Não era para menos, pois dois deles, que foram Presidentes da Ordem dos Enfermeiros nos Açores, são candidatos nas listas do PS às próximas eleições e isso deixou muita gente num enorme desconforto eleitoral.
Vasco Cordeiro não resistiu e no dia seguinte telefonou ao Coordenador do Sindicato dos Enfermeiros anunciando a capitulação.
A Secretária não foi tida nem achada.
Só que – tal a desorientação governamental – o recuo era apenas destinado à carreira dos enfermeiros da função pública, deixando para mais tarde os enfermeiros com Contrato Individual de Trabalho, os célebres CIT, que foram aos arames, com razão.
Outra vez pressões de todas as partes e, à última hora, Vasco Cordeiro manda avançar a Secretária, numa apressada conferência de imprensa, para anunciar que, afinal, a capitulação era total.
Suspiro de alívio em tantos gabinetes, mas principalmente na sede do PS, que não queria tamanho ruído em plena campanha.
Este episódio é outro a juntar a tantos neste sector, representativo da ruinosa gestão que se faz da saúde nesta região, toda ela dominada por gente que não sabe nada do sector e obediente, sobretudo nas administrações dos hospitais e na Provedoria dos Utentes, às ordens políticas do aparelho partidário.
O sector da saúde foi, nesta legislatura, tão importante para o governo como uma pobre fábrica de empacotar açúcar importado ou outra mera empresa pública esburacada, a julgar pelo crónico subfinanciamento que deixou todos os hospitais nas ruas da amargura.
A própria secretária, quando tomou posse apressada, tratou logo de prometer que ia dar um médico de família a todos os açorianos.
Em Setembro de 2019 anunciou com entusiasmo que “todos os utentes dos Açores terão médico de família, a partir de Abril do próximo ano, e já em Novembro a percentagem de cobertura vai ultrapassar os 98%”.
Há poucos dias, perto de terminar a legislatura, já veio redimir-se, dizendo que, afinal, ainda há 9 mil açorianos sem médico de família.
Não se percebe como chega a este número, pois ninguém tem acesso à estatística para fazer o escrutínio, mas é mais do que óbvio que os valores são muito mais elevados.
Já em Setembro de 2014, cinco anos antes, ainda no anterior governo, Vasco Cordeiro prometia, na inauguração do Centro de Saúde da Madalena do Pico, que iria criar condições “para que sejam disponibilizadas consultas anuais, num regime de convenção a estabelecer com as unidades de Saúde, a todos os açorianos que ainda não têm médico de família”.
Perguntem os leitores a si próprios, que não têm médico de família, quando foram contactados para consultas em regime de convenção…
A lenga-lenga já é velha em todas as legislaturas.
O anterior Secretário da Saúde, Rui Luís, no debate sobre a proposta do Programa do Governo dos Açores, em Novembro de 2018, já anunciava, pela enésima vez, que o Governo Regional “prevê atingir em 2018 a cobertura total da população com médicos de família”.
Isto de prometer na área da saúde tem sido um festejo bem ruidoso de legislatura em legislatura, com os indicadores teimosamente a piorarem.
A realidade, em política, é bem tramada.
E não é só prometer médicos. Enfermeiros também.
Em 2015, pouco antes deste governo tomar posse, um tal Presidente da Ordem dos Enfermeiros, de nome Tiago Lopes, criticava o governo regional porque “falta coragem política para criar um enfermeiro por cada família”.
No final de 2020, nem médico, nem enfermeiro.
Um balanço triste para a saúde de cada açoriano.
Outubro 2020
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimédia RTP-Açores, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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