OSVALDO CABRAL NÃO CUSTA SONHAR

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Não custa sonhar…

Nesta pré-campanha é assinalável o número de promessas velhas, que passam de legislatura em legislatura, apresentadas como se fossem novidade para o ciclo do “agora é que é”.
Um dos casos mais estruturantes para o futuro da nossa região tem a ver com o mar e os portos.
Já aqui vaticinamos que é um desafio há muito perdido, apesar de vermos por aí muita gente a sonhar alto, como foi a promessa do “hub” da Praia da Vitória e o “grande investimento transatlântico” que iria mudar as nossas vidas.
Perdemos essa batalha a partir do momento em que desistimos de avançar por nós próprios, com os nossos recursos, e entregamos a empreitada aos senhores da República, que muito prometeram e rapidamente nos viraram as costas.
O documento sobre a Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030, lançado agora para consulta pública, é mais um símbolo do desprezo em relação às nossas potencialidades, aliado às inúmeras declarações de aposta noutras paragens que não a nossa.
Os governantes da República já o tinham demonstrado, ao atrair inúmeros investidores para Sines e outros portos do continente, ficando o tal sonho da Praia da Vitória ou do porto de Ponta Delgada pelo caminho.
Ainda esta semana, na polémica entrevista que concedeu ao “Expresso”, o embaixador dos EUA em Lisboa foi peremptório: “(O porto de Sines) é incrivelmente estratégico. É o porto de águas profundas mais próximo dos EUA. O primeiro gás natural liquefeito que veio num navio foi depositado em Sines. A parte do porto que estará em concurso não precisa de ser gerido por uma empresa dos EUA, mas desejamos que haja uma empresa ocidental a operar e a construir o terminal”.
Ora, este discurso já o ouvimos na boca de Ministros, Secretários Regionais e outros políticos sonhadores, em relação ao porto da Praia da Vitória, que seria o centro de todo o Atlântico…
George Glass vai mais longe e, pensando em Sines, ressalva um “Portugal como ‘hub’ de gás e centro da segurança energética europeia”.
Portanto, meus senhores, adeus ao porto da Praia da Vitória como ‘hub’ de coisa alguma, muito menos de gás natural, hidrogénio, estaleiro transatlântico ou o que quiserem continuar a prometer.
A política é muito ingrata e nisto de promessas é como quem diz: “contentem-se com as trapalhadas da descontaminação, que nós aqui no império temos mais em que pensar”…

Dois Provedores

O caso vergonhoso da senhora doente, com mais de 80 anos, à espera de uma consulta de dermatologia, que já ultrapassou, em muito, os tempos máximos de espera, é revelador da profunda doença crónica que se apoderou do Serviço Regional de Saúde, batendo à porta de milhares de açorianos.
E revela ainda duas diferenças cruciais: um Provedor de Justiça que não é escolhido pelo governo e mantém uma leitura isenta do caso, em defesa do doente, e um Provedor do Utente nos Açores, escolhido pelo governo regional, que se limita a defender a administração do hospital em vez do utente!
Isto diz tudo sobre a podridão do sistema regional em que estamos mergulhados…

(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 04/10/2020)

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