AÇORES , COVID E A SAÚDE MENTAL

Views: 0

24 m

COVID-19: Vai um chazinho de camomila para os nervos, menina
Sou Ana, tenho 31 anos e quero-vos contar a minha experiência pessoal sobre o que é estar doente com COVID-19 para tranquilizar as pessoas em relação aos síntomas físicos ligados a esta patologia. Acima de tudo, venho dar o alerta para os perigos de um isolamento social!
O COVID-19 mesmo entrou pela porta da minha casa. Na altura tinha tido uma semana deitada devido a uma hérnia discal e contei com a boa vontade dos meus amigos que vinham-me visitar para me alimentar e fazer companhia. Nessa situação pensas: A sério?!.
Começou com muitas dor de cabeça e mal-estar no corpo, mas meu teste deu negativo. Passados 3 dias já estava com febres, tos e os dores de cabeça e de corpo aumentaram consideravelmente. Nessa altura, Estive a ser seguida telefonicamente todos os dias. Segundo teste: postivo. Uma semana depois meus sintomas complicaram-se ligeiramente e tive diarreia forte e constante durante uma semana. Felizmente, esses sintomas foram “leves” comparados com as dores que me causava a hérnia que me fazia doer até a unha do dedo grande do pé. Os sintomas físico foram esses, duraram 2 semaninhas, até ali tudo bem.
E agora? E as repercussões psicológicas de um isolamento social? Quero falar de como me sinto por estar fechada em casa tanto tempo, sem contacto físico com ninguém. Estou fechada em casa desde o 31 de julho, num T0. Ao inicio tudo, mais o menos bem, por vezes aborrecido, outras desesperante, mas tolerava-se. Recuperei a minha saúde após o COVID-19, mas o teste continuava positivo. Os dias passam e por mais que eu quisesse relativizar e ser perseverante os meus ânimos começam a apagar-se. Comecei a ter insónias tenebrosas durante muitos días e crises de ansiedade, e os dias começavam a ficar infinitos. Moro num T0 onde só vejo quatro paredes brancas. Cada dia que passa parece que essas paredes fecham-se mais e o espaço fica ainda mais pequeno.
Foi então quando decidi pedir ajuda à referente da linha de apoio, que me segue telefonicamente todos os dias. Depois de não ter conseguido dormir a noite anterior, outra vez, comecei a chorar desesperadamente e a explicar a minha situação. Pedi ajuda psicológica e poder falar com alguém que me propusesse soluções para conseguir dormir. Disseram-me que iam ligar a minha medica de família e contactar com a linha de apoio psicológico para me ajudar. Horas depois ligam-me para dizer que a linha de apoio estava colapsada e não iam poder conseguir atender-me e que a minha médica estava de ferias e não havia outros médicos disponíveis. Eu pensei: Mas… nenhum dia?! Somos só 20 doentes, aqui em São Miguel. Metade são conhecidos meus e nenhum deles está a ter apoio psicológico. Quem, então, está a ser apoiado por essa tal linha de apoio?. Por fim, sugeriram-me ligar à linha COVID-19, dizendo que lá haveriam médicos que poderiam receitar alguma coisa e ajudar-me. Após inúmeras tentativas de ligação para à linha de apoio, um senhor atendeu, respondendo que não me poderiam ajudar e eu insisti: “Mas não há mais alguém de seus colegas que possa-me ajudar? Esta situação está a tornar-se insustentável para mim!”. Um dia depois ligaram-me de volta e tive de explicar mais uma vez qual era minha situação.
Parece que não existe um dossier de paciente ou que a comunicação na equipa é inexistente. Contudo, tendo em conta a delicada situação em que me encontrava, atendi esperançosa de ter uma resposta que me ajudasse a dormir. A senhora que me atendeu diz-me: “senhora, bebe um chá de camomila ou tília antes de dormir e vais ver que tudo vai passar!”. Eu, educadamente, expliquei à senhora que a minha saúde mental estava em risco e que realmente precisava de apoio psicológico e algo para ajudar-me a dormir. Mas mais uma vez, nesta outra linha telefónica não podiam-me ajudar. Minha frustração aumentava. No dia a seguinte expliquei ao referente da linha de saúde que me segue diariamente o que tinha acontecido e ela, por iniciativa pessoal ofereceu-me sua “ajuda psicológica” diária e eu agradeci imenso.
Mas digam-me: quanto tempo vai poder dedicar uma pessoa que sua função não é essa e está a trabalhar muitas horas por dia, mais das que devia, que nem consegue dar conta de todo o trabalho que tem de fazer?. Nesta situação, realmente não estão a contratar pessoas para reforçar o trabalho em excesso que estes trabalhadores estão a ter? Como podemos ter os doentes um atendimento digno se esses professionais (médicos, enfermeiros, técnicos, assistentes, etc…) estão com uma carga horaria de trabalho brutal? Quem cuida dos trabalhadores de saúde ?
Dirigentes e pessoas responsáveis, peço que tenham em consideração pelos possíveis danos psicológicos que os doentes podemos ter e reforcem o apoio a todas as pessoas que estão a passar por situações semelhantes. Falo por mim, como COVID-19 positiva (recuperada fisicamente), mas agora doente psicologicamente. Tenham em mente os vossos trabalhadores de saúde, porque deles depende a saúde de todos.
P.S: Estou à espera há mais de uma semana que algum médico responsável da secção Covid ligue-me para me ajudar.
Vale a pena ler! ❤😥