estude-se o passado dos Açores

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Partilha-se Editorial de hoje do jornal Diário Insular com o título “O que não lembrava ao diabo…”

O provável passado pré-português dos Açores (no que diz respeito a presença humana) é algo que não pode continuar a ser estudado apenas por alguns indivíduos dos Açores ou por institutos ou universidades que chegam de fora, fazem um trabalho sobre uma coisa específica e regressam a casa.
As peças já descobertas e, de entre estas, as já datadas – tudo isto cria um corpo de estudo que não pode ser ignorado. O tempo da célebre comissão de “zombies” que decidiu que não havia razões para pesquisar uma eventual presença humana antes da chegada dos portugueses às ilhas é passado – e de preferência para esquecer.
Já são demasiadas as datações. Todas realizadas por laboratórios de referência. As contra-análises são possíveis, mas ninguém as faz. Parece óbvio que uma coisa é “dizer coisas”, outra coisa é entrar em confronto com laboratórios estrangeiros reputados. Aí esmorecem as bocas, que deixam de mandar “bocas”. O que é revelador.
A Região deveria apostar muito a sério no estudo de um ativo que pode revelar-se fabuloso, não só em termos científicos, mas também para o turismo. Por exemplo, uma possível Universidade do Atlântico teria aqui um vasto espaço de trabalho, até porque pode estar em causa a descoberta de novas dinâmicas na dispersão da humanidade. E um determinado nicho de turismo, científico e de curiosos endinheirados, também seria uma aposta provavelmente interessante.
Em boa verdade, nunca conseguimos perceber como nasceu e de que se alimenta o desprezo das autoridades regionais face ao estudo de um possível passado pré-português. É uma de muitas coisas que acontecem, não havendo, porém, qualquer razão que possa justificar tal comportamento.
Já nos passou pela cabeça que poderemos estar perante um devaneio de Lisboa, que terá decidido que provas definitivas sobre um passado pré-português dos Açores poderão reacender eventuais desejos independentistas ou outros. Seria uma ideia bizarra. E mais bizarro ainda seria as autoridades regionais alinharem num tal desatino.
Para nós, a ciência é uma coisa simples. Colocam-se as hipóteses e vamos ao que interessa. No fim, fazemos contas à vida. O que der é o que deu. E ponto final. Nunca nos passaria pela cabeça que alguém decidisse que um fenómeno que existe – ou que parece existir – não deve ser estudado. Ora, alguém se esforçou para negar o possível passado pré-português dos Açores a sua prova ou negação científica. Porquê? Eis a questão de um milhão de dólares.
Não é a primeira vez que escrevemos sobre este assunto. E pelo andar da carruagem não será a última.

Fotografia de Henk Van Oosten.

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