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Conversas pandémicas XVII – Chegados aqui, para onde vamos…?
1. Resultados preliminares da análise dos dados dos pacientes hospitalizados por COVID-19, na Alemanha.
Após a análise preliminar dos dados nacionais de 10000 pessoas, tratadas em 920 hospitais alemães, e internadas por COVID-19, sabe-se desde já que 1 em cada 5 hospitalizados morreu.
A mortalidade foi ainda maior nos pacientes sujeitos a ventilação mecânica: aqui a taxa de letalidade foi de 53%. Um total de 17% dos pacientes recebeu ventilação artificial.
Os pacientes que não foram sujeitos a ventilação artificial tiveram chances, significativamente melhores, de sobrevivência. Apenas 16% dos doentes morreram, neste caso.
O Instituto Científico AOK (WIdO), a Associação Interdisciplinar Alemã de Terapia Intensiva e Medicina de Emergência (DIVI) e a Universidade Técnica de Berlim publicaram estes números, na revista médica “The Lancet Respiratory Medicine”.
Os pacientes internados por Covid-19 frequentemente apresentavam comorbilidades (outras doenças). Analisando os dados dos pacientes sujeitos a ventilação artificial, 62% sofriam de Hipertensão arterial, 39% de diabetes e 43% de arritmias cardíacas. 24% apresentavam insuficiência renal, 19% apresentavam doença pulmonar crónica e 13% eram obesos.
Em geral, os homens morreram com maior frequência, do que as mulheres. A taxa de mortalidade dos homens foi de 25%, acima da das mulheres, cerca de 19%.
Era de se esperar que os idosos, em particular, morressem significativamente mais. A análise mostrou que 27% dos pacientes, hospitalizados, entre os 70 e 79 anos, e 38% dos pacientes, hospitalizados, com 80 anos ou mais, morreram.
A proporção de idosos ventilados foi bastante baixa. Apenas 12% dos pacientes ventilados tinham mais de 80 anos de idade. Nas pessoas de 60 a 69 anos e nas de 70 a 79 anos, foram de 24% e 25%, respectivamente. E, na grande faixa etária dos 18 aos 59 anos, apenas 15% pacientes tiveram que ser ventilados artificialmente.
Todos estes dados ajudam-nos a lidar com uma possível segunda onda.
2. Espantoso como tudo isto evolui muito rapidamente.
No Estado de Victoria, na Austrália, face ao assumir do desastre, Melbourne impôs recolher, à noite.
(Ver gráfico)
3. Evolução do número de casos de COVID-19, em Portugal.
Segundo o INSA, estima-se que até ao dia 1 de Agosto tenham ocorrido 52106 casos de COVID-19, em Portugal.
O mesmo INSA diz-nos algo mais, de extrema relevância epidemiológica: desde o início da epidemia da COVID-19, o número médio de casos secundários resultantes de 1 caso infetado, medido em função do tempo (R(t)) variou entre 0,81 e 2,42. O valor de R(t) nacional apresenta uma trajetória decrescente, com valores inferiores a 1 desde 11.07.2020. Isto é, indiscutivelmente, um excelente indicador.
[Muito se tem confundido este parâmetro com o R0.
O número básico de reprodução é um indicador da transmissibilidade da infeção. Deve ser calculado na fase inicial da epidemia, ainda sem todas as medidas de contenção e atraso implementadas. Corresponde ao número médio de casos secundários a que cada caso dá origem, numa população completamente suscetível. Neste caso o R0 foi calculado com base na curva epidémica até ao dia 16.03.2020.
O INSA diz-nos que a estimativa obtida para o R0 foi de 2,07, podendo o verdadeiro valor estar entre 1,96 a 2,18, com uma confiança de 95%.]
O número médio de casos secundários resultantes de um caso infetado, medido em função do tempo (R(t)) deve ser calculado ao longo da epidemia, e mede a transmissão ao longo do tempo.
Pode ser usado para medir a efetividade das medidas de contenção e atraso.
Desde o início da epidemia de COVID-19, a estimativa do R(t) variou entre 0,81 e 2,42, observando- se uma tendência de decréscimo desde o dia 12.03.2020 (anúncio fecho das escolas), com quebras mais acentuadas em 16.03.2020 (fecho das escolas) e 18.03.2020 (anúncio do estado de emergência).
Depois de 28 de abril o valor do R(t) voltou a aumentar ultrapassando o valor 1 a meio de maio.
4. Mais dados do Relatório do INSA.
Do mesmo relatório do INSA destaco alguns gráficos, importantes para percebermos a evolução desta epidemia em Portugal, até ao momento.
A Distribuição etária, por semana, a nível Nacional
(Ver gráfico)
A Curva epidémica dos casos de infeção por SARS-CoV-2, corrigida para o atraso de notificação, em Portugal. (Verde escuro – casos observados com data de início de sintomas; verde claro – casos observados com data de início de sintomas imputada; cinzento – estimativa dos casos ocorridos mas ainda não reportados).
(Ver gráfico)
A Curva epidémica de casos de infeção por SARS-CoV-2, na região Autónoma dos Açores, com data de início de sintomas observada e imputada (tom cinzento).
(Ver gráfico)
A Curva diária dos doentes COVID-19 hospitalizados com COVID-19, em Portugal
(Ver gráfico)
A Curva diária dos doentes COVID-19 hospitalizados em UCI com COVID-19, em Portugal.
(Ver gráfico)
A Curva diária de óbitos com COVID-19, em Portugal.
(Ver gráfico)
A observação destes gráficos permite-nos perceber como chegamos aqui. A observação do que está a acontecer no Hemisfério sul permite-nos postular hipóteses para o que poderemos ter dentro de poucos meses, em Portugal.
Mário Freitas
Médico consultor (graduado) em Saúde Pública e Delegado de Saúde
(Diário dos Açores de 07/08/2020)




