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VOLTAR ATRÁS, NUNCA MAIS!
VOLTAR ATRÁS, NUNCA MAIS!
Fez há dias 44 anos (20 e 21 de julho de 1976) que se realizou a abertura da Assembleia Regional dos Açores, constituída, então, por 43 deputados.
A data que ficará nos anais deste Arquipélago não mereceu qualquer referência especial que elucidasse os açorianos, sobretudo os mais jovens, sobre o início de um projeto de autonomia democrática que levou anos e anos a ser pretendido, porque o poder do Terreiro do Paço se alimentava de uma centralidade atávica e provinciana que desunia o território e cavava um enorme fosse entre a capital e as periferias.
Mais de quatro décadas decorridas, o sistema autonómico, como qualquer outro sistema político de governação, conheceu altos e baixos, conflitos, consoante as dificuldades e tragédias que se nos depararam.
Nunca é demais recordar as calamidades dos sismos de 80 e de 98, as enxurradas catastróficas da Ribeira Quente, os ciclones de mar que amiúde fustigam as nossas ilhas e desmoronam muralhas, portos, navios, propriedades e outros bens, e um rosário de tempestades e ventanias que abanam estas ilhas atlânticas sem dó nem piedade e destroem vidas e haveres.
A todos estes episódios cíclicos da história açoriana os nossos governantes, regionais e locais, têm correspondido com o melhor do seu saber, dedicação e força de vontade, que deveriam ser mais apreciados pelos habitantes destas ilhas.
É verdade que o exercício do cargo a isso os compromete, mas não se pode exigir sempre mais e mais, quando as forças diminuem face à indiferença e à fácil e por vezes injusta crítica destrutiva que não alenta, nem propõe melhores soluções.
Fazer crítica pela crítica é uma atitude pouco saudável e inconsequente.
Em democracia o exercício da cidadania e da crítica são atitudes fundamentais na construção do bem comum. Todavia, esses direitos devem ser suportados por análises lúcidas e sensatas, para que os visados os possam aproveitar e seguir, com a humildade de quem serve e com respeito pelos cidadãos.
Há dias, fiquei surpreendido com as declarações insensatas de dois vereadores do PSD na Câmara de Angra do Heroísmo, protestando contra a transferência de voos da Ryanair da Terceira para São Miguel, alegadamente com a conivência do Governo dos Açores. Nesse dia passavam 44 anos da abertura do Parlamento Açoriano. Os dois autarcas, sem qualquer pudor afirmaram: “com o atual rumo que a Autonomia leva entendemos que ela não serve a Terceira nem as restantes sete ilhas, sendo preferível o fim deste regime e o regresso à dependência de Lisboa”.
Julgo que os dirigentes regionais do PSD e os construtores do sistema autonómico deverão ter ficado perplexos com o pensamento dos seus correligionários. Todavia não vi qualquer rejeição social-democrata ou de outro quadrante político sobre tão descarada inventiva anti-autonómica, o que me deixou ainda mais admirado.
Houve quem me aconselhou a não ligar ao “impropério” dos vereadores do PSD de Angra.
Entendo, no entanto que aquela mentalidade está expandir-se e a corroer os alicerces da Autonomia Democrática. As razões deverão ser escalpelizadas para que o regime por que os açorianos optaram maioritária e convictamente em 1976, não seja destruído e desacreditado por questões de lana-caprina que merecem explicações atempadas e esclarecedoras.
Ainda recentemente, os açorianos através dos seus eleitos, fizeram vingar as suas propostas de poder decisório e vinculativo alterando a Lei do Mar que uma ministra centralista, à revelia das normas estatutárias, pretendia manter.
Foi uma vitória importante do Parlamento Regional, percursora de uma diferente e promissora visão estratégica que dará ao Arquipélago dos Açores e às suas águas territoriais, uma projeção relevante no contexto internacional, mais que o porta-aviões da Base das Lajes.
Mais uma vez o mar e as insondáveis riquezas minerais a valorar este pequeno território insular, outrora escala obrigatória de rotas continentais. Por novas razões, ligadas ao desenvolvimento científico – fator de progresso de que tanto necessitamos e aspiramos, como suporte estratégico do nosso desenvolvimento.
Por todas estas razões, desacreditar a Autonomia em benefício de um poder centralista, concentracionário, distante e ineficaz, é abdicar de uma luta travada anos e anos e que só foi ganha por mérito dos açorianos de várias gerações. Ensinar aos mais novos esta luta e as conquistas daí resultantes é imperioso e urgente, para que nunca mais se volte atrás!
Engrade, Pico
José Gabriel Ávila
jornalista c.p. 239 A