açores autonomia ferida osvaldo cabral

Views: 0

Uma Autonomia ferida

Parece cada vez mais consensual que a Autonomia Política que temos não é aquela que todos almejamos.
A constituição de uma CEVERA – a preguiçosa comissão parlamentar para produzir uma reforma da Autonomia – é o exemplo desse descontentamento a nível dos agentes políticos, mas foi preciso uma pandemia para que o povo percebesse que, afinal, quando queremos impor regras cá dentro, em defesa da nossa saúde, o Terreiro do Paço não deixa, alegando a “continuidade territorial” e os travões que a Constituição consagra.
Temos, portanto, uma Autonomia ferida, senão mesmo incompleta, apesar da sua implementação que se confunde com os 16.500 dias de Liberdade, desde Abril de 74.
O mais curioso é que reagimos contra o centralismo conforme os maus humores dos nossos governantes.
Na primeira fase da Autonomia tivemos o protesto original dos “óculos escuros e gravatas pretas”, que depois resultou numa troca de palmadas nas costas e ficou tudo esquecido.
Nesta segunda fase temos uns arrufos e uns recados inflamados, mas depois voltam todos à tradicional submissão a Lisboa e às suas lideranças nacionais.
Faz agora quatro anos Vasco Cordeiro alertou os açorianos para estarem “vigilantes e prontos para os inimigos da Autonomia”, revelando grande preocupação com os “autonomistas de fachada de cá” e pedindo que os açorianos se mantivessem “vigilantes e prontos face aos antiautonomistas confessos de lá”, defendendo, intransigentemente, “a nossa capacidade e o nosso direito de sermos nós, açorianos, os senhores do nosso destino”.
Daí para cá, porque a cor do governo mudou, palmadinhas nas costas…
Nos últimos meses fomos violentamente agredidos na nossa dignidade de escolha perante as provocações de António Costa, Marcelo e o ministro mimado Pedro Nuno Santos.
A submissão com que reagimos a estas atitudes “políticas firmes” diz bem do grau de Autonomia que temos, por mais alertas para estarmos “vigililantes” e sermos “os senhores do nosso destino”.
O Dia dos Açores que assinalamos amanhã nunca foi tão cruelmente representativo como vai acontecer com as cerimónias oficiais, confinadas a uma participação virtual.
Uma Autonomia virtual, que nos vai embalando com o derramar de pacotes de subsídios do Estado e da Comissão Europeia, como vai acontecer mais uma vez, para amolecer os “açorianos vigilantes”.
Até quando não vamos ser senhores do nosso destino?

(Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 31.05.2020)

— with Osvaldo José Vieira Cabral.

Image may contain: Osvaldo José Vieira Cabral, text that says "Editorial Osvaldo Cabral osvaldo.cabral@diariodosacores.pt"