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INDIGNAÇÃO
Como docente da Universidade dos Açores, com responsabilidades na formação de futuros professores/as, estou indignada com as primeiras aulas a que assisti, no âmbito do Estudo em Casa, oferecidas na RTP Memória, da responsabilidade do Ministério da Educação de Portugal.
Resumidamente:
1ª aula do Estudo em Casa do 3º e 4º ano.
1º conteúdo – Texto Informativo – Leitura de Horários.
1º exemplo de texto – Um Horário de Comboios
1ª atividade prática – Elaboração do horário do Estudo em Casa sem uma única referência à diferença horária entre os Açores e Portugal Continental e Madeira.
Não vos parece o ensino das décadas de 70 e 80 em que o país era Lisboa e a maior elevação de Portugal era a Serra da Estrela?
Nos Açores e Madeira, onde não há comboios, as crianças do 3º e 4º ano já analisaram, hoje de manhã, no Estudo em Casa, um horário deste tipo de transporte. O primeiro exemplo não podia ser um horário de autocarro, para começo de conversa, e para aproximar o ensino das vivências das crianças?
E que horas devem as crianças dos Açores registar no horário que as mesmas elaboraram por sugestão das professoras do Estudo em Casa? Por que motivo deixaram as crianças dos Açores confusas quanto às horas a registar? Aliás, a própria RTP e os responsáveis pelo Ministério da Educação, nos anúncios prévios do “Estudo em Casa”, nunca referiram que nos Açores tudo tem de começar uma hora antes. Por que motivo desperdiçaram a oportunidade de ensinar às crianças do país que existe uma diferença horária entre os Açores e o resto do país?
Enquanto escrevia este texto, fui ouvindo outra aula: a 1ª aula da Hora da Leitura do 1º e 2º anos. Apresentou-se uma senhora (professora????) que leu sem qualquer expressividade quatro livros infantis. Relativamente a um deles disse que o desconhecia, nem sabia do que tratava a história. Abordagem inédita e corajosa quando se sabe que qualquer docente ou promotor do gosto pela leitura tem de conhecer muito bem as obras mais que não seja para perceber se as mesmas têm ou não interesse para as crianças. Como se isso não bastasse, depois de lidos excertos do último livro, referiu para o auditório nacional:
“Eu não tenho muito jeito para contar histórias, mas dei o meu melhor”.
Não sei se RIA! Não sei se CHORE! O Ministério da Educação conseguiu dar início à Hora da Leitura para o 1º e 2º Anos, cujo objetivo é motivar para a leitura e para o livro, com uma pessoa que demonstrou e teve a ousadia de verbalizar não ter jeito para contar histórias?
A bem da verdade nem tem jeito nem para as contar nem para as ler sequer, pois foi o que fez. Esta senhora não sabe a diferença entre ler uma história e contar? Tudo isto num país onde há centenas de contadores/as de histórias profissionais e professores/as com talentos mil para leituras expressivas, dramatizadas e para contar histórias.
Assistimos a um momento “mágico” de incentivo à leitura, sem dúvida. Uma salva de palmas para esta afronta e mediocridade que atingiu o auge quando a mesma pessoa pediu às crianças para procurarem na estante de livros da sua casa por outros livros sobre animais. Esta foi de mestre! Quantos milhares de lares existem pelo país fora sem um único livro infantil?
E o pior de tudo: pedi aos meus alunos/as da Universidade, futuros/as profissionais de ensino, para assistirem religiosamente à programação do Estudo em Casa.
Por este andar, matéria para refletir não irá faltar.
Haja Paciência!!!
Graça Borges Castanho
Docente da Universidade dos Açores