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A situação a que estão sujeitos os professores com o ensino à distância via internet (acredito no bom trabalho da Teleescola), no ensino secundário e básico, é humilhante e devia parar hoje, com a suspensão do ano lectivo, medida que muitos defendem na área, com a qual concordo. Ninguém vai suportar 2 meses e meio disto, e as baixas psiquiátricas vão aumentar, as pré-reformas entrar em massa; e os alunos bons, médios e com dificuldades ficar ainda mais indefesos porque não vão conseguir aprender nada assim. O Governo tem que reconhecer o erro e recuar. Não são só piratas informáticos, gente sem escrúpulos ou inconsciente, a humilhar professores e alunos, em que o crime de violação de imagem e a invasão da vida privada tornou-se norma. São alunos que estão a meio da noite a descarregar programas que só a essa hora funcionam; são professores sem computadores ou sem saber usar programas; são professores descompensados a marcar testes online, feitos ao lado pelo pais; são pais desvairados que interrompem aulas para falar com professores; são centenas de emails por dia para gerir, nem professores nem pais conseguem, muito menos alunos, grande parte nunca teve sequer email na vida; são milhares de crianças em famílias sem suportes informáticos e com medo do desemprego e da miséria, em situações de grandes conflitos familiares, e tensão social. No meio disto ainda se prolonga este inferno para 26 de Junho, quase um mês a mais do previsto calendário, se tiram as férias aos miúdos e professores que estiveram presos em casa (quarentena não são férias, é uma prisão), com medo, sem conseguir conviver e descansar. É tudo absurdo. Vão aprender o quê nestas condições? Um exemplo de sucesso aqui ou ali não invalida que no todo está tudo a falhar nesta fórmula, recuem no Ministério da Educação em nome de todos, professores, pais e alunos, em nome do país. Perguntam-me o que fazer com os exames? Bom, não sei responder a isso, sempre fui contra exames, tenho a certeza, pelos estudos que são feitos na área, de que eles não melhoram, pelo contrário, pioram o desempenham de alunos e professores, pioram a qualidade do ensino. Por mim podem ser suspensos este ano e em todos os anos vindouros. É preciso autonomia pedagógica nas escolas, trabalho em equipa, com o fim da avaliação por desempenho, fim de exames, redução de programas e horários e recuperar o gosto de aprender e ensinar, a ciência pura e abstracta, fundamental, tudo isso devia voltar. O que se está a fazer aos professores, alunos e pais viola direitos fundamentais, e não garante ensino algum, é um simulacro que só vai contribuir para mais burnout, pré-reformas e desinteresse dos alunos, já desmotivados por uma escola que não tem conseguido cumprir a sua missão porque se tornou mercantil e virada para um mercado de trabalho pobre. Ontem uma professora, sem computador com câmara, que está há 3 semanas a pedir uma solução a colegas e director, disse-me num bom resumo “isto não serve para nada, só os alunos Excelentes vão fazer alguma coisa, de resto andamos todos a fingir”.