covid19 “A Guerra que ninguém quer”.

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Partilha-se artigo de opinião da autoria do meu colega Tomaz Dentinho, minha e da Cátia Lourenço, publicado hoje no jornal Diário Insular, com o título:

“A Guerra que ninguém quer”.

A Guerra contra o novo Corona Vírus é de dias, semanas e meses. Não é de anos. A questão está em morrerem 3% das pessoas ou morrerem 0,1%.
Uma parte do combate é do foro da ciência farmacêutica designadamente na descoberta, produção e distribuição de vacinas, mas provavelmente essa frente vem fora do tempo desta primeira batalha de várias frentes.
Outra parte importante do combate é na contenção da doença de forma reduzir a procura de hospitalização de um pico de 10% da população sem fazer nada para um pico de 2% da população.
No entanto esse esforço da população e da economia não consegue por si baixar muito o número de falecimentos se não se multiplicar por quatro a capacidade do sistema de saúde de responder ao problema. Só com a criação de apoio médico para 2% da população é que será possível reduzir fortemente a taxa de mortalidade.
E o apoio médico não se limita ao número de camas. É preciso em poucos dias multiplicar ventiladores, formar equipas de enfermagem mesmo para pessoas sem curso. Os cursos de primeiros socorros são mesmo a sério e orientados para combater a pandemia que, segundo o que conhecemos, chegará a 81% da população, naturalmente a população mais urbana.
O modelo que adotámos é simples. O número de contagiados (Xt) depende do máximo alcançável de contagiados (K=81), da taxa de crescimento (r=26%, r=5%) e do parâmetro (c=K-1) tudo na fórmula [Xt = k/(1+c.exp(-rt))-X(t-11)]. Com base numa folha de Excel fazemos os cálculos para uma população de 100 pessoas, admitindo, conforme o que nos é dado observar, que 19% dos contagiados são internados, que os internados estão em média 11 dias internados e que 3,4% dos contagiados internados acabam por falecer, mas que, se os 19% de necessitados não forem internados, têm uma grande possibilidade de morrer.
Como vemos no Gráfico da Figura 1, se a capacidade hospitalar for apenas 0,5% da população (é de facto 0,34%) então mais de 3,14% da população irá falecer em dois meses se houver uma taxa de ataque da epidemia elevada.
Se houver contenção na difusão da doença de 26% por dia para 5% por dia (Figura 2) então 2,13% da população falecerá em seis meses. Há alguma melhoria face ao primeiro cenário, mas terá um grande custo para a economia, com expectáveis perdas de vidas humanas por essa via.
Se houver contenção na difusão da peste e multiplicarmos por quatro a capacidade hospitalar então poderemos reduzir fortemente o impacto da doença em termos de vidas humanas (Figura 3) estimando-se que a perda de vidas seja de 0,54% podendo ser ainda menor se, entretanto, imitarmos os melhores cuidados que se prestam no mundo.
Em suma as atuais medidas de contenção servem apenas para dar tempo para aumentar a capacidade de tratamento hospitalar que deve ser cerca de quatro vezes superior à atual. Também serve para dar um tempo precioso ao surgimento de tratamentos médicos que reduzam o número de falecimentos como está a ser conseguido em alguns países.
Nesse caso, não podemos deixar de apresentar um cenário de esperança em que são necessários apenas 10% de internamentos, a mortalidade desce para 1,7% e os internamentos baixam para 5 dias. Neste caso falecerão 0,1% e será apenas necessário duplicar a capacidade hospitalar até daqui a três meses. Mas é preciso trabalhar para isso. Não basta a contenção que como vemos na Figura 2, apenas adia, mas não resolve. O Cenário de Esperança é apresentado na Figura 4 e para isso precisamos da ajuda do conhecimento adquirido pelos chineses, da tecnologia americana e, porventura da mão de obra urgente para apoio hospitalar de muitos jovens com um curso intensivo especializado!
Figura 1: Cenário de Capacidade Hospitalar de 0,5% e Crescimento da Doença de 26%.
Figura 2: Cenário de Capacidade Hospitalar de 0,5% e Crescimento da Doença de 5%.
Figura 3: Cenário de Capacidade Hospitalar de 2% e Crescimento da Doença de 5%.
Figura 4: Cenário de Esperança Capacidade Hospitalar de 1% e Crescimento da Peste de 5%.

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