****Um vergonhoso silêncio em jeito de refúgio cómodo e subserviente?

Apenas ontem, Domingo, tive possibilidade de ler o Diário Insular de Sábado. Na página 2 sob o título “Trabalhadores das Lajes temem infectar a ilha”, fazem-se considerações perturbadoras. A vários títulos. A Base Aérea das Lajes continua a ser escala de trânsito e de pernoita de militares italianos e espanhóis que se dirigem aos EUA para exercícios militares. Imagino que será coisa de magna importância e urgência. Entretanto, dada a proveniência, se o facto já não fosse razão para fundados receios, a circunstância dos voos militares serem assistidos pelos trabalhadores portugueses da Base bastaria para fazer soar os alarmes. Mas interrogo-me. Como se explica que países como Itália e Espanha mergulhados numa situação dramática, mais os EUA do outro lado também a braços com problemas graves (casos por exemplo da Califórnia e New York), se preocupem com a realização conjunta de exercícios militares? A par da verdadeira Guerra Mundial que nos foi imposta pelo COVID-19 será que anda por aí, sem nos apercebermos, uma outra guerra que justifique este desconchavo de países entulhados de problemas entretidos a brincar à tropa e que, irresponsavelmente, invadem terra alheia colocando em risco vidas? E como se compreende que o Ministério da Defesa de Portugal se reduza a um inexplicável e inaceitável silêncio sem dar resposta às perguntas que o DI lhe dirigiu? Como se compreende que um país como Portugal nos mande a todos – e muito bem! – a permanecer em casa e que gente estranha com origem em países assolados pelo Coronavírus nos invada, nas barbas da Força Aérea Portuguesa, com total desprezo pelos nossos direitos e pela nossa segurança? E que sentido faz impor-se nos Açores a quarentena – e muito bem, já que o Sr. Primeiro-Ministro está tão sensível à “continuidade territorial” que até foi de carreirinha à TAP pedir para esta continuar a voar para os Açores – e entretanto os militares estrangeiros que transitam pela Base das Lajes se comportem como quem está em terra de ninguém? Qual é o ataque que os países da NATO pensam estar na iminência de ocorrer que torna tão relevante e premente esta palhaçada de exercícios militares com tropas a cruzar o Atlântico em trânsito pelos Açores, em momento tão crítico, usando de forma arbitrária território estrangeiro e colocando vidas em perigo? Será que é preciso lembrar a quem está a consentir esta ultrajante situação, que os 11 casos confirmados nos Açores, de pessoas infectadas pelo coronavírus, são todos – todos! – importados? Ou seja, para ficar explicadinho – nenhum resultou de contágio interno. Não é nada original o que o título de uma caixa em destaque no artigo do DI que suscitou este post, deixa impresso: “Carne para canhão… ou vírus”. Mas para melhor se perceber o sentido do texto que vem depois, cito o último parágrafo que julgo ser do Chefe de Redacção: “A Base das Lajes sempre foi um enorme problema, sobretudo por Portugal se comportar como um Estado vassalo no sistema internacional em que vivemos (que ainda existe). E nós somos carne para canhão. Ou corpo para vírus”.

Partilhado com a devida autorização do autor, Dr. Ricardo Costa.

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