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esta e restantes estão em https://www.lusofonias.net/mais/as-ana-chronicas-acorianas.html
Crónica 312 só me resta regressar ao passado e emigrar para China 22.1.20
Ando muito feliz por saber que há menos desempregados nos Açores do que em qualquer momento desde 2010 (são só 6982), que menos 3364 pessoas estão nos programas de ocupação e formação, que foram criados nos últimos 3 anos 5993 novos postos de trabalho ( o vice-presidente do governo não mencionou quantos foram extintos, nem quantos foram sazonais ou temporários), que a construção civil ocupa mais gente, mas ainda ninguém meteu na equação que parte desses números são assim tão bons devido à redução de população dos Açores. A sangria continua com mais de 1500 pessoas ao ano a abandonarem o arquipélago, e as estatísticas a provarem que os que ficam são os mais vetustos, envelhecendo ainda mais a pirâmide etária dos Açores, com repercussões em tudo desde o aumento dos custos da saúde à redução da produção agrícola de subsistência….também ninguém falou no que se perdeu com centenas de greves que afetaram os Açores neste último ano.
Também gosto muito sempre que há eleições regionais pois nesses anos as estradas e caminhos agrícolas passam a merecer a atenção das entidades que se apressam a mandar fabricar alcatrão e betão para as repararem, pavimentarem ou remendarem. Até acredito que será desta vez que vão reparar a estrada entre a Lombinha e a Maia em S Miguel (caminho municipal 519) quase intransitável desde as derrocadas de dezembro de 2015…
O mesmo se pode dizer dos polidesportivos anunciados quatro anos antes e que esperam por este ano de eleições para serem construídos, favorecendo, assim, o crescimento das atividades de obras públicas e construção civil, melhorando os índices económicos da região. E mais uns cobres para as filarmónicas que sempre ajudam a melhorar o astral das populações.
O principal partido da oposição açoriana que anda em crise há muitos anos, elegeu um novo líder para mudar as décadas de governação socialista, mas as teias de subordinação em subvenções, apoios, e outras benesses fazem do povo açoriano um conjunto subsidiodependente, por muito desgostado que possa andar. Vai ter uma tarefa inglória e uma missão quase impossível pois há muita clientela a satisfazer e, cada vez, menos tachos a oferecer, e sem isso para oferecer lá se vão os votos, dos poucos que ainda se dão ao trabalho de fingirem que a democracia serve para eleger.
As empresas públicas e similares que ainda não fecharam ou transitaram para o seio doutras, estão todas falidas e não comportam mais “boys e girls” do regime, sendo consabido que com a tradicional falta de emprego nos Açores, só as benesses do aparelho partidário garantem empregos chorudos.
A pecuária, que curiosamente apelidam de agricultura açoriana, é o setor mais choroso de benefícios, subvenções e apoios de toda a espécie e mostra-se incapaz de se adaptar aos novos tempos do POSEI (redução de 3,9% prevista este ano), às reduções financeiras de Bruxelas e à conjuntura global.
Na verdadeira agricultura vão surgindo exemplos isolados de pessoas capazes de criarem novas culturas e melhorarem as existentes, sem estarem a pedinchar apoios. Numa fase em que se importa quase tudo do exterior, podem conseguir nichos de mercado importantes. já aconteceu no passado com o ciclo da urzela (Rocella tinctoria) e pastel, do vinho, da laranja, ciclo do chá, do ananás. Agora fala-se muito do café que já cultivado em quase todas as ilhas…
E entretanto vão-se adiando para as calendas necessidades urgentes como a cadeia de Ponta Delgada, o alargamento das pistas do Pico e da Horta, a nova lancha para o Corvo (nesta data em que escrevo passaram 47 dias sem barco e não culpem o clima, o mar, ou o resto, foi por mera incompetência)… para as Flores alugou-se finalmente um barco que chegou a 10 de janeiro (creio) para repor a normalidade mas os tempos mortos, a inação, o esquecimento e a falta de abastecimento atempada decerto não serão esquecidos na mesa de votos.
Depois há os problemas das infindáveis listas de espera para cirurgia (desde que aqui cheguei em 2005 que prometem resolver este problema e o do médico de família para todos), a falta de especialistas nos centros de saúde de ilha, as incongruências dos centros de saúde do Pico e das estatísticas do Hospital da Horta, e em Santa Maria, na Graciosa, etc.
Tinha prometido não voltar a falar da SATA e do seu gestor em tempo parcial, pois quando for privatizada todos terão saudade do que ela é hoje, apesar de estar péssima…mas tem tantos problemas endógenos que os exógenos parecem fáceis de resolver, embora seja mais fácil deixá-la absorver pela IcelandAir ou TAP… à semelhança de Cabo Verde (alguém me disse que na nova administração está o responsável por ter resolvido assim o problema da transportadora nacional de Cabo Verde).
E termino com notícias do ensino sobre o qual nem quero falar. No relatório PISA deste ano pode ler-se que
Mais de metade dos adolescentes portugueses querem ter os mesmos empregos e, a nível internacional, muitos jovens escolhem carreiras que exigem qualificações académicas mas para as quais não pretendem estudar.
Em Portugal, 58% dos rapazes optam pelas mesmas áreas assim como 54% das raparigas. Tendo em conta as respostas dadas nos 41 países, elas querem seguir uma profissão na área da saúde (15,6%), ensino ou gestão de empresas, enquanto eles se focam mais nas áreas das ciências e engenharia: No top aparecem os empregos associados a engenharias (7,7%), seguindo-se gestão de empresas e a área da saúde. Outro dos resultados do inquérito é o facto de o emprego que os jovens sonham ter quando chegarem à vida adulta não ser compatível com as habilitações académicas dos adolescentes. O relatório revela que um em cada cinco jovens escolhe uma profissão que não se adequa com os anos de escola que pretendem ter, um problema que volta a ser mais dramático entre os estudantes de meios socioeconómico desfavorecidos. Ter um emprego acessível, bem pago e com futuro “parece estar a cativar a imaginação de cada vez menos jovens”. A agravar este cenário, o relatório revela ainda que cada vez mais procuram trabalhos em risco de desaparecer, uma característica mais visível entre os rapazes e os jovens de meios socioeconómico desfavorecidos.
E sendo os Açores uma das mais pobres regiões europeias (registaram valores de rendimento mensal médio líquido de 801 euros), recordo um recente estudo do banco Crédit Suisse que diz existirem mais pessoas pobres na América do Norte do que na China. De acordo com o estudo (o estudo mede riqueza líquida e não rendimentos, ou seja, o valor de todos os lucros menos as dívidas), não existe um só cidadão chinês entre os mais pobres do mundo, mas 10% deles estão na América do Norte. Outros 20% entre os mais pobres estão na Europa.
O continente norte-americano tem 10% das pessoas mais pobres do planeta e 30% das mais ricas. A Europa tem, aproximadamente, 20% das mais pobres e 35% das mais ricas. E a China não tem nenhum cidadão entre os mais pobres e cerca de 7% ou 8% entre os mais ricos. uma pessoa precisa apenas de US$ 3.210 para estar na metade mais endinheirada do planeta em 2015. No entanto, são precisos US$ 68.800 para estar entre os 10% mais ricos e US$ 759.900 para pertencer ao top 1%. Enquanto a metade mais pobre dos adultos possui menos de 1% da riqueza total do planeta, os 10% mais ricos retém 87,7% dos bens. O 1% mais abastado tem metade da fortuna de todas as famílias do mundo.
Acho que só me resta regressar ao passado e emigrar para China, mas aquele programa de reconhecimento facial deles que dá pontos sociais, como nas cartas de condução, não me agrada mesmo nada e, se calhar, não me deixavam escrever estas crónicas com a mesma liberdade de expressão que, felizmente, ainda vamos tendo. Chrys Chrystello, Jornalista, Membro Honorário Vitalício 297713 [Australian Journalists’ Association MEAA]
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