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Uma Bofetada com Vela Branca. A Primeira Volta ao Mundo foi uma prodigioso empreendimento da humanidade, só possível graças à ciência e tecnologia portuguesas, espanholas, genovesas, venezianas e árabes, a muita coragem e ousadia, à experiência dos navegadores e cartógrafos de então e à liderança e carácter de Fernão de Magalhães. Por isso se justificou que Portugal e Espanha se tivessem associado na celebração conjunta dos Quinhentos Anos. Curiosamente, algumas vozes conservadoras de Castela insurgiram-se contra a parceria, e a espanhola Real Academia de História, acicatada pelo conservador jornal ABC, chegou a afirmar ridiculamente que a primeira volta ao mundo tinha sido exclusivamente espanhola. Certamente se esqueceram de que nos princípios de Abril de 1520, perto da Terra do Fogo, os comandantes espanhóis da frota, aterrorizados com o mar e os ventos árticos, se amotinaram para regressarem a Espanha, e que a viagem só não acabou ali porque Magalhães conseguiu recuperar a liderança. Também se esqueceram de que em Outubro de 1520 duas das naus com comandantes espanhóis fugiram apavoradas para Espanha, deixando a frota reduzida a três naus. A viagem prosseguiu, assim, não graças aos comandantes espanhóis, mas apesar deles. Por tudo isto, a Volta ao Mundo do Navio-Escola Sagres é uma bofetada com luva branca, ou antes, com vela branca na espanhola Real Academia de História. Quinhentos anos depois, quem torna a dar a volta ao mundo, mostrando o seu país e a sua história ao mundo, é uma tripulação portuguesa e um barco à vela inteiramente português.
