os Dutra (van Hurtere) dos Açores

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Os Dutra

 

 

Segundo o livro de Genealogia das Quatro Ilhas ( Faial, Pico, Flores e Corvo) de Jorge Forjaz e Antonio Ornelas Mendes, a familia Dutra teve origem em Jos van Hurtere ( Jorge Dutra), seus irmãos Josina d’Utra, Balduino d’Utra ( o irmão natural) e o primo Antonio d’Utra . Eram descendentes do nobre flamengo Nicolau d’Utra, Senhor de Aghebourne ( Haghenbrouck), Flandres Ocidental . Os três irmãos, filhos segundos de Léon van Hurtere, e o primo fizeram na Ilha do Faial uma nova vida, provavelmente para escapar às dificuldades que assolavam a região flamenga com as guerras dos cem anos e/ou para fazer novas conquistas ou aquisições. Deles descendem os Dutra dos Açores, Portugal Continental e Brasil.
Dentre as várias versões de historiadores de como foi parar Jos van Hurtere no Faial, segundo relata uma carta-documento da duquesa D. Isabel ( filha do rei de Portugal, D. João I, esposa do Duque de Borgonha, Felipe III, o Bom) para seus sobrinhos, o rei Afonso V e D. Fernando ( dono das Ilhas açorianas), Jos van Hurtere que servia na Casa Ducal de Borgonha na função de panadeiro ou veador palatino ( responsável pela distribuição do pão à mesa dos duques) era filho do Senhorio dos Hurtere, gente de distinção com brasão e armas. A Duquesa solicitava permissão ao rei para deportar para a Ilha do Faial criminosos, condenados civilmente, e outros colonos que se encontravam em situação de miséria em Flandres, provocada pelas guerras que fazia seu filho Carlos, o Temerário. E indicava como donatário Jos van Hurtere, que já estivera no Faial com um grupo de flamengos à procura de metais, por influencia do Frei Pedro, franciscano confessor da rainha de Portugal que, em Flandres, fantasiara dizendo que na ilha havia prata e estanho. Apesar das pesquisas não terem dado em nada, Jos foi para Lisboa e solicitou ao rei a donataria, o que conseguiu meses depois, por influencia da Duquesa de Borgonha. A permissão do povoamento com gente flamenga e a doação da donataria foram concedidas por carta do Infante D. Fernando, passada em Tomar, a 21 de fevereiro de 1468 e mais tarde confirmada por D. Manuel, ainda Duque de Beja, a 5 de março de 1491.
Apadrinhado pela Duquesa, casou com uma dama da Corte Portuguesa, D. Brites de Macedo, uma suposta alentejana, bem mais jovem que ele. Para o Faial se mudou como primeiro donatário com direito a passar aos filhos varões a donataria. Levou muitos flamengos, parentes, amigos, utensílios, ferramentas, e junto com outros portugueses, que já lá estavam, iniciaram a colonização da Ilha do Faial.
Além dos Hurtere ( Dutra) foram os Buscamp ( Bulcão), os Herman ( Armão) Pieter Roose (Pedro Rosa), os Cornélius, os Vernes, os Jannequim, os Willen van der Haagen ( Silveira) e outros. Jos van Hurtere ( Jorge ou José d’Utra) repartiu terras, desmatou matagais, construiu casas de pedra e madeira com teto de colmo, erigiu ermida em Porto-Pim. Nove anos depois pediu e conseguiu a donataria da ilha em frente, o Pico, pois seu donatário oficial Álvaro Ornelas, não ocupou a ilha-montanha, como era determinado.
O famoso médico doutor Hieronymus Monetarius ( segundo as más línguas, fugindo da Peste) conheceu em Lisboa D. Brites de Macedo, já então esposa de Jos van Hurtere, e dela disse “ser uma senhora nobre , sábia e perita em tudo, que nos deu de presente ânforas de musgo de urzela e nos tratou com a maior distinção”.
Do casal houve 10 ou 11 filhos. Entre eles Jorge Dutra filho (aportuguesamento de nome Jos van Hurtere), o segundo donatário. Seu filho, Manuel Dutra Corte Real, terceiro donatário, por motivos legais mal esclarecidos, perdeu o direito de passar a Capitania ao seu descendente, pela Coroa não reconhecido. Apesar dos processos impetrados junto à Corte, Lisboa não mais acolheu os Dutra como herdeiros à donataria.
Os Dutra se consorciaram com outras famílias e se espalharam pelo novo mundo. No Brasil se fixaram a principio em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, e Minas Gerais. Entre seus descendentes no Brasil está Francisco José Dutra casado com Ana Terência que tiveram José Florencio Dutra ( nascido em Cuiabá, MT a 07/11/1848 e falecido a 23/07/1924) alferes de policia e pai do presidente da Republica Marechal Eurico Gaspar Dutra (18/05/1885 Coxipó, Cuiabá, MT- 11/06/1974, Rio de Janeiro)
Curiosidades:
O nome do primeiro donatário da Ilha do Faial teve várias interpretações gráficas Jos, Joss, Job, Jost, Jacob, Jorge, José Huerta, Hurtere, Huter, Hutra, Utra, d’Utra, Dutra ( Arquivo dos Açores ,Vol I, 153), mas ele próprio se assinava Jos van Hurtere. Provavelmente dele provém o nome da Vila e depois cidade da Horta, a mais importante do Faial.
Joana de Macedo , filha de Jos van Hurtere, foi casada em primeiras nupcias com Martim Behaim o construtor do primeiro globo terrestre, o Globo de Nuremberg, e em segundas núpcias com o madeirense D. Henrique de Noronha, de nobre origem.
Armas dos Utra: De azul com três besantes de ouro , cada besante figurado com três gotas negras ( ou arruelas )
Timbre: um abutre de sua cor armado de ouro.
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 17/11/13
Para saber mais:
Armorial Lusitano ( Editorial Enciclopédia LTDA) Lisboa- 1961
Genealogia das Quatro Ilhas ( Faial, Pico, Flores e Corvo) Jorge Forjaz e Antonio Ornelas Mendes
Genealogia Ilha Terceira de Jorge Forjaz e Antonio Ornela Mendes
Famílias Faialenses ( Marcelino Lima)
Internet: Origem da familia Dutra