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Vítor de Sousa

As rotundas como mostra parola de pretensos ex-libris locais. A minha rotunda é melhor do que a tua.
Como nos conta Álvaro Domingues (“Público, domingo, p. 33, em “O chão pacífico da lavoira”), as rotundas servem para albergar coisas que estão em vias de desaparecer, ou em vias de mitificação, ou ambas. E, olhar para a maior parte das rotundas – uma moda recente que, antes, figurava quase só em Lisboa ou no Porto, ou apenas no livro do código da estrada -, é olhar para a patetice local de quem, em meia dúzia de metros de terra, quer que represente qualquer coisa. Mesmo que, à pala das árvores entretanto plantadas, se deixe de vislumbrar o ícone, nem se consiga ver o fluxo automóvel.
Há mesmo uma localidade portuguesa a quem chamam a terra das rotundas em que um candidato à “cambra” prometia “uma rotunda vitória”. No Porto, à da Boavista, ainda chamam de “Rotista da Boa Bunda”. Nas mais recentes, há batismos alternativos para todos os gostos, a começar por uma localidade em que uma delas é referida como “calhaus da rotunda”. E, um destes dias – é só alguém vestir-se de Scolari – vamos ver rotundas vestidas de verde e vermelho, mostrando aos totós a ‘portugalidade’ que deviam ter. A bem dos eleitos locais que, aliados às empresas de marketing, podem não saber dizer tá-tá, mas vestem a pose de grandes líderes do povo.
PS: Quem é o povo?!
“Nas rotundas, contudo, o passado não é abolido; o pretérito conjuga-se no presente em estilo hiper-realista e tamanho natural que não esqueceu a garça, o canino e outros figurantes das lavoiras”.
(…) “Dessa majestática iconografia do poder, esta é todo o seu contrário: o cavalo perdeu a sela, ocavaleiro ea pose, e olha submisso para o chão na sua condição de animalde trabalho; a mulher, o xaile, lenço e avental pretos, conduz a cavalgadura por uma corda; o homem, segurando na rabiça do arado, parece tão cavado no chão como o próprio arado. (…) São apenas visões visões fugazes para automobilistas do Porto para o Montijo, Vila Franca, Lisboa, Coimbra, Setúbal e suas muitas redondezas”.
