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pvpassos@gmail.com
Psicólogo clínico – Braga, Portugal

“(…) o ofício mais velho do mundo
poderá não ser o mentir,
mas quase (…)”
Retrato palavreado de um povo…
… mestre em sofrimento e incerteza,
… douto em resignação,
… perito em desconfiança,
… cátedro em mansidão,
… e… santificadamente saloio …!
Povo condenado à insatisfação, ao desprazer e ao engano.
Povo submisso, cabisbaixo… às fartas tetas da corrupção.
Povo obscuro molestado no útero da ordem inquisidora de um cão rançoso, de um cão esganado, de alma amordaçada.
Povo dependente, dependente do logro das fétidas relações umbilicais.
Pátria do pessimismo ancorada no orgulho de feitos de grandiosidade inventada.
Povo de mães idealizadas e para-beatificadas.
Mães doridas… mães que fazem doer.
Mãe/personagem… (in)conscientemente teatralizada.
Povo pobre, triste… farsante que sorri o medo … em cinzento.
ATÉ HOJE.
MEMÓRIAS DE CÃO.
Memórias de cão diz de duas guerras.
Uma… a pérfida impostora que, para além de si própria, ainda gerou uma outra (interna), parasitando e paralisando ATÉ ao HOJE, as mais alvas e impúdicas intenções de prazer desneurotizante.
Outra, a do tesão macho… a que não se pode querer.
Contudo, no chafurdo de tal punitivo desânimo, conta… conta também esperança. Esperança com outras raízes, profundamente plantada noutras almas, desprenhes da estéril desalmação.
Conta também esperança… sim a esperança imposta pela olímpica força da pulsão do tesão, de Eros (que erota), da luxúria (clara ou repticiamente) determinante e libertadora.
Conta… conta sobre o tesão aspirado e tesão materializado.
Até hoje as memórias são de cão
ATÉ HOJE. MEMÓRIAS DE CÃO,
é também narrativa, para deleite poético.
Narrativa de amor.
Poema narrado de uma guerra alheia.
Mas também de uma guerra sentida nas masculinidades.
De um amor macho tatuado nos tesões, sublimado pela ordem da castração, mas livre e libertado pelo direito imposto.
Não morto.
José Henrique ÁLAMO OLIVEIRA
Raminho
Angra do Heroísmo
Terceira
Açores
Portugal
“(…) Limpo e de remendos no cu, nos joelhos – fatalidade dos pobres
envergonhados de serem pobres e não andarem de pé (…)”
“(…) Foi criado a pão duro.
À solta, como os companheiros, os canários.
Preso ao trabalho por crime de pobreza e necessidade (…)”
“(…) na raridade da sua instrução posta em confronto
com o maremoto do analfabetismo reinante (…)”
“(…) João procura ignorar essa multidão que grita uivante
a tragédia de ser povo e português.
É um coro de uivos e desmaios (…)”
“(…) Viera como cavalo manso atrelado à carroça da pátria –
esse fetiche desmantelado que há muito lhe devorava os intestinos
para vomitar de seguida o asco, a pobreza, enchendo o saco da
sua história de lixo triste e podre (…)”
“(…) O cais de Alcântara sucumbira sob a inundação
das lágrimas ensopadas a lenço,
por entre carteirinhas de cigarros Paris
que as senhoras MNF distribuíram
maquilhadas de compaixão patriótica (…)”
“(…) Debruçado na amurada, vomitou.
Vomitou a pátria como se diabo fosse, (…)”
“(…) Como bom português suave, (…)”
“(…) Cinto nas calças.
Uso obrigatório.
Não deixar cair a castidade aos pés.
Apertar o cinto não era slogan de parede.
Era dever patriótico (…)”
“(…) que os jornais desse tempo só sofriam do malzinho da censura para bom sossego
dos directores e cidadãos obedecia-se ao senhor governador como se obedecia
a Deus: com devoção e medo (…)”
“(…) Salazar caíra da sua cadeira de mandar, chocando com o chão da dura Lisboa,
encomando no seu país em coma (…)”
“”(…) Andavam em polvorosa as igrejas do país derramando orações,
molhes de cera acesa, vigílias e jejuns, Salazar caído “Levantai-o , Senhor”,
encomenda do cardeal em nota de pastor, que a cumpram os fiéis que
por seus pecados o chefe caiu.
Estava o país perdido se ele morresse, “perdão, Senhor! Mil vezes…”,
rebanho tolhido do adro à sacristia não desafiando iras e castigos.
Lá vinha o dia treze, a romagem organizada, bem de longe e a pé,
os caminhos todos a dar a Fátima, a última esperança metida na
cova da Iria. Mas a fé cansou-se de ter mãos postas, joelhos rasgados,
olhos em êxtase. O milagre não vinha.
E o país continuou com o chefe em coma, em seu berço e suas colónias (…)””
“(…) A cultura tinha então o tamanho e a profundidade duma nota de banco,
protegida pela efígie involuntária de um Camões sonante e mal pago.
Camões era o alto amor de um povo triste,
relesmente postado numa miséria sem porta (…)”
“”(…) Vivia-se em Estado Novo, velho de frustrações e de austeridades patrióticas.
“O silêncio é a força da virtude, a ignorância o progresso dos povos.
A paz só é possível pela força, veja-se
a liberdade o que faz por esse mundo fora”,
dizia-se.
Por isso, o privilégio de Fátima só se concede a quem o merece.
Era a voz do Estado Novo no zénite do seu poder,
“cultura havia à farta! façam a quarta-classe e trabalhem,
que o trabalho, meus amigos “dá saúde e faz crescer”,
a barriga dos que mandam,
“ninguém tem um Camões como Portugal”(…)””
“”(…) Prego-te os botões se me escreveres as cartas prá família…”,
contrato apalavrado (…), a sorte de andar com os botões
na braguilha, graças ao analfabetismo do Serra, símbolo da nação (…)”
“(…)Tinham-lhe ensinado a amar a pátria sobre todas as coisas
e a obedecer, com devoção, aos seus legítimos superiores (…)”
“(…) Felizmente estava na quarta-classe, o último ano da via sacra (…)
“(…) Apetecia-lhe esmagar o ovo que a pátria chocara (…)”
“(…) Pátria tão cantada que deu em puta (…)”
ATÉ HOJE
Tugalidades… portugalites
Infecção da essência
País seco e molestado
Povoado ENFERMO
De moções azuis censurantes
De monções castradoras
Foi ATÉ HOJE
Está agora
E continuará?
Creio nisso
Arde coisa FEIA encenada
Debito que sim
Roupagens para um povo
Cego de escolha
Deseleito
Matilha mansa
Obediente
Amante de dono
Escolhas traídas nas dinastias
As de hoje e as outras
Para desonra dos COLHÕES
Coitados
Aspirantes colhões tugas
Ao tão pouco que te entregas
Vives no inatingível
És a inatingível visão
Inatingível visão épica do ORGASMO
Desconheces tesão pujante
Andas trajado de desespero
Decorado de decoro
Mas cantas
Pálidas lantejoulas
Que para ti inventas
Mais não sois
Que ânsia lamuriada
Queixosa inveja
Emigra de ti
Elabora e cuida-te
Vem-te
Esporra-te
ESPORRA-TE torrencialmente
Ou morre.
“(…) e João aninhou-se furiosamente no regaço (…)
Fernando abraçou-o danado, a ternura do reencontro a explodir,
corações trocados, o mundo todo nas conchas das suas mãos (…)”