portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux

Origens. Metade dos portugueses descendem das mulheres das grutas de Altamira e Lascaux

por Marta F. Reis, Publicado em 19 de Julho de 2011 | Actualizado há 12 horas

 

Estudos do genoma para conhecer os antepassados fazem dez anos. Também são procurados em Portugal
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O complexo de grutas de Lascaux, em França, foi vital para os europeus

O complexo de grutas de Lascaux, em França, foi vital para os europeus

Philippe Wojazer / Reuters

Parece um disparate, porém, depois de mais de uma hora a tentar

 

Parece um disparate, porém, depois de mais de uma hora a tentar perceber como é que qualquer coisa como uma dúzia de letras do nosso ADN (do total de 3 mil milhões) podem revelar o percurso dos nossos antepassados, a ideia até desperta algumas emoções. “Depois de saber que era descendente da avó Helena, fiz questão de ir a Lascaux”, diz José Carlos Soares Machado.

O presidente da Associação Portuguesa de Genealogia (APG) fala das grutas francesas, recheadas de desenhos nas paredes. Ao referir-se a Helena, mergulha naquilo que foram os últimos dez anos de estudos genéticos sobre ancestralidade. Em 2001, o cientista de Oxford Bryan Sykes explicou num livro que era possível alargar as tradicionais árvores genealógicas ao início do Homo sapiens (na região da Etiópia, há 200 mil anos). O público gostou da ideia e os centros de investigação com especialistas em genética começaram a disponibilizar-se para fazer o trabalho. Em Portugal, o Instituto de Medicina Molecular de Lisboa já fez 200 perfis.

Expliquemos a história da avó Helena, caso queira incluir Lascaux nos destinos de férias. Metade dos europeus, e também dos portugueses, descenderão das mulheres que habitaram as quentinhas grutas do Sul europeu (Lascaux mas também Altamira em Espanha e Vila Nova de Foz Côa) durante a última glaciação, há 12 mil anos. Se a mulher que desencadeou toda esta vasta descendência se chamava de facto Helena não se sabe, e talvez seja pouco provável, mas o nome surge no livro de Sykes “As Sete Filhas de Eva”, onde o investigador explica os diferentes perfis genéticos que descenderam da chamada “Eva mitocondrial”, a primeira mulher que passou sequências de ADN às suas filhas através das mitocôndrias dos óvulos.

Das cerca de 30 linhagens maternas já descobertas pelos investigados nas populações mundiais, há duas que parecem ter habitados as grutas do Sul da Europa. Em termos genéticos, chama-se a estes grupos de descendência “haplogrupos” e pode dizer-se que a maioria dos portugueses, como os europeus, descende do H e do U (em Portugal são 41% e 17% respectivamente). Sykes, que queria tornar a história fácil para os leigos em ciência, disse que os portadores da marca genética H eram netos da avó Helena e explicou no seu livro como a senhora era adepta das pinturas rupestres. Resta dizer que entre os famosos netos de Helena se encontra a rainha Maria Antonieta, factóide a que talvez nunca chegasse se se dedicasse a construir a sua árvore genealógica.

Do lado do pai, Soares Machado tem um legado viquingue (bastante comum na Escandinávia), mas mais de metade dos portugueses (55%) descende também dos celtas, que por sua vez descendiam dos homens que chegaram à Europa vindos do Sul da Sibéria, actual Cazaquistão e Usbequistão, antes de se enfiarem nas grutas do Sul. A segunda ascendência mais comum é a dos descendentes das populações que não deixaram África na altura das primeiras migrações, há 80 mil anos (Paleolítico Médio). Estes clãs que se mantiveram pelo Corno de África enquanto a maioria se dedicava a colonizar a Península Arábica parece ter começado a ganhar diferenças genéticas há 53 mil anos. Em Portugal representam 14% das linhagens paternas, mas são um ascendente muito mais comum na região do Magrebe, onde representam 33% a 80% do fundo genético das populações.

Como se faz Maria do Carmo Fonseca, directora do Instituto de Medicina Molecular onde a spin-off GenoMed começou a fazer estes testes há três anos (a pedido da APG), ajuda a compreender a análise que permite conhecer os antepassados. A matéria-prima é o genoma humano, a sequência de ADN onde estão contidas todas as informações genéticas para as células funcionarem e o organismo cumprir as funções vitais. “À medida que o nosso conhecimento sobre o genoma humano tem evoluído percebemos cada vez mais como funciona e que informação podemos encontrar sobre o nosso passado, o nosso presente e eventualmente o nosso futuro”, diz a investigadora Prémio Pessoa em 2010.

Os estudos mais comuns têm a ver com o diagnóstico ou a susceptibilidade a doenças – quando os investigadores procuram mutações ou genes já associados a patologias como o cancro ou a doença de Alzheimer. Mas cedo se percebeu que, além das instruções genéticas, inscritas em zonas que codificam proteínas, havia zonas do genoma que podiam querer dizer algo mais (as mesmas onde se procura informação sobre parentalidade ou maternidade). “O teste é o mesmo mas olhamos para zonas diferentes do ADN, a que chamamos silenciosas porque não codificam proteínas.” Restava um problema: se recebemos informação genética do nosso pai e da nossa mãe, que se mistura, era preciso olhar para regiões que viessem inequivocamente de um ou de outra. A aposta recaiu assim no cromossoma Y (transmitido dos pais para os filhos) e no ADN mitocondrial (contido no óvulo da mãe).

O processo de identificação do haplogrupo acaba por parecer um jogo. Sobretudo desde que passou a haver grandes estudos genéticos para diferentes populações. Confrontando sequências de ADN (a forma como as letras que compõem o código genético estão dispostas), os cientistas acabaram por perceber que a simples troca de letras em posições específicas permite identificar a ancestralidade. Depois de terem a sequência de ADN, folhas onde as letras A, C, G e T se dispõem em partes, os investigadores verificam manualmente as posições utilizadas para definir cada grupo. Assim, imagine-se, se no marcador x (entre seis e nove que é necessário observar até chegar ao veredicto possível mediante o conhecimento actual) há um C em vez de um G, é possível dizer se a pessoa descende por via paterna dos mercadores fenícios que passaram pela Península Ibérica há 3 mil anos ou dos viquingues que invadiram a Escandinávia há 7 mil.

Para ver a ascendência materna repete–se a análise, e as letras, consoante o sítio, podem revelar pegadas históricas mais comuns, ligadas aos refúgios nas grutas francesas e espanholas, ou então (como só acontece com 5% dos portugueses), uma linhagem materna ligada a refúgios da mesma época no Nordeste da Itália. Neste caso, em vez de se partilhar a família alargada com Maria Antonieta poderá chamar primo afastado a Ötzi, o homem do gelo, uma das múmias mais antigas conhecidas, de um homem que terá vivido há 5300 anos.

Apesar de para já ainda não serem muitos os grupos conhecidos, a expectativa dos investigadores é continuarem a aumentar os subgrupos dentro de cada população. A GenoMed tem ainda uma parceria com um grupo de investigação de Santiago de Compostela que permite quantificar o grau de mistura: ou seja, com fundo paterno celta e linhagem materna fenícia, poderá perceber o que pesa mais no seu código genético. Um mapa-múndi com a divisão de populações por haplogrupos permite perceber que entre os nativos da Península Ibérica existe uma grande mistura, enquanto nos americanos e africanos se mantém maior homogeneidade.

Para Maria do Carmo Fonseca, os factos curiosos não se ficam por aqui. Um estudo publicado em 2003 conclui, por exemplo, que 0,5% da população mundial parece ser descendente do imperador mongol Gengiscão, ilustre famoso a quem é atribuído um dos subgrupos do haplogrupo C (dominante no Norte da Ásia). “Na região ocupada pelos mongóis há um padrão que parece tão frequente que, por ter sido datado de há mil anos, permite pensar que 8% dos homens locais descendem de Gengiscão. Ele não podia ter tido mais que umas dezenas de filhos, mas deviam ser tão tortos que dominavam os outros.” Outra verificação que tem gerado polémica, assinada por Sykes, é que metade dos ingleses têm a mesma ascendência que alemães e dinamarqueses. E que não teriam sobrevivido ao frio glaciar sem os abrigos ibéricos.

 

A língua portuguesa é mestiça, diz Adriano Moreira

A língua portuguesa é mestiça, diz Adriano Moreira

Que a língua tem uma origem, um princípio todos sabemos. Que a língua tem particularidades, influências e transformações também entendemos, então porque não conviver com o seu dinamismo, com a sua mestiçagem?

Foi pela vontade de descobrir os caminhos da terra incógnita, entre outras missões, que a língua portuguesa se expandiu para territórios impensáveis e hoje é a sexta língua mais falada no mundo e também o ponto de partida para a sustentabilidade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).

Para o Professor Adriano Moreira, que defende a afirmação do português, a língua portuguesa é mestiça: "Desde as influências ameríndias, às africanas, às alemães no Brasil, por exemplo, às influências que existem em Moçambique, ou em Timor que dorme com o inimigo (Indonésia) e tem a pressão da Austrália, todas elas contribuem para o enriquecimento de qualquer um dos países, mas ao mesmo tempo cabe à CPLP defender a língua portuguesa, instrumento comum dos países que pertencem a este espaço.

O Professor também reconhece tratar-se de uma missão complicada devido aos parcos recursos financeiros da organização. Sendo o Brasil a única economia emergente e nele estão depositadas as esperanças de que seja o país que vai conduzir a liderança do consenso da comunidade, segundo explicou Adriano Moreira.

Que vantagens traz esta mestiçagem?

Se por um lado há o medo, a resistência à mudança, por outro há um horizonte alargado a que a língua portuguesa deve estar aberta. Na semana em que se comemora o dia da língua portuguesa e da cultura da CPLP, Hélder Lucas, Embaixador de Angola junto da CPLP lança o repto: "olhar para a cultura da diversidade como um instrumento para a adversidade".

Apesar da mistura, é cada vez mais evidente a vontade de uma maior simplificação, sem prejuízo de ninguém daquilo que une todos os povos da comunidade. Assim, em 1990 foi ratificado o novo Acordo Ortográfico, que Adriano Moreira defende, lembrando no entanto que nestas situações é melhor fazer Declarações e não Tratados, porque "a língua não é dominável, embora possa ser submissa no plano politico-económico".

Ana Paula Laborinho, antiga presidente do Instituto Camões (IC), realçou a importância de uma maior investigação em torno dos números que demonstram a expansão da língua pelo mundo e também o papel do Instituto, numa comunicação que evidenciava o "valor da língua portuguesa".

Para a professora universitária, há um interesse crescente na aprendizagem do português e também na adopção como segunda língua. Países como o Senegal, China ou República Democrática do Congo têm feito esforços nesse sentido.

Aquilo que nos junta muitas vezes também é o que nos separa, desta feita importa saber o que quer dizer Domingos Simões Pereira, Secretário Executivo da CPLP, por cultura desta comunidade.

"É algo que ainda estamos à procura de definir e identificar, mas no fundo é um encontro onde o português original se deixa influenciar pelas culturas africanas, brasileiras e timorenses".

Se por um lado a miscigenação ajuda-nos a identificar as identidades e a sabermos de onde vimos, por outro ela também contribui para o desenvolvimento da ciência e do conhecimento, como instrumento comum.

"A CPLP pode ajudar para uma maior liberdade na circulação de pessoas e de criação de obras, mas acima de tudo para uma maior abertura às instituições educativas, de saúde ou da cultura. Escolhemos a educação como o mais importante no meio de tudo isto, esse vai ser o nosso foco", explica o Secretário Executivo.

@Mayra Prata Fernandes

http://noticias.sapo.ao/vida/noticias/artigo/1150487.html

http://videos.sapo.pt/5IusZPWYn6SdD52DnFSr


DICCIONARIO DA LÍNGUA BRASILEIRA 1832

DICCIONARIO DA LÍNGUA BRASILEIRA

Olga Ferreira Coelho *
O Dicionário da Língua Brasileira (DLB) foi publicado em 1832, em Ouro Preto, pela Tipografia de Silva, pertencente a Luiz Maria da Silva Pinto (1775-1869), o autor. No título, a expressão língua brasileira, em referência ao português utilizado no Brasil, chama a atenção não só porque língua portuguesa seria o esperado, mas também porque o autor demonstra ter consciência da ambiguidade do adjetivo escolhido, fato que o leva a esclarecer que a obra não se dirige ao tratamento das palavras e frases que “proferem os Índios”, como seus contemporâneos talvez tendessem a deduzir.

O DLB não reivindica, explicitamente, autonomia para o português falado na América. Diferentemente de trabalhos que seriam publicados no final do século XIX, não contém menção direta a qualquer nível de emancipação “do nosso Idioma” em relação ao português europeu. Não é também um dicionário que procure registrar exclusividades, isto é, um léxico somente empregado no Brasil. No entanto, apesar de estar aparentemente afastado dos projetos literários e linguísticos que animaram o século XIX, o DLB oferece rico registro de variantes do português que se usava àquela época no país. Curiosamente, parece ter sido decisivo para esse registro o fato de o autor ocupar-se da tipografia: das soluções gráficas e de organização de seu texto é que emergem dados sobre a diversificação da língua portuguesa no Brasil. Por exemplo, com o uso de asteriscos, demarca no corpo do texto os termos antiquados:

*Abrego, s.m. Vento Sudoeste.

*Fedo [com e aberto] por feio.

Outra solução, agora com vistas à ortografia, num momento em que ainda não há regulação oficial para isso, é dispor de modo especial os registros que se alternavam:

Lingoa, e melhor

Língua, s.f. parte carnosa, que se move dentro da boca. Linguagem, Idioma. Fig. Porção de terra, ou de mar. Língua de fogo, Labareda. Tomar língua Informar-se. Língua da balança, O fiel, o ponteiro que mostra o equilíbrio.

Com a apresentação de correções e sugestões, distingue usos populares aparentemente atestados de usos recomendáveis:

Parteleira, s.f. Outros dizem prateleira.

Preverso, por perverso.

Não há consistência absoluta na aplicação desses recursos ao longo da obra. Assim, por exemplo, ora se indicam as pronúncias e grafias concorrentes por meio da disposição sequencial das ocorrências envolvidas, seguidas da definição da palavra (v. lingoa / lingua), ora se fazem observações estritamente voltadas para a pronúncia (v. “Preverso por perverso”). Ainda assim, a variação linguística tende a ser registrada.

Ao lado desses aspectos relativos aos modos de apreensão e registro da língua, são dignos de nota os que dizem respeito ao perfil geral do texto: concebido como “portátil”, é um dicionário realmente sucinto, seja em relação à quantidade de itens lexicais descritos, seja em relação à composição dos verbetes. Estudiosos têm defendido, por meio da exposição de marcantes semelhanças, a hipótese de que ele corresponda a uma espécie de versão simplificada e resumida do Moraes. E, de fato, onde o Moraes apresenta séries de entradas pertencentes a uma mesma família de palavras, o Silva Pinto em geral contém apenas uma ou duas; enquanto o Moraes apresenta as variadas acepções de uma mesma palavra, o Silva Pinto destaca uma, ou algumas poucas delas. São ainda suprimidos exemplos e abonações. Não é o caso, no entanto, de tomar-se o DLB como simples resumo do de Moraes, seja porque, apesar do estilo o mais das vezes lacônico, nem
sempre seus verbetes são menos informativos (Moraes: Mamoeiro, s.m. Árvore que dá mamões; Silva Pinto: Mamoeiro, s.m. árvore do Brasil, que dá os mamões.), seja porque, por trás da brevidade, parece haver certo compromisso com a clareza (Moraes: Algaravia, s.f. Linguagem ininteligível, confusa: no mesmo sentido dizemos Falar Vasconso; Silva Pinto: Algaravia, s.f. Linguagem confusa, que não se entende).

O DLB certamente não tem a estatura do Moraes: as descrições são mais apressadas, menos precisas e, em alguns casos, menos corretas também. Silva Pinto também parece não se preocupar com índices de erudição, tradicionalmente dados pela etimologia e pela abonação oferecida pelos “clássicos”. Soube, porém, juntar a seu interesse pela língua as habilidades de editor-tipógrafo e, com isso, desenhar um volume prático e despretensioso, no qual se encontram dados interessantes acerca da língua e dos modos e estilos de descrevê-la.

Há alguns estudos recentes e bem fundamentados acerca do sentido de uma obra como essa no contexto do Império Brasileiro. Tais estudos têm se desenvolvido principalmente nas áreas de História, Historiografia Linguística e História das Ideias Lingüísticas. Neles, fazem-se boas conexões desse dicionário, e de outros dos anos 1800, com questões candentes no Brasil da época, como a étnica e a da identidade nacional. Talvez também seja tempo de restabelecer o Dicionário da Língua Brasileira como fonte para o estudo do português no Brasil.

Sugestões de leitura:
LIMA, Ivana Stolze Lima. Luis Maria da Silva Pinto e o Dicionário da Língua Brasileira (Ouro Preto, 1832). Humanas. Porto Alegre, v. 28, n. 1, p. 33-67, 2006.
COELHO, Olga Ferreira. Os nomes da língua: configuração e desdobramentos do debate sobre a língua brasileira no século XIX. Revista do IEB, 47, set. de 2008, p. 139-160.
PINTO, Edith Pimentel. O português do Brasil: textos críticos e teóricos. Fontes para a teoria e a história. Vol. 1, 1820-1920. São Paulo/Rio de Janeiro: Edusp/Livros Técnicos e Científicos, 1978.
* Olga Ferreira Coelho (CEDOCH-DL-USP).

Como se fala em Moçambique…

 

 Como se fala em Moçambique…

 Como se fala hoje em Moçambique…


“São 6 da manhã. Moçambicano não dorme, ferra. O despertador toca. Ele não se levanta cedo, madruga. E não vai tomar duche, vai duchar. E não se arranja, grifa-se bem. Depois não toma pequeno-almoço, mata-bicha. E não bebe café solúvel e pão com doce, toma café batido e bread com jam. Não sai de casa para ir trabalhar, vai no serviço.

E quando chega ao local de trabalho não pede desculpa por ter atrasado, diz sorry lá, que tive problema de transporte. E não trabalha até ao meio dia, djoba até àquela hora das 12. E aí não pede ementa, pede menu. E não come, tacha. Não come batata frita, come chips. Não come salsichas, come vorse.
Não come costeleta, come t-bone. E não bebe uma laurentina preta, toma uma escura. E não fala com o amigo sobre a namorada, bate papo “brada, minha dama”. E não gosta muito, grama maningue. E na saída do restaurante não vê as mulheres que passam, aprecia as damas. E não seduz, paquera. E não faz convite, pede contacto. E não a segue, vai à sua trás. E não encontra um conhecido mais velho, apanha um jon cota. Na rua não compra cajú, compra castanha. E não tira fotografias, fota.

No escritório, a empregada não despeja o lixo, no ofice trabalhadora vai deitar. E não traz o jornal, leva. E não põe insecticida, baygona. E não tem reuniões, tem meetings. E no computador ele não escreve, taipa. E depois não faz impressão, printa. E não trabalha as fotografias em Photoshop, fotoshopa. E para fazer um intervalo não vê o patrão, tcheka o boisse. E não sai para dar uma volta, dá um djiko. E não escreve sms para a amiga colorida, manda mensagem para a pita. E não mente dizendo que está ocupado, mafia que tá bizi. Moçambicano não trai, cornea. Não caminha, estila. Não se faz de difícil, jinga.

Não acaba uma tarefa, ultima. E no fim do trabalho não vai, baza. E com os amigos não tem negócios, tem bizne com bro. E ao fim do dia não vai ao ginásio, djima. E não tem bicicleta, tem bikla. E não está musculoso, tá big. E não faz saudação batendo na mão do amigo, deketa. E não gosta de aproveitar a vida, enjoya laifa. De tarde não bebe chá e come pão com manteiga e queijos, toma chá. E não vai buscar a namorada que está num cabeleireiro distante, a arranjar as unhas e a fazer tranças no cabelo, vai apanhar dama que faz unha e entrança láaaaaaa no salão. E não bebem um refrigerante, tomam refresco. E a namorada não usa mini-saia e saltos altos e anda descapotável, põe sainha e uns saltos e tá descartável. E não lhe diz que é bonita, diz “tens boas”.

Um verbo enjoadinho

PASQUALE CIPRO NETO

Um verbo enjoadinho


Formas como “requisesse” ou “requiseram” não encontram abrigo no padrão formal da língua


O QUE NÃO FALTA na caixa postal da coluna é pergunta sobre a conjugação de verbos complicados. A lista é grandinha e inclui “preciosidades” como “adequar”, “precaver”, “reaver”, “requerer”, “falir”, “prover”, “prever”, “provir”, “intervir”, “satisfazer”, “ver”, “entreter” etc.
Embora muitos desses verbos sejam conjugados no dia a dia e em muitos escritos como se fossem regulares, nas modalidades formais da língua suas singularidades ou irregularidades continuam prevalecendo. Em outras palavras, isso significa que, ainda que frequentemente se ouçam e se leiam construções como “Se o ministro intervir” ou “Se ninguém se opor”, gramáticas, dicionários, manuais e guias de uso continuam indicando como cultas as construções “Se o ministro intervier” e “Se ninguém se opuser”.
Posto isso, vejamos a conjugação de alguns dos verbos citados, começando por “requerer”. A conjugação desse verbo é particularmente delicada, a começar pela sua perigosa semelhança com o verbo “querer”. Já na largada, ou seja, na primeira do singular do presente do indicativo, “querer” e “requerer” se separam: de “querer”, temos “eu quero”; de “requerer”, faz-se “eu requeiro”.
Como acontece com 99,99% dos nossos verbos, o presente do subjuntivo do verbo “requerer” se apoia na primeira pessoa do singular do presente do indicativo. Moral da história: de “requeiro”, faz-se “que eu requeira, que tu requeiras, que ele requeira, que nós requeiramos, que vós requeirais, que eles requeiram”. Mas a coisa se complica mesmo no pretérito perfeito do indicativo e nos tempos que dele derivam, em que “querer” e “requerer” se separam de vez. Nesse tempo, “querer” é irregular (“eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes, eles quiseram”), enquanto “requerer” é regular (nesse tempo, convém deixar claro): “eu requeri, tu requereste, ele requereu, nós requeremos, vós requerestes, eles requereram”.
Como se sabe, são três os tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo, mais especificamente do radical da segunda pessoa do singular desse tempo, que, no caso de “requerer”, é “requere-” (esse radical resulta da eliminação da terminação “-ste”, o que vale para 101% dos verbos da língua portuguesa).
O primeiro dos tempos derivados do pretérito perfeito do indicativo é o pretérito mais-que-perfeito do indicativo. Ao radical (“requere-“) somam-se as terminações “-ra, -ras, -ra, -ramos, -reis, -ram”: “eu requerera, tu requereras, ele requerera, nós requerêramos, vós requerêreis, eles requereram”. O segundo desses tempos é o pretérito imperfeito do subjuntivo. Ao mesmo radical (“requere-“, lembra?), somam-se as terminações “-sse, -sses, -sse, -ssemos, -sseis, -ssem”: “se eu requeresse, se tu requeresses, se ele requeresse, se nós requerêssemos, se vós requerêsseis, se eles requeressem”.
O terceiro tempo derivado do pretérito perfeito do indicativo é o futuro do subjuntivo. Ao mesmíssimo radical (“requere-“) somam-se as terminações “-r, -res, -r, -rmos, -rdes, -rem”: “se (ou “quando’) eu requerer, se tu requereres, se ele requerer, se nós requerermos, se vós requererdes, se eles requererem”.
Como se vê, diferentemente do verbo “querer” (que é irregular no pretérito perfeito do indicativo e, por conseguinte, nos três tempos que dele derivam -“eu quis”, “eu quisera”, “se eu quisesse”, “quando/se eu quiser”), o verbo “requerer” é regular nesses quatro tempos. Moral da história: formas como “requisesse” (“Se ele requisesse os documentos hoje…”) ou “requiseram” (“Eles requiseram o adiamento…”), embora comuns em alguns registros linguísticos, não encontram abrigo no padrão formal da língua. É isso.

[Fonte: Folha de S. Paulo, 07.07.11]

ANGOLA 1594

Vamos até Angola 1594 por Francisco Gomes Amorim

WWW.fgamorim.blogspot.com

História da residência dos Padres da Companhia de Jesu em Angola, e cousas tocantes ao Reino, e conquista

CAPITULO PRIMEIRO. INFORMAÇÃO DESTE REYNO E MINAS

O reyno dos Ambundos vulgarmente dito de Angola se chama nas cartas de mercês, e provisões dos Reys de Purtugal desdo tempo delrey dom Sebastião a esta parte novo Reyno de Sebaste na conquista de Ethiopia (2). Está em nove grãos na Etiópia meridional norte sul entre o de Congo e o de Benguella, leste oeste com Pernambuco na costa do Brasil. Os nomes das províncias mais nomeadas, que em si agora encerra são:
A liamba do rio de Coanza para a linha equinoxial. A Quiçama da banda do sul; o Mosseque, Dongo aonde está a cidade de Cabaça em que vive o Rey, o Are, o Ungo, e outras (3) Da villa de S. Paulo até Cabaça avera sesenta legoas (4). Todo o Reyno ao comprido (tomando por arraya Caçanze (5) que está oito da mesma villa) terá oitenta e de largo na mor dis¬tancia dizem que terá outras oitenta.

Algumas partes da costa, e principalmente os lugares que estão ao longo do rio Coanza são doentios, por resão de lagoas e terras apauladas com a vizinhança do rio até a vila da Vitoria em Maçangano que também está cercado do Coanza e Lucalla. Com tudo sustentão os portugueses esta villa ainda que enferma e muito calmosa por estar no meio do Reyno em sitio muito forte, donde com facilidade se acode aos alborotos e novidades dos naturaes entre os lugares marítimos; este morro em que está situada a villa de S. Paulo, cabeça do Reyno, he muito sadio, e de bons ares. O mais do Reyno he fresco e temperado, antes tem exsseço de frio e nenhum de calma especialmente as terras do sertão, posto que também ao longo da costa ha muitas de bons ares, e sadias. A província do Ari e outras vezinhas com caírem mais para o nascente, e perto da linha, no tempo das aguas quando o sol anda sobre nós, he necessário aos portugueses que nelas se achão andarem
bem roupados e chegaremse ao fogo. Já nos meses de Junho até Setembro que na lingoa chamão o Quicivo quando o sol se aparta de nós para o trópico do norte são insofríveis naquelas províncias os frios, e ventos. A terra de Cambambe da província do Mosseque, aonde estão as minas de prata mais nomeadas he tão temperada que o governador Paulos Dyas (7) a comparava nos ares a Cintra. Andando nela o nosso campo no anno de oitenta e sete com tanta necessidade que se mantinhão só com pal¬mitos, por ser a terra de minas estéril, e falta de mantimentos, nenhum sol¬dado adoeçeo antes andavão tão bem despostos como se andarão em Lisboa com serem novos na terra.

A maior parte deste Reyno he cuberta de grandes palmares donde tirão seu vinho, e azeite em muita quantidade, retalhado com muitos rios caudalozos e ribeiras muito frescas. Em algumas partes pela terra dentro tem larangeiras, e limoeiros, figueiras da terra, e bananeiras. De humas arvores muito grossas e altas a que nos chamamos cabaceiras tirão os naturaes os panos com que se cobrem da cinta para baixo, e em cima põem suas colmeias de que recolhem muito fermoso mel. Ha também inhames, batatas, bredos (8), mangericões pelo campo, beldroegas, jasmins e outras ervas proveitosas. Muitos géneros de ligumes da terra, e as sementes de Portugal em lugares frescos aonde não falta agoa, se dão muito perfeitas.
Ha muita variedade de aves de cores muy aprazíveis. Agueas, patos reaes de grandes cristas, e de tanta carne como hum carneiro, muitas aves de rapina, galinhas do mato, perdizes, galinhas corvaes, guinchos, pelica¬nos, paios bravos, adens, marrecas, corvos marinhos, outras aves de asas vermelhas a que chamão framengos (9). Entre estas ha huma ave de meãa grandura, de cores parda e branca a que chamão Fune, tem o voar muy sereno, e vão dando huns guinchos mui compassados. Nesta parece que reconhesem as outras superiolidade, como se vee em duas cousas, a pri¬meira que tanto que as outras aves vem, ou ouvem deixadas suas occupações a vão logo acompanhar. A segunda he que ao tempo de fazer o ninho as outras se aiuntão, e lho fazem em arvores altas com muitos e grandes paos. O ninho he comprido obra de vinte palmos, e no cabo delle cria dous filhos.

De animaes ha muitas castas pelo mato. Alifantes, leões, onças, empa-caças (10), que são como vacas, empalangas (11) maiores que bois, zevras como mulas listradas, veados, corças, lobos, gatos dalgalea, lebres, coelhos, porcos espinhos, porcos montezes; nos rios ha grandes cavalos marinhos e lagartos de trinta e quarenta pees.

O pescado, asi do mar como de rios, he muito e sadio. Junto da ilha Loanda da banda do mar, e da terra firme se tomão os peixes seguintes. Pescadas, Imgoados, salmonetes, gorazes, canteiras, maçuços, corvinas, sei” gás, macoas, tainhas, cavalas, mugens, roncadores, pâmpanos, garoupas, chicharros, sardinhas, peixe espinha, peixe coelho, peixe prata, peixe viola, peixe agulha, ostras, briguigões, amejoas, caraguejos, polvos, arraias, tar¬tarugas, botos, pargos, meros, visugos, arenques, barbos e outro muito gé¬nero de pescado. Ha também em alguns rios hum peixe chamado Angulo que quer dizer porco, a que no Brasil chamão peixe boi (12).

Notas:
(1) Esta História terá sido escrita em 1594 pelo Padre Pedro, ou Pêro, Rodrigues, natural de Évora, onde se alistou na Companhia de Jesus em 1556, foi um dos mais categorizados jesuítas do século XVI e XVII. Era mestre em Artes, ensinara primeiro letras humanas por cinco anos e outros tantos teologia moral; foi sete anos reitor do colégio do Funchal e outros sete do colégio de Bragança, mais de um ano Visitador de Angola, de 1592 a 1594, e nove anos Provincial da Província do Brasil, onde chegara a 19 de Julho de 1594. Faleceu em Pernambuco a 27 de Dezembro de 1628. No Brasil escreveu, pelo ano de 1606, a Vida do P-‘ José de Anchieta, que serviu de fonte principal às que depois se publicaram do vene-rando apóstolo {Annaes da Bibliotheca do Rio de Janeiro, volume XXIX, páginas 181-286). Poucos anos antes ministrara também ele ao P. Quirino Caxa materiais para outra biografia menor de Anchieta, a qual ficou por largo tempo sepultada nos
arquivos. Foi descoberta em mais de um exemplar no ano de 1923; e no de 1934 a deu a lume, prefaciada e anotada, o P.° Serafim Leite.
(2) Paulo Dias de Novais edificou uma ermida de S. Sebastião na vila, depois ci¬dade, de S. Paulo, que fundou em frente da ilha de Luanda, em memória do Rei de Por¬tugal, D. Sebastião, como também deu àquela conquista de África o nome de «novo reino de Sebaste na conquista de Etiópia» em homenagem ao mesmo monarca. Mas em seguida passou esse nome ao esquecimento e ficou o primeiro de Angola.

A essa parte do continente africano chamavam também os nossos portugueses Etiópia. nova Etiópia, conquista da Etiópia, e mais designadamente Etiópia meridional ou ociden-te;, como diziam Etiópia oriental a região do mesmo continente do lado de Moçambique, e a seus negros habitadores davam genericamente o nome de Etíopes. Teles, na sua Histo¬ria da Ethiopia, página 6, escreveu: «£ste nome de Ethiopia he muy geral e comprehende todas aquellas regiões cujos habitadores têm cores pretas, porque a todos estes costumam chamar Ethiopes… …O mesmo nome tem… tudo o que se estende até ao cabo de Boa Esperança e dobrando este cabo, tudo o que ha de terras até Angola e Cabo Verde, porque a todos os que povoam estas costas e o sertam delias chamam ethiopes e ás terras chamam Ethiopia».
3) O missionário Diogo da Costa, enumera só três províncias de Angola em carta datada de Luanda a 31 de Maio de 1586: «A primeira chamamos liamba que está entre o Rey [reino?] do Congo e o rio Lucala. A segunda he o Moseque [Mosseque] que está entre ai Lucala e o rio Coanza… A terceira a Guitama [Quissama] que está entre o Coanza e o Reyno de Benguella». Boletim da Sociedade de Geografia, IV, pagina; 382. A província de Are (Ari) fica ao norte de Coanza, e a de Ungo para o sul.
4) Cabaça ou Cabassa era a corte do rei Angola, a que os indígenas chamavam Dongo, segundo observa Franco, Synopsis Ann,. pág. 63: Urbs regia Dongus dieta ab indigenis, a lusitanis Cabassa. Lopes de Lima, Ensaios sobre a statistica, página XV, nota que o nome Cabassa é «corruptela da palavra Cabanza (capital)». Diz-se agora Pedras Negras de Pungo-Andongo.
(5) Caçanze ou Cassange.
(7) Assim, em vez de Paulo, escrevem outros autores, como Abreu de Brito, Sumario,…; Teles, Chronica, II, 620, e Franco, Imagem da Virtude. II, 460.

(8) Planta herbácea, oriunda de Portugal, que serve para fazer esparregado. Seria bredo?
(9) Framengos, flamengos e flamingos.
(10) Empacaças ou pacaças, pacassas: mamíferos semelhantes a búfalos.
(11) Empalangas ou empalancas, palancas, do género dos antílopes.
(12) Angulo ou Ongulo, como lhe chama o padre Garcia Simões na carta de 20 de Outubro de 1575. Na língua bunda escreve-se N’gulo. (Porco)

Textos Medievais /Portugal D.Dinis

Textos Medievais /Portugal D.Dinis…Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza …
1298 — Início da construção da catedral de Barcelona. (Fevereiro) Cortes de Valhadolid: as hermandades de vários concelhos castelhanos pedem o auxílio de D. Dinis para combater o infante D. João e os nobres que o apoiavam. (Maio) Nomeação do primeiro conde territorial português, João Afonso de Albuquerque, conde de Barcelos. (Julho) D. Dinis dirige-se com suas tropas a Castela, encontrando-se em Toro e em Mota del Marqués com o infante D. Henrique. Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza: a rainha recusou. (Agosto e Setembro) D. Dinis permanece no Sabugal, aguardando o evoluir dos acontecimentos castelhanos. D. Judá, rabino-mor de Portugal e ministro das finanças de D. Dinis, empresta 6.000 libras a D. Raimundo de Cardona, para a compra da cidade de Mourão.

Textos Medievais /Portugal D.Dinis…Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza …
1298 — Início da construção da catedral de Barcelona. (Fevereiro) Cortes de Valhadolid: as hermandades de vários concelhos castelhanos pedem o auxílio de D. Dinis para combater o infante D. João e os nobres que o apoiavam. (Maio) Nomeação do primeiro conde territorial português, João Afonso de Albuquerque, conde de Barcelos. (Julho) D. Dinis dirige-se com suas tropas a Castela, encontrando-se em Toro e em Mota del Marqués com o infante D. Henrique. Propôs a D. Maria de Molina que reconhecesse D. João como rei de Galiza: a rainha recusou. (Agosto e Setembro) D. Dinis permanece no Sabugal, aguardando o evoluir dos acontecimentos castelhanos. D. Judá, rabino-mor de Portugal e ministro das finanças de D. Dinis, empresta 6.000 libras a D. Raimundo de Cardona, para a compra da cidade de Mourão.

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