As notas dos exames nacionais baixaram.
E não foi pouco.
Português e Matemática, as disciplinas estruturantes, os pilares do percurso académico, mostraram sinais claros de alarme.
Mas… será mesmo surpresa?
Quem anda no terreno, quem ensina desde o início, quem conhece o pulsar das salas do 1.º ciclo, já adivinhava.
Perguntem aos professores do 1.º ciclo.
A resposta está lá.
Está no tempo que falta.
Na pressão para “dar matéria”.
No currículo extenso, cada vez mais desfasado da maturidade e das reais capacidades das crianças.
Na ausência de tempo para parar, rever, consolidar.
Na obsessão pelo imediato e pelo resultado, esquecendo que sem alicerces bem lançados, nenhum edifício se aguenta.
Longe vai o tempo em que havia espaço para ensinar com profundidade, para repetir sem culpa, para respeitar o ritmo de cada criança.
Havia mais tempo.
Mais sentido pedagógico.
E sim, havia também mais educação, mais responsabilidade, mais respeito, dentro e fora da sala de aula.
Hoje, muitos dos conteúdos exigidos no 1.º ciclo são desajustados.
Muito desajustados!
Uma criança de 6 anos, é uma criança de 6 anos e não de 10!
Espera-se que crianças de 6, 7 ou 8 anos pensem e resolvam como pequenos adultos.
Ao mesmo tempo, banalizam-se os verdadeiros pilares, a leitura fluente, o cálculo mental, a compreensão, o pensamento lógico.
A pressa para “chegar ao fim” rouba-nos o essencial, que é ensinar bem.
Além disso, a “ausência “ quase total de reprovações no 1.º ano, está na BASE deste grande problema!
Entenderam, Senhores?
E quando digo reprovar, é mesmo reprovar, não é fazer de conta que se reprova….Em que a criança reprova, mas acompanha a turma, cujos alunos transitaram todos de ano…
Pois, só podemos estar a BRINCAR com isto!
Depois…
Depois, quando os resultados nacionais mostram o reflexo desta lógica apressada e mal planeada, finge-se espanto.
Apontam-se dedos a tudo, menos ao que verdadeiramente importa.
O 1.º ciclo é o alicerce da escola, minha gente!
É aí que se constrói a base de tudo o que virá depois.
E uma base instável não aguenta o peso dos anos.
Se continuarmos a empurrar para a frente sem olhar para trás, não estaremos só na cauda da Europa.
Estaremos a comprometer o futuro de gerações inteiras.
É tempo de escutar quem sabe.
De dar voz aos professores do 1.º ciclo.
De reequilibrar o currículo.
De valorizar o tempo de ensinar.
Porque sem isso, não há milagre educativo que resista.
Nem rankings, nem planos de recuperação, nem exames que salvem o que nunca foi verdadeiramente construído.
É que…
Quando a base falha, o edifício racha!
Bom dia!