7º galope luis filipe sarmento

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7º Galope

Perante os atritos encolher os ombros é tão fácil e depois mergulhar na indiferença das imagens que mostram as barrigas de baleias cheias de cadáveres das ditaduras deitados aos mares na companhia de peixes entre a vida e a morte sem sentido para a condição humana na guerra que foi e na guerra que há nas esquinas dos escombros dos modernismos como «remakes» artificiais das festas dadaístas que foram sempre falsidades históricas onde se notabilizam hoje horrores e horrores são as noites dos dráculas sem executores para o sangue numa expiação mordaz contra a ficção e gritam os generais por favor por favor nas reformas dos insultos e dos roubos de vidas pastadas para a morte e hoje oiço memórias como as cavalgadas de Tchaikovsky pelas planícies das orquestras inundadas de fragrâncias juvenis de um compositor no limite da ressurreição enquanto a divindade das bombas no templo dos homicídios que a história diplomática justificava entre caviar e champanhe como um lugar-comum das suas páginas brancas escamoteava o registo humanista dos artistas para dar relevo no parágrafo seguinte às viagens em torpedos que inventavam o turismo de massas que assassinavam a curiosidade pelo conhecimento a troco da vaidade guardada em fotografias em telemóveis de última geração para que a ocupação seja um destino destruidor de objectos artísticos e a resistência da invenção se faça ao longe quando a língua trava na oxidação da linguagem para que a espionagem seja a superior qualidade da traição e o gosto seja normalizado de acordo com os interesses dos produtores de instantes modais e a massa crítica seja apenas uma bolsa de resistência na clandestinidade para que a revolução se opere em nome da liberdade de contemplar o que é eternamente belo

Luís Filipe Sarmento, «Rouge – Galopar», 2020
Foto: Isabel Nolasco

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