40 anos/Timor-Leste: O paradoxo de um fundo petrolífero de milhões fora e a pobreza reinante dentro

Lusa – Dias das Independências
40 anos/Timor-Leste: O paradoxo de um fundo petrolífero de milhões fora e a pobreza reinante dentro
Lisboa, 25 nov (Lusa) – Em Timor-Leste vive-se o paradoxo de o país ter um Fundo Petrolífero de mais de 16,6 mil milhões de dólares no exterior e uma pobreza interna que o torna um dos Estados mais pobres do mundo.
A crítica vem do escritor timorense Luís Cardoso que, numa entrevista à agência Lusa, em Lisboa, por ocasião das celebrações do 40.º aniversário da independência de Timor-Leste – a 28 deste mês -, admitiu que a situação poderá inverter-se assim que houver “estabilidade” na edificação e consolidação do Estado.
“É uma questão de política e percurso não foi fácil. Esse percurso da procura da estabilidade teve, muitas vezes, duas faces: a estabilidade do ponto de vista governativo, de quem governa, e a estabilidade do governado”, afirmou Luís Cardoso.
O autor timorense, com cinco livros publicados, o último em 2013, lembrou que, na prática, a independência em 1975 foi “breve”, na sequência da invasão e posterior ocupação indonésia, que iniciada em fins de 1975 e terminada em 1999, após o referendo sobre autodeterminação, acedendo novamente à categoria de Estado em 2002.
“As pessoas que ocupam o poder são quem esteve nas montanhas, como Xanana Gusmão ou Taur Matan Ruak. São essas pessoas que, em princípio, têm por função formar e consolidar o Estado. São homens de Estado. Mas a aplicação dos fundos diz respeito a técnicos. Xanana e Matan Ruak não são técnicos, nem gestores”, argumentou.
“Há esse paradoxo. Existindo esse fundo, enorme, toda essa possibilidade de manejar o dinheiro não tem sido aplicada em Timor-Leste. Então, há esse problema de pobreza. Existe pobreza em Timor-Leste”, acrescentou, garantindo, porém, que o país já está a entrar numa fase de “sucessão”.
Para Luís Cardoso, os líderes carismáticos estão, pouco a pouco, a ceder o lugar a jovens quadros, pelo que será a nova geração quem irá solucionar o problema da pobreza e do desenvolvimento do país.
“(O poder) tem atualmente a tutela dos mais velhos, que tudo ordenam, podem e direcionam. Ficando fora dessa tutela, creio que (os mais novos) poderão seguir outros caminhos para resolver problemas mais concretos da população timorense”, disse.
Segundo o escritor, de 56 anos, natural de Cailaco, distrito de Bobonaro, o tempo “corre a favor” dos mais novos, que estão a ser formados em várias universidades no exterior, que irão ter, disse, uma “outra visão” sobre como aplicar os cerca de 15 milhões de euros do fundo na resolução dos problemas concretos, como a pobreza.
Questionado se, por um lado, “teme” e, por outro, “gostaria” que Díli se transformasse numa “espécie de Singapura”, Luís Cardoso defendeu que esse “mito” criado pela “cidade Estado” nada tem a ver com Timor-Leste por uma simples razão: foi colonizada pelos ingleses e não por portugueses.
“O mito de Singapura tem de ser bem equacionado. Singapura é uma cidade Estado, que esteve sob o domínio dos ingleses e não dos portugueses. As colonizações foram todas diferentes – a portuguesa, a inglesa. A inglesa tentou formar agentes locais dinâmicos, como na Índia, Hong Kong, Singapura. A portuguesa formou sobretudo administradores, que, muitas vezes, só administram e não produzem”, concluiu.
JSD // EL
Lusa/Fim
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