28 novembro 1975 declaração unilateral de independência

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do volume 1 da trilogia da história de timor (j chrys chrystello) Timor-Leste-1973-1975-o-dossie-secreto

em https://www.scribd.com/doc/39958581/Timor-Leste-1973-1975-o-dossie-secreto extraio

TIMOR AGORA: DECLARAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA DE TIMOR-LESTE: 28 DE NOVEMBRO DE  1975

CURTA INDEPENDÊNCIA

A 28 de novembro é proclamada a independência da República Democrática de Timor-Leste. As agências noticiosas indonésias relatam uma proclamação de integração pelo M.A.C. A posição oficial portuguesa no assunto só é divulgada publicamente em 29 de novembro. Portugal não reconhece nem a independência unilateralmente proclamada pela Fretilin, nem a integração proclamada pelo M.A.C., e ameaça resolver o caso no seio da Assembleia Geral das Nações Unidas se uma solução pacífica não for encontrada.

 

Moçambique e a Guiné-Bissau são os primeiros países a reconhecer formalmente a nova República. Em 2 de dezembro, Adam Malik visita Timor Ocidental, e em Atambua exorta o povo timorense (Atambua era o Quartel-General do M.A.C. na fronteira com a Indonésia) ali presente a pegar em armas e recorrer à luta armada como a ÚNICA forma de resolver o conflito. Assim, Malik renegava o Acordo de Roma com os portugueses. É curioso notar que a proclamação de independência pela Fretilin foi severamente criticada pelos Indonésios, mas eles nem se preocuparam em aceitar a proclamação simultânea de integração das forças do M.A.C. Malik reitera a preocupação da Indonésia com a situação em Timor-Leste, a qual já transmitiu a oito países, nomeadamente a Washington e a Moscovo. Lisboa acusa numa NOTA DE PROTESTO formal à República Indonésia de erroneamente ter anunciado que Portugal tinha reconhecido a proclamação da Fretilin.

 

Na sua comunicação ao mundo com a proclamação unilateral de independência, a Fretilin alerta a opinião pública mundial para a ameaça iminente de invasão indonésia da nova República, depois da sangrenta luta que deu a vitória militar às forças da Fretilin.

 

Recordemos como nas manchetes do jornal “N. T. News” daquela data, não vemos qualquer menção a uma declaração unilateral de independência pela Fretilin. A comunicação social australiana estava desesperadamente a tentar evitar o impossível.

nov. 25 “Não havia conhecimento da invasão.”

nov. 26 “Fretilin apela ao fim da agressão”.

nov. 27 “ACTU diz a Jacarta para largar Timor”.

novº 28 “Refugiados de Timor temem represálias (Rick Leeming)”.

dez 1 “Tentativa de auxílio humanitário falha.”

dez 2 “A solução de Timor no campo de batalha.”

dez 3 “Evacuação de Timor.” “Reconhecimento para a Fretilin.”

dez. 4 “Médico fala de ameaças de morte. Chegam os evacuados de Timor”, “Fretilin vai efetuar conversações”, “Apoio para a resolução”, “Apelo para a paz em Timor”.

Últimas Notícias: “Missa para jornalistas.”

dez 5 “Timor tenta admissão na O.N.U.”.

XVI) FINALMENTE ACONTECE A BRUTAL INVASÃO

Aos 6 de dezembro depois de uma violenta ofensiva das forças militares pró-Indonésias na vila fronteiriça da Maliana e no seu importante planalto, os membros da República Democrática de Timor-Leste dão início a uma série de visitas a vários países para obterem apoios à sua recém-proclamada independência, assim como às Nações Unidas onde vão tentar obter a sua admissão.

 

A Presidência da República Portuguesa emite em 7 de dezembro um extenso comunicado onde afirma que a Ilha do Ataúro e o enclave de Oé-cusse Ambeno [Timor Ocidental] estão ainda sob soberania portuguesa. De acordo com as mesmas fontes, a região fronteiriça da Maliana, com a exceção de Bobonaro está sob o controlo das forças do M.A.C. enquanto o resto do território está sob o controlo das forças da Fretilin.

 

A ameaça de fome e malnutrição é já uma realidade, assim como a falta de medicamentos e combustíveis. É com um certo grau de surpresa que as agências noticiosas internacionais anunciam que Díli foi invadida e capturada pelas forças indonésias, no mesmo dia [7 dezembro]. O MNE da Indonésia, Adam Malik, refere-se à operação militar como sendo fruto de forças voluntárias recrutadas pela UDT, APODETI, KOTA, e Partido Trabalhista.

 

Da Austrália, um porta-voz da Fretilin acusa o Presidente Ford e o Secretário de Estado, Henry Kissinger de apoiarem a invasão, e acusa a Austrália de inação. Deve considerar-se como mais do que uma mera coincidência o facto de Ford e Kissinger terem uma série de encontros de alto nível na capital indonésia, Jacarta, na véspera da invasão.

 

Na Austrália, o recém-demitido Primeiro-ministro, Gough Whitlam acusa o governo interino de apoiarem os anticomunistas e a hostilidade anti-FRETILIN da Indonésia. Malcolm Fraser, o líder conservador torna pública uma Nota, na qual o MNE, Andrew Peacock salienta que o Governo Australiano ainda considera Portugal como potência administrativa e declina reconhecer qualquer representatividade à Frente Revolucionária de Timor-Leste [Fretilin].

 

O embaixador indonésio em Portugal, entretanto informa o governo de Lisboa das razões humanitárias para desembarcar e conquistar Díli, a pedido das autoridades locais. Surpreendentemente, considerando que previamente Portugal havia sido lento a reagir aos acontecimentos em Timor, o Conselho de Ministros do governo em Lisboa decide imediatamente romper as relações diplomáticas com a Indonésia, e submete uma Nota formal de Protesto às Nações Unidas, a fim de conseguir impor o termo da intervenção militar indonésia, e para conseguir obter a libertação imediata de 23 Oficiais do Exército detidos pelas forças da UDT desde o golpe de agosto.

 

expresso 28.11.2015

Expresso | Ramos-Horta: “Fui contra a declaração unilateral da independência !”

Ramos-Horta: “Fui contra a declaração unilateral da independência!”

 

A 28 de novembro de 1975 a Fretilin declarou unilateralmente a independência de Timor-Leste. Nove dias depois, a ex-colónia portuguesa foi invadida pela Indonésia, para uma brutal ocupação que se prolongou até ao histórico referendo de 1999. 40 anos depois da bandeira de Portugal ter sido arriada de Díli, o Expresso entrevistou em Lisboa o Nobel da Paz, José Ramos-Horta, que foi primeiro-ministro e Presidente da República de Timor-Leste

Aos 65 anos, José Ramos-Horta viaja por todo o mundo. É orador em múltiplas conferências, e a sua experiência como diplomata e moderador é requisitada em várias situações, como aconteceu recentemente na Guiné-Bissau. Momentos antes de dar a entrevista ao Expresso, falou ao telefone com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Kosovo, a quem prometeu ajuda. “Sou um grande admirador seu há décadas, sei bem o que fez pelo seu país”, disse-lhe o político kosovar.

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Onde estava no 25 de Abril?

Estava em Díli. Em Lisboa era 25 de abril, lá já era dia 26 devido ao fuso horário. De manhã, estava no jornal “Voz de Timor”, onde era o editor, e apareceram dois senhores, um deles da PIDE. “Sabe que houve um golpe em Portugal?”, perguntou. E eu pensei: ‘Está a querer pregar-me uma rasteira a ver se eu fico todo satisfeito.’ “Ah, sim?”, disse-lhe.

O jornalista não acreditou nessa fonte…

Não acreditei. Uns meses antes, eu tinha tido um problema sério com o governo português. Escrevera um artigo para o jornal “A Seara”, que não era sujeito à censura prévia porque era um quinzenário da igreja. O final do artigo era: “Maubere, meu irmão, levanta-te, são horas, o sol já vai alto, as suas luzes são também para ti”. O governador, Fernando Alves Aldeia, que me protegia da PIDE, chamou-me ao seu gabinete, atirou-me o jornal à cara e disse: “Vou a Portugal e quando voltar digo-te o que é que eles vão querer fazer. O que gostarias? Ir para a prisão ou para fora do país?” Entre aquela escolha era óbvio que queria ir para fora. Ele foi a Portugal e na altura foi apanhado pela revolta das Caldas da Rainha…

O golpe das Caldas, a 16 de março de 1974.

Sim. Em Lisboa disseram-lhe: “Sim senhor, ele pode sair do país”. Comecei a preparar a minha saída de Timor, prevista para 27 de abril. Veio o 25 de abril e, naquela mesma manhã, um militar português, Cris Cristelo, que ainda está vivo, um daqueles oficiais anticolonialistas, apareceu e deu-me um grande abraço. Aí é que acreditei que as coisas estavam a mudar.

Meteu-se logo na política…

Já me tinha envolvido antes com o Mari Alkatiri e o Nicolau Lobato. No princípio dos anos 70, éramos muito jovens, 20 ou 21 anos, sem a mais pequena experiência, nenhum de nós tinha estudos universitários, mas já tínhamos estado fora. Em 1970, com uma encrenca que tive com a PIDE, fui parar a Moçambique, fiquei lá dois anos, voltei em 1972. Era o único que tinha estado em Moçambique, mas não aprendi nada lá.

Ramos Horta entrevistado pelo Expresso nos anos 70

Ramos Horta entrevistado pelo Expresso nos anos 70

O 25 de abril mudou completamente a sua vida?

Completamente. Fui apanhado no remoinho. Comprei o meu bilhete para Jacarta, para criar o meu partido, a ASDT (Associação Social-Democrata Timorense).

Quando formou a ASDT, a questão da independência já se colocava?

Antes mesmo da constituição formal da ASDT o nosso grupo já advogava a independência de Timor-Leste.

E porquê a designação de Social-Democrata? Era uma profissão nesse modelo de sociedade?

Essa foi uma proposta minha. Desde que me conheço como pensador político, desde os 18 e 19 anos, que o meu modelo era associado à social-democracia sueca. Ainda hoje.

Um dos elementos que o distingue de quase todos os seus camaradas é o facto de, sendo de formação católica, nunca ter estado num seminário.

Nem sei porque nunca fui para o seminário. Andei sete anos na missão católica, mas os meus pais mandaram-me para o liceu. Se tivesse ido, hoje estaria em Roma, provavelmente como cardeal.

Papa?

A Papa não diria, mas a cardeal podia chegar. Pelo menos é mais fácil. Daria menos dores de cabeça ser cardeal do que político em Timor-Leste…

Aos 65 anos, José Ramos-Horta viaja por todo o mundo. É orador em múltiplas conferências, e a sua experiência como diplomata e moderador é requisitada em várias situações, como aconteceu recentemente na Guiné-Bissau. Momentos antes de dar a entrevista ao Expresso, falou ao telefone com o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Kosovo, a quem prometeu ajuda. “Sou um grande admirador seu há décadas, sei bem o que fez pelo seu país”, disse-lhe o político kosovar.

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Onde estava no 25 de Abril?

Estava em Díli. Em Lisboa era 25 de abril, lá já era dia 26 devido ao fuso horário. De manhã, estava no jornal “Voz de Timor”, onde era o editor, e apareceram dois senhores, um deles da PIDE. “Sabe que houve um golpe em Portugal?”, perguntou. E eu pensei: ‘Está a querer pregar-me uma rasteira a ver se eu fico todo satisfeito.’ “Ah, sim?”, disse-lhe.

O jornalista não acreditou nessa fonte…

Não acreditei. Uns meses antes, eu tinha tido um problema sério com o governo português. Escrevera um artigo para o jornal “A Seara”, que não era sujeito à censura prévia porque era um quinzenário da igreja. O final do artigo era: “Maubere, meu irmão, levanta-te, são horas, o sol já vai alto, as suas luzes são também para ti”. O governador, Fernando Alves Aldeia, que me protegia da PIDE, chamou-me ao seu gabinete, atirou-me o jornal à cara e disse: “Vou a Portugal e quando voltar digo-te o que é que eles vão querer fazer. O que gostarias? Ir para a prisão ou para fora do país?” Entre aquela escolha era óbvio que queria ir para fora. Ele foi a Portugal e na altura foi apanhado pela revolta das Caldas da Rainha…

O golpe das Caldas, a 16 de março de 1974.

Sim. Em Lisboa disseram-lhe: “Sim senhor, ele pode sair do país”. Comecei a preparar a minha saída de Timor, prevista para 27 de abril. Veio o 25 de abril e, naquela mesma manhã, um militar português, Cris Cristelo, que ainda está vivo, um daqueles oficiais anticolonialistas, apareceu e deu-me um grande abraço. Aí é que acreditei que as coisas estavam a mudar.

Meteu-se logo na política…

Já me tinha envolvido antes com o Mari Alkatiri e o Nicolau Lobato. No princípio dos anos 70, éramos muito jovens, 20 ou 21 anos, sem a mais pequena experiência, nenhum de nós tinha estudos universitários, mas já tínhamos estado fora. Em 1970, com uma encrenca que tive com a PIDE, fui parar a Moçambique, fiquei lá dois anos, voltei em 1972. Era o único que tinha estado em Moçambique, mas não aprendi nada lá.

Ramos Horta entrevistado pelo Expresso nos anos 70

Ramos Horta entrevistado pelo Expresso nos anos 70

O 25 de abril mudou completamente a sua vida?

Completamente. Fui apanhado no remoinho. Comprei o meu bilhete para Jacarta, para criar o meu partido, a ASDT (Associação Social-Democrata Timorense).

Quando formou a ASDT, a questão da independência já se colocava?

Antes mesmo da constituição formal da ASDT o nosso grupo já advogava a independência de Timor-Leste.

E porquê a designação de Social-Democrata? Era uma profissão nesse modelo de sociedade?

Essa foi uma proposta minha. Desde que me conheço como pensador político, desde os 18 e 19 anos, que o meu modelo era associado à social-democracia sueca. Ainda hoje.

Um dos elementos que o distingue de quase todos os seus camaradas é o facto de, sendo de formação católica, nunca ter estado num seminário.

Nem sei porque nunca fui para o seminário. Andei sete anos na missão católica, mas os meus pais mandaram-me para o liceu. Se tivesse ido, hoje estaria em Roma, provavelmente como cardeal.

Papa?

A Papa não diria, mas a cardeal podia chegar. Pelo menos é mais fácil. Daria menos dores de cabeça ser cardeal do que político em Timor-Leste…

Na declaração unilateral da independência, pela Fretilin, a 28 de novembro de 1975, estava em Díli?

Estava na Austrália. Tinha lá ido fazer lóbi, sobretudo nas embaixadas em Camberra. Regressei de Camberra para Darwin, para no dia seguinte apanhar o avião para Díli, quando soube que a Fretilin fizera uma declaração unilateral da independência.

 

Não lhe comunicaram a decisão? Na altura, você já era o responsável pelas relações externas…

Antes de sair tinha manifestado a minha discordância. Eu não discordaria de uma declaração unilateral da independência, mas para a fazer tinha que ser bem preparada. Quando cheguei a Díli, Timor-Leste já tinha outro estatuto: era a República Democrática de Timor-Leste.

Quem decide declarar a independência?

O Comité Central da Fretilin.

A que pertencia.

Pertencia, mas o facto de ter estado ausente não invalida a decisão.

Ainda voltou a Timor?

Sim, para a posse do governo. Cheguei a Díli só com tempo para vestir um fato.

Já com lacinho?

Sem lacinho e sem gravata, só um casaco. Fui à cerimónia de posse como Ministro de Relações Externas e Informação.

Exerceu durante quantos dias?

Dez dias. Entretanto reuniu-se o primeiro Conselho de Ministros presidido por Nicolau Lobato, que designou para cada um de nós algumas tarefas. Mari Alkatiri ia para Moçambique cuidar do apoio africano. Lobato ia também para fora, mobilizar apoio militar para as Falintil. Por fim, o Horta ia para Nova Iorque para tentar mostrar a nossa causa junto do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

 

 

Foi em Lisboa, em trânsito para Nova Iorque, que Ramos Horta ficou a saber que a Indonésia tinha invadido Timor. Já nos Estados Unidos, teve a sua primeira lição de “hipocrisia internacional” quando chegou às Nações Unidas: Washington votou a favor de uma resolução que condenava a invasão, ao mesmo tempo que continuou a fornecer armas à Indonésia durante anos.

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Dois acontecimentos acabaram por mudar a história de Timor. Um foi a atribuição do Prémio Nobel a Ramos Horta e D. Ximenes Belo, em 1996. “Fiquei surpreendido, não queria acreditar quando um jornalista me ligou a dar a notícia”. O outro foi o massacre de Santa Cruz, em 1991.

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Quem propôs o seu nome para o Nobel?

Uma deputada socialista, membro do próprio Comité, creio que em 1994. O meu nome e do bispo Belo começaram a ser ativamente considerados em 1995, mas nesse ano decidiram dar ao trio do Médio Oriente. Mais tarde, comecei a conhecer o processo e a sensibilidade dos membros do Comité Nobel e a partir daí nomeei algumas pessoas para Nobel. Fui eu que propus a União Europeia, o presidente da Coreia, Kim Dae-jung, e Muhammad Yunus.

Chegamos ao referendo sobre a independência, em 1999. Não votou?

Votei, mas em Sidney com a comunidade timorense. Mas assim que ganhámos começou a violência.

 

 

 

Portugal acabou por exercer um papel importante no processo de independência de Timor-Leste. Em entrevista ao Expresso, Ramos Horta conta que o primeiro-ministro de então, António Guterres, chegou a ameaçar os Estados Unidos com a saída da NATO, caso Washington não desse o apoio à causa timorense.

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Regressou a Timor em 1 de dezembro de 1999.

Exato. Finalmente, depois de 24 anos.