António Bulcão · Carta aos deputados do PS-Terceira

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Carta aos deputados do PS-Terceira
Como acreditar em vós, quando as vossas propostas equivalem a tudo o que poderíeis ter feito em 24 anos de poder, mas não fizestes?
Como acreditar em vós, quando sois sempre os mesmos, sem capacidade de renovação interna, quer de quadros, quer de ideias?
Como acreditar em vós quando os mesmos nem são bons e poucos votos valem cada um, como se viu nas últimas autárquicas, em que o vosso candidato na Praia da Vitória nem na sua freguesia conseguiu ganhar?
Como acreditar em vós quando o vosso discurso é sempre de ódio, mal-educado, chamando “escribas da caranguejola” a quem expressa publicamente a sua opinião, não merecendo respeito apenas porque pensam de forma diferente?
Como acreditar em vós quando o vosso secretário coordenador de ilha está ausente em Lisboa, nem aparecendo para ler um simples comunicado, assim confessando vós que não tendes ninguém para o substituir, apesar de todas as políticas erradas e da acumulação de dívidas de que foi autor Sérgio Ávila quando governante?
Sabemos da história de arrogância do PS. Desde o “desapareça senhor guarda” do Soares às atoardas do Sócrates. Passando pelo Costa e pelo César. Podereis pensar que esse é o caminho a seguir, para a frente. Que só esse estilo traz maiorias absolutas. Mas olhai que não é assim… Há sempre uma altura em que o povo se cansa dessa sobranceria. E essa altura chegou, para vós, nas últimas eleições.
Só que, nas vossas cabeças, o povo é que está errado, mesmo quando expressa a sua vontade nas urnas. E toca a malhar em cada decisão governamental. Na Assembleia, nos jornais, no facebook, está tudo mal, vocês é que eram e são bons.
Eu sei que, na vida, cada ser humano quer ser importante, respeitado pelo que é. Faz parte da natureza. Mas uma coisa é ser importante e ir para a política, outra coisa é ir para a política para se ser importante.
Retirando a política das vossas vidas, sentir-vos-eis muito pouco importantes. E tendes razão. Não conseguistes destacar-vos em nada, nas vossas vidas privadas. Nem pela profissão, nem pelo serviço à comunidade, nem culturalmente, nem sequer pela amabilidade. Só a política vos dá estatuto.
Daí o vosso desespero. Voltarem a ser simples cidadãos em quem ninguém reparará, quando apenas professores, ou empresários, ou desempregados, não é concebível na cabeça de quem se julgou tão importante ao longo de mais de duas décadas.
Daí nem abrirem as portas do partido a gente nova. Vocês são os únicos capazes. Sempre foi tradicional, no PS. Também daí a ausência de humildade democrática, para aceitar a vontade popular e o facto de, noutros partidos, também haver gente capaz, com ideias e capacidade para governar estas ilhas.
Quem vos viu e quem vos vê…
António Bulcão
(publicada hoje no Diário Insular)
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