Mês: Setembro 2022

  • PEDRO DA SILVEIRA CADERNOS AÇOREANOS

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    OS «CADERNOS AÇOREANOS»
    – literatura em tempos de náusea*
    FOTOS: Sara Bettencourt.
    No colóquio que decorre na Universidade dos Açores, a minha intervenção abordou a questão dos «cadernos açoreanos», um projecto editorial de literatura e cultura popular, em fascículos e por assinatura, lançado em 1950 (Julho) por Pedro da Silveira: era uma tentativa de atenuar a precária situação editorial nos Açores e sobretudo a inexistência de uma consistente distribuição inter-ilhas.
    O prospecto com os nomes dos autores participantes (fotos 1 e 2) aproveitava o verso para registar o nomes dos eventuais assinantes.
    Em Setembro de 1950, o órgão da salazarista Frente Académica Patriota (foto 3) denunciava em Lisboa o projecto, com base em «informação» bufada de Ponta Delgada por um «protegido do chefe fascista local» (palavras de Pedro da Silveira). Uma iniciativa literária tornara-se um caso de perseguição política. A partir daí, nenhuma tipografia quis arriscar-se a pegar numa coisa dessas.
    Em Março de 1951 Pedro da Silveira fixou-se definitivamente em Lisboa, e pensou retomar o projecto.
    Analisando as cartas do poeta florentino enviadas ao seu amigo Manuel Sousa de Oliveira durante os anos seguintes, é possível seguir o rumo dos acontecimentos e vicissitudes várias, os pedidos de colaboração, as dificuldades, os dinheiros angariados com as assinaturas.
    …………..
    Agradeço à Fundação Sousa d’Oliveira a cedência da cópia digitalizada das cartas de Pedro da Silveira, entretanto editadas este mês como forma de celebrar o centenário de Pedro da Silveira.
    ……………..
    * O meu subtítulo decalca o título de uma sequência poética de Pedro da Silveira, «Poetas em tempos de náusea» – homenagem a 3 poetas (Anna Akhmátova, Emilio Prados e Carlos Maria de Araújo), cada um deles a contas com… ou em fuga ao respectivo -ismo interno: o estalinismo, o franquismo e o salazarismo.
    João Figueiredo, Fábio Mendes and 20 others
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  • SOCIEDADE IRREFREADA DE CONSUMO

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    o televisor avariou depois de expirar a garantia, o agente da marca deu um orçamento válido apenas ppr 3 meses de maior custo do que uma TV nova..

    365 coisas que posso fazer...: 197 - Deixar de ver televisão

  • More Than Just a Blonde Bombshell – The Life of Jayne Mansfield and Her Tragic Demise – en.lastnighton.com

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    More Than Just a Blonde Bombshell – The Life of Jayne Mansfield and Her Tragic Demise – More Than Meets the Eye Jayne Mansfield made a huge impact on the entertainment industry during her years of fame in the ’50s and ’60s. The American actress, entertainer, and singer dreamt of becoming a star since she was a young girl.. She was originally born as Vera Jayne Palmer in Bryn Mawr, Pennsylvania on April 19th, 1933. Her father was an attorney turned musician, which inspired Jayne to take an interest in music. She began playing the violin when she was just seven years old and started

    Source: More Than Just a Blonde Bombshell – The Life of Jayne Mansfield and Her Tragic Demise – en.lastnighton.com

  • Sismo de 2,7 na escala de Richter sentido hoje na ilha do Faial – Jornal Açores 9

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    Um sismo de 2,7 na escala de Richter foi hoje sentido na ilha do Faial, revelou o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA). Em comunicado, o CIVISA indica que o evento, registado pelas 10:30, foi sentido pela população com intensidade máxima IV (escala de Mercalli Modificada) nas freguesias de Ribeirinha e Pedro […]

    Source: Sismo de 2,7 na escala de Richter sentido hoje na ilha do Faial – Jornal Açores 9

  • VÃO TODOS CAIR DE UMA JANELA…….85 Políticos russos unem-se todos e exigem afastamento de Putin

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    Um grupo de políticos russos uniu-se numa campanha contra Vladimir Putin e recolheram já mais de 85 assinaturas a exigir a sua renúncia.

    Source: 85 Políticos russos unem-se todos e exigem afastamento de Putin

  • PEDRO GOMES COMO O AMOR

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    COMO O AMOR
    Numa destas manhãs de luz direita e clara, andando a pé pela cidade, vejo um rapaz, com uns vinte e poucos anos, vestido como todos os jovens da sua geração – t-shirt colorida, calções de cor creme, abaixo dos joelhos, ténis – a escrever na parede de uma velha casa abandonada, de janelas e portas entaipadas e de destino incerto. Abrandei o passo, com curiosidade. Foi, talvez, o facto de não estar a desenhar, que me chamou a atenção. Indiferente ao movimento da rua, ainda escasso àquela hora matinal, ele escrevia. As letras, desenhadas a spray preto, abriam-se à brancura desmaiada da velha casa.
    Ele percebeu que alguém o estava a olhar, mesmo estando de costas – como todos acabamos por perceber que somos olhados – pois voltou-se ligeiramente para mim e, sem esboçar qualquer outro gesto, regressou à escrita. Fiquei mais embaraçado do que ele, mas decidi esperar para ver o que escrevia.
    Não demorou muito a acabar. Guardou a lata de spray na mochila, que levantou do chão, olhou para mim, agora de frente, e sorriu. De mochila às costas e de auscultadores nos ouvidos, desceu a rua, em direcção ao mar, sem olhar para trás uma única vez.
    Num quadrado imaginário da parede virada para a rua, ficou escrito: “Ana, gosto de ti, como as nuvens gostam do céu. João”. A declaração de amor ficou escrita para a cidade e para o mundo, de um modo indelével, até que o tempo a apague. Pensei na misteriosa Ana, destinatária da mensagem. Seria uma namorada ou uma mãe, a quem também se fazem declarações de amor com a intensidade desta? Algum dia a mulher amada saberá desta declaração? Os seus passos serão guiados para este lugar? O que pensará quando olhar o poema-declaração que João lhe escreveu?
    A velha casa volta a guardar o amor, no meio da cidade. Já não há gente a entrar ou a sair dela, as paredes já não recolhem ninguém, o tempo parou, emparedado nas janelas e portas tapadas, que não se voltam a abrir. O ruído da casa morreu no tempo, substituído pelo silêncio que prenuncia o seu fim. Já não se houve a voz da mãe a chamar os filhos para a mesa, a voz dos miúdos nas infinitas gritarias próprias da idade, a voz do avô a contar uma história antiga. As vozes da casa calaram-se. Renascem para murmurar a declaração de amor: “como as nuvens gostam do céu”. O céu precisa das nuvens. Como escreveu Ana Luísa Amaral, “por milagre, ou acaso, é assim/que estas coisas acontecem:/espalhadas pelo mundo”.
    A severidade do tempo apagará, um dia, a declaração de amor, de um amor público, que não se resguarda dos olhares dos outros, mas que se abre ao mundo e o espanta, pela forma como é confessado. Um amor ousado, no despudor do olhar dos outros, que adivinharão o bater dos corações enamorados.
    Esta declaração de amor tem o sabor da transgressão, que todo o amor assume. Proclame-se ao mundo: um homem ama uma mulher. Passo por aquela casa muitas vezes e penso na mulher desconhecida, a quem o amor se declarou. De certo modo, invejo-a.
    A pedra escolhida é uma pedra transformada na habitação do amor.
    (Publicado a 14 de Setembro de 2022, no Açoriano Oriental)
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