Mês: Agosto 2022

  • MARTINS GOULART OS VARADOUROS DO PICO

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    DESRESPEITO PELA HISTÓRIA E PELA CULTURA DE UM POVO
    Não conheço o projecto da “obra” em curso no porto do Calhau, mas, pelo andar da carroça, temo que o último varadouro da fronteira do Pico tenha o mesmo destino dos destruídos ancestrais varadouros que durante séculos existiram tanto na vila da Madalena como na Areia Larga. Ou seja, a sua iminente inutilização.
    Há poucos anos, perante uma obra mal concebida e pior executada, o povo do Monte uniu-se, organizou-se, lançou um “SOS” e, contra ventos e marés, conseguiu evitar o pior, “salvando”, na medida do ainda possível, a zona balnear do Pocinho.
    Hoje, procuro e não encontro provas do poder protestativo do povo do Monte, agora que gente sem tino decidiu destruir o histórico varadouro do porto do Calhau, entulhando-o e construindo um pontão de betão completamente desalinhado relativamente àquele que outrora permitira a manobra de varagem segura dos “Barcos do Pico” e de dezenas de barcos de pesca, para além de servir de quebra-mar da zona interior do velho porto.
    Procuro e nada encontro. Nem ouço uma única voz de protesto!
    Qual a razão de tão ruidoso silêncio?
    Não me importo de ser único a protestar.
    Todavia, o meu isolado protesto levanta uma questão que me toca muito de perto:
    Valerá a pena embarcar na aventura de reconstruir o “Santo António do Monte”, para dar alma àquele que foi o segundo porto mais importante da fronteira do Pico?
    Este povo honrado que conheci como sendo destemido, descendente dos “lobos do mar” que tripularam o “Boa Fé”, o “Capricho”, o “Caridade” e o “Santo António”, contenta-se com a tosca e mal pensada construção de mais uma zona balnear, armada em betão, apenas para uso sazonal e praticamente exclusivo dos utentes de um complexo privado ainda em fase de construção, feita à custa da destruição de um importante marco histórico? Esse investimento público não deveria ter sido aplicado para garantir melhores condições de operacionalidade da infraestrutura portuária que preferiram inutilizar?
    Será que a geração mais jovem do lugar do Monte, ela também descendente dessa gente corajosa que enfrentou e venceu ciclones e mares revoltos, está-se “nas tintas” se forem expulsos da “plataforma do bronze” aqueles que continuariam a fazer o uso normal do porto, nomeadamente os pescadores de pesca lúdica que, devido à excelente localização do porto, continuaria a desempenhar a importante função de apoio a largas dezenas embarcações de toda a fronteira do Pico?
    Perante tamanho desinteresse, a par de um inqualificável desrespeito pela cultura e a história de um Povo, heroicamente enraizada no mar – e do qual me orgulho de ser descendente – sinto-me profundamente humilhado e ofendido.
    A indiferença dos que há muito deveriam ter reclamado contra mais um atentado perpetrado deste lado do Canal, alicerçado na força dos habituais argumentos do betão, convida a gentinha inculta e incompetente que, sem oposição, garante continuidade ao desgoverno regional que nos oprime há mais de duas décadas, a prosseguir a política de desinvestimento na conservação e na recuperação do nosso degradado património cultural construído.
    Lamentavelmente, a atual “casta” de políticos mal formados – ressalvando raríssimas exceções – já há muito percebeu que o nosso Zé Povinho se contenta com subsídios, ofertas de sacos de cimento e de areia mal lavada, celebradas em folguedos estivais banhados de cervejolas. Feito esse pequeno investimento circense, e, sem qualquer pejo, são peritos em violar a torto e direito a nobre regra do primado da defesa do interesse público, porque sabem que podem continuar a satisfazer os interesses da sua principal clientela privada, com total impunidade, que goza com isto tudo porque nada a impede de continuar a acumular gordos lucros à custa do erário público.
    Há poucos dias, na cerimónia inaugural do 189º aniversário da elevação da Vila da Horta a cidade, alguém perguntou ao Dr. Jaime Gama como avaliava o impacto do atual modelo de desenvolvimento turístico dos Açores. Assumo a responsabilidade de resumir, numa simples frase, a sábia resposta do amigo de longa data e um apaixonado pela sua terra natal: não permitam que estraguem as nossas ilhas!
    A prova está à vista de que o apelo feito cairá, uma vez mais, em ouvidos mocos.
    Pode ser uma imagem de ao ar livre
    Humberto Victor Moura and 49 others
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  • peter o’toole e audrey hepburn

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    Há cinco anos, eu brinquei com esta imagem.
    No photo description available.
    – O que é que os senhores estão a fazer no armário das vassouras?
    – Isto é o armário das vassouras?
    – Queriducho, eu avisei que nos tínhamos enganado na porta.
    – Mas, docinha, indicaram-nos esta porta de embarque.
    – Os senhores iam viajar?
    – O senhor está em terra?
    – Aqui quem faz as perguntas sou eu: o que estão os senhores a fazer na minha casa?
    – Isto é a sua casa? O senhor fuma dentro de casa?
    – Queriducho, eu avisei que devíamos ir para a Austrália – indo por cima, já estávamos lá.
    – Amorinha, não comeces a culpar-me de tudo. Eu estou a fazer o meu melhor.
    – O que queres dizer com isso? Que eu não faço o meu melhor?
    – Os senhores estão a gozar comigo?
    – O senhor quer fazer o favor de nos dar espaço?
    – Espaço?
    – Sim, não vê como estamos? Não pode tratar assim os passageiros!
    – Os senhores estão na minha casa!
    – Isso é que era bom: nós pagámos um bilhete para os Açores. Se resolve morar num avião, tem de saber lidar com a pressão.
    – Queriducho, isto foi uma piada para mim?
    – Amorinha, nem tudo o que eu digo tem a ver contigo, sabias?
    – Então tem a ver com quem?
    – Os senhores querem fazer o favor de sair da minha casa?
    – Queriducho, o que tu dizes tem a ver com quem?
    – Amorinha, não vês que me custa falar? Tenho o queixo a bater no joelho.
    – Então e eu? Praticamente nem consigo abrir os olhos.
    – Se te inclinasses para trás, talvez eu conseguisse desentalar o pé.
    – Francamente! Há coisas que não se dizem a uma lady nem mesmo quando se é casado com ela! E num avião!
    – Os senhores estão na minha casa!
    – Amorinha, devíamos ter feito férias em julho.
    – E ter escolhido a Austrália. Indo por cima, já estávamos lá.
    Imagem: Peter O’Toole e Audrey Hepburn, numa cena do filme «How to Steal a Million” (1966). O’Toole faria hoje 85 anos.
  • DO NEUTRO E DO GÉNERO

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    Um ponto de vista a considerar.
    Deixando de lado a provocação
    PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA
    (Texto de Vivian Cabrelli Mansano)
    “Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica.
    Eu sou professora de português.
    Eu estava explicando um conceito de português e fui chamada de desrespeitosa por isso (ué).
    Eu estava explicando por que não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos pra ser “neutre”.
    Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero.
    Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.
    Vou mostrar pra vocês:
    O motorista. Termina em A e não é feminino.
    O poeta. Termina em A e não é feminino.
    A ação, depressão, impressão, ficção. Todas as palavras que terminam em ção são femininas, embora terminem com O.
    Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc.
    Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra.
    A alface. Termina em E e é feminino.
    O elefante. Termina em E e é masculino.
    Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E.
    E mesmo que fosse o caso, o português não aceita gênero neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro pra combater o “preconceito”.
    Meu conselho é: ao invés de insistir tanto na coisa do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída.
    O que existe é sexo.
    Entendam, em segundo lugar, que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de “gênero”. Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar gêneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor.
    E entendam em terceiro lugar que vocês podiam tirar o dedo da tela e parar de falar abobrinha, e se engajar em algo que realmente fizesse a diferença ao invés de ficar arrumando pano pra manga pra discutir coisas sem sentido.”
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    • Wander Emediato

      Bom… Ela tem razão. Mais vale, claro, não usar a língua com atos de fala ofensivos, injuriosos , racistas e homofóbicos. E com sinceridade ter empatia com quem não tem a mesma opção sexual que você. E ter empatia não é apenas se colocar no lugar dos …

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    • Vidomar Silva Filho

      Tô aqui aplaudindo essa moça. Gente chata do caralho. Já cansei de explicar pra uns bobos, bobas e bobes que a questão do gênero gramatical é complexa, historicamente construída por mais de dois milênios, que gênero gramatical não tem relação clara com…

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    • A ILHA DE HOUTMAN É A ILHA DE ABROLHOS

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      A propósito da palavra Abrolhos, mencionada no “post – Portugueses em Melbourne”, escrevi o seguinte comentário:
      As Ilhas Abrolhos, que mencionou, tem significado especial para Portugal. As Ilhas, perto de Geraldton, WA, são oficialmente conhecidas como Houtman Abrolhos nomeadas pelo Capitão Frederik Houtman em 1619. Acontece, porém, que um mapa publicado em Dieppe, França, em 1553, pelo cartógrafo Desceliers, baseado nos mapas de Cristóvão de Mendonça, já contém as Ilhas com o nome Abrolhos, uma palavra que só existe na língua portuguesa. Quer isto dizer que Houtman “descobriu” o que os portugueses descobriram 60 anos antes dos holandeses e 250 anos antes do Capitão Cook. Mas continua a negar-se o que é óbvio!
      Helen Mary Hill and 58 others
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      Cinematic journey to Australia's rugged paradise, the Abrolhos Islands |  ABC Unwind | ABC Australia - YouTube
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      • Phillip Williams

        Dear Dr. De Lemos, my life has been scattered with serendipity and this is one more instance. Many years ago in Melbourne Victoria you became unofficial patron of the FOCUS FORCE FRIENDSHIP EXHIBTION To PORTUGAL. It highlighted the photographic works of Warrnambool school students. Your help and assistance helped make it the success it was, and now as I approach my 79th year I ma preparing a document to go to the students, and others including the consulate, Both Portuguese and the Australian consulate. It travelled throughout Portugal for 12 months and had many outstanding outcomes. The serendipity today is the day after your 96th birthday, and I decided to commence this exercise. Should it reach its goal I would like to dedicate to your support.
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          Carlos de Lemos

          Phillip Williams Dear Phillip, many thanks for your email. I certainly remember your project “Focus Force and also recall that it was very successful. I have no objection to you using my name relating to my support. I also recall that I had a file on …

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  • Açores

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    UM BETO NO DISTRITO VERMELHO|

    Tiago Franco

    Vi um beto nas festas da minha freguesia e isso foi, só por si, um momento. Não sei se já vos contei mas mudei-me para a freguesia vermelha da ilha. Existe uma azul, outra verde, uma amarela, uma tutti-fruti e outra vermelha. As casas são pintadas de vermelho e branco, como deveriam ser no resto do mundo, e isso torna a freguesia vermelha. Isto, apesar de ser a única da ilha com junta de freguesia de direita. A revolucão tarda mas enfim, não se pode ter tudo.
    Mas o beto, voltemos a ele, “não era de cá”. Sabemos sempre quando alguém “é de fora”. O problema é que eu já tinha falado, algures no planeta, com aquele beto. Não sei onde nem quando. Nunca esqueco uma cara mas raramente recordo a conversa. É aliás a razão pela qual perco quase todas as discussões conjugais. Se me disserem que eu fiz algo bastante reprovável naquela manhã de Outono ou disse uma barbaridade naquela tarde de verão, eu acredito. Na melhor das hipóteses venco um argumento com momentos ocorridos nas últimas 24h. Aí sou quase imbatível no paleio. Depois disso sou um sitting duck, pronto a ser abatido por qualquer sniper menos treinado.
    Sempre quis ser beto. Era um dos meus objectivos de vida na juventude mas faltava-me tudo. Caracóis nunca deram para aquela franja que tapava a testa. Sapatos de vela rebentavam-se todos ao primeiro remate. Calcas justas davam-me comichão. Pólos das Amarras eram caríssimos. Beijos numa bochecha só, eram sinónimo de saltos no vazio do outro lado. Ainda por cima era razoavelmente bom a matemática, não achava o Paulo Portas um “grande estadista”, preferia “muito” a “imenso” e os Mike and the Mechanics não eram a melhor banda de sempre. Nunca tratei familiares por você. Raramente trato seja quem for por você.
    Mas tentei. Ainda fui para a escola com calcas brancas, tão, mas tão apertadas, que o glúteo africano com que nasci se juntou ao saco testicular em formato de LP de 33 rotacões. Entrei na Bafureira, fui ao Bahaus e ao Coconut ou lá como se chamava aquilo. Passei uma noite inteira com uma cerveja no T-Club porque não tinha dinheiro para outra. De vez em quando acabava a noite naquela ali ao lado da Kapital onde de facto se ouvia “looking back, over my shoulder”, enquanto se dancava com um cigarro na mão e um copo de rum com cola na outra. Também já não me lembro do nome do sítio. Mas não era vida para mim. O rum ainda vá, cigarros e calcas que me colavam as partes nunca foram a minha praia.
    De onde conheceria eu aquele beto? Devo dizer que os betos velhos são muito parecidos com os betos novos. Aliás, há toda uma moda que se aguenta ao fim de 30 anos, o que é louvável e até um selo de qualidade para o movimento.
    O beto aparece na festa da freguesia com 3 amigos e respectivas mulheres. Eles de mocassins, camisas brancas de linho, camisola de malha fina na cintura. Está um calor tropical mas a cintura precisa sempre de um adorno. Elas chegam de vestido comprido, cada uma com a sua cor, todas com os mesmos brincos. Obviamente louras, pintadas ou não saberá Deus e vocês que percebem de tintas e raízes. O português comum é quase sempre moreno de cabelo escuro. A beta resulta normalmente de um cruzamento germânico com marroquinos. Umas argolas penduradas nas orelhas que serviriam para um leão saltar entre labaredas. Directamente dos 90’s para 2022, um maravilhoso clássico. O Land Rover da indumentária. Não morre, não desiste.
    Eles alinham-se cá atrás, olhando a plebe e assistindo ao concerto sem mexerem um fio de cabelo. Os que ainda o possuem. Alguns metemas fichas todas na indumentária porque o cabelo já foi. É possível, ainda assim, ser beto velho e careca. O segredo é apostar mais no relógio, três vezes maior do que o braco, para desviar os olhares. O sertanejo segue animado, eles nem tanto. Uma mão no bolso ou no telefone, a outra na caipirinha. Sim, a nossa freguesia tem barraca de caipirinha.
    Elas chegam logo a dancar. Fazem coreografias, repetem os passos das aulas de aeróbica que frequentam em conjunto. Ganham histórias para contar no regresso a casa, tiram “selfies” para o insta, fazem “lives” que mostram a diversão nas festas da aldeia vermelha. A ressaca de amanhã valerá a pena porque foi supé divertido gingar ao som daquele sertanejo.
    Entre um morango do nordeste e outro tche tche re re, bebericava a minha imperial em copo reciclado e dava mais um passo com a patroa, pensando como são intemporais as irritacões. Ou até como patroa continua a ser a melhor designacão para quem nos vence nas discussões caseiras.
    Ainda por cima tenho a sensacão que a minha interacão com o, agora beto velho, foi pouco simpática. Lembro-me de ele ter feito uma cara de desagrado. Mas onde, quando e porquê? Terei sido pouco caturreiro algures na vida?
    0:05 / 0:15
    Ana Nogueira Santos Loura and 59 others
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  • On her thirteenth holiday of the year, Nicole Scherzinger displays her incredible figure in a blue bikini. | Nokia News

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    Nicole Scherzinger celebrates her 13th holiday of the year by displaying her incredible figure in a blue bikini. She is renowned for her incredible figure and jet-setting lifestyle. And on Saturday, while on her 13th vacation of the year with her boyfriend Thom Evans, Nicole Scherzinger flaunted her incredible body in new bikini photos. TheRead More

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