Mês: Agosto 2022

  • poema de 1973 (chrys c) dedicado ao daniel filipe

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    1. e.38. (ao daniel filipe) abril 30, 1973

     

    1.

    margem insólita de todo o poema

    sempre nos habita

    algures

    a palavra

    gesto

    talvez sorriso

    familiares viajantes de toda a história

    pairam sobre a memória do cristal

    estrangeiros pensamentos crescem dos dedos

    invadem a casa

    lavrando

    sonhos impossíveis

     

    atração eternizada nos transcende

    mística magia de rochas por decifrar

    fantasiosas

    oportunistas

    divagam

    insustentáveis teses

    nos zimbórios da retórica

    agnósticos

    céticos

    espraiam-se fervorosos

     

    no grito infeto

    a louca viagem

    multicolor do tempo

    grades de raiva

    inaudito flagelo

     

    pregaram às janelas do cérebro

    holofotes de cura do sono

    o crime da estátua

    tensas mordaças

    hirtas teias

    paisagens sem idade

     

    supliciaram o templo inerte

    do corpo

    violaram memórias

    confissões sempre retardadas

     

    o ódio calmo

    sereno companheiro

     

     

    anda camarada

    cospe-lhes o teu sangue puro

    ri-te da dor animal

    mas não lhes perdoes

    mas não esqueças

     

    o tóxico fumo

    da indomável vontade

    cansá-los-á

    rendidos

    frustres carrascos

    abater-te-ão

    e os dentes que te arrancaram

    e a língua que não te soltaram

    (embora ta cortassem)

    e o pensamento que te não aprisionaram

    serão a vitória

    serão a troça

     

    dos teus olhos abertos

    dois vulcões de sangue

    sem vida tos extirparam

    para que morto

    os não fulmines

     

     

    teus ossos lançados às cinzas e ao mar

    entoam canções heroicas

    também tu és o nobre canto

    resistente

     

     

    camarada

    nós te ergueremos

    bandeira viva

    é nossa a luta

    é nossa a desforra

    é nossa a trova

    espada deste canto

     

    amigo

    a liberdade te pertence

    a vida te merece

    poema sem tempo

    farpa

    mista voz desfraldada

    livros por habitar

    no mundo-do-sem-fim

    acorrentadas horas

    penosas arqueologias

    rastejantes

    subterrâneas as vozes

    nos invadem

    fecundas

    as mãos

    giz

    suor

    ironia despojada de lágrimas

    truncámos a palavra

    deserta

    (in)sobrevivente

    vencida foi

    no letargo da mediocracia.

     

    2.

    esgotem materiais e humanos

    atinja-se a inanição

    cooperem operários

    técnicos

    meros observadores

    TODOS

    novos

    velhos

    mulheres

    inválidos

    crianças

    inclusive homens

    (à cause du machîsme)

     

    reine a desordem

    e o caos

    não sucumba a vigilância

     

    policias ineptos

    soldadinhos de chumbo

    bombeiros de palha

    forças desmilitarizadas

    vigilantes

    bufos

    corpo-de-paz

    O IMPORTANTE SÃO AS FARDAS!

    mobilizados todos

    cursos especiais

    de desinfestação

    instrução de piqueniques volantes

    guerra sem cartel nem quartel

    até se estropiar a ORDEM

    (abolido temporariamente o trabalho)

     

    é perigosa

    anda protegida e bem armada

    (ao que consta

    de fontes fidedignas)

    o serviço nacional da malinformação

    atento e venerando

    tv

    jornais

    cinema-novo

    teatro-de-vanguarda

    convocados

    haverá comunicados horários concisos

    texto único

     

     

    congressos-mundiais-de-combate-inútil-reunidos

     

     

    (o debate é a base de toda a futilidade polemista!)

     

     

    imperioso manter a população

    hibernada

    estado-de-sítio

    recolher obrigatório

    em todos os bordeis e lupanares

    acerada vigilância

    abolida a privacia

    e a intimidade

    vasculhadas pessoas e haveres

     

    obstruam as ruas

    com barricadas de papelão

     

    (inauguradas em direto pela tv)

     

    cidades

    estradas

    portos

    marítimos e aéreos

    espiados

    como rezam as tradições

    francas das fronteiras

     

     

    (a burocracia ocupar-se-á do restante)

     

     

    antiguerrilheira e apátrida

    – infiltrou a ORDEM –

    teve o apoio de minorias já detetadas

    condenada ao malogro

    cresceu

    e se fez gente temida

    racionados viveres

    por estratos sociais

    senhas e talões

    no mercado negro

    dos intelligence services locais

    amestrados cães pastores

    vigilantes

    rebuscam residências

    a elite comunizava livros proibidos

     

     

    o tesouro com poderes supranormais

    emitia metal sonante

    descongelados salários da administração

    fomentada a espiral inflacionária

    falidos pequenos e médios empresários

    monopolizado o grande capital

    o país crescia

    sólido e inabalável

    a ORDEM enaltecia a família e a religião

    sem amigos nem-conhecidos-de-café

    ninguém afrontava a pública militância

    viajava-se nos coletivos

    preferencialmente amarelos

    desajustada tendência aos discursos

    do grão-mestre

    impostos pagos

    residência nos subúrbios

    débitos ao merceeiro

    jogadores fortuitos de totobolas

    – apostas simples –

    horários fixos por contratos coletivos

     

    os católicos de domingo

    funcionários devotados

    soletravam o respeito

    honestos e pontuais

    sem ambições viviam

    orgulhosamente sós.

     

     

    – então chegou o tempo das flores –

     

     

    maculado o vernáculo solo pátrio

    desmascararam-se abusos

    de vítimas nenhumas

    sufocaram-se greves

    carregou a polícia de choque

    prisões maciças

    sem culpa formada

    torturas

    deportações

    nada foi eficaz

    o poder legalmente constituído

    autoridade irrefutável

    caiu

    sem pretensas liberalizações subversivas

    debilitados os poderes cívicos

    a elite dirigente escoiceada e depurada

     

    – (eram homens públicos de muito mérito!) –

     

    foram traídos pelo povo

    a quem não serviam

    reconheceu-se autoridade à ONU

    entabularam-se negociações com terroristas

    (até então guerrilheiros sem pátria)

    ignoraram-se imaginosos esquartejamentos de brancos colonos

    e a terra una

    multirracial porque discriminatória

    pluricontinental porque imperialeira

    finalmente hipotecou tradições balofas

    enterravam-se prósperos futuros planejados

     

    (o presente era de crise

    mas as previsões mentiam seguras)

     

    aprestado o ajuste de contas

    alguém houve

    pagando com a vida

    morte

    ou o que preciso fosse

    demolida a ameaça

    pela população gentia

    brotou a voz uníssona e liberta das massas

    milhões de vidas salvas

    antes de contaminadas

     

     

    nascia um jovem continente no velho mundo.

     

  • Preço do leite deve acompanhar aumento dos custos de produção (quando os salários acompanharem a inflação…. – Jornal Açores 9

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    A produção de leite em Portugal continua sob enorme pressão, face aos elevados custos dos fatores de produção (eletricidade, gasóleo, adubos e rações) e a uma previsível baixa na produção de forragem, nomeadamente milho silagem, devido à seca e onda de calor, que poderá ser em alguns casos 50% face aoano passado. Esperava-se que a […]

    Source: Preço do leite deve acompanhar aumento dos custos de produção – Jornal Açores 9

  • poema – excerto 1972

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    jogos de portuguerra, a erich maria remarque (abril 1972)

     

    ….

    aqui e agora se medita
    inaudito espetáculo revolucionário
    ministros‑de‑guerra
    em luta corpo‑a‑corpo

    nações beligerantes
    evitariam gratuito sangue
    o povo pagaria imposto
    para morrer desfastiado
    passaria fome para ter governantes bélicos
    a geografia da velhice sobreviveria em paz.