Em maio de 1956 nascia um dos mais emblemáticos projetos da Fundação Gulbenkian: as bibliotecas itinerantes. Num país profundamente inculto e com elevadas taxas de analfabetismo, as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian eram pequenos oásis de cultura.
Lembro-me de aguardar com expectativa a próxima visita da carrinha cinzenta, as famosas Citroën HY, para poder trocar os livros entretanto lidos. E éramos muitos, um rebanho de putos que tomavam de assalto as estantes repletas de estórias. Entretanto o tempo foi passando até que, em 2002, as carrinhas Citroën entraram na garagem de onde nunca mais sairiam.
Vem-me esta memória a propósito do recém-publicado estudo encomendado pela Fundação Gulbenkian sobre as práticas culturais dos portugueses que mostra serem os Açores uma das regiões onde a participação cultural, `sensu lato’, está abaixo da média nacional. Os livros são apenas um exemplo, e aqui os Açores nem são dos piores, a Madeira tem uma média inferior, mas quando se fala de idas ao cinema, ao teatro, concertos de música clássica ou jazz, visitas a museus ou monumentos, os Açores ficam abaixo da média do país.
Podemos e devemos questionar se tal não sucede por a oferta cultural na maioria das ilhas ser diminuta ou inexistente e por sermos uma das regiões mais pobres do país onde sobra pouco ou nenhum dinheiro para a cultura. De facto, estas são duas realidades que ajudam a enquadrar o resultado do estudo, mas há razões mais profundas que podem explicar os fracos índices de adesão cultural na Região.
A iliteracia será uma das principais condicionantes das práticas culturais dos açorianos e essa só se combate com Educação e com uma aposta séria na Cultura. O gosto pela leitura, pelas artes plásticas, o gosto por diferentes géneros musicais, pelo cinema, em suma, a curiosidade cultural educa-se. Sem um edifício educativo que faça da Cultura um dos seus pilares, o futuro não será diferente do quadro que o estudo da Gulbenkian nos apresenta.
Em paralelo, podemos pensar em levar os eventos culturais às diversas ilhas, uma espécie de veículos itinerantes de cultura oferecendo a todos os açorianos acesso a práticas culturais de que estão arredados. O custo será largamente compensado pelos benefícios de termos uma população mais culta e instruída.