Um Nicles, uma Népia, um Nada e um Zero à Esquerda pugnavam entre si pela nulidade mais absoluta. Entraram nessa liça Patavina, Peva, Vazio, Bombo da Festa, Vago e Merdoso. No fundo, o Tuta e Meia, o Meia Leca, o Meia Tintas, o Mediano, a Maria Vai-Com–As-Outras, a Mosca Morta, o Tostão de Mel Furado admiravam perdidamente o Passarão, o Chico Esperto, o Ladino, o Finório, o Troca-Tintas, enquanto detestavam o Urso, a Excelência, o Raro, o Novo, o Sábio, o/a Artista, o/a Poeta, o Valor, a Coragem e o Bom. Havia também os Ignorados, os Vencidos à Partida, os Incompreendidos do Destino, que, apesar de Inteligentes e Activos, ninguém compreendia nem aceitava.
As armas dos contendedores tinham nomes: as dos primeiros, dos segundos e terceiros eram Ignorância, e Falácia. As do quarto eram igualmente a Ignorância e Falácia, acrescidas de Falsidade, Ódio, Arrojo, Insulto, Amor ao Poder, tudo isso suportado pelo Dinheiro. A arma dos últimos era a Conciliação, ineficaz. A dos Passarões era o Dinheiro. E as dos Ursos eram o Trabalho, a Inovação, a Ousadia, a Persistência e a Crença na potencialidade de tudo e de todos, até de alguns dos Nicles, Népias, Zeros etc., desde que apoiados pelos Meia Tintas e quejandos.
Entretanto, a Tímida, a Cigana, a Preta, a Imigrante, a Desempregada, a Expectante, a Filósofa, a Sem-Abrigo, a Velha, a Funâmbula, a Artista, a Louca, a Desenquadrada, a Doente, a Indigente, a Mendiga, as respectivas Formas Masculinas e ainda a Criança… assistiam a tudo, aflitas e aflitos, até à explosão final. E depois tudo renascia, crescia e proliferava em novos moldes e sociedades, sempre surpreendentes pelo engenho com que se mantinha cada um tal e qual como sempre fora.
Até ao momento em que foi fabricada uma nova humanidade com materiais trazidos de outros planetas. A partir daí não posso dizer mais nada porque, sendo 99,9% humana, não estou autorizada a entrar no Imóvel do Móbil Futuro.
(Qualquer coincidência com a realidade não passa de coincidência, tal como a minha avó que se não tivesse morrido ainda hoje era viva)