Confesso que me preenche um sentimento agridoce. Um desconforto pendular e dividido de quem sente alegria e tristeza num mesmo fôlego. Sou, quase que diria por natureza, socialista. Foi assim que fui educado e foi no socialismo democrático que cresci. Sou um Soarista e um Anteriano e todas as vitórias do PS me contentam, mesmo estas, em que não é o meu PS. É exactamente por isso que sinto, também, uma profunda tristeza por este momento. Fica claro que são muitas e variadas as razões desta vitória, desde os que convictamente acreditam em Antonio Costa, aos que se juntaram ao PS para repudiar o CHEGA!. A tantos, também, aqui nos Açores, que viram nestas eleições uma forma de censurar a coligação de Bolieiro. Outros, ainda, haverá que vêem em Costa e no PS a imagem da firmeza e da autoridade que “dominou” a pandemia e que guiará o país no maná do PRR e dos milhões que aí vem para distribuir. Pois, é exactamente aqui que começam as minhas reservas sobre este PS e sobre António Costa. Este é o PS dos jeitos e dos arranjinhos. O PS do grande capital, dos compadrios e das zonas cinzentas entre o público e o privado. Este é o PS que fez o que fez a António José Seguro. E, para mim o mais grave, este é o PS do fascismo sanitário e do Certificado Digital, do autoritarismo pandémico e da agiotagem vacinal. Este é o PS que liderou a injusta e pérfida apropriação medicamentosa do erário público e na expropriação do direito ao trabalho de centenas milhares de pequenos empresários. Este é o PS que viu na pandemia uma porta para o poder absoluto e que fechou todas as janelas à defesa da Liberdade, da Fraternidade e da Solidariedade. Por cá, este é o PS do amiguismo e dos arranjos internos. Um PS feito de pequenos atos, da politiquice e do ostracismo mesquinho e vingativo. É o PS dos César, pai e filho, porque o de Vasco Cordeiro nunca existiu, foi um mero intervalo entre os 20 anos do Carlos para os próximos vinte do Francisco. Mas, é esta a vontade do povo e o povo tem sempre razão, mesmo quando dá 12 deputados ao CHEGA!, uma maioria absoluta ao Antonio Costa e um salvo conduto ao Chico César. O povo é quem mais ordena, mesmo que não concordemos com ele…
