Mês: Dezembro 2021

  • OSVALDO CABRAL A EMPRESA ROBUSTA

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    “”
    Estávamos em pleno Verão de 2018 e a canícula interfere sempre com o raciocínio de qualquer um, com particular incidência na classe política.
    A propósito de uma audição parlamentar – a milésima para mostrar trabalho -, já nem me lembro de que área, mas provavelmente daquelas que se faziam ao sector público sem nunca resultar em nada, demonstrei como algumas empresas públicas regionais estavam a enganar os contribuintes, publicando notícias que davam conta de lucros nos seus relatórios anuais.
    Caíram-me em cima com artigos assinados pelas habituais “Popotas” lambidas do Vice, negando as evidências, como se negassem a época do ano em que a constelação Cão Maior alcançava uma posição central no céu, o que correspondia aos dias mais quentes do ano no hemisfério norte, conhecidos como “dias de cão”.
    Bastava olhar para os inúmeros subsídios, pomposamente denominados de “contratos programas”, atribuídos ao longo do ano àquelas empresas, para se perceber que era impossível dar lucro.
    Tudo contas de mercearia.
    A Azorina era uma delas.
    Recebia dinheiro público a rodos e, no final do ano económico, fazia a festa.
    Na tal comissão parlamentar foi mesmo dito, imagine-se, que era uma empresa “sólida, estável e robusta”!
    Nunca tivemos acesso, por inteiro, à canícula cor de rosa dessas fabulosas contas lucrativas, por maior esforço e pedidos que fizéssemos.
    Era uma fábula natalícia bem escondida.
    Apenas soubemos de uma auditoria do Tribunal de Contas
    (TC) à Azorina, em 2016, onde já se concluía que ali havia marosca.
    Segundo o TC, no recrutamento dos trabalhadores, a Azorina “não tinha promovido a prévia divulgação pública das ofertas de trabalho, não tendo adotado mecanismos transparentes de contratação de pessoal que assegurassem a igualdade e não discriminação dos candidatos a emprego”.
    Era tudo ao molho e fé… nos amigos.
    No dizer politicamente correcto do TC, “na sua maioria, os contratos de prestação de serviços celebrados pela Azorina foram precedidos da realização de procedimento por ajuste direto, no regime simplificado”.
    Por outras palavras, uma fábrica de boys and girls, com dois administradores a ganharem 80 mil euros!
    Pelo meio, uma enorme trapalhada com trabalhadores do Jardim Botânico da Horta e outra, ainda maior, com o ingresso de sete trabalhadores da ARENA “com base em motivos que não permitem sustentar a medida”.
    Enfim, um forrobodó.
    Agora, finalmente, tivemos acesso às contas certinhas.
    É mais um dos muitos esqueletos a sair do armário.
    E o panorama é este: a Azorina vivia, de facto, dos inúmeros Contratos-Programa que estabelecia com o Governo Regional, constituindo estas injeções de capital a parte mais significativa da sua receita.
    Estas transferências, entre 2016 e 2020, totalizaram mais de 14 milhões de euros (14.148.539 euros, exactamente)!
    Quanto aos seus anunciados lucros, constata-se, entre 2016 e 2020, que são tendencialmente negativos, não se verificando, pela análise dos Relatórios e Contas, qualquer melhoria substantiva: em 2016: -318.000 euros; 2017: -451.000 euros; 2018: +94.136 euros; 2019: +268 654 euros e 2020: 831 659 euros.
    Ou seja, um total de mais de 1,2 milhões de resultados negativos acumulados.
    Mas há mais: à data de hoje, o passivo bancário está próximo dos 6 milhões de euros!
    É a isto que aqueles senhores chamavam de empresa “sólida, estável e robusta”.
    Espero que a canícula não volte a interferir com o raciocínio das “Popotas”.
    (Osvaldo Cabral – Diário dos Açores de 08/12/2021)
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  • SANTANA CASTILHO A CRISE DA DOCÊNCIA

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    O que poucos decidem que Portugal seja é o que Portugal é
    O aumento continuado das responsabilidades e exigências que caem sobre os professores, devido à acentuada transferência para eles de funções sociais que pertenciam anteriormente à comunidade social e às famílias, sem as necessárias adaptações organizacionais compensatórias, tornou extremamente penoso o exercício da profissão. Dizer que a profissão docente está em crise passou, assim, a lugar-comum, sendo que as respectivas condições de trabalho (violência, esgotamento físico e psicológico) são as causas que mais contribuem para o acentuar dessa crise. E dentro delas, o peso da burocracia ocupa, talvez, o lugar cimeiro. Quantos cidadãos terão uma noção aproximada da quantidade de planos e relatórios inúteis que os professores são obrigados a produzir, com enorme prejuízo da sua responsabilidade primeira, que é ensinar? Muito longe de ser exaustivo, porque há mesmo muito mais, deixo um pequeno registo exemplificativo: Plano Anual de Actividades (PAA); Plano Plurianual de Actividades (PPA); Projecto Educativo de Agrupamento (PEA); Plano de Acção Estratégica (PAE), no quadro do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar (PNPSE); Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital da Escola (PADDE); Projecto Curricular de Turma (PCT); Plano de Turma (PT); Plano Educativo Individual (PEI); Plano de Melhoria (PM); Plano de Recuperação de Aprendizagens (PRA); Relatório Técnico-Pedagógico (RTP); Relatório Individual das Provas de Aferição (RIPA); Relatório de Escola das Provas de Aferição (REPA); Relatório Crítico do Director de Turma (RCDT); Relatório Final de Execução de Actividades (RFEA). A última desta torrente pútrida de toleimas foi a moda da filosofia “Ubuntu”, alma mater de mais um plano: o Plano 21|23 Escola+. Cansados com esta amostra? Imaginem os professores, com a totalidade!
    A malícia política que semeou obstáculos no trajecto profissional dos professores exprime bem a falta de decoro a que chegámos: cerca de cinco mil docentes, apesar de terem cumprido todas as exigências estatutárias (avaliação positiva, com observação directa de aulas, quando exigida, e formação contínua) estão impedidos de progredir aos 5.º e 7.º escalões, graças à existência das famigeradas quotas administrativas, que o Governo discricionariamente fixou. Muitos destes, por terem menções classificativas máximas, estariam a salvo do primeiro expediente arbitrário. Então, criou-se um segundo, mais miserável que o primeiro: em cada escola, só um limitado número de professores pode ter nota máxima; assim, concluído o processo, a classificação de muitos é aviltantemente reduzida, para cumprir a vontade de sucessivas pilecas políticas. Do mesmo passo, e na sequência da subtracção de vários anos de serviço efectivamente cumprido, temos hoje outros milhares de professores que já deveriam estar em escalões muito acima daqueles em que se encontram. Naturalmente que daqui resulta uma injusta penalização remuneratória, designadamente com considerável impacto negativo no cálculo das suas pensões de aposentação.
    As análises que muitos fazem sobre a situação descrita, alegando que “nem todos podem chegar a generais”, ignoram que, enquanto são gritantemente diferentes as funções de um soldado e de um general, as funções de um professor do 1º escalão são exactamente iguais às funções de outro, do 10º. Fica assim actual, 120 anos depois, o que Eça de Queirós escreveu: “O que um pequeno número de jornalistas, de políticos, de banqueiros, de mundanos decide no Chiado que Portugal seja, é o que Portugal é.”
    Faz-se muito e do melhor no sistema nacional de ensino. Infelizmente, sem o apoio de quem o governa. A dedicação, a entrega e o amor aos alunos são o apanágio dominante do espírito de missão da maioria dos professores. Apesar disso, são alvo de ataques sucessivos, como se a culpa do que corre mal lhes pudesse ser imputada.
    Os professores estão saturados da natureza arrogante deste Governo, da incompetência do ministro da Educação, de obedecer à anormalidade normal, a ordens e modas imbecis, vindas ora do autoritarismo central, ora do caciquismo local. O sistema colapsará se não se alterarem drasticamente as políticas educativas.
    In “Público” de 8.12,21
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    • Maria João Dias

      Este texto define a razão da nossa úlcera gástrica, do nosso desespero silencioso, da nossa morte lenta em plenas funções. Está aqui bem espelhada e resumida, a nossa situação miserável como professores, exercendo todos dias e a todas as horas, as funções que rodeiam os alunos e as suas famílias. É um processo que se vai revelar catastrófico pois o cansaço e a exaustão já são claros na maioria de nós. Fazemos o melhor que podemos, só não sabemos por quanto tempo mais o conseguiremos fazer. Acabem-se com as grelhas e as aferições de tudo e todos. Os resultados finais em detrimento do processo de ensino e aprendizagem. Acabe-se com metas num mundo em que não chegamos todos ao mesmo sítio e à mesma hora.
      A escola precisa de ser simplificada para que a importante tarefa de ensinar volte a ser a prioridade.
      Basta! Pum! Basta!
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    • José Rodrigo Coelho

      E ainda falta dizer tanto mais (…)!!
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    • Luísa Andrade Laíns

      Verdade professor. Ainda acrescento a avaliação por competências de acordo com o Projeto MAIA para se alcançar o famoso Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória. 😳
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    • Marta Cunha Caldeira

      É a burrocracia. E depois, o que realmente interessa, ocupa uma fracção do tempo. A malta assobia para o lado, uns ignorantes da condição, outros porque dá sempre jeito ter um bode expiatório. As famílias demitem-se diariamente do seu papel activo rei…

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    • Cristina Filipe

      Eu que o diga!!! Sou o verdadeiro exemplo desta estupidez! Tanto que já me estou a tornar numa pessoa desagradável!!!
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    • Susana Correia

      Obrigada, professor. Vou partilhar.
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    • Susana Guerra

      Perfeito como sempre!
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    • Anabela Prates

      (In)felizmente descreveu a nossa realidade diária. 😞
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    • Teresa Joaquim

      100% de acordo. O texto espelha com toda a veracidade a situação atual da educação e dos professores
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  • PORDATA – Salário mínimo nacional

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    Qual é o ordenado mínimo mensal?

    Source: PORDATA – Salário mínimo nacional

  • je veux ZAZ

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  • patético um padre a benzer um supermercado

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  • Governo dos Açores adquiriu antigas instalações da Cofaco na Horta – Jornal Açores 9

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    “Hoje assinámos a escritura de compra a venda dos imóveis da Cofaco, que já estão a ser vistoriados pelo LREC [Laboratório Regional de Engenharia Civil] e por empresas para levantamento topográfico,” explicou aos jornalistas o secretário regional do Mar e das Pescas, Manuel São João, após a assinatura da escritura, no Cartório Notarial da Horta. […]

    Source: Governo dos Açores adquiriu antigas instalações da Cofaco na Horta – Jornal Açores 9

  • Tomás Quental · O que é o PS nos Açores?

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    O que é o PS nos Açores?
    O Partido Socialista nos Açores, estranhamente, decidiu suicidar-se politicamente, depois de ter sido afastado do poder regional. Não aguentou a pancada. Em vez de reorganizar-se, rejuvenescer-se e recuperar os bons ideais originais, em grande parte há muito colocados no fundo da “gaveta”, o Partido Socialista desistiu e abandonou os verdadeiros socialistas açorianos. Isso ficou claro nas últimas eleições autárquicas, em que perdeu o lugar primeiro que detinha no conjunto das autarquias açorianas. No município de Ponta Delgada, o maior do arquipélago, então, o desastre foi total. Mas o Partido Socialista não aprendeu a lição. De modo algum! Prepara-se para novo e ainda mais clamoroso desastre nas próximas eleições legislativas nacionais antecipadas, com os propostos representantes para a Assembleia da República. Falta ao Partido Socialista nos Açores dirigentes como os saudosos Francisco Macedo, Angelino de Almeida Páscoa e Avelino Rodrigues, a cujas memórias presto a mais sentida e justa homenagem. Já soube o que era o Partido Socialista nos Açores, mas actualmente não consigo entender o que seja.
  • uma civilização americana antiga

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    In Southern Illinois, situated along the Mississippi River in Collinsville, an ancient settlement that we call Cahokia rose to great power between 800-1200 CE. Nicknamed America’s Forgotten City or The City of the Sun, the massive complex once contained as many as 40,000 people and spread across nearly 4,000 acres. The most notable features of the site are hand-made earthen mounds which held temples, political buildings, and burial pits.
    Cahokia Mounds of Illinois: An Unparalleled Native American City
    BRINGSIDE.ME
    Cahokia Mounds of Illinois: An Unparalleled Native American City
    In Southern Illinois, situated along the Mississippi River i
  • A democratização da pobreza segundo Alfredo Flores

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    A democratização da pobreza segundo Alfredo Flores não é bem assim!
    Há uma velha canção nem sei se radical se idiota que diz que a Revolução não é um jardim de flores de rosas enfim
    Portugal terá algo como 878 anos ( à volta de …) e nunca por nunca foi um país rico mas foi sempre um “país outro” nascido com Templários contra um dos 2 papas de então assim como contra um castelhano imperador esse sim poderoso riquíssimo e decididamente expansionista
    Não Portugal não nasceu porque um filho bateu numa mãe ( duvidosamente é filho dessa mãe) mas sim a partir de um projeto de uma parcela de uma das elites dominantes a Templária aliada a elites locais
    O projeto foi o Expansionismo luso que a destruição pelo tal Filipe francês dessa parcela forçada a recuar do centro para a periferia lusa até reforçou!
    O luso processo nunca foi simplista nem fechado em si na Lusitana tribo mas garantidamente foi um processo aberto onde uma burguesia judaica aceitou miscegenizar com as comunidades cristã islâmica até uma expulsão que só sucedeu ali por voltas de 5 de Dezembro de 1496 ( Portugal chegou ao Congo por voltas de 1482, cerca 14 anos antes note-se) e como se sabe só parcelarmente dados a alheira e os cristãos novos sendo que os que saíram geraram o futuro rival que foi a Holanda mas valendo ser o primeiro passo do empobrecimento
    Em 1580 o Portugal reino foi tomado pelo “vizinho do lado” e o empobrecimento de Portugal vive o seu segundo passo de empobrecimento
    O terceiro grande passo dá-se no tempo em que um odiado mestiço ( por o ser) o marquês de Pombal punha em causa o desgraçado negócio da escravatura ( 1.o no mundo dito civilizado de então) e dinamizava a industrialização mas sendo forçado a responder ao terceiro processo de empobrecimento ( o terramoto de 1755)
    Em 1807 dá-se o quarto processo de empobrecimento com as invasões primeiro francesas e depois britânicas que espoliaram como puderam o país mas sobretudo o tornaram ideologicamente dependente dos dois impérios o britânico e o francês
    O quinto processo de empobrecimento surge com a I guerra mundial bem em cima da lusa luta de libertação contra o monarquismo vaticanista o que originou a fascização salazarenta
    Esta é o sexto processo de empobrecimento ( pobretes analfabetos e alegretes) que gerou um império de pés descalços já sem a primeira jóia da coroa o Brasil 1822 que permitiu que Portugal chegasse ao 25 de abril com 2 milhões de emigrantes no mínimo 60 km de autoestradas em 48 anos de fascismo umas ridiculas 20 mil empresas ( todas nascidas só depois da autorização do salazarento e seus capangas) sem habitação adequada sem água sem luz sem aquecimento e a maior taxa de analfabetismo da Europa em concorrência com a Grécia
    Ainda assim Portugal que entregou de borla as colónias aos soviéticos e americanos ( quem geria em 1979 os angolanos petroleos ? Esse império do mal estadounidense de mãos dadas com o sol da vida soviético!) Mas conseguiu integrar 500 mil cidadãos brancos mulatos e negros
    Em 1983 depois do desastre sacarneiristabalsemista ( por onde ficou a marinha mercante lusa?) o país estava na banca rota e um bloco central maçonico la abriu uma janela mas a porta da CEE foi entregue ao opusdeista Cavaco silva e assim nasceu o pobretismo esmoler vaticanista que ainda hoje se mantém com as inovações que foram o SNS e recentemente o crescimento acelerado do SMN
    Como se vê o Alfredo Flores tem muito a ler …( e havia bem mais a escrever como a destruição do sindicalismo anarco sindicalista pelo fascismo salazarento.. )
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