Todos sabemos que os antigos Gregos eram navegadores destemidos e que nada receavam.
A verdade é que tinham medo de aranhas e de baratas, ou não fossem um bocado mariconços.
Mas também havia uma terra por estas bandas onde eles não gostavam mesmo nada de meter as sandálias, que é como quem diz as patas – era Ophiussa, a região onde vivia o povo Ophi, espalhado pelo que é hoje o Douro Litoral.
Os Ophis, um povo proto-celta que viveu em plena Idade do Ferro, muito antes de por cá andarem os Lusitanos e os Romanos, sobreviviam como podiam.
Iam semeando umas coisas, não muitas, pois era preciso prevenir as dores nas costas, apanhavam outras na floresta que estavam mais à mão, roubavam aqui e acolá, caçavam uns pardais e criavam alguns animais.
Poucos, já se vê, porque o preço da carne estava pela hora da morte.
Mas aquilo de que os Ophis gostavam mesmo era de andar à bolachada.
E quanto não havia inimigo à vista entretinham-se a desatar ao estalo e à canelada uns aos outros.
Talvez isso se devesse ao facto de venerarem as serpentes, ao que parece então muito abundantes na região e que já se sabe são más como o facadas, e o seu líder enfeitava-se com escamas e avançava para os inimigos como se fosse um dragão, o que é coisa que ninguém deseja ver pela frente.
A não ser o Liverpool, claro.
Diga-se que Ophiussa, em Grego, significa exactamente Terra das Serpentes.
Os Gregos, já se sabe, vinham até cá ver o que podiam fanar, mas os Ophis não estavam pelos ajustes.
Não era incomum cortarem as cabeças aos seus inimigos, aos quais mais tarde se convencionou chamar adversários, e começarem a desatar aos pontapés às mesmas.
Este costume, curiosamente, perdurou até aos dias de hoje na mesma região.
Basta atentar, por exemplo, no caso do Canelas 2010.
As marcas deixadas pelos Ophis são aliás ainda hoje bastante comuns, até na toponímia de vários locais.
É o caso, por exemplo, de Ofir (originalmente Ophir), afamada praia de Esposende.
Os locais, que não apreciam por aí além a teoria de serem descendentes de adoradores de serpentes e de dragões, sustentam que a sua terra é nada mais, nada menos do que a legítima Ophir, terra multimilenar que abastecia de ouro a corte do rei Salomão.
Primeiro porque em Ofir nunca acharam uma pepita, por pequenita que fosse;
segundo porque os arqueólogos sustentam que a mítica Ophir estaria localizada no Sri Lanka, na Índia ou até na costa oriental africana.
Não deixa igualmente de ser curioso um certo tipo de chamamento ainda hoje muito popular na mesma região.
Quando se quer chamar a atenção de alguém que teve uma atitude menos correcta, não é incomum usar-se a seguinte expressão: Ó fiúza, tu bê lá, carago!
Quem levou que contar deste povo foram os pobres dos Estrímnios, os seus adversários de eleição, que habitavam a faixa litoral a sul do Douro e que volta e meia eram atormentados pelo raio dos adoradores de serpentes, que não os deixavam em paz e que lhes ganhavam quase sempre na arte de andar ao estalo.
Isso mesmo é mencionado pelo poeta romano Avieno na “Ora Marítima”, na qual refere que os Estrímnios tiveram de fugir com o rabo entre as pernas das suas terras por causa das constantes invasões do “povo das serpentes”, ao qual deu o nome de Draganos.
Bom, eu não possuo plenas certezas, mas tenho uma leve suspeita que os Draganos sobreviveram até aos dias de hoje.
Uma boa quinta-feira para todos.
(da página do Facebook de Jorge Alves).