Mês: Novembro 2021

  • PAULA SOUSA LIMA A CRÓNICA SEMANAL

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    AMIGOS, aqui vai a crónica deste sábado:
    Acerca das palavras XXXVI – De quem é a culpa?
    Tudo o que corre mal há de forçosamente ter uma causa – ou um culpado. É assim que se pensa por cá, pelo país, pela Europa, por todo o Ocidente. Apontar o mal, seja-o realmente ou não, faz parte da nossa matriz cultural, como o faz apontar o culpado desse mal. No caso dos “males” de que padece a nossa língua, ou, melhor, o uso dela, têm-se apontado vários culpados, desde os nossos irmãos brasileiros à falta de leitura. Examinemos, então, tais supostos culpados, com o simples intuito de sermos justos.
    A culpa é do Brasil? Bom, convenhamos que, com a chegada das telenovelas brasileiras, se foi sentindo uma aculturação de Portugal pelo país irmão. Isto é natural, mais natural, até, do que comemorarmos o Halloween, e ninguém, ou quase ninguém, se insurge contra a nova festividade. Eu sou confessa admiradora do Brasil, dos falares e da literatura brasileira, mas a verdade, não posso negá-lo, é que a língua portuguesa falada no Brasil enferma de alguns graves desvios à nossa norma. Também é verdade que nos temos apropriado de muitos erros brasileiros, usando-os displicentemente. Portanto, a culpa não é do Brasil, é nossa. Dir-me-ão que os mais novos, de tanto ouvirem o Português do Brasil, em vídeos, dele se vão apropriando ingenuamente. Pois, mas a culpa continua a não ser do Brasil, é dos pais das criancinhas aculturadas.
    Vamos a outro potencial culpado, culpada, no caso: a falta de leitura. Não me parece que cada vez se leia menos, o que noto é que cada vez se lê mais “literatura” de má qualidade. Hoje, qualquer alma se julga artista e escreve um livrinho, que, quanto mais manhoso for, mais leitores terá. Normalmente, tais livros, associados aos de autoajuda e aos de mexerico, ou seja, aqueles que contam a vida de celebridades e afins, estão escritos num péssimo Português, logo não são bons modelos linguísticos. Ler seja o que for não é boa ideia, e, por vezes, nem os professores de língua materna se insurgem contra essas leituras indesejáveis, o que revela a falta de exigência da escola.
    Ora examinemos essa falta de exigência do ensino como outra potencial culpada. São os professores atuais mais permissivos do que os de outrora? Se são, é porque lhes é exigido que o sejam. São menos cultos? Não, não são, não podem é fazer uso da sua cultura, não vá ela traumatizar os alunos e desarranjar as estatísticas. A escola, atualmente, dispõe de bons programas para a disciplina de Português, mas, se os meninos não “aderirem”, devem os docentes, de acordo com sugestões superiores, simplificar, aligeirar, “vestir” os conteúdos de roupagens lúdicas, engraçada, aliciantes, e estas roupagens, muitas vezes, desvirtuam o que é ensinado. Sim, aqui temos um culpado: a tutela, repito, a tutela.
    E o professor? É culpado? O professor dá o seu melhor, inventa e reinventa, mas para que serve o seu esforço? Para pouco, para quase nada. E o que é que isto tem a ver com o mau uso da língua? Tudo. Em tempos idos, o professor era respeitado, era um modelo, e os alunos apreendiam duplamente: aprendiam os conteúdos literários, gramaticais, de escrita, e aprendiam a falar como o professor, pessoa reverenciada pelo seu saber. Hoje, o professor não é alguém a reverenciar, sequer a minimamente respeitar. Têm os alunos todos os direitos, inclusivamente o de pôr em causa o professor, e não o estimam o suficiente para imitarem o seu bom uso da língua. E o desalento do professor faz com que também ele, por vezes, deliberadamente abastarde o uso da língua a fim de ser entendido pelos discentes. Culpados? Todos nós. Uns porque fazem dos professores seres menores, outros porque se deixam fazer seres menores.
    Não fui muito conclusiva? Fui, fui. Se, caro leitor/a, leu o texto com atenção, percebeu-o e ficou esclarecido.
    You, Paula Cabral, Alexandrina Bettencourt and 20 others
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  • o cv de paulo portas

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    DA POLÍTICA PARA OS NEGÓCIOS E VICE-VERSA
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    O CV de Portas….e esta hein!?…
    Esta é uma versão divulgada por uma empresa que vende os seus serviços (dele) do currículo de Paulo Portas:
    Paulo Portas é Vice-Presidente da Confederação de Comércio e Indústria de Portugal, para além de Presidente do Conselho Estratégico da Mota Engil para a América Latina. Desempenha também cargos de administração no board internacional de Petroleos de Mexico (Pemex) e faz ainda consultoria estratégica internacional de negócios, sendo para efeito founding partner da Vinciamo Consulting. Dá aulas de mestrado Geo Economics and International Relations na Universidade Nova e na Emirates Diplomatic Academy; dirige seminários sobre internacionalização e risco político para quadros de companhias multinacionais e é ainda presença frequente na televisão em comentários de política internacional e speaker da Thinking Heads em conferências. Foi ministro da Defesa, ministro dos Negócios Estrangeiros e Vice-Primeiro Ministro de Portugal.
    Na verdade, o currículo devia começar no fim: foi pelos cargos políticos que teve em Portugal que Portas tem os vários empregos de lobista que elenca por todo o lado, do México a Angola, passando por Portugal. Se tivesse de fazer uma declaração de interesses, mesmo para presidente de uma Junta de Freguesia, e este fosse um País a sério nestas matérias, ele não podia ter nenhum cargo político em qualquer lugar da hierarquia de um Estado. Se fosse um estado a sério seria assim, mas suspeito que a carreira política de Portas esteja acabada. Ele entrará, voltará e sairá, o que é fundamental para um lobista, para refrescar os seus contactos e as suas informações.
    Portas, como acontece com outros lobistas, não tem especial preparação para estas funções, se elas fossem definidas pelos seus títulos pomposos. Mas tem os contactos, e tem a informação que anos de governação em áreas sensíveis lhe deram. Aliás, como se viu no Ministério da Defesa, não a terá só na cabeça, mas no papel, visto que está por esclarecer o que aconteceu aos milhares de fotocópias que teria levado para a casa, em violação da lei. Mas nestas matérias, o País também não se toma a sério. Hoje bastava uma pen, é mais discreto.
    Um homem que hoje se sente bem fazendo isto agora, já o fez antes, ou pelo menos posicionou-se para as poder fazer, depois de “sair da política”. Não é caso único. Mas é um caso dos mais sérios de promiscuidade entre a política e os negócios e os bolsos dele.
    Pacheco Pereira, in Sábado, 18/11/2018
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    Most relevant

    • Mié Mendes Moreira

      Fez o que quase todos, da direita à esquerda, fazem. Que é um homem inteligente, ninguém duvida. Da astucia também, penso, não há dúvida. Qual o espanto? Conseguir lugares no estrangeiro? Em empresas? Brincamos! Talvez começarmos a rever todos os outros. E eu, que não gosto e nunca gostei dele, a parecer que o defendo. NÃO, não o defendo. Nunca o defendi, nem nele votei. Mas, a julgarmos, como gostava, façamos com todos, mesmo os mais “fofinhos”. A culpa, se existe não é deles. É nossa, que neles votamos e nos alheamos do que se passa no nosso país.
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    • Lucila Meira

      O mais inteligente a paróquia!
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    • Heliodoro Gomes

      Só falta apresentar a Meteorologia!!!
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    • Jacinto Pinela Gamito

      Falta ser preso pelo caso dos submarinos….
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    • António J T Pais

      As portas são giratórias.
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    • Henrique Silveira

      A construção do CV faz-se do presente para o passado. O mais importante é o que se faz agora.
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    • Maria Ivone

      Ética, e vergonha, palavras que desconhece.
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    • Maria Silva

      Um alpinista irrevogável! Um verme que envergonha a democracia !
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    • Jose Canto

      Enquanto ministro da defesa ficou especialista em submarinos e podia ter chegado a vice almirante…
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  • falsário o rei da bitcoin

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    A CAUSA DAS COISAS
    Cláudio Oliveira, criador do Grupo Bitcoin Banco está preso em Curitiba (PR) Brasil.
    Um passado de crimes no país e na Suíça até á prisão, num bairro curitibano de alto padrão, de onde saiu algemado pela Polícia Federal no dia 05 de Julho deste ano, sob acusação de vários crimes.
    Cláudio, casado com Madalena Domingues (com quem teve uma filha), chegaram a Portugal em um voo vindo da Suíça em 2001 e ficaram hospedados na praia de Mira, cidade natal da mulher.
    Comprou uma casa que nunca pagou e montou um escritório.
    Passou a ser conhecido como o “doutor” que havia nascido em berço de ouro, herdeiro de um banqueiro. Aos moradores, dizia ser formado em Engenharia Financeira, em Harvard. A partir dali, conseguiu fechar parcerias e se tornou sócio em vários empreendimentos, até que no ano seguinte, 2002, recebeu a visita da polícia portuguesa.
    As autoridades apresentaram um mandado de prisão do governo da Suíça por crimes cometidos no país, onde morou em Lausanne desde os 25 anos. Mais tarde também as autoridades portuguesas vieram a constatar mais farsas a partir de Mira. O futuro Rei do Bitcoin ficou preso por cinco anos e até hoje pouco se sabe dos negócios feitos a oartir de Mira.
    Justiça Brasileira nega novo pedido de habeas corpus do falso Rei do Bitcoin e expõe Lamborghini do “Rei do Bitcoin” em museu de Curitiba
    Em Junho de 2005, foi condenado a três anos de prisão por fraude qualificada, abuso de confiança e falsificação de documentos. O golpe, em resumo, era baseado na compra com cheques sem fundos de empresas com dificuldades financeiras. Ao adquirir tais patrimônios, a outra parte do golpe era vender os recursos ainda existentes.
    Depois de cumprir 5 anos em Portugal, ainda esteve preso na Suíça até 2007, quando então foi posto em liberdade, mas impedido de deixar o país, pois havia mais processos contra ele — que por sinal foram julgados com novo pedido de prisão que perdura até hoje. Foi quando ele praticou outro crime. Com passaportes falsos deixou a Suíça, passando por EUA e Europa até chegar no Brasil.
    Na Suíça, Cláudio Oliveira criou em 2001 o Unibanko, uma empresa com sede em Genebra que prometia rendimentos de 25% nos aportes financeiros, conta a Visão. O dinheiro dos investidores, contudo, era usado em benefício próprio e também lavado através de outras empresas controladas por ele. Após queixas dos clientes que não conseguiam movimentar seus fundos e posteriormente investigação policial, o golpista deixou a Suíça às pressas rumo a praia de Mira.
    “Desde 2016, o rosto de Cláudio tornar-se-ia presença assídua nas colunas sociais das revistas e jornais brasileiros”. A frase destaca o início das operações de Oliveira no Brasil já que com 50 anos e casado com outra mulher, a também brasileira Lucinara Oliveira, que conheceu pela internet quando ainda estava preso na Suíça. Curitiba, no Paraná, foi escolhida pelo casal para fundar uma das maiores farsas no país, o Grupo Bitcoin Banco (GBB), empreitada que lhe proporcionou o apelido de Rei do Bitcoin.
    O desfecho do negócio ficou bastante conhecido no Brasil, depois que a pirâmide financeira com bitcoin estourou e o grupo parou de pagar aos investidores, que faziam arbitragem com a criptomoeda a partir da plataforma Negociecoins. Pelo menos 7 mil investidores e um suposto golpe de R$ 1,5 bilhão são números de um processo que corre na Justiça brasileira, que já negou a Cláudio Oliveira três pedidos de liberdade.
    A sua mulher, Lucinara da Silva Oliveira, foi indiciada por fraude, organização criminosa e crime contra a economia popular.
    O Grupo Bitcoin Banco, que operou grande parte de 2018, ganhou notoriedade por negociar dentro do seu sistema cerca de R$ 500 milhões por dia, algo que atraiu boa parte dos 7 mil investidores lesados.
    No início de 2019, no entanto, a empresa travou os saques. Na época, o falso Rei do Bitcoin disse que o negócio havia sofrido um ataque hacker, o que foi desmentido posteriormente pela Polícia Civil.
    A empresa também conseguiu que a Justiça do Paraná aprovasse um processo de recuperação judicial, o que deu mais tempo para ele dilapidar com os recursos captados das pessoas. A recuperação judicial foi transformada em falência em Julho
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  • humilhação OSVALDO CABRAL

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    Humilhante!
    Os dirigentes e militantes do Chega nos Açores, especialmente José Pacheco, foram enxovalhados pelo seu líder nacional André Ventura.
    Em vez de responder às “instruções” de Lisboa com a mesma moeda, José Pacheco preferiu continuar enxovalhado e, em troca, humilhar o governo de José Manuel Bolieiro.
    A conferência de imprensa do deputado regional, ocorrida ontem, foi uma coisa humilhante para ele e para a própria coligação, espelhando aquilo que mais se temia num acordo de cavalheiros, em que ambas as partes respeitam-se mutuamente.
    José Pacheco não só se manteve solidário e de joelhos perante o líder nacional, como preferiu fazer cair o poder na rua, ao ponto de até anunciar que vai haver uma remodelação no governo!
    Coisa nunca vista em política: um deputado que vale 2 mil votos, pelo círculo de compensação (os outros 3 mil foram em S. Miguel, para eleger Carlos Furtado), condiciona toda a governação, anuncia uma remodelação, descarta o representante da república, divide a SATA em duas, sentencia um subsídio de natalidade não para todos, empurra a crise para mais uns dias e ainda diz, com todo o descaramento… que não cede a chantagens!
    No meio deste triste espectáculo, convocar eleições antecipadas, nesta altura, é a última solução que deve estar em cima da mesa, mas depois destes episódios deprimentes, que, pelos vistos, vão perdurar por mais uns dias, o melhor que Bolieiro fazia era dar um murro na mesa e devolver ao povo a palavra final para ‘purificar’ este ar irrespirável que se vive na política regional.
    Certamente que muitos protagonistas actuais desapareceriam da cena política.
    E o povo ficaria mais aliviado.
    Editorial 20-11-2021
    Osvaldo Cabral
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      Aníbal Raposo

      O que está a acontecer envergonha todos os açorianos e a nossa autonomia. Se houver bom senso devolva-se a palavra ao povo.
  • HÁ 9 ANOS 2º VOLUME DA TRILOGIA DE TIMOR

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    Your memories on Facebook
    Chrys, we care about you and the memories that you share here. We thought that you’d like to look back on this post from 9 years ago.
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    9 years ago

  • Resta-me votar “Romanos” nas próximas eleições.

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    CRÓNICA 252 COISAS DOS ROMANOS 6 MAIO 2019

     

    CRÓNICA 252 COISAS DOS ROMANOS 6 MAIO 2019

     

    Estava há dias a ver um documentário televisivo sobre as dez melhores criações romanas (há dois mil anos ou mais) e, salvaguardadas as devidas diferenças, assumi que devo ter nascido na era errada. Vejamos algumas delas:

    1. Cidades construídas numa grelha retangular e quadrangular
    2. Esgotos e sanitários com sistemas de canalização que evitavam a contaminação nas cidades sempre garças à água corrente que os alimentava.
    3. Estradas (sempre que possível em linha reta) construídas para durar (muitas delas ainda hoje estão em perfeito estado de utilização com as suas camadas, uma cama de pedra e areia, outra de pequenas pedras e gravilha e por cima o pavimento empedrado.
    4. aquedutos construídos desde 312 a.C., feitos arquitetónicos notáveis, muitos deles com vários andares e sobre vales e rios, que abasteciam enormes reservatórios, usando a força da gravidade para um fluxo constante
    5. betão capaz de solidificar em ar, terra ou água, com capacidade de aumentar a sua resistência e durabilidade com o tempo, com diferentes gradientes fosse para paredes, fundações ou arcos abobados, muitas vezes fortalecidos com pedra e cinza vulcânica para evitar a decadência química. Muito mais forte e resistente do que é feito hoje. (Essa receita romana – uma mistura de cinzas de vulcão, oxido de cálcio, agua do mar e pedaços de rocha vulcânica – segura cais, ancoradouros, quebra-mares e portos. E ao contrário dos materiais de hoje em dia, quanto mais o tempo passa, mais forte esse concreto fica. Um grupo de cientistas diz que essa durabilidade é resultado da reação entre a água do mar e o material vulcânico no cimento, criando novos minerais que reforçam o concreto.)

     

     

     

     

     

     

    Depois de prestar muita atenção a estas e outras notáveis novidades tecnológicas com mais de dois mil anos, dei comigo a interrogar-me sobre qual a razão de o atual concreto ter pouca durabilidade (50 anos em média), desintegrando-se e sendo corroído pelo próprio ambiente em que está inserido e se andarem a construir hotéis e outras habitações que pouco vão durar e a única razão válida é que a maior parte deles serão abortos arquitetónicos como o que irá surgir em Vila Franca do Campo (Água d’Alto) com mais de 500 quartos e – como tal – condenados a serem abatidos, mais cedo ou mais tarde. A sua utilidade é tão reduzida que o betão pode ser de fraca qualidade. Já agora construam mais portos para os cruzeiros em todas as ilhas, que qualquer tempestade, mais cedo ou mais tarde, irá destruir. Há portos romanos como o primeiro porto artificial de Caesarea Maritima (Cesareia, Israel) que sobrevive hoje.

     

    Aliás, o imediatismo das construções parece ter tomado conta de todos os governantes. Quando em 2008 sugeri em crónica publicada que se deveriam começar a construir reservatórios de água na cilhas dos Açores, para evitar futuras faltas de água, devido às mudanças climatéricas, ninguém me ouviu nem levou a sério. Já em 2018 a lavoura e pecuária mostraram algum interesse em construir reservatórios para abastecer o gado., mas, de uma forma geral, tudo continua por fazer. Governos e políticos reativos em vez de serem pró-ativos.

    Escrevi então no Diário dos Açores 13.11.2008:

     

    … O RESTO DA ILHA NEM SE APERCEBEU.

    Continuam todos felizes, sem se darem conta da falta de água aqui na Costa Norte, a esvaziarem os depósitos do autoclismo em vez de os encherem de garrafas de água cheias ou de tijolos para preservarem a água que temos. Esta ilha não para de me espantar. Desde que cá cheguei, biliões de litros de água vieram diretamente das nuvens para as ribeiras que os despejam no mar. Um equilíbrio perfeito com a natureza, mas que esqueceu a presença humana. Espero que alguém já tenha lido alguma coisa sobre as mudanças climatéricas que se avizinham e comece a construir reservatórios maiores antes de esta ilha se começar a parecer com a metade seca da ilha de Santa Maria ou com a aridez das Canárias e de Cabo Verde. Nessa altura será tarde demais, a menos que nas terras altas como na Lomba da Maia tenhamos reservatórios suficientes para as nossas necessidades e deixemos de depender dos outros que não cuidam de nós como nos prometeram antes de serem eleitos para defenderem os nossos interesses.

     

     

    Claro que se compreende a não-preocupação pois a futura falta de água não dá votos a vencer eleições…e quando os começarem a construir pode ser que não chova o suficiente para os encher… nessa altura será culpa das alterações climatéricas e não da falta de visão dirigente. Não sei como mas gostava de poder clonar algumas mentes romanas e colocá-las em posições de poder, para construírem estradas que durem, fazerem betão milenar, reintroduzir aquedutos e reservatórios capazes de abastecerem todos com a água que vai faltar, mesmo nesta zona de clima subtropical chamada Açores.

    Resta-me votar “Romanos” nas próximas eleições.

     

    Para o Diário dos Açores e Diário de Trás-os-Montes

    Chrys Chrystello, Jornalista

    [MEEA/AJA (Australian Journalists’ Association – Membro Honorário Vitalício nº 297713,) carteira profissional AU3804]

     

     

  • PORTUGAL ERA UM ATRASO

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    PREFÁCIO – – A MITOLOGIA DO CRONISTA

     

    A crónica é dos géneros mais difíceis, mas dos mais estimulantes.

    Há quem diga que está na fronteira entre o jornalismo e a literatura, mas passou por muitas transformações desde o seu aparecimento no início da era cristã.

    Popularizou-se em Portugal com os relatos apaixonados do início da expansão marítima e transformou-se num misto de narração e ficção com as célebres “Crónicas das Índias.”

    O género autonomizou-se através do jornalismo, quando surge pela primeira vez na imprensa escrita, já lá vão mais de 200 anos, nascendo então cronistas celebrizados que iam da cobertura da frente das guerras até ao mais invulgar acontecimento mundano.

    A crónica, hoje, não possui tipologia própria, variando consoante a inspiração e talento do respetivo autor, deixando de se assemelhar a história para passar a narrativa do tempo presente.

    Do latim Chronica e do grego Kronos (tempo), talvez esteja hoje mais atraente, na forma e no tempo, do que nos anos ancestrais em que ainda nem havia o género romance.

    Os jornalistas veem-se “gregos” para assimilar a crónica como género fluido nesta nova moda trazida pelo mundo digital de que “tudo é comunicação.”

    Chrys Chrystello, como jornalista sénior que é, certamente se terá apercebido do poder da crónica como narrativa do tempo, porque passou a incorporá-la na sua escrita regular com enorme desenvoltura, como se poderá constatar neste volume quase diarístico (outra transformação da crónica), que vai de 2005 a 2020.

    Chrystello usa bem os conceitos do género e utiliza-os melhor quando escolhe como espaço este ‘microblogging‘ no meio do Atlântico a que ele chama mitologicamente de Éden.

    O autor consegue transformar a centralidade insular num misto de ansiedade e identidade redentora, sempre com espírito crítico, provavelmente por ter sentido na pele, muito antes de nós, as angústias do futuro de um povo e das suas ilhas, durante a sua longa vivência em Timor.

    Aliás, Timor e Açores passaram a ser os “colossos utópicos” na comunicação de Chrys Chrystello, aquilo a que ele chama a si próprio “ilhanizado.”

    “Perdi sotaques, mas não malbaratei as ilhas-filhas. Trago-as comigo, colar multifacetado de vivências dos mundos e culturas distantes. Primeiro em Portugal, ilhota perdida da Europa no Estado Novo, seguida de um capítulo naufragado da História Trágico-Marítima camoniana, nas ilhas de Timor, de Bali, na então (pen)ínsula de Macau (fechada da China pelas Portas do Cerco), na imensa ilha-continente Austrália, e em Bragança, ilhoa esquecida que é o nordeste transmontano.” (pg. 236 da presente edição).

    É este mundo – desgastante e deslumbrante (“alumbramento”) – que vai moldando as “Crónicas do Éden,” muitas delas publicadas no “Diário dos Açores” que dirijo, sendo um privilégio ser o primeiro leitor e simples paginador.

    Nada como um bom observador que vem do outro lado do mundo – e que mundo! Que se deixa “ilhanizar” entre nós, mas mantém o espírito aberto e aplicado do jornalista-cronista, que não se deixa influenciar pelos “poderes mágicos” do burgo regional, certamente muito diferentes dos que se veem na sociedade aborígene australiana.

    Chrystello é o nosso Bill Bryson com as suas “Crónicas de uma pequena ilha,” com a diferença de que procura constantemente uma “renovada Atlântida” cada vez mais mítica e muito perto do universo da “Ilha Grande Fechada” do seu e nosso querido amigo Daniel de Sá.

    O espírito inquieto do autor, refletido nas crónicas de crítica social e política da urbe açórica, é uma procura permanente do Ideal que já vem do tempo de Antero, o democrata e republicano “daquela república que por ora não existe senão como ideia e aspiração,” espicaçando a nossa ancestral morrinha insular, conformados com o presente e pouco preocupados com o futuro.

    Vale a pena fazer esta viagem guiada (“uma circum-navegação“), que o Chrys nos presenteia neste livro, numa incursão em defesa da justiça social, da língua, da nossa literatura, dos nossos poetas e escritores, da nossa história, do presente e do futuro, mesmo que sob uma perspetiva crítica e ao mesmo tempo apaixonada destas ilhas.

    Não será por ironia que o cronista as chama de Éden.

    Ou será?

     

    Pico da Pedra, outubro 2020