Mês: Novembro 2021

  • DA MINHA JANELA

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    129. CRÓNICA 129, DA MINHA JANELA, 13 maio 2013

     

    Das ameias do meu castelo, desta janela aberta sobre o mundo vi muita coisa e continuo a ver um planeta em permanente mudança. São os vaqueiros que passam a cavalo, em carroça ou em carrinha, rumo às suas vacas e aos depósitos de leite, logo pelas cinco e meia ou seis da manhã em rotinas que se repetem – duas ou três vezes ao longo do dia – até ao anoitecer quando regressam dos pastos pela última vez.

     

    Vejo tratores mais apropriados ao celeiro do Oeste norte-americano, às pradarias, à amplidão dos campos australianos ou aos vastos terrenos da Extremadura espanhola do que ao minifúndio micaelense, depois há uns que são menos gigantescos, mas – mesmo assim – demasiado grandes para estas terras minúsculas, …, mas todos grandes, enormes para as pequenas parcelas de terra aqui na Lomba da Maia.

     

    Vejo as crianças barulhentas que voltam da escola primária ou da catequese, a correr, aos berros, à pancada umas com as outras, desobedecendo a mães e avós, a atirarem papéis para a rua, a comportarem-se como pequenas bestinhas que irão ser quando crescerem, saltando para o meio da rua impérvias ao trânsito e à vida que lhe podem roubar a cada momento.

     

    Vejo anciãs de xaile ou lenço na cabeça lenta, mais parecem daguerreótipos do séc. XIX, enquanto vagarosamente sobem a rua rumo aos deveres eclesiásticos da fé, sejam missas, novenas, enterros ou procissões. Parecem viúvas a viver num mundo que já não existe e elas não compreendem a realidade em que estão inseridas… Imagens tiradas doutras eras falando de um passado ancestral imutável durante séculos e que ora deu um pulo para o espaço sideral.

     

    Vejo pela janela entreaberta da casa em frente, uma televisão sempre a debitar telenovelas e quejandos, entretendo os anos de vida que faltam à moradora citadina que aqui se desloca em feriados, férias e fins de semana…

     

    Desta janela não vejo, na casa ao lado, o marido que bate na mulher, mas observo a mulher que bate nos filhos, (bem casada ou mal casada?) que não cessa de entrar e sair para falar com todos os homens da aldeia, mais os fornecedores do pão, da fruta, da carne, das roupas e todos os restantes fornecedores das carrinhas que aqui aportam diariamente para venderem os seus produtos. Ela aguarda, aperaltada, que o marido siga para as vacas e vai lampeira em busca de um homem que a ouça e à sua língua viperina, vivendo no quotidiano os sonhos imaginados das telenovelas que lhe enchem as noites. Há mais homens e mulheres assim, rua abaixo e em outras ruas, em freguesias perto e longe.

     

    Da janela vejo aos domingos os homens com fatiotas melhoradas encostados à porta da Igreja ou a beberem uns copos na taberna mais próxima. São os mesmos que não entram na Igreja o ano todo, mas depois se fazem à estrada como romeiros, arrostando com frio, chuva e outras privações.

     

    Há ainda outros que escapam sempre, sobre quem não impendem acusações de violência doméstica, de pedofilia, de toda a espécie de abusos, de alcoolismo, mas que cumprem religiosamente tradições ancestrais que nem sabem explicar nem compreender.

     

    Vejo enterros, procissões, casamentos, crismas e batismos (cada vez menos), vendedores (avulso) de cracas e lapas, vendedores de tudo e mais alguma coisa em carrinhas barulhentas na sua distribuição e aliciamento de clientes em tempo de crise. Vejo os montes ora verdes, ora verdes, ou, então verdes, consoante a estação do ano, e as culturas do que lá se planta, ora vazios, ora com vacas alpinistas todo o ano.

     

    Mas o que nunca vi desta janela foi alguém a ler um livro…COMO EM PONTA DELGADA SETº 2013

     

  • “O leitor não rouba e o ladrão não lê.”

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    Vou ali fora, mas deixo aqui o livro. Se repararem, nunca se roubam livros. Ninguém quer saber de livros… em qualquer sítio…
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    CHRYS CHRYSTELLO DIZ<
    LEIAM A MINHA CRÓNICA DE 2013 SOBRE ESTE TEMA EM https://blog.lusofonias.net/da-minha-janela/
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    • Sandro Batista

      Se fosse um e-book reader de 300 euros roubariam…rouba-se coisas com valor monetário.
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    • Rita Oliveira

      “O leitor não rouba e o ladrão não lê.”

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    • Liliana Scarlet Marta

      Se eu tivesse visto tinha roubado ahahaha 🤪

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  • TIMOR não tinha condições em 1975 para ser independente – Mário Carrascalão

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    ENTREVISTA Agência Lusa:
    40 anos/Timor-Leste: País não tinha condições em 1975 para ser independente – Mário Carrascalão
    António Sampaio, da Agência Lusa
    Díli, 20 nov (Lusa) – O ex-governador de Timor-Leste Mário Carrascalão considera que em 1975, aquela colónia portuguesa não tinha condições económicas, políticas ou técnicas para ser independente, porque vivia à custa do poder colonial, com subsídios de Portugal e outras colónias.
    “Timor não tinha condições para ser independente. Quando foi declarada a descolonização depois do 25 de abril (…) a única que talvez não estivesse em condições era Timor”, disse em entrevista à agência Lusa.
    “Talvez tenha sido uma das únicas colónias, senão a única, que viveu à custa do poder colonial. Normalmente as colónias são exploradas pelo poder colonial e Timor foi o contrário, viveu à custa de subsídios vindos de Angola, de Portugal e de outras colónias”, disse o também fundador do primeiro partido de Timor-Leste, a União Democrática Timorense (UDT).
    Terceiro governador nomeado pela Indonésia (de 18 de setembro de 1983 a 18 de setembro de 1992), Carrascalão fundou o Partido Social Democrata (PSD) depois da independência e foi vice primeiro-ministro no IV Governo constitucional, até à sua demissão por incompatibilidades com [o Presidente da República] Xanana Gusmão.
    Numa longa entrevista à Lusa, em que recordou o seu passado, a história dos últimos 40 anos em Timor-Leste e perspetivou o futuro do país, Mário Carrascalão manteve-se fiel à frontalidade que o caracteriza.
    Recordando a situação pós 25 de abril em Timor-Leste, Mário Carrascalão disse que nessa altura o país “não tinha em ação nenhum movimento político” e registava um “desenvolvimento económico ridículo”.
    “Tínhamos um rendimento per capita anual de 40 dólares, de acordo com os números fornecidos pelo BNU. Não é com 40 dólares que se vai fazer uma independência”, disse.
    A situação em Portugal não ajudava, pelo que os timorenses não poderiam estar “de qualquer maneira esperançados que o desenvolvimento de Timor se fizesse à custa de Portugal”, que dizia “para Timor nem mais um escudo nem mais um soldado”.
    Mário Carrascalão relembra que Lisboa “jogava com um pau de dois bicos”, negociando por um lado com os partidos timorenses e ao mesmo tempo com a Indonésia.
    “Teve encontros inclusivamente na Cimeira de Macau para tratar do processo de descolonização de Timor mas ia negociando com os generais indonésios, nomeadamente com o general Ali Moertopo (responsável pelos serviços secretos), sob a forma de melhor integrar Timor na Indonésia”, recorda.
    “O próprio encontro na cimeira de Macau deu-se quando estava a decorrer em Hong Kong um encontro com uma delegação indonésia”, sublinha. Portugal “queria aliviar-se do fardo de Timor”, insiste.
    Por isso, quer a UDT quer o segundo partido timorense a nascer, a Associação Social Democrática de Timor (ASDT) – que se transformaria depois na Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) – apoiavam a ideia de uma transição “de autonomia progressiva” com Portugal até à independência.
    Essa “sintonia de opiniões” variava apenas em tempo: a UDT queria 20 anos de transição e a UDT apenas cinco.
    Tudo mudou, diz Carrascalão, quando chegaram a Timor, em setembro de 1974, sete estudantes universitários timorenses vindos de Portugal: António Carvarinho Maulear, Vicente Manuel Reis, Abílio e Guilhermina Araújo, Roque Rodrigues, Rosa Bonaparte e Venâncio Gomes da Silva.
    Esse grupo, considera, pôs fim à convivência entre a UDT e a ASDT – “quando até se falava na sua fusão” – transformando logo a ASDT em Fretilin, considerando que “tudo o que não era Fretilin era fascista, com gritos de morte aos fascistas, aos colonialistas, aos imperialistas”.
    “A partir daí, criou-se um ambiente difícil. Mas mesmo assim ainda foi possível criar-se uma coligação que durou de janeiro de 75 até maio de 75 e que depois se desfez por interferência australiana, que não queria os dois partidos juntos”, disse.
    Os “insultos políticos” só passaram a outros excessos quando a Indonésia começou a “infiltrar-se em Timor”, enviando, por exemplo, figuras como o então coronel Dading Kalbuadi – que mais tarde comandaria as operações militares em Timor-Leste – e que com o pretexto de vir oferecer trigo e combustíveis, teve o primeiro contacto com o então [líder tradicional] liurai de Atsabe, Arnaldo de Araújo.
    Daí nasce o primeiro partido integracionista, a Associação para a Integração de Timor na Indonésia (AITI), “que foi depois transformada em Apodeti (Associação Popular Democrática Timorense) pela influência do major Arnão Metelo”, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas em Timor e representante no território do Movimento das Forças Armadas (MFA) na altura da guerra civil timorense.
    “Diziam que AITI era muito óbvio”, comenta sorrindo.
    Mário Carrascalão considera que houve alguns excessos, de parte a parte, e recorda alumas execuções em Ermera, pelo presidente da UDT, “que condenou e executou alguns dos seus opositores” e posteriormente respostas também da Fretilin.
    “Acho que antes da entrada dos indonésios, da invasão, terão morrido aqui em Timor como consequência do golpe e contra golpe talvez nem 100 pessoas”, disse.
    ASP // APN
    Lusa/Fim
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  • O TENEBROSO 22.11.63

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    22 de Novembro de 1963
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    Artur Arêde
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  • ÁREA MARINHA PROTEGIDA DO FAIAL

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    Nos últimos anos, a cratera submersa do vulcão do monte da Guia, no Faial (Açores), tem vindo a revelar-se uma Área Marinha Protegida de sucesso.
    Nos limites deste santuário rico em biodiversidade, um mero de porte imponente patrulha as águas cristalinas de um desfiladeiro.
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    Pierre Sousa Lima and 49 others
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    • Luis Avila

      Lindo já era tempo de se pensar em outras zonas de interdição à pesca.
  • O Olho Tenebroso (POESIA)

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    Source: O Olho Tenebroso

  • Falar ″brasileiro″ ou falar ″americano″, eis a questão!

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    Até aos 10 anos, vivi num ambiente linguístico peculiar. Os meus pais, portugueses emigrados na Venezuela, falavam um registo de contacto entre português e espanhol; a minha madrinha, brasileira do Nordeste emigrada na Venezuela, falava o seu registo de contacto. Não sei ao certo qual terá sido a primeira língua que falei, ou qual registo, mas sei que, aos 5 anos, fui alfabetizada em espanhol, língua que desde então tenho a certeza de falar. Entre os amigos da família havia falantes de português (portugueses e brasileiros, com vários sotaques) e falantes de castelhano (venezuelanos, espanhóis, cubanos, colombianos…), de galego, catalão, basco, de italiano, eu sei lá! Entre as colegas de escola havia quem falasse alemão, francês, inglês, iídiche. Cresci no meio de uma grande algaraviada! O resultado foi eu hoje falar e até ensinar português europeu e entender outras variedades do português; falar espanhol de variedade venezuelana e entender outras variedades; falar francês por o ter estudado por 12 anos e ter habilitação profissional para o ensinar como língua estrangeira; falar inglês, que aprendi no ensino básico e de que muito preciso para o exercício da profissão; falar italiano, que aprendi quase sem dar por isso, como se sempre tivesse estado dentro de mim.

    Source: Falar ″brasileiro″ ou falar ″americano″, eis a questão!

  • CULTURA MIRANDESA

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    Movimento Cultural da Terra de Miranda avança com Plano Estratégico para a Terra de Miranda
    O Movimento Cultural da Terra de Miranda (MCTM) aprovou hoje o Plano Estratégico para a Terra de Miranda (PETM), por si elaborado, que em breve será divulgado publicamente.
    O PETM assenta numa visão para o futuro da Terra de Miranda no médio prazo que a torne uma terra próspera, das mais desenvolvidas do país, bem como numa estratégia composta pela implementação de 34 projetos nele descritos.
    A estratégia do PETM é a de valorização dos extraordinários recursos que só a nossa Terra possui e que nos distinguem, nomeadamente sete raças animais autóctones, condições excelentes de produção agrícola, um património histórico riquíssimo e os melhores recursos a nível mundial para a produção de energia elétrica. Mas, acima de tudo, uma Língua e uma Cultura próprias, que exprimem a alma e são a identidade de um Povo.
    Apesar disso, nos últimos 60 anos perdemos 2/3 da população. Essa perda continua acelerada atualmente e a base agrícola da nossa economia sofreu idêntico desastre. A continuarmos assim, é toda uma Cultura, uma Língua e um Povo que correm risco de extinção.
    O PETM identifica seis bloqueios que nos conduziram até aqui, que impedem os nossos recursos de gerar a riqueza contida no seu potencial, todos eles resultantes de erradas opções dos vários governos ao longo de décadas. Identifica ainda as medidas necessárias à sua superação.
    O PETM é um grito da sociedade civil, iniciado por um conjunto de cidadãos e associações inconformados com o rumo insustentável para onde estão a conduzir a nossa Terra, que o oferecem ao país e aos responsáveis políticos locais, nacionais e da União Europeia, no exercício do seu dever de cidadania.
    O MCTM vai agora solicitar reuniões de apresentação do PETM aos eleitos locais dos municípios de Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso, bem como da respetiva Comunidade Intermunicipal, seguindo-se depois idênticos pedidos aos responsáveis do Estado e da União Europeia.
    O MCTM deliberou também, na reunião de hoje, exortar os municípios da Terra de Miranda a:
    i) Exigirem à AT, como sujeitos ativos dos impostos e titulares das receitas devidas pelo negócio das barragens, a realização dos atos necessários à liquidação e cobrança dos impostos devidos, bem como do IMI que incide sobre as edificações das barragens, colaborando também na descoberta da verdade material;
    ii) Exercerem todos os seus direitos processuais como lesados, no processo de inquérito criminal que está em curso, colaborando com o Ministério Público na descoberta da verdade material e na realização da Justiça;
    iii) Exigirem ao Ministério do Ambiente a realização de todos os investimentos que foram anunciados publicamente, em 8 de maio findo, pelo Ministro do Ambiente, no valor de 400 milhões de euros, dos quais pouco mais se ouviu falar.
    Podem consultar o documento aqui https://bit.ly/32o7qHi
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  • MAU TEMPO NOS AÇORES

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    A chuva forte originou 16 ocorrências nos Açores, durante o dia deste domingo, grande parte das quais na ilha de São Miguel, relacionadas com “inundações em vias e habitações”, mas “sem necessidade de realojar pessoas”
    Proteção Civil dos Açores regista 16 ocorrências
    ACORIANOORIENTAL.PT
    Proteção Civil dos Açores regista 16 ocorrências
    A chuva forte originou 16 ocorrências nos Açores, durante o dia deste