Mês: Novembro 2021

  • SALAZAR AOS BOCADINHOS SOUTO GONÇALVES

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    SALAZAR AOS BOCADINHOS
    Hoje fui à apresentação do álbum de fotografias das visitas do ministro Casal Ribeiro ao Faial e ao Pico na Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça. Este álbum, adquirido pela nossa Biblioteca em Lisboa, reporta em imagens, algumas delas da Foto Jovial, as deslocações do governante em 1945 e 1950.
    Casal Ribeiro, foi chefe de gabinete do famoso ministro Duarte Pacheco e depois subsecretário e secretário de Estado, tendo, finalmente, sobraçado a pasta das Obras Públicas e Comunicações.
    Na visita de 1945, ainda como subsecretário de Estado, José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich amarou na baía da Horta a bordo de um “clipper” e, em 1950, já como ministro, veio num navio de guerra. As suas passagens por esta zona dos Açores, principalmente a segunda, estão profusamente documentadas no álbum, com cerca de uma centena de fotografias legendadas.
    Naqueles anos, no país, assistia-se a uma vaga de grandes obras públicas, que também atingiu as ilhas adjacentes. Por exemplo, através das fotografias do álbum, ficam a conhecer-se projetos, obras em execução ou executadas e inaugurações no Faial, como o Bairro das Angústias (Pedreira), o Bairro da Boavista (Matriz), o Bairro da Carreira (Castelo Branco), o Asilo da Infância Desvalida (Colégio de Santo António), as instalações dos serviços agrícolas, em São Lourenço e na Caldeira (nomeadamente a “casa da batata”), as Termas do Varadouro (projeto), o Estádio Fayal Sport (projeto), obras de beneficiação do porto e outros investimentos.
    A apresentação do álbum, pelo Dr. Luís Sousa, chefe da Divisão de Arquivos da Biblioteca, despertou-me especial interesse pois, no cartaz de divulgação do evento, vislumbrei meu avô paterno Casimiro Gonçalves. De facto ele lá está, na sua qualidade de presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco.
    A minha memória começou a trabalhar e aqui ficam algumas lembranças, baseadas no que meu pai me contou e com a ajuda de meu irmão, para que o relato seja o mais rigoroso possível.
    Meu avô aparece nas fotografias da visita de Casal Ribeiro ao Bairro da Carreira, certamente como anfitrião e apesar da presença de figuras gradas da ilha terá dito algumas palavras (lia e escrevia muito mal). Pelo menos a legenda de uma das imagens do álbum, em que parece estar a falar, refere que ele se encontrava a agradecer uma condecoração que lhe foi entregue.
    Foi a partir deste dado que as recordações saltaram!
    Na realidade, para além das responsabilidades como presidente da junta, meu avô foi um contribuidor na construção dos Bairros da Carreira e da Lombega.
    Certo dia, o responsável pelas Obras Públicas no Faial deslocou-se à obra do Bairro da Carreira, certamente numa ação inspetiva, desagradando, não sei porquê, a meu avô, que o mandou abandonar o local. Fica o registo deste episódio algo pitoresco, que não sei a quem abona, pois um e outro teriam as suas razões.
    A construção dos Bairros foi antecedida de uma deslocação de meu avô a Lisboa (era natural de Óbidos e, devido à sua atividade comercial, deslocava-se com alguma frequência à capital), onde foi recebido pelo presidente do Conselho (Governo). A condecoração concedida por Salazar, que atrás mencionei, terá tido relação com esta audiência, presumo. A minha família tem fotografias do momento.
    Meu avô disse ao chefe do Governo que pretendia apoio para a construção dos Bairros e acrescentou quanto necessitava. Salazar achou pouco e meu avô explicou que a população da freguesia iria ajudar, nomeadamente com materiais e mão-de-obra. O governante entregou a meu avô um “cartão de visita” seu, que também está guardado e que meu pai interpretava como uma forma de facilitar o contacto com o gabinete da presidência do Conselho, mas que, tanto quanto eu sei, nunca foi utilizado com esse propósito.
    Nunca falei sobre política com meu avô, apesar de ele ter falecido 10 anos depois do 25 de Abril. No entanto, tenho a firme convicção, por diversos motivos, que a democracia não era um regime que ele apreciasse.
    Neste aspecto, há um episódio, que já relatei noutra ocasião e que ilustra o que acabo de dizer: Num ajuntamento de pessoas, não sei em que circunstâncias, na Praça da República, na Horta, meu avô ter-se-á dirigido aos presentes dizendo que Salazar deveria ser cortado aos bocadinhos e cada pedaço distribuído por todas as terras de Portugal. Esta afirmação levou a algumas desconfianças por parte da polícia política do regime de então e meu avô terá sido abordado para explicar o sentido das suas palavras, respondendo que o valor e o exemplo de Salazar eram tais que, espalhados pelo país, seriam um estímulo para o desenvolvimento do território nacional.
    Demagogia, diriam hoje os analistas!
    (Meu avô aparece na fotografia da esquerda em pose discursiva)
    May be an image of 3 people, people standing and text that says "APRESENTAÇÃO PÚBLICA 24 novembro 10h30 Sala de Formação Biblioteca Pública da Horta ÁLBUM DE FOTOGRAFIAS DAS VISITAS DO MINISTRO CASAL RIBEIRO com o Dr. Luís Sousa BATRRA DAS OBRA8 CARREIRA (CASTEIO BRANCO) RECEPÇÃO SM CASTELO BRANCO daGraca Arquiva egional PAIAL"
    Luis Sao Bento and 6 others
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    • José Jorge

      Aquando da construção do Bairro da Carreira, as pessoas comentavam que era teu avô que o estava fazendo e com os seus dinheiros. Não se ouvia falar em outros intervenientes. Assisti à construção do Bairro da Boavista, ainda era bastante novo 5/6 anos, para alojar as famílias que tinham ocupado o Bairro dos sargentos ali em Santo Amaro, (chamávamos o oito). Depois seguiu-se o Bairro da Pedreira. Nas férias da Escola passava lá todos os dias e parava um pouco para ver aqueles maestros da pedra trabalhar. A Obra era para pobres. Tanto nestes dois, como o da Carreira, ao qual o povo chamava o Bairro do Casimiro. Julgo que o teu avô também teve mão na escola da Lombega. O povo falava. E quando o povo fala!!!! Pena foi as casas não terem mais uns metros quadrados, para se ter evitado desvirtuar uma obra que era muito bonita. Gostei de ler esta prosa, pois assim fui buscar mais uns conhecimentos que não tinha.
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  • CRÓNICA TRANSMONTANA DE FRANCISCO LOPES

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    DESCULPEM LÁ…
    Vamos refletir um pouco. Anda por aí tanta gente a queixar-se disto e daquilo, das vacinas e dos “chips”, DAS MÁSCARAS (com que sempre se andou…) e de não sei quantas mais coisas, mas não vejo ninguém a questionar por que razão as redes sociais condicionam a vida de tanta gente, para não dizer que há pessoas que só (já) são virtuais…
    Em abono da verdade, a postura de muitas pessoas, [da minha parte é Q.B. – Quanto Basta e sinceramente basta muito pouco] sobre as redes sociais e a forma como as devem utilizar como ferramentas de trabalho, de divulgação, de atividades e por aí adiante, é de uma tal mediocridade, que “bradar aos céus” não serve rigorosamente de nada. Depois há aqueles “entendidos” que dizem perceber de tudo. Sabem tudo, dizem eles, sobre os meios de comunicação social. Só não percebo de onde lhes veio essa formação, mas enfim… Alguns já devem ter percebido que as redes sociais podem servir para muitas coisas, mas não chegam para outras…
    Na verdade, eu já venho do tempo do telefone fixo que utilizava nas viagens quando parava num restaurante ou tasca para dizer onde estava e quanto tempo demorava a chegar a casa e acreditem que às vezes era um risco, por não ser possível melhor, ou por interessar que assim fosse. Mas nesses tempos conheci pessoas presencialmente, e fiz muitas amizades reais.
    O telemóvel e sucedâneos foram apenas o primeiro virar de folha. Agora o digital de última geração está na moda. Pergunto-me: as pessoas também deixaram de estar na moda? É que há por aí umas almas que vivem das pessoas mas não gostam delas…achando que são do piorio, salvo quando os metais entram no bolso, aí sim, as pessoas são úteis…
    Enfim, “moda é moda”. Mas a que custo? Das tecnologias não me parece, porque as tecnologias são feitas por humanos, para servir humanos, digo eu, sabendo que nem sempre é assim!
    Quando, por curiosidade, ou por interesse, nos transformamos em meros ouvintes e anónimos replicadores dos milhares de canais temáticos que existem (quase 100% no YouTube, que os restantes são ilegais e a maior parte dos que dizem ter acesso a eles ou são mentirosos, ou estão mesmo no limite da legalidade) o que a maior parte de nós, que somos meros “clientes” não reflete, para perceber a qualidade de informação sobre o conteúdo desses canais, é que eles só têm um objetivo: o lucro! E cada vez que ligamos, mesmo não clicando no standard “like”, estamos a contribuir financeiramente para alimentar a retórica. Ou seja, quem pensa que a simples ligação a um vídeo no YouTube não produz lucros financeiros para alguém, ou não percebe o funcionamento do sistema, ou faz de conta que tudo isto é gratuito. O YouTube transformou-se em algo mais pernicioso do que todas as plataformas sociais: até pode proibir alguns conteúdos socialmente recrimináveis (as outras plataformas também o vão fazendo, mas o que será “socialmente recriminável”?) mas por ali circulam canais sobre os temas mais incríveis que se possa imaginar e todos eles com aquela marca imprescindível de falarem a “verdade”. A “verdade” é tão verdadeira, que poucos são os que sobrevivem sem outras publicidades associadas. Mas todos têm o mesmo denominador comum: ganhar dinheiro! E para ganhar dinheiro em canais destes, só há uma maneira, que é garantir auditório! Para garantir auditório há várias formas, de que destaco duas: expor mentiras com capa de verdade, sem nunca disponibilizar as fontes de informação, ou falar verdade com provas à vista e possibilidade da sua verificação. Os canais do imaginário, da ficção e da teoria da conspiração, contam-se às centenas, umas vezes alinhados e citando-se uns aos outros, outras vezes desalinhados, como se fossem o contraditório uns dos outros. No entanto, todos estes canais mantêm o mesmo fim: ganhar dinheiro. Aliás, desafio-vos a darem-me um só exemplo que não se enquadre no que acabo de escrever. Ou seja, um canal do YouTube que exista com objetivos verdadeiramente filantrópicos…sem que alguém pague a presença na referida plataforma…. E não me venham com aquela história de publicar vídeos mais ou menos caseiros e gratuitos nessa plataforma. Em primeiro lugar, para os colocar lá tem de se pagar a Internet (e ao usá-la para este fim a plataforma está a ganhar dinheiro com isso) em segundo, essa prática não tem nada a ver com um canal digital. Experimente e vão ver a diferença…
    Admito apenas que no conteúdo de muitos desses canais de “ganhar dinheiro” a linha que separa a mentira da verdade não seja tão simples como parece… Quem não perceber isto não sabe o que é o mundo humano.
    A questão de fundo é saber se somos meros consumidores do que nos impingem como verdades, ou se queremos ser detentores da nossa liberdade para confirmar essas “verdades” antes de as replicar para os outros. E agora estareis a perguntar: qual é o meu lucro ao escrever nesta blogosfera de que faz parte o Facebook? A resposta é simples: eu pago para escrever e vós pagais para ler!
    Faço-me entender, ou precisais que faça um desenho, mesmo sem jeito para tal? Aliás, a blogosfera não foi criada para “gerar” LIBERDADE, embora ande por aí muita gente a pensar que sim. Eu diria que é mais uma forma de “gerir” a LIBERDADE. Quereis que vos faça o segundo desenho?!
    F. Lopes
    2021-11-24
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  • A REVOLTA DOS CHINESES

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    Resposta do Prof. François Ouellette da Universidade de Chengdu ( 2018 – até ao momento) à pergunta “Por razão os chineses não se revoltam apesar da dureza de seu governo?” colocada na rede social “ Quora”
    “Moro em Chengdu há quase quatro anos e devo dizer que, de facto, o governo é inimaginavelmente duro.
    Moro entre dois grandes parques. Um é o lar de 74 espécies de bambu, vários lagos, um grande salão de chá ao ar livre, espaços abertos onde as pessoas vão dançar ou cantar (coro todos os domingos à tarde), praticar tai chi ou tirar fotos com o traje de Han Fu (tragédie tradicionais).
    O outro parque tem um grande lago (que dá nome ao parque: Parkdo Lafo Oriental), uma bela floresta ao redor e galerias de arte. Acaba de ser inaugurado um teatro experimental envolvente, que afirmam ser o maior do mundo. Este parque foi construído com dinheiro privado: o governo ofereceu aos promotores imobiliários os direitos sobre o terreno adjacente, com a condição de construirem o parque público por conta própria.
    Chengdu é atravessada por vários rios, todos ladeados de vegetação e caminhos pedonais e para bicicletas (e, claro, espaços para dançar, cantar, praticar tai chi, etc etc, isso nem é preciso dizer!)
    Não tenho carro. Ando de bicicleta na maioria das vezes, ou de Metro e autocarro , ou de Didi (Uber). A maioria das ruas grandes (e pequenas) tem uma ciclovia muito larga, que é usada por bicicletas elétricas e scooters (há muito poucas motocicletas movidas a gasolina). As scooters elétricas são boas, são silenciosas e não poluem. Por isso,uso bicicletas compartilhadas, que me custam cerca de 15 yuans, ou 2 euros, por 3 meses. Chengdu está construindo uma vasta rede de ciclovias que unem uma sucessão de parques ao redor da cidade. 17.000 km no total quando acabar!
    Se eu tivesse um carro, só poderia usá-lo durante a hora de ponta em dias alternados, dependendo do número da minha placa.
    Recentemente, os autocarros a gasolina começaram a ser substituídos por autocarros elétricos.
    O segundo anel viário, próximo à minha casa, tem uma faixa exclusiva para autocarros , o que ajuda a evitar engarrafamentos. Na hora de ponta, há um autocarro a cada 30 segundos.
    Não mencionei o Metro. Por enquanto, está uma bagunça em todos os lugares porque eles ainda estão construindo novas linhas. Quando acabar (mais 2 ou 3 anos de paciência!), haverá uma estação pelo menos a cada 500 metros na cidade para um percurso de mais de 30 km nos arredores. O Metro que ligará o novo aeroporto rodará a mais de 150 km / h!
    Faço as minhas compras semanais numa feira ao ar livre, num beco não muito longe de minha casa. Ultimamente, como as condições do local estavam bastante degradadas, o governo decidiu reaproveitar a rua e educadamente pediu aos vendedores que mudassem as suas prateleiras para ajudar no tráfego. Está muito melhor agora.
    Em 2008, ocorreu um terrível terremoto em Sichuan. 70.000 pessoas perderam suas vidas. A pequena cidade de Wenchuan foi praticamente arrasada. Fui lá há dois anos (em 2017). A cidade agora está quase totalmente reconstruída. Há um parque e um museu memorial. Os padrões de construção foram reforçados. Os sistemas de alívio de emergência foram aprimorados. Quando houve um terremoto na estância turística de Jiuzhaigou há dois anos, eles evacuaram 80.000 turistas em 24 horas. Quase um minuto após o terremoto, ambulâncias e outros apoio de socorro de cerca de 300 km estavam a caminho.
    A poluição pode ser um problema na China. Mas, nos últimos quatro anos, tenho visto isso diminuir de ano para ano. No verão em Chengdu, realmente não há mais poluição, e o inverno, que é mais problemático, está no caminho certo.
    A poluição agrícola também é um problema em todos os lugares. O governo de Sichuan recentemente concedeu-me bolsa para desenvolver um sensor que mede a concentração de nitrato em águas residuais agrícolas. Sim, sim, eu, um estrangeiro, agora professor na Universidade de Chengdu. Quem sabe, se esse projeto for bem-sucedido, ele poderá substituir dispositivos comprados no exterior que são caros demais para o agricultor médio.
    Quando tive problemas com meu ex-empregador, tive que lidar com várias pessoas no governo e no sistema jurídico. Todos eles fizeram o melhor que podiam para me ajudar. Representantes do Partido Universitário (comunista, é claro) pleitearam a meu favor.
    Então sim, sério, acho que as pessoas deveriam se revoltar, porque o governo é tão duro … inimaginável!”
    [ Ver o texto original em baixo ]
    Rui Rocha and 7 others
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    • Monica Simas

      Acabei de fazer um post … enfim … ótimo o seu texto. As democracias andam tão abaixo da crítica …
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      Monica Simas replied
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