Na Feira quinzenal em Mogadouro
Era dia de Feira. Nesses dias, todo o povo vinha à Vila. Uns a pé, outros a cavalo e alguns de carro.
Nesses dias, os trabalhos agrícolas ficavam em descanso.
Levantavam-se mais cedo, acomodavam-se os animais enquanto as mulheres iam à Fonte abastecer-se de água para o dia.
Numa bacia com água temperada, tirada da caldeira que esquentava em lume brando, iam-se lavando por partes.
Vestiam a melhor fatiota e ala para a Vila que se faz tarde.
Quem tinha alguma coisa para vender ou trocar, levava as bestas com os alforges carregados. As ditas, eram vestidas com os melhores tapetes que cobriam as albardas de passeio.
Quem tinha gado para vender, palmilhava o percurso por entre caminhos recortados por olmeiras e carvalheiras.
A meio caminho, atravessava-se a estrada e ao longe já aparecia o castelo altaneiro e a parte antiga da Vila. Pelo Prado, apareciam os pombais. Aqui e ali, um lagarto verde saltava da parede onde o sol lhe aquecia as entranhas. Ao fundo, no ribeiro que corria por entre o xisto gasto, as rãs e as melras conviviam em alegres despiques sonoros.
Mais ao perto, a casa da Ti Olívia padeira, os castanheiros, o Largo de Santo Cristo e a Capela da Nossa Senhora do Caminho.
Estacionavam os animais pelas eiras, enquanto as mulheres iam expor os seus produtos para venda.
Os homens, ficavam pelas Eiras a admirar a arte Cigana de bem comercializar os seus animais uns, enquanto outros tentavam comprar e vender o seu próprio gado.
Pelo fim da manhã, juntavam-se novamente para analisar o dinheiro em bolso.
Uma ida de fugida aos Casimiros, para alguma compra de última hora.
A fome, começava a apertar. Pelo Cabeço, o cheiro da carne assada, chamava para um petisco. As tendas, com bancos e mesas corridas iam albergando os comensais.
Outros, dispersavam pela taberna do Ti Alfredo das Eiras ou pelo Davim.
Pela tarde, regressavam e voltavam à rotina.
Conta Ti Camilo Calaia, que acompanhou Luís Madruga a uma dessas Feiras por ocasião de uma vinda à Aldeia:
– Montados no espada creme, um Opel Kadett 1.2, percorremos em marcha lenta as ruas da Vila apinhadas de povo.
Por alturas do Cemitério, apareceu uma mula que se atravessou na frente da máquina. A travagem foi eficiente, mas não impediu o inevitável choque com a besta. À distância, esbaforido, corria o cigano, que perante o aparatoso acidente, tentou de imediato negociar uma indeminização, por danos causados ao animal.
– Mas então, o senhor não viu a besta?
– Oh homem, se a visse não lhe tinha batido.
Perante o ajuntamento que se foi formando, Ti Camilo atalhou:
– Oh Sr. Sargento, será melhor levar a besta e o cigano para o Posto. O Sr. não teve culpa nenhuma, a besta não pode andar sem rédea.
– A besta vinha com rédea, mas soltou-se – atalhava o cigano.
Aproveitando a atrapalhação Luís Madruga anuiu em levar o caso para o Posto para participação.
– Tem documentos consigo?
– Documentos de quê Sr. Sargento?
– Seus e da besta. Sem documentos não pode haver participação.
– O Sr. Sargento desculpe, mas a mula escapou-se-me e olhe que ela já nem manca.
– E quem paga a amolgadela no carro?
– Mas, oh Sr. Sargento, se for possível, pago com umas jeiras – suplicava o cigano.
– Vá, vá à sua vida, mas não me apareça com a besta sem ser de rédea.
Meteram-se no carro e viajaram até ao restaurante onde tinham pensado almoçar.
Ti Camilo já sentado à mesa comentou:
– Não sei se fiz bem, mas aquela de a mula ter que andar de rédea deu jeito.
– Foi bem metida. Vamos lá almoçar.