Mês: Junho 2021

  • E UM PROVEDOR PARA A VERGONHA? OSVALDO CABRAL

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    E UM PROVEDOR PARA A VERGONHA?
    Quando um governo não consegue ou não quer resolver um problema, cria um grupo de trabalho.
    E quando um grupo de trabalho não resolve nada, como é mais do que expectável, cria-se um Provedor.
    No país já perdi a conta dos provedores e haverá muitos deles que os cidadãos nem sequer sabem que existem.
    Por exemplo, sabe que existe um Provedor da Ética Empresarial e do Trabalho Temporário?
    Parece que existe, mas também deve ter trabalho temporário, pois não se lhe conhece resultados públicos.
    Os Açores vão pelo mesmo caminho, especialmente com os políticos mais novos, que, sem ideias e criatividade, tratam de copiar os monstros criados pelos Estados grandes.
    É o que faz os políticos andarem com as prioridades trocadas.
    Se eles andassem mais nas ruas, se falassem mais com os cidadãos, se visitassem as freguesias pelo interior destas ilhas e ouvissem as aflições das populações, os seus principais anseios e prioridades, era isto mesmo que pediriam: um Provedor!…
    Em 2010 criou-se nos Açores um Provedor do Utente da Saúde, de quem nunca se ouve falar e poucos saberão que existe ou o que faz.
    Foi criado exactamente para o tal objectivo: fazer de conta que resolve os problemas que a governação não consegue resolver.
    Curiosamente, desde que foi criado, o número de problemas aumentou, deixando-nos como herança uma lista de espera para cirurgias que não pára de crescer, milhares de açorianos sem médico de família e muitos outros a sofrerem o couro e cabelo para aceder a um médico especialista.
    Mas temos um Provedor, para mostrar que somos como os Estados grandes e modernos!
    Ao que parece, em 2019 o dito Provedor recebeu 65 queixas dos açorianos que sabem que ele existe e em 2020 foi ainda menos do que isso.
    Ou seja, esta figura, que ninguém sabe quanto custa aos contribuintes, deve ter trabalhado 65 dias para despachar as 65 queixas e os restantes 300 dias do ano deve andar pelos corredores a coçar nas amarguras do sistema de saúde.
    Ora, isto já vai assim há 11 anos, pelo que havia necessidade de criar mais um Provedor neste “novo tempo” de pluralidade e preguiçosa actividade parlamentar.
    Não se cria uma reforma eleitoral, depois de criada uma das tais comissões de trabalho, chumbam-se propostas de alteração eleitoral que mexem com os interesses dos partidos, mas aprova-se, de imediato, mais um Provedor.
    Para resolver os problemas prioritários dos cidadãos?
    Espera sentado.
    Desta vez é para os Animais, que exclui o cidadão comum, este animal de carga de impostos, que agora vai ter de pagar mais uma figura decorativa da poderosíssima administração regional.
    Não sei se estão a ver, mas vamos assistir a uma figura, tipo super-homem, que voa de ilha em ilha, ou de porto em porto, para vigiar das condições de embarque dos animais de exploração.
    É provável que ainda chegue a tempo de fiscalizar as condições de embarque à volta daquela outra polémica regionalíssima sobre um boi de raça anã.
    Tanto trabalho vai ter esse Provedor.
    Do modo como isto está a caminhar, era bom que os senhores deputados se debruçassem, para mais três horas de discussão, à volta de mais um Provedor, essencial para todos nós, contribuintes e cidadãos: um Provedor da Vergonha!
    ****
    PROVEDOR COM EXTENSÃO NACIONAL – Já agora, o futuro Provedor da Vergonha, poderá ter extensão ao plano nacional.
    Trocamos – acompanhada de caixote de ananases – esta Provedoria pelo Representante da República.
    Poderia começar por analisar a pouca vergonha que, semana sim, semana não, vamos assistindo neste país, à custa de um governo que lava as mãos de tudo, que nunca é responsável por nada, e com ministros e secretários de estado que nem para tomar conta de rebanhos de cabras alguém os contrataria.
    Nós, por cá, temos animais empalhados que ocupam a preocupação dos nossos políticos, lá fora têm aquele banco, pago por todos nós, que diz que o aval pessoal do presidente de um clube de futebol é apenas uma casa para palheiro, mas mesmo assim concederam-lhe avultado crédito, porque o seu “verdadeiro valor” é reputacional!…
    E é nisto que se transformou este país.
    Num Estado cujo valor reputacional está ao nível de um palheiro.
    ****
    SATA DÁ-NOS ASAS – Vai por aí uma euforia justificada com as passagens a 60 euros.
    Vem na altura certa, no princípio do desconfinamento, pelo que vai ajudar – e de que maneira – a economia das ilhas mais procuradas.
    É um excelente barómetro para se perceber quais as ilhas, depois de S. Miguel, com mais procura interna.
    Não me admira que Flores, Pico e S. Jorge sejam as mais cobiçadas, curiosamente as que menos atenção têm recebido dos governos em termos de acessibilidades.
    Pode ser que agora os governantes abram os olhos.
    Bolieiro tem toda a razão: é, provavelmente, a sua “ousadia estratégica” mais emblemática deste mandato que ainda agora começou.
    Trata-se de uma autêntica “bazuca” interna que vai revolucionar a mobilidade dos açorianos e é bem capaz de ajudar a atenuar o ressuscitado “bairrismo” incutido por alguns políticos e ajudantes.
    E é escusado os detratores inventarem os maiores disparates para rebaixarem a medida.
    A SATA não perde um tostão com esta tarifa, “uma vez que a compensação da diferença de receita encontra-se garantida através do diploma que regula a atribuição do subsídio aos passageiros residentes na RAA nas viagens aéreas inter-ilhas”.
    E o argumento tonto de que só vão viajar os que têm dinheiro, enquanto os outros que não podem continuam a pagar com os seus impostos, apetece perguntar se as SCUT’s deviam ser pagas apenas por quem tem carro ou se hospitais devem ser pagos apenas pelos doentes…
    Ouve-se e lê-se cada uma!
    Junho 2021
    Osvaldo Cabral
    (Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-Açores, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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    • Duarte Melo

      Quando falta o sonho,a utopia o olhar o futuro com outro horizonte de justiça e equidade, os provedores nascem,tal salvadores do país das mil maravilhas.Obrigado Osvaldo pela belíssima reflexão,
  • PRÉ-HISTÓRIA DOS AÇORES

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    Existem estruturas megalíticas em várias ilhas dos Açores que sugerem que estas ilhas foram habitadas muito antes de serem descobertas pelos navegadores portugueses.
    Esta fica na Terceira e parece um columbário Fenício.
    📸 Trilhas outdoor tours
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  • POESIA DE ÁLAMO OLIVEIRA E CHRYS C TRADUZIDA EM VÁRIAS LÍNGUAS

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    maria nobody

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria só minha

    dos filhos também

    maria nobody

    mais ninguém tem.

     

    maria nobody

    de tous personne

     

    de quelqu’un

    d’un seul

    maria nobody

    body de jeunesse

     

    maria rien qu’à moi

    ainsi je te rêve

    ainsi je t’habite

     

    maria nobody

    de tous personne

     

    maria nobody

    mère

    maîtresse

    femme

    ma maria

     

    maria nobody

    de tous personne

    si seulement tu savais la richesse

    que l’on a

     

    (trad. E DITO POR Luciano Pereira)

     

     

     

     

     

     

    POESIA DE ÁLAMO TRADUZIDA

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

    Ich ging nach Pico und piekte mich

      

    Que aqui, em cada ano,

    Dass wir hier jedes Jahr,

    Sêmos sempre menos gente.

    immer weniger Leute sind.

    – Que terra é esta, mano,

    – Was für ein Land ist dies, Bruder,

    Que nada dá de repente!

    Das plötzlich nichts hergibt!

    (Tantas vezes já picado

    (So oft schon gepiekt

    Fui na alma e no corpo,

    Wurd ich an Leib und Seele,

    Que se me dano danado,

    Was, wenn ich Verdammter mich verletz,

    Cairei, por terra, morto).

    auf den Boden falle, tot).
      
    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26ins Deutsche übertragenvon Rolf Kemmler.

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    Jeansmond

    als ich Dich sah,

    in der Blue-Jeans Deines Anzugs
    umflaggte ich mich mit Zärtlichkeit

    und schlug vor, Dich auszuziehen als

    wenn du Mond wärst oder nichts

    Ich spielte

    mit den Fingerspitzen

    das Gedicht Deines Körpers

    war blau, aber ich starb vor Angst.

     

    ALEMÃO ins Deutsche übertragenvon Rolf Kemmler.

     

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

    Wstąpiłem na szczyt.

    Zabolało

    Szczytnie dowcipnie

     

    Skoro tu, co roku

    Coraz mniej ludzi

    Jak po baranim skoku.

    Co za kraj, stary,

    Nieprędko tu na wagary!

     

    (Szczypnęło już parę razy

    Na duszy i na twarzy

    Rypnąłem z góry jak długi

    Prosto na ucztę grabarzy).

     

    Polaco, trad. Anna Kalewska

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    Dżinsowy księżyc

     

    Kiedy cię zobaczyłem

    W modrej jak dżins sukience

    Nabrzmiałem wielką czułością

    I chciałem cię rozebrać

    Jakbyś w księżyc weszła naprędce.

    dotykałem

    Opuszkami palców

    Twego ciała jak wiersza


    było błękitne

    a zmora śmierci największa.

     

    polaco trad. Anna Kalewska

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

     

    Ik ging naar pico en werd gestoken

     

    Dat wij hier jaar na jaar

    Met telkens minder mensen leven.

    – Wat is dit, broeder, toch voor land

    Dat ons niets uit zichzelf wil geven!

     

    (Zo dikwijls ben ik al gestoken

    In mijn lichaam en mijn ziel,

    Dat ik, als ik me kwaad zou maken

    Meteen morsdood ter aarde viel).

     

    Holandês Tradução Arie Pos

     


    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    Maan in spijkerpak

     

    toen ik je zag

    in het blauw van je spijkerpak

    tooide ik me op met tederheid

    en stelde ik je voor je uit te kleden

    alsof jij de maan of niemendal was

     

    ik streelde

    met mijn vingertoppen

    het gedicht van je lichaam

     

    het was blauw maar ik stierf van angst.

     

    Holandês Tradução Arie Pos

     

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    Luna di jeans

     

    Quando ti vedevo

    nel jeans azzurro del tuo abito

    m’imbandieravo di tenerezza

    e mi proponevo di spogliarti come

    se luna tu fossi o niente

     

    toccavo

    com la punta delle dita

    la poesia del tuo corpo

     

    era azzurro ma io morivo di paura.

     

    ITALIANO EMMANUELE DUCROCCHI

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

    Sono stato al picco, mi sono punto.

     

    Qui, ogni anno,

    Siamo sempre di meno.

    – Che terra è questa, fratello,

    Che all’improvviso non dà più niente?

    (Già tante volte punto

    Sono stato nell’anima e nel corpo,

    Che se vado su tutte le furie,

    Cadrò, a terra, morto).

     

    ITALIANO EMMANUELE DUCROCCHI

     

     

    lua de ganga

     

    quando te via

    na ganga azul do teu fato

    embandeirava-me de ternura

    e propunha despir-te como

    se lua fosses ou nada

     

    tocava

    com a ponta dos dedos

    o poema do teu corpo

     

    era azul mas eu morria de medo.

     

    Álamo Oliveira, lua de ganga.

    blue-jean moon

     

    when i saw you

    in the blue denim of your jeans

    i lit up in tenderness

    and proposed to undress you as

    if you were the moon or nothing

     

    with my fingertips

    i touched

    the poem of your body

     

    it was blue but i was scared to death.

     

    Inglês by Katharine F. Baker and Bobby J. Chamberlain, Ph.D.

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

     

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

    Je suis allé sur le pic je me suis piqué.

     

    C’est qu’ici, à chaque année,

    On s’ retrouve chaque fois moins nombreux.

    – Qu’est-ce que c’est que pour une terre, celle là, frangin,

    Qui ne nous donne rien sous le champ!

     

    (J’ai déjà été tellement de fois piqué

    À l’âme et au corps,

    Que si je me fâche faché

    Par terre, je tomberai, raide mort).

     

    (Álamo Oliveira-trad. Luciano Pereira)

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    la lune en jeans

     

    Quand je te voyais

    en bleu jeans habillée

    je me pavoisais de tendresse

    et propossais te désahabiller

    comme si tu fusses lune ou rien

     

    je touchais

    de la pointe des doigts

    le poème de ton corps

     

    Il était bleu et moi je mourais de peur.

     

    (ÁLAMO OLIVEIRA-TRAD. Luciano Pereira)

     

     

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo.

    ÁLAMO OLIVEIRA

    La lune habillée de jean

     

    Quand je te voyais

    dans le jean bleu de ton costume

    je me drapais de tendresse

    et j’envisageais te dévêtir comme

    si tu étais la lune ou rien d’autre

     

    je touchais

    de la pointe des doigts

    le poème de ton corps

     

    Il était bleu mais moi j’e mourais de peur.

    FRANCÊS POR MANUEL J SILVA

     

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

     

    Am fost în pico m-am înțepat.

     

    Căci aici, în fiecare an,

    Suntem din ce în ce mai puțini.

    – Ce pământ e asta, frate,

    Ce deodată se sfârșete!

     

    (De atâtea ori înțepat

    Am fost în suflet și în trup,

    Și de la naiba ma voi duce,

    Voi cădea, la pământ, mort).

    ROMENO SIMONA VERMEIRE

     

     

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    Luna de blugi

     

    când te vedem

    în blugii albaștri al portului tău

    Mă înălțam de tandrețe

    și-mi doream să te dezbrac ca

    și cum lună erai și atât

     

    atingeam

    cu vârful degetelor

    poemul corpului tău

     

    era albastru dar eu muream de frică.

     

    ROMENO SIMONA VERMEIRE

     

     

    Eu fui ao pico piquei-me.

     

    Que aqui, em cada ano,

    Sêmos sempre menos gente.

    – Que terra é esta, mano,

    Que nada dá de repente!

    (Tantas vezes já picado

    Fui na alma e no corpo,

    Que se me dano danado,

    Cairei, por terra, morto).

     

    ÁLAMO OLIVEIRA Edição de autor, 1980, pp. 24-26

    Fui al pico y me pique

    Que aqui de año em año

    Somos siempre menos gente

    – Que tierra es esta, hermano

    Que nada da de repente!

    Tantas veces ya picado

    fui en el alma y en el cuerpo

    que si me daño dañado

    Caeré por tierra muerto.

    CASTELHANO POR CONCHA ROUSIA

     

     

    lua de ganga

    quando te via
    na ganga azul do teu fato
    embandeirava-me de ternura
    e propunha despir-te como
    se lua fosses ou nada

    tocava
    com a ponta dos dedos
    o poema do teu corpo

    era azul mas eu morria de medo

     

    ÁLAMO OLIVEIRA

    luna en vaqueros

     

    cuando te veia

    con os vaqueros azules da tua vestimenta

    me abanderaba de ternura

    y me proponia desnudarte como

    si luna fueses o nada

     

    tocaba

    con la punta de los dedos

    el poema de tu cuerpo

     

    Era azul pero yo me moria de miedo.

     

    CASTELHANO POR CONCHA ROUSIA

     

     

     

    POESIA DO CHRYS TRADUZIDA

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

    (maria nobody, der Mutter Maria, Pico, 9. August 2011)

     

    maria nobodymaria nobody
    de todos ninguémvon allen niemand
      
    de alguémvon jemandem
    de um só 
    maria nobodymaria nobody
    com body de jovemmit body einer jugendlichen
      
    maria só minhamaria nur meine
    assim te sonhoassim ich träum dich
    assim te habitoassim ich leb dich
      
    maria nobodymaria nobody
    de todos ninguémvon allen niemand
      
    maria nobodymaria nobody
    mãemutter
    amante 
    mulher 
    minha mariameine maria
      
    maria nobodymaria nobody
    de todos ninguémvon allen niemand
    nem sabes a riquezaweißt nicht einmal vom Reichtum
    que a gente temden wir haben
      
    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011 P. ???ins Deutsche übertragenvon Rolf Kemmler.

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

    (maria nobody, do matki marii, pico / azory, 9 sierpnia 2011)

     

    maria nobody

    wszystkich niczyja

     

    czyjaś

    jednego jedynego

    maria nobody

    z młodym body

     

    mario tylko moja

    tak marzę o tobie

    tak w tobie bytuję

     

    maria nobody

    wszystkich niczyja

     

    maria nobody

    matko

    kochanko

    żono

    maria moja

     

    maria nobody

    wszystkich niczyja

    bogactwa niepomna

    jakie nas dotknęło.

     

    CHRYS CHRYSTELLO, trad. Anna Kalewska

     

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

     

     

     

    maria nobody

    de tous personne

     

    de quelqu’un

    d’un seul

    maria nobody

    body de jeunesse

     

    maria rien qu’à moi

    ainsi je te rêve

    ainsi je t’habite

     

    maria nobody

    de tous personne

     

    maria nobody

    mère

    maîtresse

    femme

    ma maria

     

    maria nobody

    de tous personne

    si seulement tu savais la richesse

    que l’on a

     

    FRANCES trad. Luciano Pereira)

     

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

     

     

    Marie nobody

    De tous et de personne

     

    De quelqu’un

    D’un seul

    Marie nobody

    Avec un body de jeune fille

     

    marie à moi seul

    C’est ainsi que je te vois en rêve

    C’est ainsi que j’habite en toi

     

    Marie nobody

    De tous et de personne

     

    Marie nobody

    Mère

    Maîtresse

    Femme

    Ma petite Marie

     

    Marie nobody

    De tous et de personne

    Tu ne saurais imaginer

    La richesse que nous avons

     

    Francês por MANUEL JOSÉ SILVA

     

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

    (maria nobody, der Mutter Maria, Pico, 9. August 2011)

     

     

    maria nobody

    von allen niemand

     

    von jemandem

    von nur einem

    maria nobody

    mit body einer jugendlichen

     

    maria nur meine

    assim ich träum dich

    assim ich leb dich

     

    maria nobody

    von allen niemand

     

    maria nobody

    mutter

    liebhaberin

    frau

    meine maria

     

    maria nobody

    von allen niemand

    weißt nicht einmal vom Reichtum

    den wir haben

     

    ALEMÃO ins Deutsche übertragenvon Rolf Kemmler.

     

     

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    de alguém

    de um só

     

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

    (maria nobody, mariei mame, pico, 9 august 2011)

     

    maria nobody

    a tuturor a nimănui

     

    a cuiva

    a unuia singur

     

    maria nobody

    cu body de tânără

     

    maria numai a mea

    șa te visez

    așa te locuiesc

     

    maria nobody

    a tuturor a nimănui

     

    maria nobody

    mamă

    amantă

    femeie

    maria mea

     

    maria nobody

    a tuturor a nimănui

    nici nu-ți imaginezi bogăția

    pe care o avem

     

    ROMENO SIMONA VERMEIRE

     

     

     

     

     

     

    (maria nobody, à maria mãe, pico, 9 agosto 2011)

    maria nobody

    de todos ninguém

    de alguém

    de um só

     

    maria nobody

    com body de jovem

     

    maria só minha

    assim te sonho

    assim te habito

     

    maria nobody

    de todos ninguém

     

    maria nobody

    mãe

    amante

    mulher

    minha maria

     

    maria nobody

    de todos ninguém

    nem sabes a riqueza

    que a gente tem

     

    CHRYS CHRYSTELLO in CQI VOLS 1-5, 2011

    (maria nobody, a maria madre, pico, 9 agosto 2011)

    maria nobody

    de todos nadie

    de alguie

    de uno solo

     

    maria nobody

    con body de joven

     

    maria solo mia

    así te sueño

    así te habito

     

    maria nobody

    de todos nadie

     

    maria nobody

    madre

    amante

    mujer

    maria mia

     

    maria nobody

    de todos nadie

    ni sabes la riqueza

    que la gente tiene.

     

    CASTELHANO CONCHA ROUSIA

  • Tertúlia 37 – Sábado 5 junho 2021 (18h00 AZOST) J José Andrade modera Chrys

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    Tertúlia 37 – Sábado 5 junho 2021 (18h00 AZOST) José Andrade modera Chrys

     

     

    Transmissão em https://www.facebook.com/lusofonias.aicl

    https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/

     

    todas as tertúlias anteriores,

    descarregar o vídeo em https://www.lusofonias.net/acorianidade/tert%C3%BAlias-saudade-dos-col%C3%B3quios-2.html

    se quiserem ver sem descarregar vão a LUSOFONIAS – TERTÚLIAS SAUDADE DOS COLÓQUIOS

    https://www.lusofonias.net/documentos/tert%C3%BAlias-saudade-dos-col%C3%B3quios.html

    no Facebook https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/live/ ou

    Audiências de cada sessão atualizadas em 1-5-2021
    1 Álamo Oliveira https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/913777022447355/3630
    2 Urbano Bettencourt, Chrys, Pedro Almeida Maia (Criatividade) https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/635885243732266/1109
    3 Helena Ançã, Luciano Pereira E Helena Chrystello (Educação) /https://www.facebook.com/709027249122704/videos/634964720788883967
    4. Teolinda Gersão, Onésimo T Almeida, Luís Filipe Borges https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/757295621484202/6139
    5. Maria João Ruivo https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/2724774111098743/691
    6. Sérgio Rezendes https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/1415760265280870/ 1178
    7. . José Luís Peixoto https://www.facebook.com/709027249122704/videos/1764308467071226566
    8. Joaquim Feliciano da Costa https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/849325455889894/403
    9. Richard Zimler https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/2732501230349325/674
    10. Luís Filipe Sarmento https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/1445657988958848/1607
    11. Sérgio Ávila https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/403949154326004/ 501
    12. Pedro P Câmara, Carolina Cordeiro e Diana Zimbron https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/381656222885298/2787
    13. Rui Faria, Ass. Emigrantes Dos Açores https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/496537901780219/1520
    14 Eduardo Bettencourt Pinto https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/750572025644373/636
    15 Manuela Marujo, Vera Duarte Pina, Hilarino Da Luz https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/673185173569248/

    Vamberto Freitas https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/3161772613922562

    1138

    5460

    17 Ana Paula Andrade, Aníbal Raposo, Eduíno de Jesus https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/719736351982197/ 2150
    18.Vilca Merízio, Sérgio Prosdócimo, Isabel Rei https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/310243923745297/ .1167
    19. João Pedro Porto, Aníbal Pires https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/443617727008943/2033
    20 (Galiza 1) Alexandre Banhos, Antº Gil Hernández, Maria Dovigo https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/403745814229515/2470
    21. J Carlos Teixeira e Manuela Marujo (Canadá), Sérgio Rezendes https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/326481121980177/1937
    22 Luís Gaivão, Raul Leal Gaião, Moisés de Lemos Martins https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/413672006400364/1082
    23 – João Paulo Constância, Perpétua Santos Silva, Rolf Kemmler, https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/1169121863503417/643
    24 – Lourdes Crispim, Luísa Timóteo e Rafael Fraga https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/7591354180518241894
    25.1. Assis Brasil, Chrys Chrystello, Lélia Nunes https://www.facebook.com/435810163244498/videos/427867671808784
    25.2. Susana Antunes, Diniz Borges, Conceição Andrade https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/4683297078330961331
    25.3. Onésimo T Almeida, João de Melo e Joel Neto https://www.facebook.com/435810163244498/videos/793757051491505
    26. Victor Rui Dores, Leonor Sampaio Da Silva, Alexandre Borges https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/8826962825205072543
    27.1. (Galiza2) Concha Rousia, Antia Cortiças Leira, Artur Novelhe – https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/363344254723364815
    27.2 Dia Internacional da Poesia 2021 https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/441781313704308 https://www.lusofonias.net/arquivos/443/tertulias/1406/tertulia-272-dia-da-poesia-2021.mp4 746
    28. Madalena San Bento, Barbara Juršic, Ivo Machado https://www.facebook.com/709027249122704/videos/274938547535373795

    29. Leonardo Sousa, Diogo Ourique, Paula Sousa Lima, https://www.facebook.com/709027249122704/videos/144264857604706

    1151

    33º colóquio em Belmonte parte1.Sexta 9 abr 2021 https://www.lusofonias.net/documentos/sons-e-poesia-col%C3%B3quios/2641-33%C2%BA-col%C3%B3quio-lusofonia-belmonte-2021-parte1.html https://youtu.be/wHDQyBFvCO82478
    33º colóquio em Belmonte parte2 sábº 10 abril. https://www.lusofonias.net/documentos/sons-e-poesia-col%C3%B3quios/2642-33-coloquio-belmonte-2021-parte-2.html https://youtu.be/kQXSHrgyXs82840
    30. Luís Cardoso, Ângelo Ferreira, Onésimo, Sérgio Rezendes, P P Câmara https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/129266205786197/2078
    31 Francisco Madruga, Ana Maria Franco https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/305798927592938/1454
    32- Carlos Bessa, Renata Correia Botelho, Manuel Jorge Lobão https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/7541924752895361042
    33- Helena Chrystello, Malvina Sousa, Onésimo T Almeida https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/7942994312016554584
    34 Jorge Cunha, José de Mello, Alda Batista https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/308502274079921686
    35 Rafael e César Carvalho, Carolina Constância https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/858296111423291937
    36 Luiz Fagundes Duarte Nuno Costa Santos Álamo Oliveira https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/videos/464572341299851/1332

    Cada convidado dispõe de 20’ havendo 20’ de debate

    SAUDADES DOS COLÓQUIOS, TERTÚLIAS INDIVIDUAIS / DE GRUPO “Criatividade Confinada” – “O autor pelo Próprio”

    37 – Sábado 5 junho 2021 (18h00 AZOST) Joel Neto, José Andrade modera Chrys

    10-12 junho 34º colóquio em Ponta TRANSMISSÃO direta de todas as sessões

    https://www.facebook.com/lusofonias.aicl https://www.facebook.com/lusofonias.aicl/live/

    https://www.youtube.com/c/ChrysChrystello

  • A GALIZA NA OBRA POÉTICA DE CHRYS CHRYSTELLO  CONCHA ROUSIA, Academia Galega da Língua Portuguesa

    A GALIZA NA OBRA POÉTICA DE CHRYS CHRYSTELLO CONCHA ROUSIA, Academia Galega da Língua Portuguesa

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    Tema 3.2. A GALIZA NA OBRA POÉTICA DE CHRYS CHRYSTELLO

    CONCHA ROUSIA, Academia Galega da Língua Portuguesa

     

    Partindo da análise da obra ‘Crónica do Quotidiano Inútil’ tratarei de entender a dimensão que a Galiza, tanto como ser vivo, terra que sofre, quanto como conceito lírico, tem na obra do poeta Chrys Chrystello. A primeira parte estará baseada na análise dos poemas incluídos na obra mencionada, que conformam o capítulo IV (Planeta Galiza) e que são os seguintes:

    – Partir (à Concha Rousia e a uma Galiza Lusófona)

    – Lendas da minha Galiza

    – Concha é nome de guerra

    – Elegia à AGLP

    – Geneviève, e

    – Galiza como Hiroshima mon amour.

    Para complementar a minha análise considerarei também informações obtidas diretamente de conversas mantidas com o poeta Chrys Chrystello.

     

    Introdução

    Três são os eixos essências que confluem nesta análise, como se fosse uma trindade, três dimensões, a poética, representada pela poesia de Chrys Chrystello, a humana, representada pelo poeta Chrys Chrystello, e a social, representada pela Galiza. Começarei descrevendo, mais do que definindo estes três conceitos. Mas como se define a poesia? Como o poeta? E como a Galiza? Tentarei aproximar com as minhas palavras, como se fossem fotografias conceituais, como se as palavras pintassem, uma ideia sobre quem é o poeta Chrys Chrystello, o que é a poesia e ainda o que é a Galiza.

     

    O Poeta

    Basear-me-ei nas informações que tenho sobre Chrys Chrystello, juntamente com o conhecimento pessoal que tenho do poeta. Antes de mais devo afirmar que o Chrys não apenas acredita em multiculturalismo, é um exemplo vivo de multiculturalismo, nascido numa família mista com alemão, galego, português, brasileiro, judeu…

    O seu multiculturalismo genético cultural vem tanto por parte materna como por parte paterna. Não tenho certeza em que momento da sua história o Chrys se fez consciente desse seu multiculturalismo. Essa será uma pergunta que guardo para fazer ao poeta no próximo encontro; pois fiquei curiosa por saber se o seu multiculturalismo teve algum efeito nas suas escolhas de forma consciente ou se esse multiculturalismo atuou desde as profundas raízes do inconsciente, e só foi depois que o poeta descobriu essa trança de tantos fios e tanta riqueza de ancestrais. Fica esta questão para ser respondida e incorporada a informação derivada para uma ampliação que irei fazer deste trabalho em posterior ocasião.

    Chrys foi levado em 1973 pelo Exército Português a prestar serviço em Timor; permaneceu lá por dois anos, em 1975 deixou Timor para ir-se para a Austrália e não demorou em perceber que queria ser australiano. Atrevo-me a dizer que o Chrys encontrou na Austrália a pátria capaz de acolher todas as suas pátrias, as descobertas e as por descobrir, as territoriais e as ideológicas e as poéticas. Pergunto-me se por aquela época o Chrys já tinha descoberto que a Galiza era mais uma de suas pátrias; embora consciente ou não desse facto, a Galiza ia nele como ser vivo, e com ele se movia pelo mundo, pois aonde o Chrys vai, a Galiza vai; isso é algo que desde já posso afirmar. Naquela altura o Chrys já era um estudioso das línguas e da política; sendo também já um autor publicado. Saliento aqui de sua obra poética o primeiro volume da Crónica do Quotidiano Inútil (1972). Publicou também um ensaio político sobre Timor. Mas a sua trajetória passou por muitos e diversos campos. Foi escolhido para um posto executivo como economista na CEM (Companhia de Eletricidade de Macau). Depois escolheu Sydney (e mais tarde Melbourne) para continuar sua vida como cidadão australiano até 1996.

    No 1967 entra no mundo do rádio jornalismo, onde lhe esperavam grandes aventuras, e também na televisão e na imprensa.

    Entre os anos 1976 e 1996 escreveu sobre o drama que se vivia em Timor Leste quando o mundo se negava a vê-lo. Sempre atento à voz que outros desde o poder escolhem não ouvir, mesmo quando essa voz era um grito, o Chrys não apenas ouvia, ele prestava a sua voz.

     

    Podemos dizer que o escritor Chrys Chrystello desde sempre se interessou pelas línguas; e desde os anos setenta teve que enfrentar os mais de 30 dialetos no Timor-Leste.

    Na Austrália aprendeu sobre as marcas de uma tribo aborígene que falava um crioulo do português. Foi membro fundador do AUSIT (the Australian Institute for Translators and Interpreters) e membro do painel da NAATI (National Accreditation Authority) desde o ano 1984, Chrys lecionou estudos de linguística e multiculturalismo. Tem ampla experiência na tradução e interpretação especialista em multitude de áreas desde artísticas até jurídicas ou médicas. Participou em conferências em muitos países nos diversos continentes. Autor de numerosas obras sobre os mais diversos temas, sempre com marcado multiculturalismo, tanto prático como teórico.

    A defesa do multiculturalismo é uma das grandes teimas deste autor, e é também uma das suas grandes riquezas.

    Com os Colóquios da Lusofonia, de que é Presidente, e se podia poeticamente mesmo dizer que é pai, tem levado as vozes que necessitam ser ouvidas aos lugares mais diversos desde onde se podem ouvir. Entre estas vozes sempre levou a voz da Galiza, conseguindo para ela o que em terra própria lhe era negado. Foi nos Colóquios da Lusofonia que se concebeu e se deu a conhecer o projeto da criação da Academia Galega da Língua Portuguesa; podemos dizer que portanto que ele é pai putativo desta novel academia.

    Poucos poetas como ele poderão dizer que tem escrito poemas a praticamente todos os cantos da Lusofonia com a intensidade de quem está a escrever sobre a sua própria terra. Dentro dessas terras às que este poeta canta, acha-se naturalmente, a Galiza.

    Na sua obra “Crónica do Quotidiano Inútil” com a que comemora 40 anos de vida literária, há um capítulo dedicado inteiramente à Galiza.

    Nesse capítulo intitulado ‘Planeta Galiza’ inclui os poemas que se integram neste estudo. (Chrys, página web)

     

    A Poesia

    Há pessoas que se dedicam a escrever a história para que fiquem documentados os fatos, os momentos, os acontecimentos que na vida veem, ou que sabem têm tido lugar. A poesia é diferente, a poesia é uma representação, uma fotografia feita com palavras do momento vivido, ou do que se tem alguma forma de conhecimento, de experiência, alguma forma de acesso. A poesia é como um momento congelado no tempo, integrada por componentes intelectuais e componentes emocionais para contar um acontecimento. De fato a epopeia é definida como o conjunto de acontecimentos históricos narrados em verso e que podem não representar os acontecimentos com fidelidade.

    Os acontecimentos que se narram na epopeia são de fatos com relevante conceito moral, que transcorreram durante guerras, ou que fazem referência a outros fenómenos históricos ou mesmo míticos. Em todo o caso desde o meu ponto de vista a verdade poética não se acha na história, mesmo quando trata de ser fiel aos acontecimentos e sim se acha na manifestação artística, se acha em tudo que fica expressado entre as linhas e não necessariamente recolhido nos conceitos que as palavras tratam de representar. O poder da poesia é portanto, o poder da máquina do tempo, faz viajar os fatos, como se os congelasse. Tomando como base uma definição oferecida pela Wikipédia podemos dizer que a poesia é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos, ou seja que ela retrata algo em que tudo pode acontecer da imaginação do autor e da imaginação do leitor. (Wikipédia 2)

    Mas o que é a poesia para Chrys Chrystello?

    Perguntado ele responde: “A poesia é uma fuga para a utopia, contra a injustiça e desigualdade, a voz que os jornais não permitem, um recurso para os momentos felizes, uma fuga quando o mundo exterior me oprime.” Tentarei ver como esta definição teórica se confirma na sua poesia. Mas antes vamos apresentar a poesia.

     

    Poemas no capítulo ‘Planeta Galiza’ (Chrystello, 2012)

    PARTIR (à Concha Rousia e a uma Galiza Lusófona)

    Partir!

    cortar amarras

    como se ficar fosse já um naufrágio

    ficar

    como quem parte nunca

    partir

    como quem fica nas asas do tempo

    ficar

    como se viver fosse uma morte adiada

    partir!

    cortar amarras

    cortas grilhetas

    vencer ameias

    velas ao vento

    olhar o mundo

    descobrir liberdades

    esta a mensagem

    levar o desespero ao limiar

    até erguer a voz

    sem medos

    até rasgar as pedras

    e o ventre úbere

    semear desencanto

    sorrir à grande utopia

    nascer

    – de novo –

    dar o salto

    transpor a fronteira

    entre o ter e o ser

    imaginar

    como só os loucos sabem

    e então chegaste

    com primaveras nos dedos

    e liberdade por nome

    loucas promessas insinuavas

    despontaste

    como quem acorda horizontes perdidos

    demos as mãos

    sabor de início do mundo

    pendão das palavras por dizer

    esta a revolução

    minha bandeira por desfraldar.

     

    LENDAS DA MINHA GALIZA

     

    Galiza és tão especial

    quando sorris

    por que não sorris sempre?

     

    Galiza és tão bela

    quando escarneces

    com gargalhadas cristalinas

    por que não ris sempre?

     

    Galiza és tão enamorada

    quando falas e cicias

    por que não tagarelas sempre?

     

    no monte das Ánimas

    na era dos Templários

    os cervos eram livres

    e os servos escravos

     

    do poço no meu eido

    transbordam palavras

    dele sorvo inspiração

    amores e mouras encantadas

    lá aprendi a história de Ith

    filho de Breogán

    indo à torre de Hércules

    seduzir Eirin a Verde

    este conto queda silente

    na memória dos velhos

    já não o aprendem os nenos

     

    li em livros vetustos

    o sumiço das Cassitérides

    eram cativos os Ártabros

    nas forjas de estanho

    não encontrei os mapas

    no meu poço seco e definhado

    nem um fio de água

    sem pardais nas árvores

    nem flores no jardim

    senti o coração trespassado

    as lágrimas minguaram

    jamais haveria fadas ou sereias

    cronópios e polinópios

     

    fui penar ao cimo do monte

    atopei umas meigas

    a dançar com o Dianho

    também vi o Chupacabras

    estandarte de Castela

     

    sem medo de travessuras de Trasgos

    nem Marimanta ou Dama de Castro

    sem temor da Santa Companha

    nem do Nubeiro vagueando

    entre tempestades e tormentas

    juntei ferraduras, alho e sal

    colares de conchas e tesouras abertas

    esconjurei meigas castelhanas

    que me salve o burro farinheiro

    ou o banho santo em Lanzada

     

    visitei Santo Andrés de Teixido

    duas vezes de morto

    que não visitei uma de vivo

    desci a Ribadavia

    ali nasce o Minho

    que ora passa caladinho

    para não despertar os meninos

     

    sigo caminhando

    busco a moura fiandeira

    um dia virá o eco

    e brotará água de meu poço

    escreverei os versos e serão mágicos

    afincado no chão

    erguerei a tua flâmula

    no poste mais alto e cantarei

    Galiza livre sempre.

     

     

     

    CONCHA É NOME DE GUERRA

     

    para ti não há música nem dança

    apenas as artes marciais

    guerrilheira de montes e vales

    urdidora de emboscadas

     

    sob a copa das amplas árvores

    brandes teu gládio de palavras suaves

    não usas as falas do inimigo

    vingas a dor de seres galega

     

    a montanha tu a herdaste sozinha

    prenhada de mar na ilha dos nossos

    o povo desaparecido da Rousia aldeia

    esse recanto insuspeito ao virar da raia

    esse recanto insuspeito ao virar da raia

    onde fui a férias em 2005 sem te saber

    eu que nasci galego do sul

    sendo galego de Celanova

     

    apartado de meus irmãos e irmãs

    vivi séculos de história ao desbarato

    distavam mares que nunca navegávamos

    montes que nunca escalámos

    estrelas que jamais enxergámos

     

    até um dia em que surgiste

    vestias azul e branco orlada a ouro

    estandarte do nosso reino

    ciciavas liberdades por atingir

    sonhos por realizar

    brandias a tua utopia

    numa mesma lusofonia.

     

     

     

     

    ELEGIA À AGLP

     

    viver numa ilha é prisão

    sair dela é impossível

    nem a velocidade da chita

    nem a força do elefante

    nem o mergulho do cachalote

     

    viver numa ilha é prisão

    inúteis os passaportes

    ou vistos consulares

    não basta saber nadar

     

    viver na Galiza é prisão

    sair é possível

    não expulsa carcereiros

    não abate as grades

    não liberta do cativeiro

     

    viver nesta ilha é prisão

    há sempre uma Concha dos Bosques

    ou um Ângelo Merlim

    um Joám Pequeno Evans Pim

    um frei Tuck Montero Santalha

    e seu bando de lusofalantes

    manejando o arco como António Gil

    a invencível besta da Lusofonia

     

    GENEVIEVE

     

    genevieve era nome de mulher

    em restaurante japonês

    no meio de chinatown

     

    sorrisos largos e astutos

    mansos como o rio minho

    olhos profundos amendoados

    como o canon do sil

    prometia ribeiras sacras

    seios amplos acolhedores

    como as rias baixas

     

    genoveva da galiza

    amazona em sidney

    um pai na argentina

    uma mãe em paris

    com saudades de arousa

    servia sushi com saké

    minhas loucas bebedeiras em galego.

     

    GALIZA COMO HIROSHIMA MON AMOUR

     

    acordaste

    e ouviste o teu hino

    estandarte desfraldado

    ao vento ao intrépido som

    das armas de breogán

    amor da terra verde,

    da viçosa terra nossa,

    à nobre Lusitânia

    estendes os braços amigos,

    despertas do teu sono

    agarras nos irmãos

    caminhas pelas estradas

    ergues bem alto a voz

    dizes a quem te ouve quem és

    orgulhosa, vetusta e altiva

    indomada criatura

    nenhum poder te subjugará

    indomada criatura

    nenhum poder te subjugará

    nenhum exército te conquistará

    nenhuma lei te aniquilará

     

    és a Galiza mon amour. (Chrys, 2012)

     

    A Galiza

    Todo país, toda terra, toda pátria é indefinível, ou dito de outra forma, toda a terra poderia ser definida de muitas formas, tal qual se fossem acontecimentos lendários; portanto eu vou colocar aqui uma carta em que a Galiza, através das minhas palavras, se apresenta ao Brasil. Esta é a imagem da Galiza que levo em mim, e acho é uma dialoga imagem perfeitamente com a Galiza que vive e viaja na alma deste poeta.

     

    Carta da Galiza ao Brasil

    Meu benquerido irmão:

    Antes de mais permite-me que me apresente, há tantas cousas erradas que te tem contado de mim, e eu quero, necessito mesmo, que tu me conheças como eu sou. O meu nome é Galiza, ocupo o noroeste da península Ibérica, sou geograficamente, culturalmente e linguisticamente irmã de Portugal, que fica ao meu Sul, do outro lado do rio Minho; uma pequenina parte de mim permaneceu sempre independente de qualquer estado até meados do século XIX, mas hoje sou um território totalmente dominado polo Estado Espanhol… Eu sou uma velha pátria que esqueceu já a sua idade; mas o que nunca vou esquecer, mesmo que ao mundo lhe custe perceber, é que em mim nasceu e se criou a nossa língua; esta que tu e eu falamos e que por vicissitudes da história se conhece internacionalmente apenas como ‘português’ mas que nós aqui também chamamos ‘galego’. Mas deixa-me continuar a te contar…

    Permite-me que te fale um bocadinho da minha longa história. Eu sou a velha terra chamada ‘Calaica’ Terra onde, como já te disse, nasceu e se criou esta nossa formosa língua; um dia eu fui grande… Naqueles tempos foram os meus filhos os que emigrados povoaram a Bretanha, o Centro dos Alpes, e as ilhas Britânicas, consolidando durante milénios a laborada cultura Atlântica. Vai ser muito difícil para mim em poucas palavras resumir-te tantos azares, tantas batalhas, tantas façanhas e também tanta dor e tanto sangue derramado.

    Muitos foram os povos que quiseram governar-me, pola cobiça do Ouro, pola riqueza mineira que guardava a minha entranha; chegaram legados de Roma ávidos de conquista e saque, para abrir seu domínio, atravessando do Douro as margens, mas antes tiveram que ceifar 50.000 almas indomáveis, que a peito nu combatiam, porque cobrir o peito era para eles ação de cobardes. Do Latim trazido com as suas outras falas, misturou-se através dos séculos nossa céltica linguagem, para que abrolhasse na Idade Media a língua que agora, meu irmão em espírito, embeleces arrolando-a, com o amor e a exuberância das florestas incontornáveis. Essa língua nascida para amar e ser cantada criou uma das maiores culturas da Europa Medieval, polo caminho de Sant’Iago difundida e admirada. Mas tarde, nas lutas dos reinos Ibéricos polo controlo da Hispânia, fui vencida e humilhada polos reis Católicos de Castela e seus ferozes aliados, para pronto, sem dar-me fôlego, à escuridão ser condenada. Atrás ficara o 1º Reino da Europa a liberar-se do Império romano, no século V, polo embate dos aguerridos suevos. Atrás ficaram as lutas entre Afonso Henriques, 1 º rei português, meu filho do Porto Calem, e seu primo Afonso VII, imperador de toda a Gallaecia.

    Minhas glórias foram vendidas pola arrogância e a astúcia dos homens, pola traição dos insensatos; meu nome da história foi apagado. Mas o espírito só adormeceu, e centos de anos mais tarde, as vozes de Rosalía, Pondal, Curros Enriquez e muitos outros, alguns mártires em Carral, ergueram de novo esta chama que agora te entrego irmão na confiança, sabendo que farás bom uso dela, e elevarás no continente americano, como na África e Oceânia, onde outros irmãos nos aclamam, a voz lírica deste novo mundo, lusofonia chamado, para que nunca mais a vida nascida das minhas entranhas seja por outros desprezada.

    Eis a minha história, irmão Brasil, ainda hoje continuam meus filhos, contra a ignorância lutando, pola dignidade deste recanto que foi berço da cultura que hoje tu com orgulho ao mundo amostras sem arrogância. Continuarão ainda cá tempos difíceis que pronto iremos superando com ajuda dos nossos irmãos que conhecem a nossa palavra, porque a palavra hoje é carne e mora vestida de raças, para os povos unir na nobreza da que foi criada.

    Como vês, querido irmão, a minha luta tem sido longa e sem tréguas, tenho de admitir que vou velha e por vezes me sinto cansada… Acho alívio em saber que tu herdaste a minha fala e que em ti nunca se apagará a minha chama; não é que eu recuse a luta, mas tenho que ser realista… O destino da nossa língua, língua em que eternamente viajará a minha alma, aqui na pátria mãe, ainda é incerto.

    Há algum tempo um grupo de intelectuais e artistas, professores, escritores, e defensores da nossa cultura, criaram a Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP). A ajuda da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras foi notável e imprescindível. A AGLP, a que sinto como a minha filha mais nova, tentará abrir os caminhos que rompam o cerco que nos sitia e nos abafa; do seu êxito depende em grande medida o meu futuro, é por isso que te peço a acolhas com agarimo e a ajudes no que puderes em nome da nossa eterna irmandade.

    A nossa língua atravessa uma das suas piores etapas de todos os tempos na terra berço, a terra mãe que com tanto amor a viu nascer, e a seus filhos e filhas de todo o mundo envia hoje a sua voz… Voz que vai na procura de ajuda que tanto necessito, ajuda que restaure a minha dignidade, peço não continuar a ser ignorada. Por isso te falo, querido irmão, por isso te falo…

    Recebe de mim a palavra que mais estimes, meu amado irmão Brasil

    Assinado: A Galiza (Rousia, Blog República da Rousia)

     

    Mas o que é a Galiza para Chrys Chrystello?

    Perguntado o poeta responde:

    “A Galiza é uma referência matricial inculcada pelo pai e avó paterna como a origem ancestral no ano de 942. Cellanova foi o ponto de partida onde um homem e uma mulher se juntaram para criar os Barbosa dos quais descendo, assim como dos Meira também galegos.”

    Como podemos ver o Chrys, poeta voador, é muito consciente de suas raízes, o que lhe permite voar com a força e sem medos, pois só quem sabe que sua raiz é de profundidade eterna se atreve a voar tão longe, tão alto, tão generoso em sua trajetória, tanto quanto possível

     

    Como foi que descobriste que a Galiza era um ser vivo que também necessitava se alimentar de ti?

    “A Galiza precisa da voz dos que a amam e sofrem com a opressão de estarem sob jugo estrangeiro há 500 anos ++++” Breve conciso e contundente Chrys.

    Achas que é possível uma Galiza fora da Lusofonia?

    A Galiza só existe se for lusófona, se fosse castelhanizada não seria Galiza…

    E como ficaria a Lusofonia se a Galiza se perder de sua língua definitivamente?

    A Lusofonia ficaria órfã da sua mãe, que lhe deu origem e razão de ser e nisto de bater na mãe já bastou o Dom Afonso Henriques primeiro rei de Portugal…

     

    Como vês o futuro da Galiza, da Lusofonia e do Mundo?

    Promissor desde que as novas gerações entendam o peso da Lusofonia e a arma que a língua pode ser contra a dominação e o jugo estrangeiro opressor.

    Como achas a poesia pode ajudar?

    A poesia é uma arma carregada de sonhos e o sonho comanda a vida como disse António Gedeão.

     

    Por favor conta tudo que te falte por contar relativamente à importância da Galiza na tua vida, tanto pessoal como poética…

    Na juventude / adolescência a Galiza era uma extensão do país para norte e não um acréscimo do país ao lado que era a Espanha… …são galegos os do Minho a Trás-os-Montes com um sotaque diferente mas a mesma alma…

     

    Análise dos poemas

    Os textos formam um conjunto que definem o planeta que o poeta chama ‘Planeta Galiza’ e dão conta da realidade atual da Galiza, dão também as pinceladas suficientes para termos uma breve história contada de forma épica. A Galiza está em grande dívida com o poeta, pois ele a reconhece ilha, tal qual ela é, mas já a sonha planeta, livre como ela flui nos seus versos, linda e indomesticável; uma pessoa sente desejos de se ficar a viver neste planeta. Vamos agora olhar mais de perto e detalhadamente os poemas.

    Os poemas do Chrys são a vivificação do seu mundo conceitual, eles são mostras vivas do que ele acha a poesia é, e que eu resumi baseando-me nas palavras dele como: ‘uma fuga para a utopia quando o mundo exterior me oprime.’ (Comunicação pessoal)

    O poema ‘Partir’, primeiro desta série, primeiro do planeta Galiza, parece a Galiza mesma falando de sua urgência por mudar a situação que vive. Neste poema a Galiza parte, corta amarras, porque ficar é já um naufrágio, é um naufrágio desde há demasiado tempo, demasiados séculos. A Galiza parte para ficar nas asas do tempo, para viver, se eternizar… E como se viver como realmente vive fosse adiar só um bocado a morte; a poesia do Chrys corta grilhetas, vence ameias, iça velas ao vento… Vai sorrir à grande utopia: nascer! A Galiza indo, partindo do lugar onde se abafa: a Galiza nasce! Renasce! – de novo – Eu não sei se o poeta foi consciente disto tudo que ele colocou neste poema, e talvez se poderia adaptar a outras realidades, a outras terras, certamente poderia, mas este poema cai como uma luva para o espírito da Galiza.

    O poema ‘Lendas da minha Galiza’ é um canto de amor, épico, no que o poeta salienta aqueles aspetos da Galiza que ele quer ver crescer, como se os semeasse, para ver a Galiza florir, eis a utopia! Quer o poeta que a Galiza seja feliz, se expresse, se conte tal e qual ela é, tal e qual ela foi sonhada desde o começo dos tempos, o poeta clama por uma Galiza que conserve toda a sua história, seu celtismo tão negado pelos historiadores com outros interesses do que a realidade histórica da Galiza. Dá vida a Ith, filho de Breogán, e reclama um povo para vir herdar esta riqueza secular, por não ver isto acontecendo o poeta canta:

     

    senti o coração trespassado

    as lágrimas minguaram

    jamais haveria fadas ou sereias

    cronópios e polinópios

     

    Mas nem toda a dor deste mundo detém o poema ai, nem a Santa Companha detém o poeta que anuncia seu propósito de visitar o Santo André de Teixido, o que, de novo, o rende galego, pois só os galegos têm que fazer esse caminho peregrino quer de mortos, quer de vivos:

     

    visitei Santo Andrés de Teixido

    duas vezes de morto

    que não visitei uma de vivo

     

    Desce pelo Minho, desde o nascimento, permitindo que o curso vivo da água flua em seu poema, vai na procura da moura, vai na procura do eco que outorgue a seus versos o poder de libertar esta terra que tanto ama.

    escreverei os versos e serão mágicos

    afincado no chão

    erguerei a tua flâmula

    no poste mais alto e cantarei

    Galiza livre sempre.

     

    O poema ‘Concha é nome de guerra’, o que eu pessoalmente agradeço muito, muito mais do que me caberia dizer aqui, mostra como é dura a escolha de resistir, com seus versos ele tece uma capa para a galega que resiste sem renunciar a nada do que é, sem perder nada da sua essência Nesse poema também se reinvindica a si mesmo quando diz:

     

    eu que nasci galego do sul

    sendo galego de Celanova,

    apartado de meus irmãos e irmãs,

    vivi séculos de história ao desbarato

     

    E coloca o rumo face a lusofonia, uma utopia para a que vale a pena escrever e lutar com a palavra.

    No seu poema ‘Elegia à AGLP’, no que verso após verso faz sentir ao leitor como é viver numa ilha, numa ilha que é prisão, viver como se vive agora na Galiza é prisão, e sair mesmo que parece difícil é possível com a tripulação da AGLP a que o poeta coloca dentro da sua elegia. De novo a utopia se faz possível, o poema começa com um reconhecimento da realidade, dura, difícil, situação de isolamento, mas que ele no poema já semeia com força a profecia, o desejo de a ver avançando.

    O último poema deste capítulo intitula-se ‘Galiza como Hiroshima mon amour’, com a força de um hino os versos vão narrando as bondades, as belezas, as grandezas da Galiza que devem ser preservadas, defendidas, amadas, protegidas e encaminhadas à nobre Lusitânia com a força de quem desperta de um longo sono para ir com os irmãos, erguendo a voz. A voz do poema vai crescendo para no final, nesse último verso poeta, poesia e Galiza se deixem sentir como uma só voz.

     

    indomada criatura

    nenhum poder te subjugará

    nenhum exército te conquistará

    nenhuma lei te aniquilará

     

    és a Galiza mon amour.

     

    Referências Bibliográficas

    Chrystello, C. (2012) Crónica do Quotidiano Inútil. Vila Nova de Gaia. Calendário Editora.

    Chrystello, C. (Página web) http: / / oz2.com.sapo.pt

    Rousia, C. (Blog Républica da Rousia) http: / / republicadarousia.blogspot.com.es

    Wikipédia http: / / pt.wikipedia.org / wiki / Poesia

     

  • macau

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    URBANIDADES


    SHINGEN • A VISÃO COMPASSIVA

    Posted: 31 May 2021 02:03 AM PDT

    Para muito poucos no ocidente, e mesmo no oriente, se torna possível entender o conceito de shingen. A palavra é composta de dois caracteres chineses que em japonês se designam por kanji. Shin, aqui representado pelo carácter da esquerda que significa também kôkoro, (coração) conota-se aqui com o conceito de espírito, enquanto o segundo carácter, gen, significa olho, olhar.

    Assim, desse coração associado ao olho, temos uma primeira transcrição que é visão compassiva. Porém é preciso estarmos cientes de que essa visão anuncia a clarividência que só pode ser atingida com a visão despida de paixões.
    A paixão é a emoção descontrolada.
    A visão compassiva ou clarividente já ultrapassou esse descontrolo. Vê-se com a mente e o espírito, porquanto se já sabe que a visão ocular é do mero domínio da óptica.

    Os nipónicos categorizavam o olhar e a visão de forma diferente. vejamos como:

    Nikugen • a visão nua

    Esta não é mais do que a imagem simples recebida pela retina, destituída de qualquer processo mental ou emocional. é, assim, o mais baixo dos cinco níveis de visão e possui três limitações.
    Primeiro, nikugen é completamente superficial. A pessoa que possui apenas nikugen não vê mais além do que a existência dos objectos no seu campo de visão. A visão nua não comporta nenhuma compreensão mais aprofundada desses objectos tal como vieram parar aonde estão, como podem interagir, ou como podem afectar o observador ou outros.
    Seguidamente, nikugen está limitada ao ponto de vista do observador. Só “vê” o lado dos objectos que estão virados na sua direcção, e é uma visão quase apenas bi-dimensional.
    Finalmente, a visão nua é facilmente obstruída. A simples colocação de um objecto diante dos olhos do observador termina-lhe o olhar.
    Estas características aplicam-se não apenas à visão física. Alguém que queira ver um problema usando nikugen apenas vê os seus aspectos mais superficiais.
    Por exemplo, sem dinheiro, constata que se encontra sem nada. Se quer um pão, verá uma impossibilidade total na compra de alimento.
    Esta visão bi-dimensional cega o seu portador perante outras possibilidades, como trocar trabalho por comida ou vender algo que possui para obter dinheiro para comer.

    Tengen • a perspectiva neutral

    O estádio seguinte do desenvolvimento da visão é tengen, literalmente visão celeste, não no sentido angelical ou transcendente do termo, mas antes do ponto de vista do observador.
    Com tengen, o observador já não está preso pelo seu próprio ponto de vista, antes tem uma perspectiva neutra por via da qual vê os objectos ou o problema como se olhando para eles de uma grande altura. literalmente, a visão tengen permite “ver a floresta pelas árvores”.
    Assim, com uma menos auto-centrada perspectiva, a visão do observador não é tão susceptível às distorções das suas ideias pré-concebidas, reacções emocionais, ou condições de vida.
    Recorrendo a exemplos prévios, alguém com esta perspectiva neutra já é capaz de perceber as faces escondidas dos objectos. aplicando conhecimento e experiência, a sua mente já permite uma visão mais alargada. isto é, alguém usando de uma perspectiva neutra, em vez de estreitamente perceber a falta de dinheiro para um pão, verá a situação como uma necessidade de comida, observação que já oferece outras opções para uma solução.
    porém, ainda que com esta perspectiva de cima, as emoções do observador, preconceitos e circunstâncias da vida interferem com a verdadeira compreensão da sua visão que ainda está limitada àquilo que os olhos vêem.

    Egen • o olhar interpretativo

    Literalmente significa olhar pensante, está a um nível mais elevado, no qual a imagem recebida pelo cérebro é melhorada por uma compreensão das implicações das coisas ou situações observadas.
    Importa contudo não confundir egen com pensamento analítico. O olhar interpretativo não é sobre o pensar no que se vê. É antes um processo automático e subconsciente no qual o olhar e a mente operam conjuntamente uma interpretação das imagens recebidas pelo cérebro, produzindo assim uma visão mais profunda do que o mero olhar físico.
    Um exemplo talvez experimentado por muitos: alguém observando dois carros aproximando-se de um cruzamento ao mesmo tempo, por duas ruas que se não vêem uma à outra, vislumbra um acidente prestes a acontecer. A maior parte das pessoas não precisará de parar para perceber isto. Pela experiência, sabendo que nenhum dos condutores vê o outro, sabemos automática e subconscientemente que irão colidir.
    Se olhassemos com nikugen ou tengen veríamos apenas dois carros movendo-se, independentemente um do outro, sem estabelecer uma relação causal.
    Infelizmente, enquanto a maioria dos adultos possui o olhar interpretativo no que respeita aos aspectos físicos, falta-nos egen a outro nível.
    Com verdadeiro egen reconheceríamos quando um choque de personalidades ou vontades estaria da iminência de ocorrer. Veríamos um acontecimento não apenas na sua forma física, mas no contexto das forças em movimento e os efeitos que mais tarde resultariam como consequência imediata ou remota.
    Assim, o maior benefício de egen é que agora o observador percebe natural e subconscientemente a relação de causa-efeito das coisas que observa ou testemunha.
    Contudo egen ainda tem insuficiências.

    Shingen-hōgen • o olhar compassivo

    Apesar de todos os benefícios, egen ainda está incompleto. embora o observador receba a visuão completa e desobstruída das situações, suas causas e efeitos – mesmo as razões e motivos subjacentes às acções – esta visão é distanciada e desapaixonada.
    o nível de visão seguinte, shingen, confere o mais vital ingrediente de todos: a compaixão, a faísca que motiva o guerreiro da luz a tomar agir correctamente numa situação. Ele vê um acontecimento não apenas da sua perspectiva, ou como o afectará a ele, mas como o evento afectará as vidas de todos os envolvidos. Mais ainda, ele vê com compreensão e compaixão por todos os envolvidos, de modo que a sua acção não será a que mais conveniente lhe seja, mas sim aquela que melhor será para a sociedade no seu todo, independentemente da escala do conceito.
    O guerreiro de luz não olha os sentimentos, acções, ou desejos dos outros como certos ou errados. Assim o seu juízo não será toldado pela necessidade de provar-se que está certo. Também não tem de ultrapassar a natural hesitação de outra pessoa admitir que está certa ou errada. O que o interessa e motiva é o que é mais valioso. Assim, num desentendimento, o guerreiro da luz observa as visões dos outros como alternativas, usando shingen para analisar qual das alternativas pode ter maior valia para o colectivo. Com esta abordagem torna-se também mais fácil persuadir os outros a aceitar a melhor escolha também.
    A avaliação do guerreiro da luz está em sintonia com as imutáveis leis da natureza. Ele entende os princípios de causa e efeito, e que mesmo acções “erradas” são motivadas pelas forças de causa e efeito.
    Por este motivo, shingen é muitas vezes referido como hōgen, cuja tradução literal é a da visão legal, mas não se refere às leis da humanidade. Poder-se-á talvez entender melhor utilizando o termo perspectiva universal, no sentido de que, tendo igual compaixão por todas as pessoas operando sob uma ordem natural, imutável, mas sob a qual o guerreiro da luz pode escolher intervir. É desta neutralidade inserida na ordem universal da natureza que o guerreiro da luz procura observar e agir da maneira mais benéfica.
    Os antigos samurai eram treinados para uma percepção mais aguda e global das situações. Ver com o coração era o estádio máximo de desenvolvimento da visão da mente-espírito.
    Hoje, o guerreiro da luz ou da paz global recupera essa visão para princípios mais nobres que a guerra. Assim, aquele que vê segundo shingen-hōgen percorreu um caminho desde o primitivo nikugen, passando por tengen e egen. Ganhou maior visão interior, maior compaixão, tornou-se mais natural por se integrar nas leis do universo.
    Vejamos um exemplo do quotidiano:
    • um execuivo com nikugen está atrasado para uma importante reunião de negócios, e quando se põe a caminho vê-se obrigado a conduzir velozmente no meio do trânsito congestionado, zizagueando the faixa em faixa, tentando ganhar alguns precisos minutos.
    • um outro executivo possuídor de tengen perceberá que corre riscos de ser multado, poderá reduzir um pouco a velocidade, mas continua a querer ganhar tempo para chegar atempadamente à reunião.
    • outro executivo possuidor de egen não deixará que o seu desejo de dar uma boa imagem de si na reunião tolde a sua visão. ele percebe que conduzir desvairadamente perigará a sua e a vida de outros, que têm o mesmo direito à segurança que ele.
    • por fim, o executivo possuídor de shingen, com a ajuda de hōgen já se encontra no local da reunião, aguardando a chegado dos outros. ele previu que haveria hora de ponta, engarrafamentos, pelo que acordou mais cedo, pôs-se a caminho de antes do congestionamento do trânsito e assim chegaria antecipadamente, ganhando um psicológico ascendente sobre os outros.(1)

    (1) No Japão toda a vida é organizada de uma forma rigorosa e até ritualística, razão porque chegar antes dos outros a uma reunião coloca essa pessoa numa posição mais privilegiada e de ascendência temporária.

     

     

  • Se já está a sonhar com as férias, que tal Açores? | GQportugal.pt

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    Se o arquipélago ainda não está na sua lista de destinos de sonho, acreditamos que no final deste artigo estará a pensar de forma diferente. O desafio vai ser chegar ao fim sem abrir um separador para marcar a viagem.

    Source: Se já está a sonhar com as férias, que tal Açores? | GQportugal.pt