Razão primeira: não temos um ministro da educação que conheça o país real, a realidade das escolas;
Não temos um ministro da educação que tenha pensamento próprio, uma estratégia para os jovens, para o 1 ciclo, para os universitários e que, desde logo, reconheça que para mudarmos o caos no ensino é essencial falarmos verdade: falar da falta de competência científica, de leitura, de cultura da maioria dos professores (há que dizê-lo com frontalidade porque se trata do primeiro passo para se curar um mal profundo), da pobreza factual da maioria dos portugueses,
do meio socio-cultural corrompido por séculos de exploração, alienação, corrupção de valores como o trabalho, a dignidade;
A) que não há serviço público de televisão com programas de incentivo à leitura, sendo a TV ainda a grande educadora deste país de desempregados, de cafés de bairro, de famílias reunidas à volta dos ecrãs;
B) que o que se patrocina na cultura é sobretudo show, isto é, o que é imediato, banal, sem complexidade;
C) que os programas e scares nos últimos 25 anos secundarizaram as arte e a literatura, a história e a filosofia é que, portanto, as gerações mais novas foram deformadas, educadas no mais abjecto dos facilitismos – não há reprovações, todos são competentes na leitura, na escrita, nas contas, no desenho… ;
D) que o paradigma tecno-cientifico está inflacionado e não há um equilíbrio de importância real e simbólica entre ciências e letras;
E) que a ideologia dos exames nacionais conduziu apenas à competitividade entre escolas e alunos, com a subsequente deturpação de resultados;
F) que sem formação de professores nas áreas de História, História das artes, literatura, Música, e áreas afins, não estamos a defender nem a democracia, nem a liberdade, mas sim a lançar as sementes dum futuro feito por gente bocal, desqualificada, meros técnicos que julgam que o saber está à distância dum clique, jamais no acto de ler, reflectir, questionar;
G) que a leitura só pode nascer no coração das crianças e adolescentes quando o ensino do português não se reduz à obsessiva e equívoca didáctica gramatical, que leva a que os professores de português considerem que saber a língua depende do número de fichas e de exercícios sobre sintaxe e morfologia desde a mais tenra idade;
H) que se aposta mais em computadores mas escolas, do que em livros;
I) que o mercado livreiro vende, na sua maioria, lixo que passa por livro;
J) que este é um país pobre, com a maior carga de impostos da Europa, e que entre o livro, o cinema, a boa música, a consciência cívica, o português quer o lidl, a telenovela, o o hip-hop tuga (chamem-me elitista), a boçalidade de pertencer a um clã (juventude partidária ou clube de futebol, igreja ou seita)