Mês: Abril 2021

  • moçambique, cabo delgado e a história esquecida

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    Nada como ler aquele que é certamente o maior conhecedor da complexa teia cultural do norte de Moçambique para compreender como ali a estruturação social de hoje é ainda amplamente dominada pela herança dos caçadores de escravos islamizados.
    “Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a mercadoria humana suplantou o comércio do marfim. No tráfico estiveram envolvidos todos os chefes suaíli do norte de Moçambique, assim como dos centros muçulmanos de além Rovuma: Quíloa, Pemba, Zanzibar, e também das Ilhas Comores e dos centros islâmicos do noroeste de Madagáscar e ilhas adjacentes. Todos estes entrepostos islâmicos se relacionavam numa estruturação mercantil em rede. (…) O sultanato de Angoche conheceu nessa época uma estrutura e organização política poderosas, tendo chegado a dominar todas as ilhas koti e uma vasta área continental, avassalando por períodos os xecados de Sangage, Quinga, Larde, Moma, Naburi, Moebase e Pebane. Os negreiros de todos estes centros islâmicos mantinham relações com Kilwa, Zanzibar, Comores e Madagáscar, manifestando-se pouco receptivos aos contactos com os portugueses, embora negociando com negreiros lusos, brasileiros, franceses, etc”.
    “Em Agosto de 1976 dei-me conta destas estratificações em Angoche e nas Cabaceiras. Na Cabaceira, verifiquei que havia gente que se afastava do caminho quando por ele seguiam pessoas de status diferente. Em todos os idiomas do norte de Moçambique,
    quer do litoral como do interior, há termos específicos para designar os «cativos» da linhagem (…)”.
    Eduardo Medeiros – «O Islão e a construção do espaço social e cultural macua» – In Representações de África e dos Africanos na história e cultura”. Ponta Delgada: Universidade dos Açores, 2009.
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  • DAMIÃO DE GOES VÍTIMA DA INQUISIÇÃO

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    DAMIÃO DE GÓIS MORTO ÀS MÃOS DA INQUISIÇÃO
    Durou quase três séculos a Inquisição em Portugal, de 1536 a 1821.
    Durante esse período negro da nossa história, em que reinou a barbárie e o medo, cerca de cinquenta mil processos foram movidos contra pessoas. Mais de duas mil foram queimadas vivas: judeus, muçulmanos, ateus, protestantes, homossexuais, bígamos e tantos outros, indiciados por crimes considerados heréticos, desde a feitiçaria à blasfémia.
    A simples denúncia, o mais banal boato, a mera desconfiança ou a vontade de destruir alguém, condenavam à prisão, ao confisco dos bens, à tortura ou às chamas da morte quem atentasse contra as regras da Igreja.
    A 4 de abril de 1571, a Inquisição mandou prender Damião de Góis (1502 – 1574), na cadeia do Limoeiro, em Lisboa, por alegados crimes cometidos quatro décadas antes, baseando-se numa denúncia do fundador dos jesuítas, o padre Simão Rodrigues, que passara com ele uma temporada em Pádua, em meados da década de 1530.
    À data, o humanista, com 69 anos de idade, era guarda-mor da Torre do Tombo, historiador do reino, com vários trabalhos publicados. Um homem público, de reconhecido valor.
    Os inquisidores do Santo Ofício interrogaram-no acerca de uma viagem realizada há quarenta anos atrás, em 1531 (ainda antes de haver Inquisição), como embaixador, ao serviço do rei D. João III, a vários destinos europeus, e do seu convívio com protestantes – isto, numa altura em que a contra-reforma ainda nem sequer se tinha verdadeiramente iniciado.
    Dez dias depois, a 14 de abril, Damião de Góis foi transferido para a prisão dos Estaus, no topo norte da praça do Rossio – onde hoje se encontra o Teatro Nacional D. Maria II.
    O intelectual Renascentista, dotado de um dos espíritos mais abertos e críticos da sua época, que ocupara cargos importantes no reino, tendo sido, por exemplo, cronista de D. Manuel I, agora sem proteção real, viúvo e velho, era acusado de dar-se com hereges, de ter comido carne em alguns dias proibidos pela igreja (ainda que possuísse uma dispensa papal, que por motivos de saúde lhe permitia comer carne, ovos, leite e seus derivados), de ter dito que os alemães faziam coisas melhor do que os portugueses (nomeadamente, «tratar dos pobres»), de receber em sua casa estrangeiros e de com estes «cantarem coisas» que «não eram cantigas que cá costumam cantar-se», de ser «pouco misseiro».
    Damião de Góis alegou em sua defesa que se manteve sempre «um bom católico» – sem, porém, convencer os inquisidores que lhe fizeram acusações no plano teológico, comportamental e cultural.
    Acabou condenado a prisão perpétua, sem auto-de-fé e sem abjuração pública, classificado como «hereje, luterano, pertinaz e negativo» e com confisco de todos os seus bens. No silêncio e incomunicabilidade do cárcere ainda haveria de rogar (todavia, em vão): «peço-lhes que me mandem emprestar um livro em latim para ler, qual lhes parecer, porque estou apodrecendo de ociosidade e com o ler se me passam muitos pensamentos».
    No final de 1572, foi transferido para o Mosteiro da Batalha e, passado um ano, em dezembro de 1573, já muito doente, foi libertado, tendo-lhe sido permitido regressar à sua casa em Alenquer (sua terra natal) onde acabaria por morrer, só e abandonado, na mais completa miséria, a 30 de janeiro de 1574.
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    • Vamos pôr os pontos nos “ii”. Portugal não tinha cá a Inquisição, quem a mandou vir – sim, foi requerida – foram os diabólicos reis Dom Manuel I e Dom João III, que tudo fizeram para que a “santa sé” nos “honrasse” com tal “privilégio”. A “santa inquisição”, uma vez cá, matou, torturou, estripou, perseguiu, esbulhou, roubou, degredou milhares de pessoas… tudo para honra e glória de um deus inventado por eles e à imagem da sua mente torpe e assassina!
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  • AINDA MAIS ARQUITETOS NOVAS OPORTUNIDADES, A NOVA TORRE D EPISA

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    Tá meio fora do prumo,
    mas o pedreiro disse
    que a diferença sai no reboco.
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  • A maior pirâmide do mundo está escondida dentro de uma colina – ZAP

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    Quando pensamos em pirâmides, vêm-nos à mente as de Gizé. No entanto, a maior do mundo está escondida dentro de uma colina no México.

    Source: A maior pirâmide do mundo está escondida dentro de uma colina – ZAP

  • mais arquitetos das NOVAS OPORTUNIDADES

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    Desafiando a física, a Matemática,
    a Gravidade, a Engenharia, o Espaço,
    o Tempo, a NASA, Einstein e o Espírito Santo.
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  • danos na nova estrada do Subão, (Manatuto, Timor)

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    KONDISAUN ESTRADA IHA PARTE SUBAUN NORMÁL
    MANATUTO, 05 ABRIL 2021: Kondisaun eatrada parte Leste liuliu área Subaun boot no Subaun kiik munisípiu Manatuto kondisaun normál.
    Iha área balun mak estrada monu maibé kompañia kontratór ba konstrusaun estrada nasionál Hera-Manatuto normaliza kedas tanba ne’e parte Subaun la’o normál.
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  • Regressam os Colóquios da Lusofonia em 2021.

    Regressam os Colóquios da Lusofonia em 2021.

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    NOTA DE IMPRENSA 1-2021/Press Release

    05/04/2021

    Regressam os Colóquios da Lusofonia em 2021.

     

    Dias 9 e 10 abril (via zoom e Facebook live) teremos o 33º colóquio de Belmonte adiado desde a Páscoa passada, todos os detalhes em https://coloquios.lusofonias.net/XXXIII/

    Teremos como convidados especiais LUÍS FILIPE SARMENTO E ISABEL REI, com uma sessão de teatro de Santa Catarina, Brasil, (“Confina-mente”), duas sessões de poesia, e a presença dos autores açorianos PEDRO ALMEIDA MAIA, PEDRO PAULO CÂMARA, CAROLINA CORDEIRO e música da Galiza com a guitarra de Isabel Rei e música da Joana de Carvalho.

    As sessões terão lugar dias 9 e 10 de abril pelas 14.30 hora de Lisboa, DETALHES E HORÁRIO AQUI https://blog.lusofonias.net/wp-content/uploads/2021/04/Press-Release2-2021.pdf

  • arquitetos novas oportunidades

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    Mais um trabalho bem concluído
    graças a Deus
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  • Dialeto português de Malaca ‘migra’ da sala de dança e música para a internet – Atualidade – SAPO

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    A pandemia obrigou uma luso-malaia a cancelar as aulas de dança e música no crioulo de matriz portuguesa de Malaca, mas a vontade de não parar levou-a a criar aulas e páginas online para esta língua não ser esquecida.

    Source: Dialeto português de Malaca ‘migra’ da sala de dança e música para a internet – Atualidade – SAPO

  • 722. as inundações em díli (ao luís takas cardoso)

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    1. as inundações em díli (ao luís takas cardoso)

     

    segunda feira de pascoela

    tiraram as pulseiras eletrónicas

    estamos em liberdade condicional até nova ordem

    quero sair à rua conversar com os peixes falantes

    das últimas chuvas em timor

    nas ruas e estradas que já não há

    nas palapas que a correnteza levou

    país de ricos cheio de pobres

    estradas que vão reconstruir

    e os desprovidos a viver ao relento

    desta vez a culpa não é do malai

    como em 1973 quando houve inundações

     

    queria ver o governo a distribuir riqueza

    do petróleo e do gás para todos

    para terem casas, água, luz, saneamento

    para não construírem nas encostas despidas

    nas margens das ribeiras que se fazem rios

    na costa de marés cheias devastadoras

     

    escrevi em 1972 que era preciso um poeta

    para ministro das finanças

    tu meu caro luís takas Cardoso

    és o meu indicado

    para dar alforria aos pobres

    iluminar as palapas

    educar os analfabetos

    matar a fome nas montanhas

    criar o país que tantos sonhamos

     

    chrys c (inédito)