Mês: Abril 2021

  • A FALTA DE O2 NO HDES

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    ‘Vemos com extrema preocupação o aumento de casos’
    Cristina Fraga Presidente do Conselho de Administração do Hospital do Divino Espírito Santo revela as limitações existentes com o sistema de distribuição de oxigénio
    “Todos os doentes com Covid-19 internados no HDES necessitam de oxigénio ou apenas estão a receber oxigénio os doentes na Unidade de Cuidados Intensivos?
    Dada a disfunção pulmonar que caracteriza a infecção COVID-19, todos os doentes com critério de internamento estão sob oxigenoterapia (quer UCI quer não UCI). Caso contrário, estariam sob vigilância da sintomatologia no domicílio.
    A quantidade de 225 litros de oxigénio utilizada está a ser direcionada apenas para os doentes Covid-19 ou para outros setores do HDES?
    A quantidade referida pelo Secretário da Saúde diz respeito apenas à UCI-COVID19. Na verdade, cada enfermaria tem capacidade para aplicar um total de 300 litros – não é uma questão de armazenamento de oxigénio que está em causa, mas sim de capacidade de utilização. O HDES tem uma capacidade instalada de utilização/distribuição de oxigénio de 280 a 300 litros na área em apreço. Capacidade essa que só foi conhecida depois da actual Administração ter procedido ao seu levantamento e registo (há cerca de 2 meses) e que não foi alterada no último ano. Por outro lado, o incremento da capacidade de disponibilização de oxigénio não é um projeto que possa ser executado numa questão de dias ou sequer de meses – aliás, neste momento com a emergente taxa de utilização existente, é simplesmente materialmente impossível fazê-lo. Por outro lado, a utilização de oxigénio também depende do número de utentes que necessitam de ser ventilados ou sob ONAF ao mesmo tempo, sendo por isso um valor que oscila consoante o número de casos que chegam à nossa Urgência com necessidades específicas. Pelos estudos que temos, em média mais de 10% das pessoas infetadas com COVID19 poderão necessitar de intervenção de cuidados intensivos (com oxigénio), portanto, quanto mais casos de infeções existam, maior a probabilidade de esgotarmos a nossa capacidade de resposta. Presentemente, como foi ontem anunciado pelo Secretário da Saúde, estamos nos 2 terços da capacidade, mas esse valor pode oscilar rapidamente para baixo ou para cima. É por isso que o HDES tem protocolos com outras unidades de saúde no continente português, destinados a enviar pacientes a quem prevemos que não poderemos dar resposta em meios técnicos – e esse procedimento já foi por diversas vezes usado no passado.
    O HDES considera estar num nível crítico de capacidade disponível de oxigénio?
    Se se refere à existência de oxigénio nos depósitos, a resposta é não. E se se refere à capacidade de disponibilização, a resposta por enquanto também é não, embora, como já referido acima, tudo dependerá de quantos casos de COVID19 teremos para tratar em simultâneo. É por isso que vemos com extrema preocupação o aumento do número de casos detetados entre a população. O HDES há 25 anos foi construído com uma estrutura de distribuição de oxigénio com capacidade para 300 L por enfermaria, que não foi adaptado mesmo depois da pandemia se ter iniciado. Nessa altura da construção do HDES não existiam terapêuticas de ONAF (oxigénio nasal de alto fluxo), que são hoje fundamentais no tratamento de pacientes com COVID19.
    Que medidas podem ser tomadas para reforçar a capacidade de oxigénio no HDES?
    Em relação à quantidade de oxigénio armazenada, a situação é a seguinte:
    O fornecimento de gases medicinais ao HDES é efectuado pela empresa AIR LIQUIDE MEDICINAL SA. De acordo com o CPA da RAA Portaria nº 1370/2015 de 29 de setembro. O oxigénio medicinal pode ser fornecido em garrafa ou em líquido. O abastecimento de oxigénio em garrafas é feito por substituição em função das solicitações dos serviços do HDES. E a empresa dispõe de um stock em S. Miguel para abastecer toda a RAA. O oxigénio líquido depois de evaporado nas instalações do HDES é distribuído através das respectivas redes internas. O HDES tem tanque de armazenamento que é abastecido por isocontentores (15 000 L) transportados por via marítima com periodicidade quinzenal (sempre que necessário passa a semanal). Existem 4 isocontentores afetos à operação da RAA (1 em enchimento, 1 em viagem do continente para a RAA, 1 a circular entre as ilhas, e o outro de manutenção). À chegada a P. Delgada o contentor faz um primeiro abastecimento no HDES, depois segue para o HSEIT e posteriormente para o HHorta, regressando a S. Miguel para transvase do restante num contentor existente nas instalações da empresa em S. Miguel. A capacidade de armazenamento de oxigénio líquido no HDES é de 13.500 litros o que com um consumo médio de 2% ao dia (média anual) dá um stock para 50 dias. Recentemente em S. Miguel existe mais 1 isocontentor (15 mil litros) que já prevê o reabastecimento do HDES.
    Nenhum problema a esse nível por enquanto, portanto.
    Dado que se prevê no futuro a duplicação da atividade da Medicina Hiperbárica (até à pandemia o principal consumidor de oxigénio) já existia um projeto para a instalação de um outro reservatório de 21.000 L. No entanto, esse projeto obriga a transferência do local de armazenamento e à realização de obras.
    A rede de abastecimento de oxigénio, nomeadamente para os serviços de Internamento, é calculada para um débito de 10 l/min por paciente com um coeficiente de simultaneidade de 10 a 20%, dependendo do tipo de paciente. Devido à situação pandémica os hospitais estão praticamente lotados o que implica um coeficiente de simultaneidade de consumo de oxigénio perto dos 100%. Ao adicionarmos a terapia de alto fluxo de oxigénio aos doentes COVID-19 (com débitos de 30 a 60 ou mais L/min por paciente), estamos a aumentar o consumo de oxigénio para valores 5 vezes ou mais superiores ao pressuposto para a qual a instalação foi calculada, podendo colocar em risco o abastecimento de oxigénio nesse e noutros serviços do hospital.
    Ao longo do último ano foram efetuados investimentos para se aumentar a capacidade instalada de oxigénio?
    A realidade é que não. Ao nível da aplicação/distribuição de oxigénio, o último Conselho de Administração, seguindo as políticas de Saúde então em vigor, não testou a capacidade de resposta da enfermaria onde estariam os doentes COVID sob ONAF, não melhorou essa enfermaria nem planeou uma 2ª enfermaria com capacidade para ONAF (que geram aerossóis e por isso têm de estar em quartos individuais com pressão negativa; neste momento só temos quartos com pressão negativa em uma enfermaria – a da UCI COVID19).
    A atual administração herdou uma situação difícil também a esse nível, ainda para mais quando os casos de COVID19 começavam a disparar. Mesmo assim, logo a 11 fevereiro iniciou-se um processo com vista a melhorar as condições de segurança e de qualidade no atendimento dos doentes na Urgência Respiratória-SU COVID Adultos, expandindo a referida área de atendimento para a atual Sala de Espera da Urgência Geral. Foi também autorizada a aquisição de material necessário para a instalação das condutas de gases medicinais e sistemas de aspiração nessa área, que já está instalada e pronta a ser utilizada se necessário. Mas por enquanto não será possível aumentar a capacidade de aplicação de oxigénio, o que irá requerer obras de fundo que são impossíveis realizar neste momento.”
    (Luís Pedro Silva – Açoriano Oriental de 16/04/2021)
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    • Muito bem, a verdade assumida… Em frente!
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  • RÚSSIA FECHA MAR NEGRO

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    RÚSSIA FECHA PARTE DO MAR NEGRO
    A NAVIOS DE GUERRA ESTRANGEIROS
    Medida em meio à crise provoca reação da Ucrânia; China apoia Putin contra sanções dos EUA
    16.abr.2021
    Igor Gielow
    SÃO PAULO
    Em mais um movimento na sua disputa com a Ucrânia sobre o destino das áreas habitadas por russos étnicos no leste do país, Moscou decidiu fechar parte do mar Negro para navios de guerra estrangeiros.
    O anúncio foi feito nesta sexta (16), após a Marinha ucraniana alertar que barcos russos estavam tomando posições próximo à ponte da Crimeia, a gigantesca estrutura que Vladimir Putin construiu para ligar a península anexada em 2014 a seu país.
    Na sua margem leste, a Crimeia é banhada pelo mar de Azov, um trecho do mar Negro que no chamado estreito de Kerch tem a ponte de 19 km como estrela.
    “Das 21h do dia 24 de abril às 21h de 31 de outubro, a passagem de navios estrangeiros militares ou estatais estará suspensa”, disse o Ministério da Defesa russo.
    É receita para confusão. Além da Crimeia e da Rússia mais a leste, o mar banha um trecho considerável de costa ucraniana, com portos centrais para a exportação de aço e cereais do país. Kiev teme que esses navios acabem afetados pelas medidas.
    As restrições ocorrerão também em outros pontos em torno da Crimeia, como na cidade de Sebastopol, que já sediava a Frota do Mar Negro russa antes mesmo da anexação, por meio de um acordo.
    Com isso, quer delimitar também a movimentação de navios da Otan (aliança militar ocidental), que fazem exercícios frequentes na região em apoio aos ucranianos e em coordenação com os turcos, que controlam a ligação do mar Negro com o Mediterrâneo.
    Para o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, a decisão “usurpa a soberania” do país e viola leis internacionais sobre trânsito marítimo.
    Confusões são velhas conhecidas naquela região. Em 2018, a Rússia apreendeu três navios militares ucranianos no mar de Azov, e um barco russo foi abordado no ano seguinte.
    Mas a medida agora vem no contexto da disputa pelo Donbass, área que vive um instável cessar-fogo na sua guerra civil iniciada em 2014, após Putin anexar a Crimeia para impedir que o governo pró-Ocidente que derrubou o pró-Moscou em Kiev conseguisse ser absorvido pela Otan.
    Após a Ucrânia reforçar suas posições em torno dos bolsões rebeldes, os russos concentraram mais de 80 mil soldados nas fronteiras com o vizinho e na Crimeia.
    A tensão gerou uma escalada retórica com o Ocidente e uma série de exercícios militares provocadores de lado a lado.
    Na quinta, dois dias depois de sugerir por telefone a Putin uma reunião de cúpula, o presidente americano, Joe Biden, determinou as mais duras sanções contra a Rússia desde 2018.
    Elas incluem, além da expulsão de diplomatas acusados de espionagem, medidas econômicas para restringir negociações com títulos do governo russo. Na prática, são em sua maioria contornáveis.
    Nesta sexta, o Kremlin disse que se reserva o direito a retaliar na mesma medida, como é a praxe, mas quem tomará a decisão final será Putin.
    “Claramente eles [Putin e Biden] diferem no entendimento de como construir uma relação mutuamente benéfica levando em conta os interesses do outro”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Ele disse que “a obsessão com sanções de nossos contrapartes americanos segue inaceitável”.
    A China, aliada da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas e crítica contumaz das sanções econômicas que recebe dos EUA devido à restrição da autonomia de Hong Kong, defendeu Putin. “[As medidas] constituem política de força bruta e ‘bullying’ hegemônico”, disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian.
    Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi a Paris pedir apoio ao seu colega Emmanuel Macron.
    Tanto o francês quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, foram exortados por Peskov a convencer o ucraniano a buscar uma saída diplomática para a disputa. Alemanha e França têm diversos negócios energéticos com os russos e têm buscado apoiar a introdução da vacina russa Sputnik V no continente.
    Na guerra de versões, Putin quer impingir a Zelenski a pecha de ter começado a crise. E busca a implantação dos Acordos de Minsk, que em sua segunda versão de 2015 devolvem as áreas rebeldes para Kiev, mas as mantêm autônomas, garantindo a separação do Ocidente desejada por Putin.
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    • E de mansinho, de mansinho… Vão bater de frente, ou é só fumaça.
  • em 2015 o Museu da Graciosa ganhou um clavicórdio

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    Terry Portugal Costa

    added a new photo — at

    Museu da Graciosa
    Chrys Chrystello

    conheces?!? 🤪😎

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    J Chrys Chrystello oferece este instrumento [herdado da sua família materna Magalhães, da Eucísia, Alfândega da Fé], ao museu da Graciosa como prova da sua dedicação à açorianidade e preito a esta ilha amante da música mas sempre tão esquecida

    Album04_2021
    a sua história consta do livro Chronicaçores uma circum-navegação 2011…Extrato das páginas 115-117

    Na aldeia ora quase deserta da Eucísia, Alfândega da Fé, distrito de Bragança, a casa de seus avós estava também abandonada e arruinada, como tantas outras, sucumbindo à inexorável e reivindicativa voragem do tempo. A natureza readquire tudo que o homem constrói. Não houvera um pastor Manuel Cordovão, como no livro [de Daniel de Sá] “O Pastor das Casas Mortas”, para cuidar daquela e doutras casas. Iam ficando desabitadas, os donos ausentes ou mortos sem que alguém fosse lá acender a lareira da sua História, das famílias que ali tinham vivido e sonhado.

     

    Ali, albergavam-se memórias de meninice que nenhuma autobiografia publicitaria. Além, habitavam esconsos sonhos e pensamentos que nunca chegariam a ser escritos numa folha de papel. Era o refúgio secreto das infâncias que a idade e a maturidade não revelavam nunca nem às almas gémeas. Havia toda uma mitologia lendária de contarelos, de pequenos episódios e de grandes celebrações pascais, que a recordação desvanecera e atenuara mas, conquanto esmaecida, ainda havia fragmentos de imagens, sons e cheiros a preservar.

     

    Do brasão original com as armas da família Madureira Magalhães e do armário, antiquíssimo de séculos, onde estava embutido, nada restava além da imagem que uma máquina fotográfica, a preto e branco, registara na década de 1960. Esse aparador e outras peças ancestrais foram sucessivamente vendidos ou trocados por candeeiros de plástico e quejandos modernismos. Um aparador (armário) daqueles valia uns bons quinhentos mil réis (500$00 escudos = € 2.50 euros) que era em 1965 o valor dum novo lampião de plástico com três velas elétricas para pendurar nos altos tetos de talha, trabalhados e pintados à mão. Na época, na família quase ninguém valorizava antiguidades. Os que as poderiam apreciar não viviam lá, afastados destas e outras transações mundanas labutando no bulício impiedoso das cidades onde trabalhavam. Muitos foram os antiquários da época que enriqueceram fazendo uma verdadeira razia pelo interior do país em busca de peças valiosas.

     

    Em casa apenas uma única peça antiga sobreviveu e data de 1794. É um clavicórdio, com algumas teclas ainda em bom estado, a maioria das cordas intacta mas a necessitar de uma reparação profunda e dispendiosa. Era a única coisa de valor que restava na casa.

     

    No sec. XV, os primeiros clavicórdios tinham 20-22 cordas de latão, a vibrar num sistema simples e original, mas pouco eficaz. Na ponta da tecla havia uma pequena lâmina metálica (chamada tangente), montada em posição vertical. O movimento da tecla fazia a tangente encostar à corda que era então mais “agitada” do que vibrada. Entre o séc. XV e XVIII o clavicórdio passou por vários estádios experimentais numa interessante evolução. As teclas aumentaram para 50, agrupadas sobre 5 pestanas, tal como no KE chinês, um instrumento de corda beliscada. Foi em 1725 que o germânico Daniel Faber fabricou um clavicórdio com uma corda para cada tecla e uma fita de feltro entrelaçada na parte não vibrante das cordas para evitar vibrações desnecessárias e desagradáveis.

     

    É portanto desta época o clavicórdio que existe lá em casa (data de 1794).

     

    No início do séc. XVIII o clavicórdio reúne já quatro caraterísticas do piano moderno: Tampo harmónico independente, cordas de metal, a agitação da corda por percussão e finalmente os abafadores para interromper a vibração das cordas quando se larga a tecla. Apesar do seu volume de som ser muito fraco, o clavicórdio produzia delicados gradientes de toque, permitindo executar crescendos e diminuendos como até então não tinha sido possível. João Sebastião e Emanuel Bach escrevem para este instrumento, tirando partido das possibilidades de vibrato que o mecanismo proporciona.

     

    Tem-se deteriorado progressivamente este clavicórdio abandonado e condenado a apodrecer. Quem sabe quais os seus avoengos que o terão tocado, e para quê? Teria sido usado em declarações apaixonadas de amor ou em estudos religiosos que a isso também eram afeitos? Teria servido para alguma cerimónia mais formal na igreja que ali ao lado foi construída no século XIX? Teria servido para entreter os convivas que vindos de longe visitavam aquela imponente casa de gente culta e dada à música?

     

    Da coleção de instrumentos, em tempos existente naquela casa, sobraram apenas os do bisavô que o primo em Ponta Delgada ora guardava ciosamente. Não sobrevivera o bandolim de oito cordas, pertença do seu avô de Vimioso que recorda vagamente ter sido tocado nas férias, a contragosto da avó materna que não ia muito em assuntos de música, fosse ela qual fosse. Dos seus tios e tias-avós não lhes sabia dons musicais pelo que se presume terem perdido a vocação do bisavô.

     

    Nada disto se sabe nem se saberá. Nem a sua mãe guarda memórias de tais eventos na meninice ali passada antes de ir para Bragança estudar. É curioso haver tantas perguntas e ninguém sobrevivo para lhe dar resposta. Pena não as ter questionado enquanto podia mas então os seus interesses eram outros e não estava inclinado a recriar mentalmente os hábitos e costumes dos seus antepassados.

     

    Restava especular qual o uso intenso, a avaliar pelo estado do teclado, que o clavicórdio terá tido em mais de duzentos anos de existência. Como terá chegado até ali? Transbordado de cavalo em cavalo ou de carruagem em carruagem desde a Inglaterra (ou seria mesmo da Alemanha?) até aquele recôndito lugar nessa ilhoa perdida do nordeste transmontano. Como terá sido encomendado? Terá alguém ido, propositadamente, ao fabricante buscar tão valioso instrumento? Porquê um clavicórdio que até é mais típico das mãos femininas do que o seu parente mais comum, o piano?

     

    Podem adiantar-se vários cenários alternativos, pode até ter sido ganho num qualquer jogo de azar ou de cartas a algum nobre das vizinhanças. Ou seria o cumprimento de uma promessa à mulher ou a uma filha como forma de a dotar de mais um predicado para o

  • de mátrias e pátrias

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    in ChrónicAçores uma circum-navegação 2011

    Foi então. Nesse dia, pela primeira vez, a escassos metros da que fora a minha casa em Bragança, frente ao castelo e ao presépio de S. Sebastião, senti um apelo inesquecível. Foi então que me senti transmontano dos quatro costados, apesar do pouco tempo contabilizado a viver na região. Não sabia dizer porquê, mas lembrar-me-ia sempre do instante exato, já era lusco-fusco, quando senti aquela picada no coração, aquela dor profunda de mágoa e alegria, em simultâneo. Tinha acabado de encontrar as raízes. Senti os pés pesados a colarem-se ao solo. Uma experiência que se assemelha ao que se sente quando uma pessoa sabe que está apaixonada e que encontrou a alma gémea para partilhar o resto da vida.

    Como alguém disse, em tempos, a pátria não é o lugar onde nascemos, mas o lugar onde o coração habita. Ali estava bem visível. Descobrira-a sem a procurar, instantânea e espontaneamente nas origens e raízes. Bragança mátria. Que disso não restem dúvidas. Jamais senti um apelo emocional tão forte, em parte alguma. Estou mais apegado àquela terra do que imaginei. Inenarrável sentimento. Não se descreve a quem nunca o experimentou. Sentimentos não se partilham em palavras. Para os que têm pátria ou sempre pertenceram a um local, de nascimento, trabalho ou necessidade, esta noção não se explica. Para os apátridas, sem bússola geográfica a marcar o ritmo de pertença, é fácil entender o que atrás se disse. Um dia, tentarei explicar esta afeção. Não se define. É inexpressável.

    Já há muito dizia que Sidney era a base terrena. Jamais sentira – antes deste momento mágico -, um tal sentimento de pertença. Mesmo que os coevos bragançanos me não aceitem, não preciso deles para ser aceite. Podemos não ter projetos comuns ou seguir vias díspares, mas são da família e esta não se escolhe. Tal como o meu pai, que disse sempre ser de Afife (Viana do Castelo) embora nascido no Porto, sempre me afirmei australiano. De nacionalidade. Quando me perguntarem donde sou, direi TRANSMONTANO. De Bragança.

    Nem de propósito li, no jornal diário, que alguém radicado em Castelo Rodrigo, há anos, dizia sempre “Quando me perguntam donde, digo que sou donde está o coração.” De facto, em Bragança ficou a minha alma. Podia ser habitada por nazis, por espanhóis invasores, por extraterrestres ou pelos meus maiores inimigos, mas sempre a sentiria minha. Essa sensação não se apaga, nem se limpa com lixívia, que para esses sentimentos não há branqueador que chegue. Nada disto sinto em relação ao Porto natal onde vivi um terço da vida.

    Nada me diz. Turisticamente, acho a Ribeira e a Foz do Douro espantosas em dia de borrasca e atraentes no período estival. Já a medieval Sé e as velhas ruas do antigo burgo me deixam indiferente, talvez por terem sido desbaratadas e maltratadas, em vez de estimadas e recuperadas. O clima cinzento, as gentes de sotaque desagradável e palavrões vernaculares incómodos. Sonoridades agrestes e demasiado vulgares para ouvidos sensíveis. Pessoas, macambúzias, preocupadas com futilidades. Vi gente em casas da Câmara, pretensamente necessitadas, com carros novos. Iam almoçar e jantar a restaurantes e marisqueiras. Vidas sem um único livro. Mas gabavam o último modelo de telemóvel e TV de plasma.

     

    …..

    já o Takas, Luis Cardoso de Noronha diz

    MÁTRIA E PÁTRIA
    Pediu-me uma estudante de literatura se a língua portuguesa é a minha língua Mátria. A minha língua Pátria, respondi. Timor é a minha Mátria e Portugal é a minha Pátria. A ilha de Timor deu-me à luz, o leite materno, a minha língua materna, a cultura, o culto dos antepassados e quando nasci acenderam uma fogueira onde aqueceram água para me darem o primeiro banho. Comecei a conhecer a Pátria na minha infância quando entrei para a escola. Era à luz do petromax que comecei a descobrir um outro país que aprendi a chamar Pátria, também um Deus, uma língua e uma outra cultura. Sou o fruto dessa união. Falo a minha língua Mátria e escrevo na minha língua Pátria. Fiz uma tradução livre para tétum do poema ” As velhas florestas de agora” de Fernando Sylvan que a RTP 2 brevemente transmitirá. Direi na altura própria. Bom fim de semana.
  • Covid-19: Açores vão poder negociar de forma autónoma a compra de vacinas aos EUA | TVI24

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    Resposta chegou através de carta

    Source: Covid-19: Açores vão poder negociar de forma autónoma a compra de vacinas aos EUA | TVI24

  • A diplomacia do galego gaña a batalla na Europa

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    O recurso aos organismos internacionais para lograr fóra do espazo estatal unha protección para o idioma que negan as institucións galegas e españolas vén de vello.

    Source: A diplomacia do galego gaña a batalla na Europa

  • torga censurado e detido, nunca esqueceremos!

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    CLARIDADE
    Quando o terceiro volume de “A Criação do Mundo” (1939), de Miguel Torga (1907 – 1995), foi editado, a polícia política apreendeu o livro e prendeu o escritor na cidade de Leiria, onde nessa época vivia e trabalhava.
    Salazar não admitia a expressão da repugnância que os ditadores provocavam ao poeta, nomeadamente Mussolini que, à época, arrebatava os italianos com os seus inflamados discursos, e da dor sentida, a partir de uma vivência in loco, perante a destruição de Espanha durante a Guerra Civil que opôs republicanos e nacionalistas (liderados por Franco).
    De Leiria, passados alguns dias, Miguel Torga foi transferido para a cadeia do Aljube, em Lisboa, onde escreveu, entre outros, um poema magnífico em que fala de uma rapariga loira, avistada das grades da cela, e da roupa branca que ela estende numa corda. Um pequeno gesto, porém, com tão grande significado ao nível dos sentimentos do poeta… Como se essa imagem representasse a liberdade sonhada, a paz e o próprio povo português:
    Clareou.
    Vieram pombas e sol,
    e, de mistura com Sonho,
    pousou tudo num telhado…
    (Eu, destas grades, a ver,
    desconfiado.)
    Depois,
    uma rapariga loira,
    (era loira)
    num mirante
    estendeu roupa num cordel:
    Roupa branca, remendada,
    que se via
    que era de gente lavada,
    e só por isso aquecia…
    E não foi preciso mais:
    Logo a alma
    clareou por sua vez.
    Logo o coração parado
    bateu a grande pancada
    da vida com sol e pombas
    e roupa branca, lavada.
    Chrys Chrystello
    Sad

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