Views: 0
- Like
- Reply
- Share
- 52 m
Views: 0
Views: 0
Views: 0
conheces?!?
J Chrys Chrystello oferece este instrumento [herdado da sua família materna Magalhães, da Eucísia, Alfândega da Fé], ao museu da Graciosa como prova da sua dedicação à açorianidade e preito a esta ilha amante da música mas sempre tão esquecida
Na aldeia ora quase deserta da Eucísia, Alfândega da Fé, distrito de Bragança, a casa de seus avós estava também abandonada e arruinada, como tantas outras, sucumbindo à inexorável e reivindicativa voragem do tempo. A natureza readquire tudo que o homem constrói. Não houvera um pastor Manuel Cordovão, como no livro [de Daniel de Sá] “O Pastor das Casas Mortas”, para cuidar daquela e doutras casas. Iam ficando desabitadas, os donos ausentes ou mortos sem que alguém fosse lá acender a lareira da sua História, das famílias que ali tinham vivido e sonhado.
Ali, albergavam-se memórias de meninice que nenhuma autobiografia publicitaria. Além, habitavam esconsos sonhos e pensamentos que nunca chegariam a ser escritos numa folha de papel. Era o refúgio secreto das infâncias que a idade e a maturidade não revelavam nunca nem às almas gémeas. Havia toda uma mitologia lendária de contarelos, de pequenos episódios e de grandes celebrações pascais, que a recordação desvanecera e atenuara mas, conquanto esmaecida, ainda havia fragmentos de imagens, sons e cheiros a preservar.
Do brasão original com as armas da família Madureira Magalhães e do armário, antiquíssimo de séculos, onde estava embutido, nada restava além da imagem que uma máquina fotográfica, a preto e branco, registara na década de 1960. Esse aparador e outras peças ancestrais foram sucessivamente vendidos ou trocados por candeeiros de plástico e quejandos modernismos. Um aparador (armário) daqueles valia uns bons quinhentos mil réis (500$00 escudos = € 2.50 euros) que era em 1965 o valor dum novo lampião de plástico com três velas elétricas para pendurar nos altos tetos de talha, trabalhados e pintados à mão. Na época, na família quase ninguém valorizava antiguidades. Os que as poderiam apreciar não viviam lá, afastados destas e outras transações mundanas labutando no bulício impiedoso das cidades onde trabalhavam. Muitos foram os antiquários da época que enriqueceram fazendo uma verdadeira razia pelo interior do país em busca de peças valiosas.
Em casa apenas uma única peça antiga sobreviveu e data de 1794. É um clavicórdio, com algumas teclas ainda em bom estado, a maioria das cordas intacta mas a necessitar de uma reparação profunda e dispendiosa. Era a única coisa de valor que restava na casa.
No sec. XV, os primeiros clavicórdios tinham 20-22 cordas de latão, a vibrar num sistema simples e original, mas pouco eficaz. Na ponta da tecla havia uma pequena lâmina metálica (chamada tangente), montada em posição vertical. O movimento da tecla fazia a tangente encostar à corda que era então mais “agitada” do que vibrada. Entre o séc. XV e XVIII o clavicórdio passou por vários estádios experimentais numa interessante evolução. As teclas aumentaram para 50, agrupadas sobre 5 pestanas, tal como no KE chinês, um instrumento de corda beliscada. Foi em 1725 que o germânico Daniel Faber fabricou um clavicórdio com uma corda para cada tecla e uma fita de feltro entrelaçada na parte não vibrante das cordas para evitar vibrações desnecessárias e desagradáveis.
É portanto desta época o clavicórdio que existe lá em casa (data de 1794).
No início do séc. XVIII o clavicórdio reúne já quatro caraterísticas do piano moderno: Tampo harmónico independente, cordas de metal, a agitação da corda por percussão e finalmente os abafadores para interromper a vibração das cordas quando se larga a tecla. Apesar do seu volume de som ser muito fraco, o clavicórdio produzia delicados gradientes de toque, permitindo executar crescendos e diminuendos como até então não tinha sido possível. João Sebastião e Emanuel Bach escrevem para este instrumento, tirando partido das possibilidades de vibrato que o mecanismo proporciona.
Tem-se deteriorado progressivamente este clavicórdio abandonado e condenado a apodrecer. Quem sabe quais os seus avoengos que o terão tocado, e para quê? Teria sido usado em declarações apaixonadas de amor ou em estudos religiosos que a isso também eram afeitos? Teria servido para alguma cerimónia mais formal na igreja que ali ao lado foi construída no século XIX? Teria servido para entreter os convivas que vindos de longe visitavam aquela imponente casa de gente culta e dada à música?
Da coleção de instrumentos, em tempos existente naquela casa, sobraram apenas os do bisavô que o primo em Ponta Delgada ora guardava ciosamente. Não sobrevivera o bandolim de oito cordas, pertença do seu avô de Vimioso que recorda vagamente ter sido tocado nas férias, a contragosto da avó materna que não ia muito em assuntos de música, fosse ela qual fosse. Dos seus tios e tias-avós não lhes sabia dons musicais pelo que se presume terem perdido a vocação do bisavô.
Nada disto se sabe nem se saberá. Nem a sua mãe guarda memórias de tais eventos na meninice ali passada antes de ir para Bragança estudar. É curioso haver tantas perguntas e ninguém sobrevivo para lhe dar resposta. Pena não as ter questionado enquanto podia mas então os seus interesses eram outros e não estava inclinado a recriar mentalmente os hábitos e costumes dos seus antepassados.
Restava especular qual o uso intenso, a avaliar pelo estado do teclado, que o clavicórdio terá tido em mais de duzentos anos de existência. Como terá chegado até ali? Transbordado de cavalo em cavalo ou de carruagem em carruagem desde a Inglaterra (ou seria mesmo da Alemanha?) até aquele recôndito lugar nessa ilhoa perdida do nordeste transmontano. Como terá sido encomendado? Terá alguém ido, propositadamente, ao fabricante buscar tão valioso instrumento? Porquê um clavicórdio que até é mais típico das mãos femininas do que o seu parente mais comum, o piano?
Podem adiantar-se vários cenários alternativos, pode até ter sido ganho num qualquer jogo de azar ou de cartas a algum nobre das vizinhanças. Ou seria o cumprimento de uma promessa à mulher ou a uma filha como forma de a dotar de mais um predicado para o
Views: 0
in ChrónicAçores uma circum-navegação 2011
Foi então. Nesse dia, pela primeira vez, a escassos metros da que fora a minha casa em Bragança, frente ao castelo e ao presépio de S. Sebastião, senti um apelo inesquecível. Foi então que me senti transmontano dos quatro costados, apesar do pouco tempo contabilizado a viver na região. Não sabia dizer porquê, mas lembrar-me-ia sempre do instante exato, já era lusco-fusco, quando senti aquela picada no coração, aquela dor profunda de mágoa e alegria, em simultâneo. Tinha acabado de encontrar as raízes. Senti os pés pesados a colarem-se ao solo. Uma experiência que se assemelha ao que se sente quando uma pessoa sabe que está apaixonada e que encontrou a alma gémea para partilhar o resto da vida.
Como alguém disse, em tempos, a pátria não é o lugar onde nascemos, mas o lugar onde o coração habita. Ali estava bem visível. Descobrira-a sem a procurar, instantânea e espontaneamente nas origens e raízes. Bragança mátria. Que disso não restem dúvidas. Jamais senti um apelo emocional tão forte, em parte alguma. Estou mais apegado àquela terra do que imaginei. Inenarrável sentimento. Não se descreve a quem nunca o experimentou. Sentimentos não se partilham em palavras. Para os que têm pátria ou sempre pertenceram a um local, de nascimento, trabalho ou necessidade, esta noção não se explica. Para os apátridas, sem bússola geográfica a marcar o ritmo de pertença, é fácil entender o que atrás se disse. Um dia, tentarei explicar esta afeção. Não se define. É inexpressável.
Já há muito dizia que Sidney era a base terrena. Jamais sentira – antes deste momento mágico -, um tal sentimento de pertença. Mesmo que os coevos bragançanos me não aceitem, não preciso deles para ser aceite. Podemos não ter projetos comuns ou seguir vias díspares, mas são da família e esta não se escolhe. Tal como o meu pai, que disse sempre ser de Afife (Viana do Castelo) embora nascido no Porto, sempre me afirmei australiano. De nacionalidade. Quando me perguntarem donde sou, direi TRANSMONTANO. De Bragança.
Nem de propósito li, no jornal diário, que alguém radicado em Castelo Rodrigo, há anos, dizia sempre “Quando me perguntam donde, digo que sou donde está o coração.” De facto, em Bragança ficou a minha alma. Podia ser habitada por nazis, por espanhóis invasores, por extraterrestres ou pelos meus maiores inimigos, mas sempre a sentiria minha. Essa sensação não se apaga, nem se limpa com lixívia, que para esses sentimentos não há branqueador que chegue. Nada disto sinto em relação ao Porto natal onde vivi um terço da vida.
Nada me diz. Turisticamente, acho a Ribeira e a Foz do Douro espantosas em dia de borrasca e atraentes no período estival. Já a medieval Sé e as velhas ruas do antigo burgo me deixam indiferente, talvez por terem sido desbaratadas e maltratadas, em vez de estimadas e recuperadas. O clima cinzento, as gentes de sotaque desagradável e palavrões vernaculares incómodos. Sonoridades agrestes e demasiado vulgares para ouvidos sensíveis. Pessoas, macambúzias, preocupadas com futilidades. Vi gente em casas da Câmara, pretensamente necessitadas, com carros novos. Iam almoçar e jantar a restaurantes e marisqueiras. Vidas sem um único livro. Mas gabavam o último modelo de telemóvel e TV de plasma.
…..
já o Takas, Luis Cardoso de Noronha diz
Views: 0
Resposta chegou através de carta
Source: Covid-19: Açores vão poder negociar de forma autónoma a compra de vacinas aos EUA | TVI24
Views: 0
O recurso aos organismos internacionais para lograr fóra do espazo estatal unha protección para o idioma que negan as institucións galegas e españolas vén de vello.
Views: 0