Mês: Março 2021

  • SANTANA CASTILHO E OS PROFESSORES MAIS FRÁGEIS

    Views: 0

    Alunos e professores mais frágeis
    1. As sucessivas interrupções do ensino tradicional e o recurso intensivo aos computadores, para o promover de modo remoto, trouxeram o perigo real de o desumanizar e de fragilizar, ainda mais, a dignidade profissional dos professores. Só há uma via para proteger alunos e respeitar docentes: tê-los como mediadores únicos de um processo, onde as interacções humanas não podem ser substituídas por inteligência artificial. À calamidade que nos tocou não se deve juntar a calamidade de transformar a educação num problema técnico especializado, solucionável em parte por algoritmos. A possibilidade de os professores deixarem de ser, com os pais, os actores primeiros do processo, não é de agora. Mas tem agora razões para ser intensificada. Cabe aos mais atentos a denúncia e a oposição ao risco de vermos a Educação tragada pela distopia digital, com as escolas transformadas em depósitos geridos por plataformas informáticas.
    2. Nos primeiros dias deste mês, numa conversa com o filósofo José Gil, sobre as consequências da pandemia, o ministro da Educação disse que nas escolas de acolhimento houve aulas presenciais para cerca de 17 mil alunos. Mas não houve. Esses 17 mil alunos foram às escolas para tentar ter aulas à distância, porque não tinham meios para tal em casa. E boa parte deles, porque a Net nas próprias escolas tão-pouco o permitiu, passaram o tempo enfiados numa sala, com um só professor. Foi um pouco melhor que nada, mas não foram aulas presenciais. O ministro ou mentiu ou, como é seu timbre, falou sem saber o que dizia. De qualquer modo, passou para a opinião pública a ideia errada de se terem protegido os mais desfavorecidos. Fora ele competente e estaria a apresentar ao país um programa para ajudar a recuperação da aprendizagem de todos, particularmente a de cerca de 80 mil com necessidades educativas especiais e mais de 350 mil apoiados pela Acção Social Escolar.
    A escola já era um local de desigualdades. Agora é um local de desigualdades mais acentuadas e de muitos medos, carente de uma acção profunda para tratar os traumas emocionais que por ela entraram. O sistema de ensino devia aferir as consequências do encerramento das escolas e desenhar, com base nisso, um plano para recuperar as perdas acumuladas nos dois calamitosos últimos anos. Entre tantas iniciativas possíveis, poder-se-ia criar já um programa nacional, para operar durante as férias de verão, com as escolas a sinalizarem os alunos com maiores dificuldades, que seriam convidados a participar em colónias de férias, com uma componente fortíssima lúdica e desportiva, de ar livre, em paralelo com actividades tutoriais de reforço curricular. As estruturas hoteleiras, sem turistas, poderiam ser utilizadas e certamente que apreciariam o apoio financeiro daí resultante.
    3. Vão encerrar os concursos para contratação de docentes, externo e interno, que decorrem desde 11 de Março. Uma interpretação nova sobre a aplicação da chamada Norma-Travão, suscitada por uma decisão judicial já quase com um ano, mas surpreendentemente acolhida pelo ministério um dia antes do início do respectivo concurso, vai provocar consideráveis problemas. Com os atropelos que se têm amontoado, com as injustiças que se têm acrescentado às injustiças anteriores, havia que ter a coragem de reconhecer que, no actual contexto, o mais adequado era voltar ao princípio, isto é, assumir uma lista graduada, única, nacional, como o instrumento central de colocação de professores. No plano teórico é fácil apontar inconvenientes à ideia, eu sei. Mas pior é ver a que nos conduziram as prioridades que foram sendo acomodadas nos regulamentos dos concursos, os abusos desregulados das mobilidades criadas, os processos de renovação de contratos e a desumana dimensão dos QZP.
    A contratação e a remuneração são duas causas para que apenas 1,3% dos jovens queiram tornar-se professores. Recordo-me, a propósito, do destaque que a imprensa deu, em Janeiro de 2020, à circunstância de terem chegado ao topo da carreira seis mil professores. Mas não vi uma só linha a esclarecer que são precisos, no mínimo, 34 anos para alcançar esse topo, que valia, afinal, uma fortuna arredondada de 1.900,00 € líquidos e que jazia a meio de uma grelha remuneratória da função pública, que tem, significativamente, 58 níveis acima dele.
    In “Público” de 17.3.21
    112
    2 comments
    30 shares
    Like

    Comment
    Share
    Comments
    View 1 more comment
  • ANTÓNIO BULCÃO, O ENFERMEIRO TIAGO

    Views: 0

    Tiago: YOU have a problem…
    Estava minha mãe grávida de mim e rebentou um vulcão. Bem sei, parece coisa de filme, mas foi exactamente assim. Eu a formar-me e os Capelinhos a rebentar.
    Durante meses aguentei sismos seguidos, protegido com colete uterino, dizem que mais de dois mil só num dia. E não consigo deixar de pensar que a tal tremedeira se deverá este feitio irrequieto, esta inquietação constante, que não me dá um segundo de descanso.
    Nos primeiros anos da minha vida muitos foram os passeios de carro ao vulcão, vendo bombas de pedra espalhadas pela areia, casas só com o tecto de fora, o farol sem luz, também ele afogado. E ganhei medo àquela força tremenda.
    Em 1973, já grandinho, vinha do liceu e começou tudo a tremer. Corri para casa e subi pelas escadas exteriores das traseiras. Não via a Espalamaca. Nem via o Pico. Um nuvem de terra tudo cobria, e eu refugiei-me na casa que meu avô dizia que, quando caísse, a cidade já estaria toda no chão. Casa grande, que levou todos os familiares cujos lares tinham ficado rachados, e os rapazes a dormir em colchões espalhados pelos sobrados dos quartos, sentindo os mesmos a ondular de vez em quando, quase duvidando das sólidas certezas do avô.
    Depois veio 1980 aqui, 1998 de novo no Faial, estes muito grandes e mortais, para além das centenas espalhadas pelos outros anos, mas que só davam para a pergunta que ainda hoje dura: sentiste?
    Tenho muito medo de sismos. Porque o frio, sinto-o, mas combato-o com cobertores. O calor também o sinto, e lá vão ventoinhas para cima do lombo. Vento fecha-se as portadas. Raios e trovões já são mais perigosos, mas a gente conta a distância e reza para que se afaste o ribombar. Foram poucos os estalares que vieram logo a seguir ao clarão, na minha já longa vida. Mas tremores de terra a gente não vê, nem pressente. Só ouve, aquele arroto terrível da terra a mover-se, paredes a oscilar, coisas a cair e rezas para que pare depressa. Mas, enquanto dura, que impotência aflita…
    Nunca imaginei vir a sentir medo semelhante por causa de um vírus. Novamente uma coisa que não vejo a tolher-me os movimentos, a atrapalhar-me a liberdade. Claro que a máscara. E as mãos lavadas. E o gel desinfectante. E a distância. E o ficar em casa, sem ajuntamentos. Mas há sempre a dúvida. Onde pus a mão há bocado? Levei-a ao nariz por dentro da máscara para acabar com uma das tais comichões que a todos ataca nas horas mais impróprias?
    Medo nos olhos dos meus alunos no ensino à distância, depois nas aulas dos rostos azuis presos com elásticos brancos. Medo, porque a gente não vê o bicho e ele pode estar em qualquer lado.
    Nunca perdoarei a quem faz política sobre este medo. Sempre a criticar os que trabalham todos os dias para conter uma praga para a qual ninguém estava preparado, tentando dar o seu melhor. Sempre a instigar ao ódio e à denúncia.
    Prove-me o enfermeiro que, com ele a mandar, não teria havido segunda vaga, nem terceira, nem sei lá quantas mais virão. Prove-me que, se tivesse continuado a ser ele a vir televisivamente a todas as casas, não teriam nascido novas estirpes. Prove-me que, com ele director ou secretário regional, já estaria tudo vacinado. Prove-me que, com um pulôver novo todos os dias, o corona fugiria de mim.
    Se não puder provar nada disto, que se cale. Depois de ter jurado que não estava nos seus planos seguir uma carreira política, segue-a da pior maneira. Atribuindo culpas. Por falta de comunicação. Por falta de planeamento. Pela inteligência do bicho.
    Meu avô andou a acarretar gente do Capelo para fora do inferno de lava, nas suas camionetas, senhor enfermeiro. Ninguém esperava um vulcão, como ninguém esperava esta doença. Mas sei bem o que faria meu avô, se lhe aparecesse um rapazinho de barba aparada a dizer-lhe que, em vez de seis viagens por dia, deveria ter feito dez. Talvez se o senhor enfermeiro tivesse nascido por aqui desse mais valor aos nossos medos e não brincasse com eles, com analogias de Apolo 13. Mas nem quero imaginá-lo nas páginas dos jornais da sua terra em 1755. Porque o Marquês do Pombal tinha ainda menos paciência que meu avô…
    António Bulcão
    (publicada hoje no Diário Insular)
    You, Urbano Bettencourt, Diana Silva and 35 others
    5 comments
    1 share
  • não é um ovni é um B2

    Views: 0

    May be an image of aeroplane and outdoors
    Marco Charamba fotos
    is in
    Base Aérea das Lajes
    .
    Visita de hoje ” B2 ” 16/03/2021
  • novo livro EDUÍNO DE JESUS

    Views: 0

    Assisti a todas as etapas da execução gráfica do último livro que, em breve, a Nona Poesia vai apresentar ao público.
    Parabéns

    ao Eduíno de Jesus.

    Grato por escolher a Nona Poesia para editar este seu poemário!
    NOTA AICL contamos ter o autor presente numa apresentação a 12 junho no 34º colóquio da lusofonia
    Urbano Bettencourt, João Pedro Porto and 25 others
    8 comments
    2 shares
    Like

     

    Comment
    Share
  • IVO MACHADO

    Views: 0

    dentro de poucos dias, em abril
    (em silêncio como tanto gosto)
    celebrarei os seus quarenta anos
    nada mudou na minha vida
    May be an image of text that says "IVO MACHADO ALGUNS ANOS DE PASTOR Colecção Gaivota/16 Secretaria Regional da Educação e Cultura"
    You, Paulo Mendonça, Luis Sao Bento and 19 others
    1 comment
    Like

    Comment
    Share
    Comments