Pior do que um político sem credibilidade é aturarmos governantes desastrados.
O que se está a passar com vários ministros do governo de António Costa é uma vergonha para todos nós, especialmente quando a vergonha alheia ultrapassa fronteiras e instala-se no âmago das instituições europeias.
Se já se riam de nós – os tais que gastam tudo em “copos e mulheres” – , imagine-se o que não devem pensar das inúmeras trafulhices em que nos colocam os ministros deste país.
O caso do currículo com falsidades do candidato português a Procurador Europeu é o paradigma da actuação bem portuguesa do “chico-espertismo” dos nossos “doutores” políticos.
Queremos ser todos “senhores doutores”, “suas excelências” e “digníssimos estadistas” no meio de figuras inconspícuas sem mérito para os cargos que ocupam.
Um Procurador impingido à tripa forra sem currículo que o faça brilhar? Não faz mal, à boa maneira portuguesa toca a empolar e a martelar as vastas páginas curriculares, porque ninguém certamente vai reparar no molhe de palha palavrosa.
É tipicamente português.
Não temos um bom candidato, mas fazêmo-lo ainda melhor escrevendo coisas que ele não é nem nunca fez.
É a arte de olhar para o umbigo e ver o universo ali tão perto para recriá-lo.
Só neste país é que os ministros não se envergonham.
E se o candidato a Procurador Europeu também tivesse um pingo de vergonha já tinha mandado suspender a sua candidatura neste processo trafulha.
É deste farelo que se vai fazendo muita política à portuguesa, com a gravidade dos seus protagonistas se manterem agarrados aos lugares, como se nada tivesse acontecido.
E chamam-lhe ética republicana…
DONOS DO TACHO – Por cá também temos esta doença dos “lapões”, os que se agarram aos cargos como lapas.
É vergonhoso que tantos gestores públicos, nomeados por confiança política ou confiança pessoal do titular político que os escolheu noutra governação, ainda não tenham colocado os seus lugares à disposição.
Na sua esmagadora maioria não são técnicos, nem foram escolhidos por concurso público.
Estão lá porque o titular que os nomeou considera-os da sua confiança política ou pessoal, pelo que, o mínimo que se pede, é que na mudança do titular ou do governo de outra cor, coloquem à disposição dos novos governantes a continuidade ou não dos respectivos cargos.
Não é obrigatório que todos sejam substituídos, mas também não devia ser obrigatório que todos se mantenham nos cargos quando os novos titulares não lhe conferem a mesma confiança política ou pessoal.
Dá-se mesmo o caso de alguns se manterem nos Conselhos de Administração tomando medidas provocatórias contra o novo titular – até com gestão danosa -, com o intuito de serem exonerados, à espera de uma indemnização choruda, porque acenam com um contrato armadilhado que prolonga os seus mandatos por mais anos.
É uma desonestidade dos próprios titulares anteriores, que dão abrigo a este tipo de contratos que se prolongam para lá da legislatura.
A Assembleia Regional tem de pôr cobro a isso, regulando uma espécie de Código do Gestor Público Regional, em que os mandatos de confiança política dos Conselhos de Administração devem terminar com a mudança de governo no fim das respectivas legislaturas.
Há gente séria, é verdade, mas também há os que ainda acham que uma nomeação de confiança política é para o resto da vida, transformando os cargos numa espécie de “donos disto tudo”.
Pode ser legal, podem acenar com os contratos de conspiração de gabinetes, mas todos sabemos como se chama isto moralmente.
Mais do que o primeiro banho gélido do ano, há por aí muita gente que precisa é de um banho de ética.