Já será tempo de eu chamar este tema a terreiro; o da nossa recente imigração; desde os descobrimentos que o fazemos; emigrar; por necessidade económica; procuramos outros lugares que nos proporcionem uma vida melhor; por sermos incapazes, desde sempre, de dentro fronteiras, criar uma sociedade inclusiva, progressista e moderna, que proporcione bom nível de vida à generalidade; foi por isso que fomos para as Índias; depois para os Brasis; depois para as Africas, Américas e Europas; recentemente, quase que o Mundo se tornou na nossa casa; existem portugueses, quase em cada canto do planeta; todos almejando uma vida melhor; cheia de oportunidades e realização profissional; já não se trata somente de sobrevivência; trata-se de atingir um plano de existência moderna, que o nosso rectângulo se revelou incapaz de lhes proporcionar, face à sua ambição! Do ponto de vista individual julgo que seja bom; para a generalidade; terão a oportunidade de aplicar e desenvolver as suas capacidades, muitas de alto nível, adquiridas; e serem devidamente retribuídos por isso!
Mas do ponto de vista do país e das famílias, será bom? A recente onda migratória ganhou muita força com a recente crise da nossa divida soberana; na altura descobrimos que a nossa economia não era mais do que um castelo de cartas mal estruturado e dependente; afinal, no decorrer de todos estes anos de integração forçada na CE, não nos fora permitido criar uma economia sólida e concorrencial; primeiro, por se ter promovido a especulação financeira, em detrimento da produção de bens; segundo por termos sido colonizados do ponto de vista mercantil; terceiro, por nos ter sido imposto, especializações económicas, nomeadamente o turismo; factores decisivos, que marcaram a perca de independência nacional ao nível económico.
Mas as famílias e os governos sabiam uma coisa; que para se sobreviver neste mundo globalizado, é necessário que um país possua uma população com capacidade cultural, técnica, cientifica e profissional, elevada; só assim as suas empresas e organizações possuirão os quadros humanos, que lhes permitem concorrer num mercado aberto; então, louvavelmente, preocuparam-se em através do ensino, educar e ensinar uma geração, preparando-a para o efeito. E aconteceu, que o país teve à sua disposição uma população jovem com as capacidades e qualificações necessárias; só que quando, o país conseguiu este desiderato, não teve capacidade para aproveitar essa geração em seu proveito. Os jovens não tinham emprego, nem perspectivas num país meio falido, e cheio de empresas problemáticas. Sem remédio, tiveram de procurar na emigração o consubstanciar dos seus sonhos.
Já não são malas de cartão, que acompanham os jovens; mas mochilas e troleres; a sangria, da nossa intelectualidade, que nos seria tão preciosa e necessária para desenvolver o país, aconteceu; até hoje; estudam, formam-se e partem; vão ocupar empregos, bem remunerados, que cá, só em sonhos, se alcançaria; e por lá ficam; lá constituem famílias; lá se radicam; normalmente para sempre; poucos voltam; a não ser para férias; um pouco de sol; um pouco de raízes; um pouco de família; vidas que crescem longe; rebentos que nascem longe; tudo demasiado longe; apesar das comunicações que nos aproximam, quase como se estivéssemos perto!
Para as famílias; um gosto bom, por saberem, que os filhos estão bem; mas um gosto mau, pela separação; por algo que se perdeu, relacionado com uma quebra de continuidade; uma dialéctica soçobrante de vida; um obscuro devir; imaginado de solidão e desprimor; filhos e netos desenraizados do torrão original; a maior parte das vezes, para sempre; amargo viver!
Para o país; prejuízo sem fim; um investimento sofrido, difícil e caro; em educação; e no fim, aqueles com capacidades, que poderiam e deveriam, ajudar o país, a dar um salto económico e social qualitativo, são como que “roubados”; as suas excelentes capacidades, vão contribuir para fazer crescer a riqueza de outros; a maior parte das vezes, daqueles, que neste processo todo, nos colonizaram e marcaram a nossa dependência! Muito triste..