Mês: Setembro 2020

  • Félix Rodrigues “Factologias”.

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    Partilha-se o meu artigo de opinião publicado no jornal Diário Insular, com o título: “Factologias”.

    A palavra do título parece não existir, e até poderia ter sido criada sem que se tenha que dar uma explicação para que se perceba o seu significado. Qualquer pessoa do povo, não precisa chamar um especialista em língua portuguesa para ter a certeza se a palavra existe ou não. Basta-lhe fazer uma pesquisa, que agora até é muito rápida, se usar a internet do seu telemóvel. Isso aplica-se ao português e a qualquer área científica. Basta querer saber.
    Toda e qualquer pessoa tem direito a ter a dose de ceticismo que entender e quiser, mas passar daí para a negação de factos ou de coisas que nem leu ou que nem sabe como se desenrolaram, ultrapassa a barreira do ceticismo e passa para outra coisa qualquer.
    Para quem não sabe, datar algo, não resulta de um simples estalar de dedos, é muito mais complexo. Interpretar resultados também. Nem os dados nem as interpretações resultam outra vez de um “estalar de dedos”, dá mesmo trabalho. Assim, quem não trabalha nem sabe a que se refere um trabalho devia abster-se de opiniões, mas as opiniões são ideias pessoais, mesmo sendo dadas por ditos especialistas. Assiste-lhes a liberdade da opinião mas não a da difamação.
    Diogo Teixeira Dias, com ilustração de João Pedro Barreiros, entendem que não vale a pena fazer nada, porque as análises laboratoriais não valem nada. Basta cheirar uma coisa a muitos quilómetros de distância, de preferência em Lisboa ou São Miguel, para concluir que ela é do século XIX. Não sei a razão pela qual os laboratórios não contratam cheiradores em vez de comprarem instrumentação analítica. Dava muito jeito, neste período de pandemia, termos capacidades destas ao serviço do Governo. Certamente dirão que não conseguem cheirar vírus, porque apenas conseguem cheirar modelos matemáticos sobre vírus e que por acaso tais modelos até funcionaram. Há aqui uma “nuance” interessante: O olfacto parece dirigido e não é sistemático, e a matemática e a física parecem ser áreas muito subjetivas, sujeitas a milhentas interpretações.
    É facto que foi recolhida uma peça em pedra na ilha Terceira, com um orifício cilíndrico partido, contendo um material pastoso no seu interior. E depois? Para que é que isso interessa, perguntarão alguns?
    As respostas podem ir desde o “não tem interesse nenhum” até ao “muito interessante”. Quem acha que não tem interesse nenhum, não a estudará, mas quem acha que é pelo menos medianamente interessante faz qualquer coisa. Mas faz o quê? Isso é outra questão.
    A única certeza, numa primeira análise que qualquer um pode fazer é que a pedra é trabalhada. Estudando o material do interior por processos físicos e químicos conclui-se que: o material pastoso é constituído por argila, por pequenos pedacinhos de obsidiana, por um material orgânico que podemos designar genericamente por resina e pedacinhos de carvão. Outros materiais foram encontrados com a mesma composição noutros locais. E depois? Para que é que isso interessa? Perguntarão alguns. Uns ficariam por aqui, outros ficariam confusos. Isso também é uma liberdade.
    Perante esses factos, bifurcam-se os caminhos das hipóteses: ou temos algo natural ou tempos algo antrópico numa peça antrópica. Se é natural tem uma explicação. Se não tem, investiga-se. Seguindo esse caminho o resultado seria muito interessante quer o material fosse natural ou antrópico. Para se achar isso interessante tem que se ter na “cabeça” hipóteses a testar. Se não as há, não vale a pena continuar porque não se saberia para que é que tais resultados serviriam.
    Há carradas de análises de argilas naturais e carradas de análises de pastas antrópicas por esse mundo fora. Com paciência, fazem-se comparações e cálculos de rácios. Quem não os sabe fazer, terá certamente alguma dificuldade em discutir as contas, mas é algo que se pode aprender rapidamente. As contas não são subjetivas: Todos os que as fazem chegam aos mesmos resultados se tiverem os mesmos dados. Quem não gosta dos dados, produz outros, verificando com outras análises dos mesmos materiais se os dados anteriores estão de facto corretos.
    Das comparações conclui-se que se tratava de uma “pasta” usualmente designada por “pasta cerâmica”. Não nos devemos ficar por aqui porque o trabalho vai continuar pois interessava saber o que é que se faz com essa “pasta cerâmica” designada habitualmente por terracota. O artigo que escrevi conjuntamente com Henk Van Oosten não aborda essa questão, mas já existem alguns dados que hão-de aparecer onde me apetecer escrevê-los e com quem eu quiser ou vice-versa.
    Há uns apressados, Diogo Teixeira Dias com ilustração de João Pedro Barreiros, que vêm dizer de forma ostensiva que “os pedaços de cerâmica afinal são pedras” e que se “datou com carbono 14 coisas sem carbono 14”. Isso entronca na ideia peregrina que cerâmicas não se datam com carbono 14 e pedras também não. Se esses senhores fossem entendidos em datações ou tivessem lido o artigo, que por acaso está em holandês, e tivessem entendido o que aí se diz, de facto veriam que que até lhes daria alguma razão. Mas não, não foi uma pedra que se datou e dizer que é isso, é imaginação deles sobre o que está no artigo ou sobre o que imaginam que possa ter sido feito de forma errada.
    De facto a maioria das rochas não se datam por carbono 14 porque não o tem, mas datam-se carvões que estão no meio das pedras se se garantir que resultam de uma erupção (isso é um possível exemplo de datação de rochas vulcânicas com carbono 14). Se não o tem, como é que poderia ter sido datada uma pedra? E a que respeito o laboratório mais referido e respeitado mundialmente em datações, certificaria uma amostra com uma idade, se a hipotética rocha não tivesse carbono 14? De facto não foi uma rocha que foi datada e isso que Diogo diz, com ilustração de João Pedro, é um proxy dos seus pensamentos científicos!!!”. Também na maioria dos casos não se datam cerâmicas com carbono 14, porque a maioria delas não o tem. No entanto, há cerâmicas, como a terracota, que o tem em quantidade suficiente para datar. Há cerâmicas que têm depósitos de materiais orgânicos na sua superfície e isso é datável se houver quantidade suficiente. Bastava ler alguns artigos de bons arqueólogos portugueses ou de outras nacionalidades que datam o último uso dado a uma cerâmica recorrendo a carbono 14. O carbono 14 não é um selo, é uma análise certificada.
    O que foi datado foi o material com argila, resina e cinza que dá a idade de quando esse material cerâmico se colou à rocha ou às rochas, ou então, de quando foi feito.
    Os citados anteriormente queixam-se do trabalho ter sido publicado em holandês. Desde quando é que tenho obrigação de escrever para eles? Queixam-se de ser numa revista de divulgação científica. E depois? A divulgação científica é das coisas mais usuais em ciência. Caso tivessem interesse genuíno poderiam ter-me pedido a versão inglesa, mas de facto não é necessário porque mesmo sem ler já sabem o que lá está….
    Afirmar sem ver, deduzir sem lógica, inferir sem dados e concluir sem ler, só leva a um fim: ao ataque da personalidade. Quando usam contra mim o Argumentum ad hominem não me estou a armar em coitadinho ou a dizer que sou perseguido, estou apenas a dizer que desligo da mensagem que me querem passar porque ela descarrilou em termos lógicos e científicos. Podemos sempre brincar com coisas da vida de qualquer um, mas isso não é razão, é comédia. Acusam-me de a fazer. Reconheço que digo muita coisa sem piada nenhuma.
    Fazer cocktails com o que não disse, com o que não fiz, com o que não penso, não é um grande contributo para esclarecer a sociedade ou o tema nem para um relacionamento civilizado.
    Diz Diogo Teixeira Dias com ilustração de João Pedro Barreiros que “Os jornais lá vão publicando, porque o que corre nas redes sociais não chega para enganar o povo – que é sereno”. Penso que se pode ler aqui que afirmam que a comunicação social não tem capacidade crítica e o povo também não. Que os jornalistas não sabem fazer perguntas e que só eles os dois são capazes de policiar a informação. Também se deduz, que andam sempre com o nariz enfiado no meu facebook.
    Certamente defendem que a informação científica deve estar acessível apenas a um grupo muito restrito de pessoas, mesmo quando é paga com o dinheiro de todos. Não foi o meu caso, pois os gastos não foram financiados pelo erário público. Parece que toda a informação deve estar fechada numa base de dados “Endovélico”, sobre a proteção do deus lusitano e com acesso exclusivo a arqueólogos.
    E termina Diogo Teixeira Dias com ilustração de João Pedro Barreiros dizendo que “Como não é saúde, como ninguém morre, toda a gente acredita e ninguém se preocupa. E com papas e bolos…”. É fácil terminar o provérbio “E com papas e bolos se enganam os tolos”. Há uma pergunta que fica depois desse terminus: Quem são os tolos?
    Os tolos, nesse contexto, ou são os jornalistas ou é o povo. Pelos vistos, ninguém do povo ou jornalista é capaz de perceber os factos que apresentei. Pelos vistos ninguém do povo ou jornalista é capaz de ajuizar o pensamento ou o procedimento. Pelos vistos, ninguém do povo ou jornalista sabe ciência. Nessa frase percebo que estão a dizer que o “fazedor de papas” sou eu.
    Haja saúde e vinho de cheiro.

    A imagem que aqui se apresenta não faz parte do artigo, mas entronca no mesmo tipo de discussão que apareceu quando datei a idade mínima de um desses sistemas. Assim, tipo “charada” deixo aqui uma pergunta que assenta apenas na tipologia disso: Qual dos sistemas é o mais novo e porquê?
    Se houver respostas, amanhã tentarei explicar o que fiz e o que está nas imagens de a) a g).

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  • Desmantelada estufa de cannabis artesanal na lha das Flores –

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    Paulo Melo to Açores 360
    1h

    O Comando Territorial dos Açores, através do Posto Territorial de Santa Cruz das Flores, no dia 31 de Agosto, deteve um homem, de 60 anos,

    JORNALACORES9.PT
    O Comando Territorial dos Açores, através do Posto Territorial de Santa Cruz das Flores, no dia 31 de Agosto, deteve um homem, de 60 anos,
  • LUIS FILIPE SARMENTO 8º GALOPE

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    8º Galope com obstáculos

    Escrevo folhetins de livros inacabados e intermináveis que se ficam entre o aplauso e o apodrecimento do silêncio para que a arte supere a sua época e se dissolva no tempo

    A angústia das letras interrompe palavras como pensamento ideia livro e jamais decifrará esta realidade secreta do sofrimento de não ter por perto a mãe que me pariu o instinto

    As palavras de ordem são poemas do passado e não chegarão à longevidade dos clássicos e se um dia chegassem alcançaríamos o primeiro patamar das utopias

    Como é possível que haja algo no exercício artístico da vida que por ser tão excessivo não se afirme na interrogação permanente contra o plano superior da ideia

    Não se interrogam porque os militantes da ignorância procuram a todo o custo fazer parte da flatulência da nova ordem mundial por gosto ao cheiro que se confunde neles

    Eles não hesitam entre a sua amada e a sua armada porque

    A inexistência divina alimenta a sua agnosia

    Luís Filipe Sarmento, «Rouge – Galopar», 2020
    Foto: Isabel Nolasco

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