Mês: Junho 2020

  • velhos: infantilizar antes de os descartar????

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    Na juventude aprendemos, na velhice entendemos.
    *Marie von Ebner Eschenbach*
    Recentemente o médico Júlio Machado Vaz deu uma entrevista ao Diário de Notícias onde fala de uma tentativa de infantilizar os idosos sob o pretexto de os salvaguardar do risco de contágio e da qual aqui reproduzo um excerto:

    “Claro que tenho medo, mais a mais, pertenço a um grupo de risco, tenho 70 anos, e todos os dias se vê a diferença de mortalidade entre os mais velhos e os mais jovens. O que acontece é que, em minha opinião, tem havido um movimento entre os mais velhos de recusa a serem infantilizados. O risco não vai desaparecer, desejavelmente irá diminuir, mas, perante as pessoas mais velhas que estão bem informadas e capazes de tomar decisões, não podemos entrar numa espécie de imperialismo sanitário. As pessoas têm o direito de, depois de pesar os riscos e as vantagens, decidirem o que é considerado válido para elas, o mínimo para que possam ter qualidade de vida.”
    (Entrevista ao Diário de Notícias)

    A este propósito recordo as infelizes notícias que chegaram até nós sobre a situação no Lar do Nordeste. Uma vez iam para o hospital, oura vez para um centro de saúde criado para o efeito, outra vez eram levados para a Povoação, outra vez para a Ribeira Grande. Tudo cuidados de primeira linha, mas pergunto, esperando que a resposta seja afirmativa: – Alguém lhes perguntou o que queriam? Alguém teve em conta a sua própria vontade? Certamente que muitos deles estão bem informados e capazes de decidir. Espero do fundo do coração que a personalidade, idiossincrasia e vontade própria daquelas pessoas tenha sido levada em conta numa ocasião tão profundamente traumática das suas vidas.
    E, agora que regressaram ao que afinal é a sua casa, com a ausência de mais de uma dezena de pessoas, faço votos para que esse vazio esteja a ser acompanhado por algum tipo de cuidado suplementar, seja psicológico, seja de amor ou carinho, porque nem só de pão vive o homem e ninguém deve haver no mundo a passar fome de afeto e cuidado. Neste momento difícil o desvelo precisa de ser reforçado, senão não valeu a pena terem-lhes salvo as vidas.
    E, por favor não infantilizem os idosos como vi acontecer no programa da tarde do canal 1. Todas as tardes ligavam a um lar de idosos com a melhor das intenções, no que vi e mais não vi porque me recusei, foi dezenas de idosos, especialmente preparados para a aparição na televisão com um balãozinho na mão a cantar uma canção próxima do infantil. Pelo amor de Deus!
    Augustina Bessa Luís afirmou: “Nasci Adulta e Morrerei Criança”.
    Não queria com isso dizer que se devesse ser infantil e aderir ao seu folclore, que a ela serve muito bem, mas já não ao adulto e ainda menos ao idoso. Quereria antes a escritora referir que a vida nos ensina a sabedoria puer que parece trazermos intata à nascença. A sabedoria de que fala o filósofo Agostinho da Silva que citamos: … é a criança quem deve mandar em todos nós, primeiro para que nos dê alguma coisa da sua imaginação, da sua inocência, do seu contínuo sonho, do seu esquecer-se do tempo e do espaço, da sua levitante vida, e depois para que dela se desenvolva, sem que nenhuma qualidade se perca e muitas outras se acrescentem, um adulto bem diferente de nós.”

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  • Cientistas começam agora a perceber dimensão dos efeitos da Covid-19

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    “Pensávamos que era um vírus do trato respiratório”, confessa um cardiologista norte-americano, refindo que, afinal, vírus “vai atrás” de vários órgãos.

    Source: Cientistas começam agora a perceber dimensão dos efeitos da Covid-19

  • sete cidades vista do espaço

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    Artur Gil updated his cover photo.

    Complexo Vulcânico das Sete Cidades, na Ilha de S. Miguel (Açores), visto do espaço (imagem multiespectral de alta resolução obtida pelo satélite Deimos-2 a 6/12/2014) – Fonte: ESA (Agência Espacial Europeia)
    Não perder a fantástica narrativa da ESA a propósito desta imagem e local em https://www.youtube.com/watch?v=bh9Y9Rt0YQg

  • os abismos em são jorge

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    Norberto Ávila
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    Jose Carlos Pereira
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    Ponta Noroeste da ilha de São Jorge

  • TAP, Meu doce amor e feijoada à transmontana!

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    “Por que não marca noutra companhia? Existem dez voos para Paris e todos mais baratos do que o da TAP.
    Só os distraídos não percebem que a TAP é o grande amor das nossas vidas. Que seríamos de nós sem a TAP e sem o Antonoaldo?”

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    Francisco Moita Flores

    TAP, Meu doce amor e feijoada à transmontana!

    O senhor que manda na TAP, julgo chamar-se Antonoaldo, é o gestor brasileiro que sucedeu a Fernando Pinto, outro brasileiro, foi à Assembleia da República , defender que o Estado tinha a obrigação de injectar mil e quinhentos milhões de euros na empresa porque…O povo português ama a TAP!
    1 – Ao ouvir tal proclamação debulhei-me em lágrimas. O homem é um pastor de almas!. Só os distraídos não percebem que a TAP é o grande amor das nossas vidas. Que seríamos de nós sem a TAP e sem o Antonoaldo? O que seria da TAP se o nosso tão profundo e generoso amor não lhe metesse no cockpit milhões e milhões de escudos, de euros, ao longo de décadas de existência?
    2 – Diz a deputada Catarina Martins – e com toda a razão do Mundo – que a TAP significa o regresso a casa. É verdade. Mas eu que adoro a TAP vou mais longe: Também significa o abandono do País por centenas de milhares de portugueses que, na sua terra, ficaram sem condições para amar a TAP. Diz o nosso primeiro que nunca poderemos deixar falir uma companhia de bandeira, isto é, o grande amor da nossa vida, a TAP. Logo agora que tem um sócio privado que declara solenemente que não mete um tostão na coisa. O nosso amor, tão sublinhado por Antonoaldo salvará qualquer das nossas bandeiras. Incluindo os prémios milionários que todos os administradores recebem anualmente, por mais que sejam os milhões de prejuízo. É por amor, só amor que vai até à paixão de empochar carcanhóis a eito. Diz Antonoaldo, no seu discurso sobre o amor, que até aceitam um gestor do Estado na direcção executiva da TAP, se lhe dermos o produto da caixa das esmolas com mil e quinhentos milhões euros como prova de amor profundo.
    3 – Sabe-se que a paixão cega. É o meu caso. Quando entro num restaurante e dizem: o prato do dia é feijoada à transmontana, já não quero saber de trabalho, nem de preocupações, apenas quero, apenas desejo, abotoar-me com a feijoada inventada por deuses transmontanos. Terminada a gloriosa refeição, sonolento, fraquejando das pernas por comer um dos amores da minha vida, chega o tempo da incómoda lucidez: ‘Amanhã vou dar aulas a Paris, preciso de marcar um voo de ida, e para dar razão a deputada Catarina Martins, também de regresso a casa. Consulto o site enquanto o empregado se aproxima para levantar o prato e me pergunta: Então, estava boa?, ao que respondo: Comi-a toda. Não tivesse que ir a Paris, comia-a outra vez.
    4 – De repente, o prazer dá lugar à azia. Não há voo da TAP para Paris! Está cancelado. Como é possível o nosso grande amor ser assim traído? Grito por Antonoaldo. Pelo Miguel Frasquilho, pelo amigo íntimo do nosso primeiro, gente que está aos comandos da TAP. Não há voo? Não há voo.
    5 – Na mesa ao lado está um beirão, que soube depois que era emigrante. Perante a minha aflição de não poder entrar pela frente ou por trás no grande amor das nossas vidas, sugeriu: Por que não marca noutra companhia? Existem dez voos para Paris e todos mais baratos do que o da TAP. Ainda tentei replicar que as outras companhias eram de transporte de passageiros. Eram uma indiferença. Uma espécie de autocarro com asas. Nada comparada com a TAP, o amor do País inteiro, mesmo daqueles que nunca puseram o pé dentro de um avião e dos infiéis, como o meu companheiro de orgia (que eu bem vi que também se abotoou com a feijoada) qualquer voo lhe dava jeito e, ainda por cima, mais barato.
    6 – Consumido pelo desprazer marquei na Air France. É verdade que são menos oitenta euros por bilhete, mas retira o prazer de comer aquela sandes de alface com atum, tão genuinamente portuguesa, tão nossa, tão da TAP, que se tornou uma viagem triste.
    7 – Enfim! Vamos lá entregar mil e quinhentos milhões de euros ao Antonoaldo e seus compinchas para alimentar o nosso amor pela TAP. E já agora, para que os infelizes, abocanhem prémios de gestão pela ruína que produzem. Devemos ser o único país do mundo onde entregamos prémios de centenas de milhares a quem arruina os amores das nossas vidas.
    8 – Ah! E a feijoada à transmontana ficou por oito eurinhos. Com a quantidade e qualidade que me serviram atirei para os quinze euros. Poupei 7 euros. Que vou guardar para entregar à TAP. Em nome do amor de todos os portugueses.
    Boa saúde para todos!