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profecias que se cumprem…….
O SILÊNCIO DA COBARDIA CÚMPLICE, CRÓNICA 140, 27 JULHO 2014
Tinha prometido não voltar a escrever prosa sobre o mundo louco que me rodeia. A realidade, há muito que ultrapassou a ficção das séries e filmes televisivos. Fico sempre com a sensação de que, com a minha visão para além do túnel, se for prever alguma coisa, o futuro se encarregará de exceder tais conjeturas. Todas as previsões foram largamente excedidas em menos tempo do que leva a escrevê-las. A recente guerra de extermínio na Palestina, vulgo Faixa de Gaza, é mais um exemplo cruel. Mas são tantas as que ocorreram desde que nasci que creio que daqui a sessenta e cinco anos ninguém se lembrará desta. Terá sido apenas mais uma.
Richard Zimler, autor norte-americano de extração judaica, radicado em Portugal, escrevia há dias que o primeiro-ministro israelita (Netanyahu) estava a assegurar-se (e a garantir) que futuras gerações de palestinos pudessem continuar a odiar os judeus e assim se perpetuava a ameaça para Israel. Sem esse ódio acicatado, Israel não teria justificação para continuar o seu genocídio. Uma espiral de violência e ódio que se pretende perpetuar para justificar ações injustificáveis, com resultados imediatos em França (entre outros lugares) onde sinagogas e lojas judaicas foram vandalizadas e queimadas. Só que com a informação instantânea que a Internet ora permite, o que se viam eram crianças mortas na Palestina. Não importa se eram usadas como escudos humanos pelos terroristas do Hamas.
Afinal, em África, seja na Nigéria ou em qualquer outro recanto do continente negro, há muito existem exércitos de jovens a espalhar o terror. Os alvos a abater pelas armas de destruição israelitas eram hospitais e locais normais de abrigo, mas também há muito que se sabe as igrejas deixaram de ser locais de abrigo quando fanáticos islâmicos as incendeiam e queimam os cristãos em tantos países africanos, longe dos olhares das televisões e dos meios de comunicação, tal como os indonésios fizeram em Timor Leste.
De uma forma geral o mundo nada fez, nem fará, para parar esta e outras mortandades. Acontecem sempre longe do quintal de cada um, e sempre houve guerras entre árabes e israelitas. Ao mesmo tempo, a agenda global de eugenismo e malthusianismo continuará um pouco por todo o mundo ocidental, assim como os negócios de venda de armas. Agora mesmo na Lituânia uma ministra alvitrava a eutanásia para os pobres…. Errou o alvo, eu usava-a nos políticos como ela. Já há tempos a senhora do FMI (Christine Lagarde) dizia que se tinha de acabar com os velhos…ou mais precisamente “os idosos vivem demasiado e isso é um risco para a economia global! Há que tomar medidas urgentes!”
Olho em volta e convenço-me de estar a assistir a uma repetição de eventos como os que levaram ao eclodir da primeira e da segunda guerra mundial, perante a passividade, cúmplice e cobarde, de todos os que cresceram à sombra de certos confortos materiais e nem se importam com a eleição de nazis e outros extremistas para um pouco dignificante Parlamento Europeu.
Na Ucrânia deitam abaixo um avião e a culpa morre solteira junto com os inocentes que iam a bordo, embora não se entenda como alguém se atreveu a voar sobre aquelas paragens. Para poupar combustível, diziam alguns, porque o avião foi desviado da rota, diriam outros. Isto depois do outro mistério de um avião malaio que desapareceu dos ares. A NSA norte-americana pode vigiar-me e seguir todos os meus movimentos sem eu saber, mas alega desconhecer o paradeiro do avião desaparecido há uns 4 meses… centenas de mortos em dois incidentes como eu raramente assisti na minha vida… Claro que houve no passado abates de aviões, como o avião coreano da KAL nos anos 80, numa confrontação russa e norte-americana, houve um avião iraniano abatido pelos americanos, e mais uns tantos, mas nada desta dimensão e com esta impunidade. E o mundo, ao qual pertenço, o que fez? Encolheu os ombros e saiu para jantar fora que a crise ainda permite esses luxos e esta vida são dois dias. Temos de aproveitar e comer.
Por toda a parte vemos governos, artificial e democraticamente eleitos, – sabe-se lá como – que se comprazem em seguir as ordens do grande capital, destruindo os seus países, indústrias e serviços, exportando a sua melhor juventude, matando de forma mais ou menos acelerada os velhos a quem se retiram pensões, saúde, justiça e demais serviços. Criam-se enormes vagas de pobres e desempregados que já nem a dignidade de números têm, como tiveram na Grande Depressão de 1929. Temos conhecimento dos maiores desfalques, falcatruas, negociatas sem que a justiça funcione e prenda e condene os malfeitores. E tudo se passa com o complacente beneplácito de um povo silente e amordaçado nas teias do medo, sem saber que há muito perdeu a liberdade de escolha, a liberdade de poder influenciar os resultados eleitorais, a liberdade de poder escolher o seu futuro…e em breve perderá a sua última conquista, a liberdade de sonhar. Virão novas ditaduras e novas guerras, de formas nem sequer imaginadas por George Orwell no triunfo dos porcos e em 1984, e eu mais impotente que nunca teclando aqui umas tantas palavras para uma minoria esclarecida e lúcida, mas sem poderes de alterar seja o que for.
Refugio-me então na diáfana ilusão das palavras que a poesia consegue criar, na esperança infundada de que elas resistirão a mais este cataclísmico fim da civilização ocidental como a conheci, numa repetição da queda do Império romano ou de tanta civilização que desapareceu sem deixar rasto atual. Muito provavelmente nem sobreviverão essas palavras que o reino da utopia ainda me deixa soletrar e a minha vida terá sido em enorme vácuo contra a minha vontade, mas já nada mais posso fazer, também eu cobardemente cúmplice, mas ainda não-silente. Ah! Nunca quis tanto estar errado como hoje.
Concordo com a sabedoria da minha mãe do alto dos seus venerandos 92 anos: “Este já não é o meu mundo” ….
ESTA GUERRA SURDA QUE A TODOS ANIQUILA, CRÓNICA 141 – 14 SETEMBRO 2014
Sinto-me encurralado num mundo a que apenas pertenço de corpo, mas a alma, que estava na Austrália e ora tem coração nos Açores, tem dificuldades em estabelecer-se autonomamente quando todos os edifícios em que assentei a vida ruem como em Gaza ruíram bairros completos sob a fúria vingativa israelita. Tenho vontade de resistir ao medo que os jornais e as televisões impõem através de mensagens diretas ou subliminares, mas não tenho já a vitalidade, nem física nem anímica, de outras eras para resistir. Será isto derivado da entrada na Terceira idade que se espera para daqui a poucas semanas?
Sinto-me naufragado em doca seca, astronauta à deriva e à espera do fim do oxigénio, sinto-me condenado à morte à espera da data da execução, e não deixo herdeiro para perpetuar os Colóquios da Lusofonia que me têm ajudado a sobreviver nesta década e meia… preocupa-me pois tudo o que escrevo é sentido e intelectualmente honesto, mas ninguém liga a isso, numa era em que todos escrevem como os políticos, para o efeito momentâneo de rápido esquecimento. Já não tenho nenhum grande livro para escrever e os que escrevi não tiveram grandes leitores. Já não tenho nada de importante para inventar, inventei tudo o que pude e quase ninguém deu conta. Fiz o que devia e podia, mas passei despercebido sem sequer merecer uma nota de rodapé nos livros da história que ajudei a escrever de Timor aos Açores. Não quero gratidão nem benesses, preciso é de forças para continuar a resistir à desumanidade que me rodeia. Não aceito a violência gratuita, muito menos a do Califado em nome de religiões e de passados que não se revisitam. Não me revejo em nenhuma Igreja ou religião, não tenho partido e como simpatizante clubista não vou longe…
Temo que a democracia tenha sido apenas um interregno entre ditaduras. Os dias de hoje assemelham-se a narrações que ouvi do meu pai antes da segunda guerra mundial, poucos prestam atenção ao avanço dos nazis, dos fascistas à velha moda, dos bufos, da cumplicidade dos medos, das guerras religiosas, dos fanatismos, da nova inquisição, da nova censura e não me revejo nas novas cruzadas. Politicamente incorreto tento manter-me vivo e ativo, alerta e participante, mas a única arma que me resta é a escrita e todos sabemos como a poesia pode ser uma arma carregada.