Mês: Abril 2020

  • PACHECO PEREIRA PROF EM BOTICAS

    Views: 2

    A SANTA TRINCADEIRA
    «Uma pessoa às vezes tem sorte e conhece na vida algumas personagens que pareciam apenas estar nos romances. Nos tempos em que estive em Boticas a dar aulas, bendizendo estar tão baixo na lista dos professores que fui parar àquele magnífico sítio, conheci algumas. A escola era pequena, pelo que acabava por dar aulas a praticamente todos os alunos e conhecer todos os professores e o pessoal administrativo da escola. A maioria dos professores que lá estavam colocados maldiziam a sua sorte, porque era o ultimo sítio onde queriam estar e à mais pequena oportunidade queriam era vir-se embora. Não era fácil nem lá chegar, nem de lá sair, porque todas as opções de estrada para o Porto demoravam pelo menos cinco horas de tormento, quer se fosse pelo Barroso, quer por Vila Pouca de Aguiar, muitas vezes com neve, e, no caso do trajecto que incluía o Marão, apanhar aquela sucessão de curvas em que apetecia deitar o carro por uma ribanceira abaixo ou parar e não sair mais dali. Não havia volta a dar.
    Eu ficava muitas vezes no fim-de-semana, porque gostava de lá estar numa casa de emigrante alugada junto da aldeia de Pinho, na estrada entre Boticas e Vidago. A casa era nova, mas a construção era má e incluía uma parede com “pedra rústica” e um andar térreo de terra batida onde se colocava a lenha. Depois, por cada racha na parede entrava vento e frio, e ali havia mesmo frio, mas as janelas – quando se conseguiam abrir – mostravam uma paisagem de serras e vales, sem ventoinhas, e com muito poucas construções modernas no meio do verde. Às vezes havia uma nuvem pousada mesmo debaixo da janela. Descia-se e estava nevoeiro e subia-se e estava um sol esplendoroso.
    Um dos meus colegas era a tal personagem da literatura, que muitos podem adivinhar como sendo tirada dos livros de Aquilino. Já faleceu e deve estar no Céu a ser servido por um anjo dispenseiro das cozinhas do paraíso. Sim, eu devo a Boticas ter conhecido um genuíno abade, na verdade um padre que dava aulas na escola e exercia o seu trabalho pastoral nas aldeias altas do Barroso, Alturas, Dornelas, até à fronteira com o Larouco. Tinha uma “corpanzil”, uma palavra que me evita usar eufemismos ou expressões pouco politicamente correctas, e uma enorme sotaina para o tapar. Nos dias em que dava aulas íamos almoçar juntos a um restaurante que também vinha na literatura, o Santa Cruz, neste caso referido por Ferreira de Castro. O restaurante era de umas senhoras que cozinhavam praticamente ao lado, traziam elas próprias a comida à mesa e das quais pouco sei a não ser que tinham parentes no Canadá, porque me pediam para lhes traduzir uns formulários em inglês que tinham que preencher.
    Mais uma vez, o almoço podia vir nos livros de Aquilino e eu, que já conhecia algumas descrições aquilinianas, como o ataque a vários capões por um bando de abades ao pequeno-almoço, sabia muito bem onde estava metido. Não havia muita variedade, mas também não era preciso. O almoço tipo consistia em pedaços de bola de presunto, às vezes acompanhados por fatias de presunto, de entrada, seguidos por uma sopa de legumes, a que se acrescentavam de imediato umas trutas. E ainda estávamos só nos preliminares, faltava o prato principal. Este era quase sempre vitela assada com batatas e arroz, ou frango assado com batatas e arroz e salada. O nosso bom padre comia tudo e, por isso, também a salada. Depois vinha a sobremesa, a maioria das vezes um pudim e uns doces caseiros, melhor, um pudim mais uns doces caseiros e café. Vinho, ele não ia no “vinho dos mortos” que dizia que era para os turistas, antes preferia a variante de barril, servida em caneca, ou melhor, canecas. Dar aulas a seguir era um tormento.
    Não se lhe podia dizer que não a coisa nenhuma, porque ele insistia já com o garfo ou a colher cheia junto ao prato dizendo “ó senhor professor tire um pouco mais carne…”. E eu obedecia ao eclesiástico, ungido por um sacramento especial, que eu não tinha nem queria ter, mas à mesa impunha autoridade. Era o tempo da “santa trincadeira”;
    Ocupemo-nos da santa trincadeira, que o meu estômago está a gritar contra a cabeça que o governa! – proferiu o abade, ajeitando o corpanzil à margem da mesa opípara.
    O problema é que a descrição parece demasiado trivial nestes tempos em que as sardinhas “repousam no seu suco” e as coisas são “resumidas”. Só que o presunto era de Chaves, as trutas do Beça, as batatas, que quem nunca as comeu não sabe o que são batatas, idem para a carne do Barroso. Já comi em muitos sítios, mas presunto, trutas, batatas e carne são deste planeta e as de Boticas eram de outro corpo celeste regido por Gargantua e seu filho Pantagruel.
    Voltemos à terra. Deixem a covid-19 à porta e leiam Aquilino e façam a festa da língua portuguesa em casa.»
    JOSÉ PACHECO PEREIRA

    Image may contain: sky, house, tree, outdoor, water and nature
  • Marcelo M. Sousa analisa mapas de 10abr

    Views: 0

    ATUALIZAÇÃO
    COVID-19 AÇORES
    11 de abril de 2020

    ZERO CASOS POSITIVOS REGISTADOS

    Das 161 análises realizadas, nenhuma resultou em teste positivo para a Covid-19.

    Assim, mantém-se 85 casos positivos registados até hoje na região, havendo 3 óbitos e 3 recuperados, sendo então 79 os casos ativos na região, distribuídos geograficamente da seguinte forma:

    45 SMi, 8 Ter, 4 Gra, 7 SJ, 10 Pic, 5 Fai.

    Comunicado ASR: http://www.azores.gov.pt/…/Comunicado+da+Autoridade+de+Sa%c…

    As medidas de prevenção e contenção da pandemia devem ser mantidas e reforçadas, sempre que possível, por cidadãos e organizações públicas, privadas e do setor social.

    Estas informações poderão ser atualizadas às 16 horas, em conferência de imprensa da Autoridade de Saúde Regional.

    No photo description available.
    No photo description available.
    Image may contain: text
    No photo description available.
    No photo description available.
    Comments
  • félix rodrigues analisa mapas de dia 10abr

    Views: 0

    A velocidade de infeção por SARS-CoV-2 diminuiu de ontem para hoje, apesar do número de infetados ter aumentado para um total acumulado de 15987 pessoas. Tivemos de ontem para hoje apenas mais 515 casos de novas infeções, um grande decrescimento relativamente a ontem (1516 novos infectados).
    Essas variações abruptas estão claramente associadas a infecções que ocorrem em “ambientes com maior concentração de pessoas”, como lares da terceira idade ou hospitais e não resultam propriamente de infecção comunitária nas ruas. Por outro lado há aqui um efeito de “acumulação de dados” com a aproximação de feriados e fins de semana, pelo que os dados da DGS têm claros desfasamentos diários que enviesam as tendências.
    Ontem parecia que estavamos a caminhar para uma nova tendência (linha a preto) que se afastava da melhor tendência que até agora tínhamos tido (linha a amarelo). Quanto mais à direita da linha amarela ficarmos mais facilmente chegaremos à pior situação epidémica, para que a partir daí, possamos fazer o caminho inverso, ou seja, descer lentamente essa curva sem que se originem novas vagas de infeção.
    Descemos o número de casos esperados de ontem para hoje em 33,9%, o que significa que estamos a voltar à tendência antiga, ou seja, perdemos com esse revés, cerca de quatro dias de batalha. Isso não é o pico, nem tão pouco tem a ver com maior ou menor intensidade de análises.
    De ontem para hoje morreram mais 35 pessoas por Covid-19 em Portugal, pelo que se conseguiu evitar, pelo confinamento social a morte de apenas 4 pessoas. Isso é claramente um handicap da nossa batalha conjunta, pois não estamos a proteger devidamente os nossos mais vulneráveis.
    Nos Açores registaram-se ontem ao fim da tarde mais duas mortes e uma infeção, mas hoje, não existem nem novas mortes nem novos infectados. Também aqui, a subida abrupta de casos que se verificou no arquipélago de 8/4 para 10/4, resultou da entrada do vírus num lar de idosos no Nordeste, ilha de São Miguel.
    Os problemas de saúde provocados pela doença não são apenas problemas pulmonares. O vírus também ataca o coração e provoca ataque cardíaco. Assim justifica-se a razão pela qual as pessoas com problemas cardiovasculares fazem parte do grupo de risco (Resultados apresentados na Scientific American de ontem). Isso obriga-nos a repensar decisões sobre as causas de morte, se se regista ou não uma morte por Covid-19 como sendo provocada por essa doença ou se provocada por paragem cardio-respiratória. Esses pequenos pormenores são fundamentais para percebermos os efeitos da doença mas também para se procurar o correto tratamento.

    No photo description available.
    Comments
    Write a comment…
  • Estrategizando | Saúde Privada ou saude privada com públicos dinheiros ?

    Views: 0

    O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda questionou hoje o Ministério da Saúde sobre se existe algum acordo com os hospitais privados que preveja que o Estado

    Source: Estrategizando | Saúde Privada ou saude privada com públicos dinheiros ?

  • Covid-19: Sobe para 125 casos no Alentejo. Em Portugal já são 435 mortos e 15472casos confirmados – O Digital.pt

    Views: 0

    Direcção-Geral de Saúde revelou o Boletim Epidemiológico de hoje, que dá conhecer que neste momento existem 15.472 casos confirmados, ou seja, mais 1518 que o dia de ontem. Segundo o boletim existem 15.472 casos confirmado, […]

    Source: Covid-19: Sobe para 125 casos no Alentejo. Em Portugal já são 435 mortos e 15472casos confirmados – O Digital.pt

  • A MINISTRA PROIBE A DIVULGAÇÃO, RESTA APENAS DESOBEDECER

    Views: 0

     

    Ana Maria Ramalheira
    trSpofns5 glommrciensdl

    A SAGA DOS NÚMEROS CONTINUA.

    Image may contain: text
    Image may contain: text
    Joaquim Norberto Pires

    MUITO GRAVE – As entidades regionais de saúde DEVEM DESOBEDECER

    A Ministra dá Saúde acaba de proibir as Unidades regionais de Saúde Pública de divulgar diariamente o seu Boletim Epidemiológico com os dados diários sobre infecções e óbitos devidos a COVID-19. A reação INDIGNADA dos autarcas não se fez esperar, mostrando que essa proibição coloca em causa a segurança das populações.

    É CLARO PARA MIM QUE É SUA OBRIGAÇÃO DESOBEDECER.

    Sr. Presidente da República, como fica a sua garantia pessoal e institucional sobre dizer e garantir a verdade?

  • JOSÉ ANDRADE E OS DESGOSTOS NO SEMÁFORO DESTA SEMANA

    Views: 0

    No Açoriano Oriental deste sábado:

    SEMÁFORO

    VERMELHO – Os açorianos estão impossibilitados de viajar entre as ilhas. Os micaelenses até estão impedidos de circular entre os concelhos. Mas pode um irresponsável turista infetado fugir do continente para Ponta Delgada! À revelia de tudo e de todos. Sem controlo à partida e, pelos vistos, sem controlo à chegada. Apenas um questionário de boas intenções. Falhou a “cerca sanitária” da “continuidade territorial”. Só aumenta ainda mais o sentimento de insegurança.

    AMARELO – Democrata por formação e autonomista por convicção, custa-me assistir ao protagonismo político de um Representante da República (sem legitimidade eleitoral) em detrimento de um Governo Regional (escolhido pelos açorianos) para a gestão do estado de emergência nos Açores. Só prova que a Constituição da República precisa de ser atualizada. Para ser respeitadora e respeitada. É mais um encargo político (ou menos um cargo político) que fica para o pós-Covid.

    VERDE – Apesar das circunstâncias, Cristo vai ressuscitar. Nas nossas casas, nos nossos corações. E com ele a certeza de que melhores dias virão. Uma Santa Páscoa para todos!

    José Andrade

    Image may contain: 1 person, text